quarta-feira, 4 de julho de 2018

O LIVRO DE HÉLIO




Ormuz Barbalho Simonetti
Presidente do IHGRN

Aos meus pais e irmãos, esposa e filhinhos, atenciosamente”. Com esse carinhoso oferecimento, Hélio Galvão dedicou o seu primeiro livro que, infelizmente, até os dias de hoje, nunca foi publicado. 

Por volta do ano de 1931 o então estudante de Direito Hélio Mamede de Freitas Galvão começou a escrever seu primeiro livro, que  intitulou de “Goianinha”.

Em uma velha máquina de datilografia teclou suas primeiras frases para contar a história da cidade - na época jurisdicionava o distrito de Tibau do Sul, sua terra-mãe, que tão bem retratou ao escrever a trilogia “Cartas da Praia, Novas Cartas da Praia e Derradeiras Cartas da Praia”.

Em 2008, quando eu estava fazendo pesquisa para o livro “Genealogia dos Troncos Familiares de Goianinha”, trabalho que me consumiu uns bons 5 anos de intensa pesquisa, em que chegava a trabalhar até 16 horas por dia, ao final fui recompensado por ter reunido e entrelaçado mais de 12.000 almas dos 8 troncos familiares pesquisados: Revoredo, Grilo, Barbalho, Simonetti, Villa, Fagundes, Marinho e Lisboa,  que se constituíram na base das famílias daquele município.

Certo dia, recebo no nosso local de trabalho, a Assessoria de Comunicação Social do Governo do Estado do RN, com a visita do artista plástico Diniz Grilo que sabendo da minha pesquisa, principalmente por sua família fazer parte dela, me presenteou com uma cópia xerografada dos originais do livro GOIANINHA. Essa cópia, muito me ajudou na pesquisa genealógica, mais precisamente dos ancestrais das famílias Barbalho, Simonetti e Villa, pois nesse laborioso trabalho, estavam registrados os seus primeiros representantes e um pouco de suas histórias. Diniz ainda me fez um pedido, oferecendo-se para ser o capista do nosso livro, o que aceitei imediatamente.

Algumas reproduções apresentavam baixíssima qualidade. Mesmo assim, o capítulo a que se referia a genealogia no qual estavam as famílias Barbalho, Simonetti e Villa, com algum sacrifício, permitiu “decifrar” o que ele havia escrito. Infelizmente a família Galvão, contemplada naquele trabalho, estavam com as cópias reprográficas muito escuras e nada foi possível fazer para melhorá-las, o que impediu fosse acrescida ao nosso trabalho genealógico.

A família Galvão, da qual Hélio faz parte, pelo pouco que consegui ler nas páginas escurecidas do capítulo que dedicou a genealogia, também teve seu início, pelo menos aqui no nordeste, na cidade de Goianinha.
      
       Desde essa época, venho perseguindo os originais com a intensão de publicar o livro, que reputo ser de grande importância para o conjunto de sua obra, pela vasta abrangência dos assuntos ali abordados: descreve minuciosamente a história do município em diversos temas, dedica um robusto capítulo à genealogia das suas principais famílias, tratando, ainda, da religiosidade de seus habitantes, dos topônimos, das lendas, da geografia, das escolas, dos administradores municipais, dos bacharéis, dos professores no ano de 1934, entre eles Bartolomeu Fagundes, Joaquim Manoel de Meiroz Grillo, José Mamede Galvão de Freitas, João Baptista Simonetti Filho, as irmãs Maria Leopoldina de Britto Guerra e Anna Philomena de Brito Guerra, Bevenuto Augusto Barbalho, Jeronimo Cabral Pereira Fagundes Filho etc. Esse importante livro deu início a carreira do grande escritor que viria a se tornar.

A primeira pessoa que fiz contato em busca dos originais foi com seu filho José Arno, que na época era detentor da biblioteca de Hélio. Tempos depois em um encontro casual, tratei do assunto com seu sobrinho Jorge Galvão, que embora tenha achado importante minha proposta, também não tinha conhecimento do destino dos originais. Fiz contato, ainda, com seus filhos Sérgio e por fim com Dácio Galvão. Os mesmos me passavam a mesma informação de que não sabiam do paradeiro dos originais.

Clamava pela publicação desse livro que apesar de incompleto, entendia ser de grande importância para se juntar à sua obra, uma das mais valorosas já publicadas em nosso Estado, além de tratar da cidade berço de minha família.

Tentei transcrevê-lo, porém, como já disse, havia diversas páginas sem a mínima condição de visualização, dada a condição das cópias.

No prefácio, que é de Luiz da Câmara Cascudo, datado de abril de 1941, em dado momento o mestre escreveu: “Goianinha possue o primeiro cronista integro. Aprisionou aqui todos os assuntos. Depois desse livro, é relativamente fácil a tarefa para completá-lo. O que não é possível é diminuir-lhe o valor...”
        
       Quando assumi a presidência do Instituto Histórico e Geográfico do RN, após conseguir autorização de Dácio Galvão, solicitei ao Diretor de Biblioteca, Arquivo e Museu, Gustavo Sobral, que fizesse uma busca minuciosa na biblioteca de Hélio que se encontra na Fundação Hélio Galvão. Infelizmente, após dois dias de intensa procura, foi localizada apenas uma pasta com o nome GOIANINHA, porém para nosso desespero, encontrava-se vazia. Continuei apelando para Dácio todas as vezes que nos encontrávamos, assim como em um mantra, pedia para não desistir da procura.

No último dia 10 de junho, na Academia de Letras Jurídicas do RN, por ocasião da solenidade homenagem ao patrono feita pelo acadêmico Marcelo Alves Dias, cuja cadeira tem Hélio como seu patrono, a plateia foi presenteada com uma bela e descontraída palestra em que tivemos o prazer de conhecer um pouco mais da vida daquele renomado causídico. Ao final, Dácio Galvão ao agradecer ao palestrante, dirigiu-se a mim e deu-me a grande noticia que há muitos anos esperava: “a filha de José Arno havia localizado os originais desaparecidos do livro Goianinha.”

Foi um momento de grande alegria, só comparado aos achados genealógicos que eu fazia nas madrugadas silenciosas quando pesquisava diversas famílias para compor o livro Genealogia dos Troncos Familiares de Goianinha.

Agora, nessa nova fase, aguardo ansioso os originais desse importante trabalho para realizar a tão sonhada publicação.



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