domingo, 5 de março de 2017

SÁBADO É DIA DE POESIA


JUVENAL ANTUNES DE OLIVEIRA
Nasceu em Ceará-Mirim (Engenho Oiteiro), em 29/04/1883, filho José Antunes de Oliveira e Joana Soares de Oliveira. Morreu em Manaus, em 30/04/1941.
Vida escolar – Foi alfabetizado pela sua mãe com o auxílio do padre José Paulino Duarte. Os primeiros estudos, fez em Recife-Pe, no Colégio Parthenon. O curso secundário, fez no Atheneu Norte-riograndense.
Vida Profissional – Formado em Direito pela Faculdade de Recife, Promotor de Justiça em Açu-Rn, em São Paulo de Iço, Nova Olinda e Sena Madureira, todos no Acre, onde passou o resto da sua vida.
Vida Acadêmica - Membro fundador da Academia Acreana de Letras. É Patrono da Cadeira 35 da Academia Norte-Riograndense de Letras.
Obra – Não publicada, talvez a mais importante, uma terna e bem-humorada correspondência com a irmã, Madalena Antunes Pereira; Cismas; Acreanas; e os seus famosos Sonetos, designados por Elogios: Elogio da Preguiça; Elogio da Velhice; Elogio da Ignorância, Elogio do Amor Livre, Elogio da Solidão, e o Elogio de Laura.
Um fato importante, não se pode deixar de registrar, já que demonstra o grande amor do Poeta à sua cidade natal. Muito doente, em fase terminal, pediu para vir morrer Ceará-Mirim e foi colocado no navio ‘Belo Horizonte’, iniciando a viagem de volta, que não pode ser concluída, já que ao aportar em Manaus, foi conduzido a um hospital, onde veio a falecer.
ELOGIO DA PREGUIÇA
(A mim mesmo)
Bendita sejas tu, preguiça amada,
Que não consentes que eu me ocupe em nada.
Mas queiras tu, preguiça, ou tu não queiras,
Hei de dizer, em versos, quatro asneiras.
Não permuto por toda a humana ciência
Esta minha honestíssima indolência.
Está na Bíblia esta doutrina sã:
Não te importes com o dia de amanhã.
Para mim já e grande sacrifício
Ter de engolir o bolo alimentício.
Ó sábios! Dai à luz um novo invento:
A nutrição ser feita pelo vento.
Todo trabalho humano em que se encerra?
Em, na paz, preparar a luta, a guerra.
Dos tratados, e leis, e ordenações,
Zomba a jurisprudência dos canhões.
Juristas, que queimais vossas pestanas!
Tudo o que legislais dá em pantanas.
Plantas a terra, lavrador? Trabalhas
Para atiçar o fogo das batalhas.
Cresce o teu filho; é forte, é belo, é louro.
Mais uma res votada ao matadouro!
Pois, se assim é, se os homens são chacais
Se preferem a guerra à doce paz.
Que arda depressa a colossal fogueira
E morra, assada, a humanidade inteira!
Não seria melhor que toda a gente,
Em vez de trabalhar, fosse indolente
Não seria melhor viver à sorte,
Se o fim de tudo é sempre o nada, a morte!
Queres riquezas, glórias e poder...
Para que, se amanhã tens de morrer?
Qual mais feliz? O mísero sendeiro,
Sob o chicote e as pragas do cocheiro,
Ou seus antepassados que, selvagens,
Comiam, livremente, nas pastagens?
Do trabalho por serem tão amigas,
Não sei se são felizes as formigas.
Talvez o sejam mais, vivendo em farras,
As preguiçosas, pálidas cigarras.
Ó Laura! Tu te queixas que eu, farcista,
Ontem faltei a hora da entrevista,
E que ingrato, volúvel e traidor,
Troquei o teu amor por outro amor,
Ou, que receando a fúria marital
Não quis pular o muro do quintal,
Que me não faças mais essa injustiça!
Se, ontem, não fui te ver, foi por preguiça.
Mas, Juvenal, estás a trabalhar!
Larga a caneta e vai dormir, sonhar...

(Transcrito do BLOG da ACLA- Academia Cearamirinense de Letras e Artes Pedro Simões Nteo)