sexta-feira, 2 de julho de 2010

ARTIGOS GENEALÓGICOS

Caros amigos e leitores, as 31 crônicas sobre a Praia da Pipa, já se encontram com o editor, e o lançamento do livro está previsto para o mês de outubro próximo. Será lançado pelo selo da UBERN. Entregamos a ilustração do livro ao artista plástico e meu amigo Levi Bulhões. A proposta é fazer uma ilustração, em bico de pena, para cada crônica.

A partir de deste mês, o espaço no periódico O JORNAL DE HOJE, onde eram publicadas as crônicas, estaremos escrevendo artigos genealógicos. Inicio essa nova fase com estórias sobre a vida do Barão de Araruna. Espero contar com o mesmo apreço dos amigos, e estaremos abertos as suas manifestações, críticas e sugestões.
Abraço a todos,

Ormuz Barbalho Simonetti

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SERRA DE ARARUNA-PB



ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Presidente do Instituto Norte-Riograndense de Genealogia-INRG, membro da UBERN e do IHGRN)
www.ormuzsimonetti@yahoo.com.br

O BARÃO DE ARARUNA

Desde o mês de março deste ano, estamos tendo a oportunidade de assistir pela telinha, na série Vale a Pena Ver de Novo, a trama inspirada no romance Sinhá Moça, de Maria Cristina Dezonne Pacheco Fernandes (1904/1998).

A história trata de disputas políticas no período que antecede a abolição da escravatura no Brasil, na segunda metade do Século XlX. Na trama que é ambientada na pequena e fictícia cidade de Araruna, apresenta o Barão como um rico proprietário de terras e escravos, perverso e autoritário, que tratava seus cativos com extrema crueldade.

O que muitos não sabem é que o Barão de Araruna realmente existiu. Nos idos de 1800, no município paraibano de Pedra Lavrada, microrregião do Curimataú, distante 165 kms de João Pessoa, nasceu Estevão José da Rocha, o verdadeiro Barão de Araruna. O título nobiliárquico foi concedido em 17 de maio de 1871 pela princesa regente.
Quarto filho do casal Antônio Ferreira de Macedo e Ana de Arruda Câmara Ferreira de Macedo, teve como irmãos Antônio Ferreira de Macedo, Vicente Ferreira de Macedo e José Ferreira da Rocha Camporra. No livro “O Roteiro dos Azevedos”, do genealogista Sebastião de Azevedo Bastos, o coronel Camporra é descrito como filho do Barão. Porém, prefiro a versão do escritor paraibano Maurílio Augusto de Almeida, que no livro de sua autoria “O Barão de Araruna e sua prole”, apresenta o coronel Camporra como sendo irmão do Barão, o que tive a oportunidade de confirmar em outras pesquisas que realizei.

Estevão José da Rocha que também era Coronel da Guarda Nacional, tornou-se um dos maiores e mais ricos proprietários de terras no agreste paraibano, tendo fixado sua principal residência no município de Bananeiras, onde possuía grandes áreas plantadas com café, em virtude do clima serrano, ideal para a exploração da cafeicultura.

No Seridó Potiguar, possuía terras principalmente nos municípios de Currais Novos e Santa Cruz, onde se dedicava a atividades pastoris e ao plantio de cereais. Em nosso Estado, sua principal atividade agrícola era o plantio de algodão arbóreo conhecido popularmente como algodão mocó, caracterizado pela sua fibra longa, bastante valorizado no mercado nacional e principalmente no marcado internacional, devido a sua utilização na confecção de tecidos finos.

O Barão de Araruna gozava de grande prestígio junto à realeza e aos poderosos governadores de províncias do Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco. Esse prestígio foi demonstrado quando por volta do ano de 1870, conseguiu junto às autoridades locais, liberar sob sua custódia, um alemão que se encontrava preso em uma cadeia pública no Recife. O interesse do Barão por esse indivíduo deu-se em função de ter sabido que o mesmo era o chefe de máquinas de um navio mercante alemão, que estava ancorado no porto do Recife. Nessa época, o Barão enfrentava grandes dificuldades em sua indústria de beneficiamento de algodão em virtude de constantes defeitos apresentados no maquinário, e os mecânicos locais não conseguiam consertar.

O tal mecânico chamava-se Éric Robert Wladimir Wildt, que além de realizar os consertos necessários nas maquinas, coincidentemente de fabricação alemã, tornou-se amigo do Barão e permaneceu sob sua custódia, não retornando a Recife. Tempos depois veio a se casar com sua sobrinha-bisneta, Maria Bernardina da Rocha (1898/1931), filha de João Toscano da Rocha, que era filho de José Maria Ferreira da Rocha, que por sua vez era filho do Coronel Camporra, irmão do Barão.
Desse casamento nasceram três filhos, todos em Bananeiras: Wladimir Rocha Wildt, Herta Rocha Wildt e Erna Rocha Wildt. O primogênito nasceu em 1920 e posteriormente mudou-se para São Paulo, onde formou-se em engenharia mecânica. Casou-se com Josefina Murem e tiveram dois filhos: Eric Murem Rocha Wildt, que casou-se e constituiu família na capital paulista e Gerti Murem Rocha Wildt, que não casou e não tem descendentes.

A outra filha de nome Erna, nasceu em 1925. Vive atualmente em João Pessoa e também não se casou nem constituiu família. Tive o prazer de conhecer pessoalmente a senhora Herta, segunda filha do alemão, nascida em 1921, que reside atualmente em Santa Cruz-RN. É viúva de Joaquim Bezerra Cavalcanti com quem teve quatro filhos: Edson Wildt Cavalcanti; Ágnes Rocha Wildt; Hidemburgo Wildt Cavalcanti e Érica Dina Rocha Wildt, todos casados e com descendentes.

No início do ano passado, fui até Santa Cruz e passei uma manhã na residência de dona Herta conversando com ela e alguns familiares. Entre um cafezinho e outro, conversamos longamente sobre sua família e seus antepassados. Dona Herta me contou muitas histórias sobre o Barão de Araruna, que ouviu de seus pais e avós. Em todas elas o Barão é citado como um rico fazendeiro, dono de extensas propriedades, senhor de terras, gado e gente, mas principalmente um homem de bom coração. Não tenho registro em todo o material que pesquisei até essa data, de nenhuma semelhança com o arrogante e cruel Barão de Araruna, mostrado na telinha da Globo.

Comprometi-me com dona Herta que retornaria para visitá-la, por ocasião da inauguração da estátua de Santa Rita de Cássia, que aconteceu no último dia 26. Infelizmente, outros compromissos, entretanto me impediram de cumprir o prometido.

Natal, junho/2010.