quinta-feira, 13 de junho de 2013

DE VOLTA AO PASSADO VII – ANTIGOS BLOCOS CARNAVALESCOS – Parte III


“Hoje eu lembro com saudade
 o tempo que passou...”

Participei nos anos 60 de dois blocos carnavalescos: Penetras e Lord’s. Os Penetras foi fundado no distante ano de 1964, na Rua Princesa Isabel, pela turma que diariamente se reunia em frente à casa do engenheiro Roberto Freire, que empresta seu nome a uma das principais avenidas de nossa cidade. Recordo-me de alguns de seus componentes: Eudes de Freitas Aquino, médico nefrologista que alcançou projeção profissional no sul do país, tendo inclusive em 2009 assumido a presidência nacional da UNIMED; Paulinho Freire, filho de Roberto Freire, Amancinho, filho do conhecido agrimensor Amâncio Leite Cavalcanti da copiadora ALEICA; os irmãos Júlinho e Heráclio, filhos de Wilson Ramalho, renomado médico pediatra que cuidou de crianças de várias gerações em nossa capital nas décadas de 50 e 60; o saudoso Everaldo carinhosamente chamado de Veca; Ferreirinha - o pai dele era proprietário de um antigo posto de gasolina que se situava ao lado do cemitério do Alecrim. Ferreirnha teve morte trágica. Após uma discussão sem maior importância, foi assassinado no interior da antiga Sorveteria Oásis, vizinho ao Cine Nordeste. Marinardo Dantas, José Bezerra Marinho, Newman Figueiredo, médico e filho do conhecido professor de matemática Josino Macedo. Eudes Aquino, em suas constantes brincadeiras com Newman, costumava dizer com voz impostada como quem transmitia uma importante notícia: “A biblioteca do Professor Josino, vale milhões! ...”

A ala feminina era composta por: Vilma, que morava na mesma rua próximo à casa de Paulinho, Ana Lúcia, na época namorada e posteriormente esposa de Veca, as irmães gaúchas Soraia e Nadja namoradas de Ferrerinha e Julinho Vilar, respectivamente, Gracinha, filha do poeta e compositor Oscar Homem de Siqueira Sobrinho, e outras que no momento me fogem à memória, pois lá se vão quase 50 anos de saudosas lembranças e o “Dr. Alzheimer” já começa a se fazer presente.

Os Penetras tinham uma característica bastante inusitada que o deferia dos demais blocos da época. A alegoria era montada e desmontada todos os dias. O motivo é que o bloco saía no caminhão da Cerâmica Potengy, de propriedade do saudoso Roberto Freire. Como o caminhão só poderia ser liberado após as entregas matinais, o “kit alegoria” era então montado entre 12 e 13 horas, e desmontado por volta das 20 horas, após o famoso “corso” da Avenida Deodoro, quando a alegoria era estacionada na Rua Princesa Isabel para executar a operação desmonte.

Imaginem a trabalheira no dia seguinte para localizar e repregar nos locais corretos, as peças retiradas na noite anterior, já que o desmonte era feito por alguns abnegados e embriagados componentes, que heroicamente se voluntariavam para o serviço. Fui algumas vezes um desses voluntários para a penosa operação do desmonte, como também na montagem do quebra-cabeça. No dia seguinte, tudo se repetia. Somente no domingo, como não havia entregas, estávamos livres do sacrifício.  

Tínhamos inclusive, um hino, que fora composto pelo compositor Oscar Siqueira, na época residente em frente à casa de Roberto Freire.
Penetras, no carnaval, vai dar o que fazer,
Essa turma infernal faz a vida acontecer.
Nós penetramos, no mundo da folia, já esquentamos, com tanta alegria.
Agora gritos de alerta: penetras, penetras, penetras.

Após receber a letra do hino e cantarolar com alguns componentes, Paulo Freire modificou o 5° e o 6° versos, que também passou a ser cantado da seguinte forma: “Nos penetramos na casa do amigo, já esquentamos com wiske e abrigo...”

Ao que me recordo, o bloco saiu nos anos de 1964 e 1965. Não lembro quem foi ou foram seus presidentes. Entretanto, lembro-me com saudade daquele tempo, quando sem sombra de dúvidas, vivi momentos felizes de minha adolescência. Entristeço-me em saber que nossos filhos e netos não tiveram a sorte de terem nascido numa época tão benfazeja de uma cidade menina que desabrochava de sua inocência quase interiorana, para dias tão difíceis como os que atualmente vivenciamos.