domingo, 27 de novembro de 2011

A RESSUSCITADA DO CUNHAÚ - ÚLTIMA PARTE

A explicação da presença fabulosa da Ressuscitada de, Cunhaú apareceu depois, correndo toda a região, alacremente comentada pela familia Albuquerque Maranhão, pelos amigos solidários e fiéis.
Anacleto José de Matos, Delegado de Polícia, perseguira teimosamente a uns ladrões de gado, os irmãos Francisco, Antonio e Manuel Cavalcante, que, ajudados por outros manos, bastardos, excediam a profissão, mansa e contínua, do abigeato. Como eram valentes, havia temor em deter-lhes a mania criminosa. Anacleto acabou o domínio dos Cavalcantes que, desmoralizados e furiosos, juraram vingar-se.

A vingança consistira naquela farsa extraordinária. Encontraram uma pobre mulher, moradora no Bujarí, muito parecida com a finada Dona Maria Umbelina. Forjaram toda a lenda, industriando a comedia. Quando passou o perigo para os Albuquerque Maranhão apareceu o pai e a mãe da falsa Ressuscitada, dizendo ambos como se havia dado a história. A pseuda dona Maria ainda, recusou reconhecer o casal que se afirmava seus pais.

Em julho de 1935 conversei com d. Filomena de Medeiros Melo, irmã do sr. José Lúcio de Medeiros, de "Sacramento", em Santana do Matos. D. Filomena sabe toda a tradição, conservando as versões da família do Cunhaú, pelas ligações de amizade com seus antepassados; É neta do tte-cel, Manuel Salustino de Medeiros, que foi a Paraíba depor contra a Ressuscitada. E esse Manuel Salustino foi o segundo sôgro de Anacleto José de Matos, que se casara, depois dos sucessos, com d. Sensata de Medeiros, chamada "Dondom", não havendo filhos. O pai de d. Filomena, minha amável informante, era filho de Joaquim de Araújo Melo e de d. Apolonia Maria de Medeiros (esta irmão de Manuel Salustino de Medeiros). Joaquim de Araújo Melo era íntimo da Casa de Cunhaú e fôra uma das testemunhas mais decisivas para a ínocentação de Anacleto e do Comendador, quando das acusações do assassinato de d. Maria Umbelina.

Joaquim de Araújo Mélo ajudara a colocar d. Maria Umbelina no caixão mortuário e o levara a enterrar na Capela de Cunhaú. Manuel Salustino recordou, no curso do processo, que a fidalga fora sepultada com uma marrafa de tartaruga, ouro e pedrarias, posta na cabeleira, do lado esquerdo. Fizeram uma vistoria, exumando os ossos de dona Maria Umbelína. A cabeleira estava intacta e nela, faiscando, a marrafa de tartaruga, ouro e pedrarias.
A roupa anteriormente descrita por Joaquim de Araújo Mélo como tendo amortalhado o corpo, coincidira inteiramente. Não restava a menor dúvida de que a Ressuscitada de Cu¬nhaú era uma mulherzinha de Bujarí, imaginosa e cheia de atrevimento mentiroso.

Hoje a tradição se mantem. Raros acreditam na simulação. Como haveria de existir uma mulher, naquele tempo, com a fria audácia de enfrentar a mais rica e poderosa família da região, acusando-a de um crime? E como seria possível o conhecimento exato de peculiaridades e minúcias genealógicas, sinais físicos, a mancha rôxa de dona Joana, a cicatriz de Anacleto? E porque este se recusou mostrar, o peito, desmentindo o indício? Como esses irmãos Cavalcantes, ladrões de gado, analfabetos, conseguiriam imaginar essa façanha inaudita, inteiramente nova nos anais das duas Províncias? E essa mulher, humilde, apanhada num bordel, como possuiria desenvoltura, presença de espírito para arrostar os interrogatórios, respondendo a tudo e a todos com serena, impressionante simplicidade?

Outros obstáculos surgem. Conheço o testamento do Comendador. No "testamento", de março de 1802, o Comendador indica, entre suas filhas, dona Maria Umbelína Como d. Maria Umbelina, morta em 1858, estaria viva quatro anos depois? Se o fato ocorreu, há de ter sido posterior a 1862 e antes de setembro de 1865, quando o Comendador faleceu. De março de 1862 a setembro de 1865 é o espaço obrigatório para que tudo haja sucedido. Casamento, namoro, conselho, propinação do veneno, morte, enterro, rapto, ida para o Ceará, falecimento do português duas mancebias, ida para a Paraíba, vida de prostíbulo, conversa com o médico, denúncia, processo, formação de culpa (naturalmente no inquérito policial), viagens, precatórias, vistorias, aparecimento do dr. Amaro Bezerra, volta de todos á calma, viagem da mulher de Bujarí, tudo se teria dado nesse espaço de tempo, sob pena de arredar de cenário a figura indispensável do Comendador. Se d. Maria Umbelina estava viva em 1862, como está provado, Frei Serafim de Catania não a podia encomendar, mesmo se moresse, porque Frei Serafim não estava na região nessa data.

Está uma história confusa, difícil, atraente como uma novela policial.
Quando surge uma tradição como essa é porque existe o material determinador. Jamais lhe fala real no manque, en-sinava Arnald Van Gennep, Porque os Cavalcantes escolheram esse tema da "Ressuscitada"? Já não existiria uma lenda popular, espontânea, negando a morte de d. Maria Umbelina?
É uma lenda. A lenda da Ressuscitada de Cunhaú que haverá de verdade? Ninguém mais poderá responder...

(09.02.1941)

terça-feira, 22 de novembro de 2011

A RESSUSCITADA DO CUNHAÚ- PARTE III



















Durante a narrativa, a "Ressuscitada de Cuntuiú" descrevia, com precisão, o ambiente em que se criara, indicando a vasta parentela fidalga, as ligações genealógicas, aprumada, certeira, impecável. O dr. Rigueira Costa ficou impressionado. Levou o fato ao conhecimento do Presidente da Província da Paraíba, dr. Francisco de Araújo Lima. A história passou ao domínio público, despertando um interesse geral.

A "Ressuscitada" ficou literalmente coberta de presentes, de mimos, de agrados. Exigia-se uma punição severa para a família Albuquerque Maranhão. O Chefe de Polícia informou aos interessados, creio que em caráter particular, Anacleto José de Matos, sopitando a ira, acompanhado pelo Comendador, seu ex-sogro, compareceu à Chefatura de Polícia paraibana. Foram acareados com a mulher. Ambos afirmaram ser a primeira vez que a viam. O Comendador negou firmemente a história maravilhosa. A filha falecera e ainda era chorada por todos. Dona Joana não reconheceu a que se dizia sua filha. Nem mesmo achara uma parecida com a outra.

A "Ressuscitada de Cunhaú" se defendia tenazmente. Enumerava detalhes da casa de sua família, particularidades domésticas, anedotas privadas, desnorteando o auditório. Indicou um sinal roxo, bem visível, que sua mãe teria no alto da perna direita. Anacleto José de Matos tinha uma cicatriz em meia-lua, em cima do mamilo esquerdo. Era vestígio de uma dentada que ela lhe dera em certa ocasião. Rigueira Costa pretendeu, para anular as suspeitas, mandar proceder a um exame em Dona Joana d' Albuquerque Maranhão e em Anacleto José de Matos. Ambos repeliram a idéia com violência exagerada. Autoridades e povo ficavam convencidos de que a "Ressusoitada" era, positivamente, a filha martirizada pela família aristocrática, impiedosa e terrível.

Os amigos, mais íntimos e mais poderosos da Casa Cunhaú, correram em auxílio do Comendador, exposto ao exa¬me coletivo e atormentado pela crítica social e unânime da Paraíba. Dois amigos o tenente-coronel Manuel Salustiano de Medeiros e o dr. Felíx Antônio Ferreira d'Albuquerque, grandes proprietários e agricultores, o segundo ex-deputado provincial no Rio Grande do Norte, foram depor, endossando as negativas feitas e influindo para que a vistoria não fos¬se realizada. O Comendador, furioso pela curiosidade pública e fremente de indignação pelo atrevimento do dr. Rigueira Costa sonhar examinar a respeitavel coxa de dona Joana d'Albuquerque Maranhão, dizia que só depois de passar por cima do seu cadaver.

























AMARO BEZERRA CARNEIRO CAVALCANTE
O processo contra Anacleto José de Matos, acusado de tentativa de uxoricídio, foi iniciado. Toda a família Albuquerque Maranhão, alarmada, movimentou o prestígio, para obstar aquele escândalo sem precedentes.
Surgiu então o dr. Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti, deputado-geral pelo Rio Grande do Norte, casado com dona Maria Cândida, prima do Comendador e irmã de Dona Joana, mãe da "sei disant" "Ressuscitada"_

O dr. Amaro, deputado-geral pela terceira vez era então conservador puro, casado na maloca saquarema legítima e cioso de sua bandeira, Amícissimo do Comendador, que fôra seu "suplente" na Décima Legislatura, vôou em socorro dos seus grandes eleitores.
A situação política era propícia. Estavam dominando os conservadores, com o gabinete presidido pelo Marquês de Olínda Senador Pedro de Araújo Lima. O dr. Amare Bezerra deteve a marcha do processo e fê-lo desaparecer. O dr. José Nicolau Rigueira Costa, o Chefe de Polícia que tanto cuida¬do estava tendo pelas averiguações, foi, imediatamente transferido para o sul.






























PEDRO DE ARAUJO LIMA - MARQUES DE OLINDA
A Ressucitada de Cunhaú desapareceu. Dizem que o dr. Amaro a levou para o Rio de Janeiro. Dizem que a mataram. Dizem que viajou para o norte, com dinheiro dado pelos Albuquerque Maranhão. Nunca mais ouviram falar em sua existencia, centralizadora das palestras durante tanto tempo.
Anacleto José de Matos, que se casou novamente, o Comendador, Dona Joana, os parentes, regressaram, tranquilos, as residências. Dissipara-se o fantasma da "Ressuscitada".

(07.12.1941)

Continua na próxima semana.

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

A RESSUSCITADA DU CUNHAÚ – PARTE II

(AS IMAGENS ABAIXO EXIBIDAS SÃO DA BARRA DO CUNHAÚ E VILA FLOR. FORAM COLETADAS DO GOOGLE E FUNCIONAM COM MERA ILUSTRAÇÃO)

Ao médico, e depois ao dr. José Nicolau Rigueira Costa, Chefe de Polícia da Paraiba, a "Ressuscitada" contou sua história espantosa.
Casara sem amor, imposto Anacleto José de Matos pelos pais. O namorado fiel era um português, moço forte, bonito. Anacleto era grosseiro, impulsivo, grotesco. Depois de casada, encontrava-se com o português frequentemente. Um dia o marido surpreendeu-os em palestra intima. Não a matou imediatamente por temer a vingança fulminante dos Albuquerque Maranháo. Procurou o Comendador e narrou a traição de sua filha.




















Antonio d' Albuquerque Maranhão Cavalcanti reunira o "conselho de Família", expondo o enrêdo, denuncia de Anacleto e pedindo sugestões para o bom nome da raça ílustríssima. Discutiram quase uma noite inteira. Dona Maria já estava presa, num quarto, incomunicável, guardada por um escravo, de bacamarte ponteiro.
Uma escravinha de confiança, esgueirando-se pelos corredores achatando-se de encontro as paredes, furou o cerco dos negros fiéis e vôou até o português, dizendo a tragédia.
















Pela madrugada um escravo montou a cavalo e galopou para Vila Flor, para a residência de um parente, levan¬do uma carta. O "conselho de Familia" deliberara suprimir Dona Maria do número dos vivos. Resolvera-se optar pelo veneno porque o corpo seria vestido e visitado, quando ex¬posto no caixão. Convinha, apesar' da onipotência, anular os vestigios de um crime. Deram a Dona Maria Umbelina ordem para que "se encomendasse a Deus, pedindo perdão pelos pecados cometidos." Os Juizes, membros natos desse "con¬selho", eram sem macula de pecado.





CASA DE CÃMARA E CADEIA EM VILA FLOR














Voltando de Vila Flor, onde recebera uma dose de ve¬neno, o escravo foi detido pelo português. E convenceu-se depressa que devia substituir o veneno por um outro pó, igual em côr, que o português lhe entregava ao mesmo tempo que moedas de ouro, sedutoras como uma tentação.




























Dona Maria passou o dia orando mas a escrava vinha pode dizer-lhe o que estava preparado. Tomasse o "veneno" sem susto. O "veneno" foi ingerido ao escurecer. A's trindades, hora em que o sino da Capela soava as três badaladas da "Ave Maria". expirava, suavemente, em seu leito de jacaran¬dá trabalhado, a filha mais moça do Comendador Albuquer¬que Maranhão Cavalcanti.
Tão violento era o veneno que o corpo da morta se enríjou dentro de poucas horas. Vestiram-na, mandando par¬ticipar aos parentes distantes, com os convites para o enter¬ro que seria na manhã seguinte. Estavam com mêdo de uma putrefação rápida. Ainda corre uma reminiscência de que o •cadáver estava podre ao ser sepultado. Era um elemento que a familia fazia circular, apressando a ida para o sepulcro.
Sepultada, Dona Maria voltou a si, alta madrugada, nos braços do português, num galope doído de cavalo robusto se¬guido por dois negros possantes, armados e resolutos.
























Os cavalos levaram a "Ressuscitada" até Barra de Cunhaú onde uma canôa esperava. Remaram para a Baía da Traição, terra paraibana. Aí passaram para uma barcaça porque o português não queria ir para a Paraíba, região cheia de Albuquerque Maranhões, influentes e ousados. O rumo era ao norte.
































E, pela manhã, a barcaça, lentamente, cortou águas, roteiro do Ceará, ajudada pelos ventos que rodavam do sul.
No Ceará, morrera o português, de morte natural. Um soldado airoso, substituíra-o. Ficara morando em Míssão Velha. Indo assistir uma "Festa de Novena" em São José de Piranhas, na Paraíba, apaixonara-se por outro soldado, abandonando o primeiro. Com esse soldado paraibano vivera até que, sendo ele transferido para um destacamento longinquo, não o quizera acompanhar. Decidiu descer para à Cidade da Paraíba.
Era essa a história da "Ressuscitada de Cunhaú". . .

(03.02.1941)







MISSÃO VELHA-CE












-continua na próxima semana-

(Transcrição ipsis litteris do “Livro das Velhas Figuras”)

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

DO LIVRO "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS"

OS MACEIÓS




















A praia da Pipa desde os seus primórdios convive com um fenômeno natural geográfico que os nativos denominaram de “maceió”. Esse fenômeno é o resultado de correntes marinhas que ao passarem próximas as nossas costas, provocam a migração de grandes bancos de areia localizados ao largo. Esse fato pode ser observado em grande parte do nosso litoral. No caso específico da praia da Pipa, o movimento de areia ocorre com maior intensidade desde a praia do Moleque até a praia do Madeiro. Porém os “maceiós” só ocorrem na praia do Centro. Em determinadas épocas do ano, o movimento dessas correntes retira e repõe grandes quantidades de areias, principalmente nas praias dos Afogados, do Centro e praia do Porto, onde causam maior impacto visual.





A PEDRA DO SANTO EM ÉPOCAS DE ATERRO




















A pedra do Santo, por exemplo, em determinadas épocas do ano, pode se encontrar totalmente aterrada, e a imagem de S. Sebastião, fixada em cima de um pedestal com quase 3 metros de altura, fica ao alcance das mãos de quem passa pelo local. Quando acontecem as marés de cavação, a mesma imagem do Santo pode se encontrar a vários metros da água, modificando extraordinariamente a paisagem. É tanto que algumas pessoas que tiveram a oportunidade de conhecerem o local em determinada época do ano, terem dificuldade para identificar o mesmo local, quando lá retornam em situação inversa.









A PEDRA DO SANTO EM ÉPOCAS DE CAVAÇÃO













Essa grande movimentação de terras já provocou destruição de casas situadas na praia do Centro, por não terem sido devidamente protegidas, como também nas antigas árvores frutíferas, que adornavam toda a orla marítima, principalmente na praia do Centro.
Árvores muito antigas como fruta pão, mangueiras bacuri e espada, e principalmente os centenários coqueiros, foram os que mais sofreram com esses fenômenos. Geralmente nos meses de junho a setembro ocorre a retirada das areias, que os nativos chamam de “marés de cavação”.

A partir do mês de outubro/novembro essas areias, aos poucos e de acordo com o movimento das marés, começam a retornar às praias, aterrando o que havia escavado. Justamente nessas ocasiões é que, de vez em quando, são formados os “maceiós”. Essas formações geológicas ocorrem quando o retorno das areias acontece com maior velocidade, não dando tempo de haver a dissipação uniforme por toda a praia. O acúmulo se faz a partir da ponta do morro principal (morro de Castelo ou Morro da Pipa) onde se inicia a enseada da praia do Centro, visto que as correntes ocorrem no sentido Sul/Norte.

O primeiro registro fotográfico que tenho de um “maceió” na praia da Pipa é da década de 60. Nessa época, esses fenômenos eram bem mais escassos. Tive oportunidade de presenciar no início dos anos 60, um “maceió” que causou espanto aos nativos e veranistas, pois permaneceu de um ano para o outro. Isso ficou gravado em minha mente porque naquela época os veraneios aconteciam, impreterivelmente, nos meses de janeiro e o retorno à praia, só ocorria no ano seguinte.










MACEIÓ NA DÉCADA DE 60









Atualmente os “maceiós” têm ocorrido com mais freqüência. Isso deve-se, possivelmente, as modificações que a natureza vem sofrendo pela ações predatórias e irresponsável dos homens.
Como as casas que ficam a beira-mar, são constantemente assoladas pelas vagas, principalmente nos meses de janeiro e fevereiro, tradicionalmente de marés mais fortes, seus proprietários, na tentativa de proteger suas moradas contra a força das ondas, retiraram do mar grandes quantidades de pedras e as puseram em frente às casas, construindo assim uma espécie de quebra-mar.
Ocorreu que a retirada desse material, apesar de ter beneficiado os banhistas no que se refere a “limpeza” do local de banho, facilitou a chegada das ondas à praia, que sem empecilho, aumentou sobremaneira, a velocidade com que as areias eram depositadas. Quando isso acontece cria-se uma faixa de areia mais alta próxima a linha d’água, que durante a preamar é transposta pelas ondas. As águas sem possibilidade de retornares ficam aprisionadas do outro lado e aos poucos vão formando um grande lagoa que os nativos denominaram de “maceió”.

Essas formações, a princípio, constituem um cenário de rara beleza, onde o mar fica separado dessa lagoa por uma estreita faixa de terra. Enquanto as marés altas estão transpondo essa faixa de terra e irrigando com água nova o “maceió”, as águas permanecem limpas e oxigenadas.Porém, quando ocorrem as “marés mortas”, e as ondas não conseguem vencer a faixa de areia, as águas que se encontram aprisionadas, por falta de oxigenação tornam-se escuras e fétidas.



















A situação tende a piorar se nesse período ocorrerem chuvas, pois a mistura com a água doce que desce das ruas mais altas arrastando grande quantidade de detritos acelera o processo de insalubridade. Isso torna a lagoa um ambiente propício para o desenvolvimento de determinadas algas que para continuarem crescendo, retiram desse ambiente grandes quantidades de oxigênio, o que consequentemente acelera sua putrefação.
Quando isso ocorre, necessário se faz a utilização de máquinas para a abertura de canais unindo o “maceió” ao mar, para que nas marés baixas seja realizado o escoamento das águas estagnadas e nas marés alta sua renovação. Às vezes, essas máquinas são utilizadas também para o aterro dos “maceíos”, pois quando secam deixam uma lâmina de lodo que se não coberto de imediato, exalam forte odor, além de propiciar o aparecimento de moscas e pernilongos.















Porém, se essas providências não forem tomadas, messes depois, a natureza, como sempre, se encarrega de repor tudo nos seus devidos lugares e a praia da Pipa volta a ser o que é de sua natureza: encher os olhos com estonteante beleza aos que tem o privilégio de visitá-la, com a benção de seu padroeiro São Sebastião.
Pipa, setembro de 2011.

domingo, 6 de novembro de 2011

ACTA DIURNA

Muito bem, Ormuz! Parabéns. Você mais um tento em prol da divulgação da nossa cultura! Continuo defendendo que a produção intelectual de funcionário público estadual em órgão público do Estado do RN (A República, jornal extinto) não cabe direitos autorais.

Abs.

Luiz Gonzaga Cortez.

ACTA DIURNA

Parabéns, Parabéns e Parabéns! Ormuz, V. acertou em cheio! "Não é possível crer-se" em tamanha leveza de estilo, nesta e nessas Actas Diurnas, do Câmara Cascudo. Elas são, verdadeiramente, patrimônio inusitado desta Cidade do Natal!

Aguardo "cartas", aguardo Actas!

Tenha um bom domingo! (Junto dos seus, aqueles que lhe são muito queridos)

Abraços,

ENYLDO EGITO

ACTA DIURNA

Caro Ormuz.

Só você pra resgatar esssas memórias adormecidas pelo tempo.
Esse galo faz parte das minhas lembranças de infancia
e eu sempre olhava pra ele, imaginando mil histórias
que poderiam cercar a sua própria história.

Um abraço do amigo
Zezé

ACTA DIURNA

Nobre Ormuz,
Tenho recebido os seus e-mail's a propósito do que você escreve pelo que agradeço penhoradamente a gentileza.
Quanto ao seu livro sobre Pipa, eu diria que se trata de um sucesso anunciado.
Mando-lhe, nesta oportunidade, o último conto por mim produzido, desta feita, montado exclusivamente no Estado do RN.
Um abraço de seu amigo e admirador.
Djaci Ferreira de Souza.

ACTA DIURNA

Ormuz vc.está fazendo um serviço de utilidade pública de alta envergadura
intelectual e cultural. Revivendo a história e LCC. Que o galo do presépio do
Menino Deus cante em seu louvor Ormuz - anunciando forças para vc. continuar
com a vocação para a pesquisa.
Parabéns
Velho Maux

ACTA DIURNA - A RESSUSCITADA DO CUNHAÚ


FOTO GOOGLE - IMÁGEM PARA ILUSTRAÇÃO

Antônio de Albuquerque Maranhão Cavalcanti, senhor de "Tamatanduba" e da "Ilha Maranhão", no Município de Canguaretama no Rio Grande do Norte filho de André d'Al-buquerque Maranhão, Capitão-Mór de Ordenanças de Vila Flor e Arês, e de d. Antônia Josefa, irmã de André d'Albuquerque Maranhão senhor de Cunhaú e Chefe da revolução republicana de 1817, casou com sua prima, d. Joana, filha do tenente-coronel José Inácio d'Albuquerque Maranhão e de d. Luzia Antônia, irmã de sua mãe.

Era Comendador da Ordem de Cristo, e tenente-coronel da Guarda Nacional, no tempo em que os oficiais andavam fardados, de grande gala,nas missas serenas e dominicais. O famoso Brigadeiro Dendé Arcoverde era seu cunhado. O Comendador hospedou dom João da Purificação Marques Perdigão, Bispo de Olinda. Homem rico, imponente, faustoso, mantinha a herança senho¬rial de bem receber e melhor tratar. No biênio de 1858-59 fora deputado provincial no Rio Grande do Norte e suplente de Deputado Geral na décima legislatura, 1857/60. O Deputado Geral era o dr. Amara Carneiro Bezerra Cavalcanti, casado com uma irmã de sua mulher.

Teve quatro filhos. Três mulheres e um homem. Foram: - Antônio, bacharel em 1854, deputado norte-rio-grandense na Assembléia Provincial de 1856-57, falecido, creio, antes do Pai; Luzia Antonia, casada com João Nepomuceno d'Albuquerque Maranhão; Emília, casada com Afonso Leopoldo d' Albuquerque Maranhão e Maria Umbelina, que se casou com o capitão Anacleto José de Matos.

FOTO GOOGLE - BARRA DO CUNHAÚ

O Comendador fez seu testamento a 5 de março de 1862. Morreu a 5 de setembro de 1865, na freguesia de Goia¬ninha. Foi sepultado de casaca, com solenidade, indo a "mú¬sica" de São José de Mipibu para as cerimônias religiosas da Missa de Sétimo Dia.
Esse Comendador, altivo e nobre, cioso do sangue secular, passaria à História oral da região, na lenda da "RESSUSCITADA DE CUNHAÚ".
Sua filha, dona Maria Umbelina casou com Anacleto José de Matos, abastado, dispondo de eleitores, autoridade policial, amigo da "gens" Maranhão. O casamento foi festivo. Anacleto temido pela sua energia, ficava, desta forma, vinculado a uma das famílias mais ilustres do norte brasileiro.

Um ano depois do casamento, 1858, dona Maria Um¬belina morria. Complicações de parto, embora o filho sobre¬vivesse, sadio, O falecimento enlutou toda a redondeza. Veio gente dos municípios vizinhos. Voltou a "música" de S. José de Mipibu para executar trechos fúnebres e comovedores. Frei Serafim de Catania, pregando então em Vila Flor, dirigiu o serviço religioso, acompanhado de imenso povo, contrito.
Sepultaram Dona Maria Umbelina na Capela de Cunhaú junto à porta que dá para a sacristia. A família ficou inconsolável. A defunta pouco saíra da mocidade mais prometedora de encantos.

As Missas, do Sétimo e Trigésimo Dias, foram concorridíssimas. Pregou Frei Serafim de Catania, o Capuchinho prestigioso pela dedicação sem par. Os anos rolaram sem rasto naquela doce solidão tran¬quila ...
Em 1862, na capital da Província da Paraíba numa "pensão" suspeita, adoeceu de febre palúdica uma mulher, dessas de vida alegre, que é a mais triste das vidas. Chamara um médico. O homem compareceu mergulhou na escura camarinha onde a mulher tiritava de frio incontido, examinou-a, voltando à sala para receitar. Perto, interessada pela saúde da companheira, a "dona" esperava os conselhos médicos.
Finalmente, o doutor assinou o receituário, enxugou-o, e disse numa entonação grave:

- Se eu não tivesse assistido, em Cunhaú, no Rio Gran¬de do Norte, ao enterro da filha do Comendador Antônio de Albuquerque Maranhão Cavalcanti, diria que se tratava da mesma pessôa ...
Do quarto, a voz entrecortada pelo acesso da febre, a doente informou, numa serena convicção inabalável:

- E não se enganaria, Doutor. Eu sou Dona Maria Umbelina, casada com o capitão Anacleto José de Matos, e filha do Comendador Antônio d' Albuquerque Maranhão Cavalcanti...

(02.02.1941)

Continua na próxima semana.

sábado, 5 de novembro de 2011

ACTA DIURNA


QUE QUER DIZER “ÁCTA DIURNA”

Luís da Câmara Cascudo


Perguntaram a mim porque dei semelhante título a esta secção. Que quer dizer ACTA DIURNA?
ACTA DIURNA era uma espécie de jornal diário, uma folha onde os acontecimentos do dia eram fixados pelas autoridades de Roma, para conhecimento do povo. Pregavam-na a uma parede num dos edifícios do FORUM.
No ano 131, antes de Cristo, já existia a ACTA DIURNA, informando ao cidadão romano as "novidades" ou diretivas governamentais.
Júlio Cesar, cinquenta e nove anos antes do nascimen¬to de Cristo, tornou a ACTA DIURNA oficial, de aposição obrigatória num determinado logradouro público.
Conservo o título em latim. Por isso aparece o ACTA com a segunda consoante do alfabeto.
ACTA significa, no latim, ações, obras, feitos, façanhas. DIURNA é o que se pratica sob o sol, no espaço de um dia, ou diariamente.
Suetonio, que bem conheceu a ACTA DIURNA, dizia-a efemérides diárias, o registro dos sucessos mundanos, políticos e administrativos, sociais ou literários.
A minha é uma ACTA DIURNA que recorda o pensamento que presidiu meu dia. Fixo a minha impressão diária sobre um livro, uma figura ou um episódio, atual ou antigo.
Dei-lhe batismo latino porque a intenção cultural é honrar o passado, nas suas lutas, alegrias, tragédias e curiosidades. E, se matéria nova aparece, comentada, é ainda o desejo de conserva-la no Tempo para os olhos amigos de alguns leitores fieis, nas páginas tradicionais d’“A REPÚBLICA”, o mais velho dos jornais conterrâneos

Natal, 03 de agosto de 1943

(transcrição ipsilitere do Livro das Velhas Figuras)