sexta-feira, 15 de abril de 2011

ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Presidente do Instituto Norte-Riograndense de Genealogia-INRG, membro do IHGRN da UBE-RN e ACLA) – www.ormuzsimonetti@yahoo.com.br

PUBLICADO NO PERIÓDICO “O JORNAL DE HOJE” EDIÇÃO DE 15.04.2011

























A PÉROLA RARA

Na última vez que estive na Praia da Pipa, recebi em minha casa o casal Levi e sua esposa Ana Lucia. Levi é o filho mais novo do saudoso vereador Dioclécio Sérgio de Bulhões, e sua esposa, também nascida de boa cepa, é filha de Ivanildo José da Silva, o Ivanildo Sax de Ouro, pernambucano de nascimento e potiguar por opção.
O meu amigo Levi, considerado por seus pares um dos melhores artistas plástico dessa aldeia de Poti, tem seus trabalhos espalhados por vários Estados de nossa federação, inclusive em outros países. Nessa breve visita, onde retornou a Natal no mesmo dia, aproveitou para observar, com olhos de artista, as belas paisagens da Pipa. Essas observações são fundamentais para dar continuidade ao trabalho de ilustração do meu próximo livro, “A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS”, que ele vem desenvolvendo, desde o ano passado.

O livro será lançado ainda este ano com o selo editorial “NAVE DA PALAVRA”, da UBE-RN - União Brasileira de Escritores, secção Rio Grande do Norte. O trabalho será composto por 30 ilustrações que retratam toda a história da praia da Pipa de antigamente. Nesse trabalho, o artista optou por utilizar a técnica mista, que junta na mesma gravura o bico de pena e a pintura acrílica. Já estou de posse de alguns desses trabalhos e posso adiantar que aos meus olhos e de minha família ficaram como esperávamos: um belo trabalho, a altura do talento do artista.

Foi um dia maravilhoso onde tivemos a oportunidade de recordar nossas travessuras de adolescentes quando eu freqüentava a “turma da Princesa Isabel”, rua onde ele morava. Nessa época, costumávamos a nos reunir em frente à Bodega de Floriano, que ficava nas esquinas das ruas Apodi com a Princesa Isabel. Essas reuniões deram origem a “Confraria de Floriano”, onde anualmente, no mês de novembro, reúnem-se na residência de um dos “confrades”, os integrantes da época para matar um pouco a saudade do tempo que passou, mas isso é outra história que contarei depois.
Como sabia que o casal era apreciador de um bom caranguejo cozinhado no leite de coco, encomendei no dia anterior três cordas de goiamum. Aproveitei a oportunidade para juntar a encomenda 1 Kg de marisco, que igualmente vai muito bem ao tempero.

Essa iguaria se constitui, na minha modéstia opinião, o mais gostoso caldo para tira-gosto, principalmente quando a bebida é uma brasileiríssima cachaça. Esses moluscos, muito utilizados em nossa culinária de frutos do mar, são pequenos animais marinho encontrados principalmente em áreas de manguezais. Os que compramos, foram colhidos nos mangues da Lagoa de Guaraíras. Verdadeiras fontes de nutrientes essenciais, eles são ricos em vitamina B, B1, B2, zinco, selénio, cálcio, magnésio e iodo.

Como o casal não pôde nos visitar no sábado, dia em que os esperávamos, perderam a oportunidade de saborear o goiamum ao leite de coco, feito com todo o carinho pela minha esposa, que tem a habilidade tanto de fazer como de degustar esses crustáceos. Os recebemos então no dia seguinte, e como recompensa, guardei para o casal o sururu que foi servido apenas no domingo, como tira-gosto, em forma de caldo.
Lá pelas tantas, entre um copo e outro, conversávamos amenidades. Ele, grande apreciador de cerveja, sorvia cada copo como se fosse o último. Por minha vez, como de costume, preferi degustar em pequenos goles, uma boa cachaça.

Estávamos em animada conversa quando foi servido o caldinho de sururu ao leite de coco. Logo na primeira porção que me foi servida, mastiguei algo estranho. A princípio pensei tratar-se de uma pedra e temi pela possibilidade de ter quebrado algum dente. Mas, ao colocar a mão na boca e retirar aquele corpo estranho, surgiu diante dos meus olhos algo bem diferente do que esperava ver. Fiquei observando na ponta de meu dedo indicador uma bela e minúscula pérola. A princípio não acreditei no que meus olhos viam, ao tempo que meu celebro insistia no que me recusava a acreditar. Até aquela data nunca tinha ouvido falar que alguém tivesse encontrado uma pérola dentro de um marisco, mesmo porque não era de meu conhecimento que fosse possível encontrar pérolas dentro desses moluscos. Sempre ouvia falar que elas são encontradas dentro de ostras.


























Estudando o assunto descobri que as pérolas são materiais orgânicos produzidos por moluscos, principalmente pelas ostras. Formam-se a partir de vermes ou grãos de areia que invadem seu organismo. Valorizadas como gema desde a antiguidade, a jóia é objeto de desejo das mulheres, e sinônimo de glamour. As pérolas de melhor qualidade são encontradas no Golfo Pérsico, porém também são encontradas na Índia, América Central, Austrália e Sri Lanka. No Japão, as que são “cultivadas” em criatórios, a produção é em larga escala, mas o preço é bem inferior. Nesta região e na Coréia, desde a antiguidade, existe um grupo de mulheres apneístas – que consegue prender a respiração por bastante tempo - especialistas na caça de pérolas a grandes profundidades.

O confrade e amigo Edgar Ramalho, geólogo e especialista em gemas, ao ver a notícia juntamente com a foto da pérola no meu blog – www.ormuzsimonetti.blogspot.com, pediu-me para analisá-la. Na última terça-feira, dia 12, levei-a até ele que após minucioso análise comprovou sua autenticidade.
Pois bem, na ocasião o achado causou espanto a todos os presentes e imediatamente lembrei-me de minha filha caçula Priscilla, que havia ficado em Natal. Estava impossibilitada de viajar, pois aguarda para qualquer instante partilhar do milagre da vida, com o nascimento da doce Isabella, sua primeira filha e minha segunda neta.
















Essa pérola, que chegou a mim de uma maneira tão inusitada, certamente foi enviada por interseção de Maria mãe de Deus, de quem é extremamente devota, que cheia de graças, se antecipa em presentear essa outra pérola que logo vai chegar a um mundo de incertezas, mas que terá Sua proteção e o amor incondicional de seus familiares.

Parafraseando o poeta cantor e compositor Chico Buarque de Holanda, desejo que ela seja “pura como o grito mais profano, com a graça do perdão. E que ela faça vir o dia, dia a dia mais feliz e seja da alegria sempre uma aprendiz”.

Natal, 05 de abril 2011.


Em tempo: Isabella nasceu ontem dia 15 com 3,1 kg. Linda e saudável.