quinta-feira, 26 de abril de 2012

O BARLEAUS ESTÁ DE VOLTA

         O Presidente do I.H.G. R.N, Juramdyr Navarro, Gutemberg Costa e Ormuz Simonetti




FINALMENTE O BARLAEUS RETORNA AO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE.


O livro escrito em 1647 pelo historiador e teólogo holandês Gaspar Von Barlaeos retrata o nordeste do Brasil durante a ocupação holandesa, com foco principal na cidade de Olinda. 
Gasper Von Barleus foi quem cunhou, em 1660, ao escrever Rerum per octennium in Brasilien, a expressão "ao sul da linha equinocial não se peca". Em português, ela se tornou conhecida e mesmo popular entre nós, depois que virou o primeiro verso de um dos maiores sucessos de Chico Buarque, na voz de Ney Matogrosso, utilizada como tema de novela da Globo: Não existe pecado do lado de baixo do Equador o autor depois de visitar o Brasil, registrou a frase num livro de viagens que escreveu, fazendo o seguinte comentário: “é como se a linha que divide o mundo separasse também a virtude do vício.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

PIPA, TERRA DE NINGUÉM – Parte II


Uma noite tranquila é direito de todos




          No sábado de aleluia a Pipa foi palco de uma situação que além de inusitada, arrisco a afirmar não ter precedente em nenhum lugar onde convivam pessoas com um mínimo de civilidade. Para que o Padre pudesse celebrar a Santa Missa, já que uma das casas alugadas fica ao lado da Igreja, foi preciso que a polícia se posicionasse ostensivamente em frente à residência e negociasse com os seus integrantes, o desligamento provisório do som, pelo menos enquanto durasse a celebração. Mesmo assim, antes do término da missa, o som retornara com toda sua potência.

          Nos Estados de origem da maioria desses vândalos, Pernambuco, Paraíba e Ceará, tenho certeza que esse tipo de comportamento, além de não ser permitido, seria rechaçado pela população e pela própria polícia, seguramente, com respaldo das autoridades locais, fazendo-se presente e coibindo esse comportamento marginal. Certamente, alguns potiguares que participavam dessa orgia, também fazem parte desse acinte.

No Rio Grande do Norte e principalmente na praia da Pipa, ao que parece, tudo pode. E, com base nessa premissa, eles sempre estão de volta. No próximo feriadão, lá estarão novamente promovendo todo tipo de desordem e afrontando as famílias que tiveram a infelicidade de ter suas casas de veraneio na praia da Pipa, ultimamente, terra de ninguém. 

          Nós, veranistas e assíduos frequentadores dessa praia, já pagamos nossa cota de sacrifício, quando somos obrigados a conviver com um trânsito caótico, sem regras nem orientação. A ausência do poder público municipal é gritante. Os carros são estacionados ao bel prazer dos motoristas, muitas vezes estimulados por “flanelinhas” que no afã de ganhar alguns trocados, interrompem o trânsito com estacionamentos irregulares, principalmente quando são feitos em frente a garagens. O pior é que não temos a quem recorrer. Muitas vezes já fui impedido de sair de minha garagem, por haver um carro estacionado de forma irregular, e o proprietário em local ignorado.

          Na parte baixa da praia, onde se concentra a maioria dos carros, não existe e nem nunca existiu, nenhum servidor municipal para organizar o estacionamento e o fluxo dos veículos. Tudo é feito na base do “salve-se quem puder” e sob orientação dos “flanelinhas”. O turista que tiver a desventura de chegar à praia da Pipa por volta do meio dia dirigindo seu próprio veículo, certamente não levará boas recordações e irá pensar duas vezes, antes de retornar numa outra oportunidade.

           Quando não cuidamos de nossa própria casa, sempre aparece alguém para exercer esse “direito”. A liberdade aos poucos vai sendo retirada, sem que reclamemos ou protestemos até que um dia descobrimos que nada podemos dizer. É preciso despertar. Lembro-me do poeta Eduardo Alves da Costa, autor de alguns dos maiores e mais belos poemas da língua portuguesa, publicado na década de 60. Peço vênia, para citar fragmento do poema: No Caminho, com Maiakóvski.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada”.

E aqui fica a pergunta que não quer calar: é esse o Estado que se diz apto a receber a Copa do Mundo? Talvez tenhamos que pagar um alto preço pela vergonha do fiasco que poderá estar por vir. Como dizem ser o tempo o senhor de tudo, só ele será capaz de responder a esse questionamento.

Quem viver, verá.








sexta-feira, 13 de abril de 2012



PIPA, TERRA DE NINGUÉM – Parte I

Uma noite tranquila é direito de todos

         Há anos que o um dos mais famosos balneários do Brasil, a praia da Pipa, vem convivendo com um problema recorrente, e aparentemente sem solução. Quando acontece grandes feriados, horda de jovens, na sua grande maioria, procedentes de outros Estados, desembarca na praia da Pipa com o propósito de diversão a qualquer custo e a nítida intenção de transgredir a Lei e a Ordem pública.
         Foi o que aconteceu no último feriado da Semana Santa. Apenas três casas foram alugadas pelos seus proprietários, porém, o suficiente para deixar toda a parte baixa da praia, onde se concentra a maioria das casas de veraneio, em polvorosa.
         Quando acontecem esses aluguéis, os contratantes tratam diretamente com os proprietários e depois vendem os ingressos aos que desejarem participar da “festa”. Geralmente casas que comportariam de doze a quinze pessoas, são acomodadas, se é que podemos chamar de acomodação, até setenta indivíduos em sua maioria, constituída por jovens de ambos os sexos.
         Munidos de equipamentos de som de alta potência, são ligados em todo o volume o que resulta num verdadeiro pandemônio. Nessas casas, para chamar a atenção, são colocadas faixas e cartazes com palavras obscenas e algumas exibem, com pequenos disfarces, a genitália masculina, indicando ser ali a Casa de todos. Não fosse esse cronista de página limpa, tentaria levar o leitor a identificar o verdadeiro nome.
         Dentro delas a visão é estarrecedora. Homens e mulheres se entregam a uma orgia sem precedente. O álcool comanda o ambiente e dita o ritmo da festa. As mulheres, normalmente mais vulneráveis aos efeitos das bebidas alcoólicas, são as que mais se destacam e se exibem. Em notória degradação de sua dignidade, convidam, através de musiquetas com cunho sexual, cantadas em coro, futuros parceiros, com se fossem mercadoria em liquidação. Numa verdadeira afronta as famílias que residem nas adjacências, bem como aos turistas, palavrões de toda espécie são recitados em alto e bom som, independentemente de quem estiver passando nas imediações. Famílias quando acompanhadas de menores, se apressam para escapar daquele ambiente de permissividade comportamental e promiscuidade social e moral.
         Quando a noite chega os grupos continuam no mesmo ritmo que iniciaram, porém, a embriaguez já tomou conta da maioria dos participantes. E assim continuaram durante todo o feriado. Enquanto alguns dormem, obviamente, vencidos pelo cansaço misturado ao estado de embriaguez, outros continuam na farra, de maneira que o som permaneça ligado no último volume.
         É notória a indolência do poder público Municipal e principalmente a ausência do Estado, com relação ao policiamento, já que este é de competência do Governo Estadual. O efetivo responsável pela manutenção da ordem e da lei, em todo o balneário, é de apenas três homens. Segundo especialista em segurança pública, em razão das características e peculiaridades da praia da Pipa, esse número seria de no mínimo, dez homens para atender a demanda, principalmente durante os feriados prolongados. Imagine, meu caro leitor, o que é passar a noite fazendo rondas, solucionando conflitos dos mais diferentes níveis sem que o Estado lhes ofereçam as condições necessárias ao bom desempenho de suas funções constitucionais. É um caos. E mais. Há relatos de que as gratificações prometidas para o período do veraneio, ainda não foram lançadas nos contracheques dos valorosos militares.  
         Além do mais, pergunta o Agente, o que poderia fazer o policial para coibir esse tipo de abuso? Sem o apoio do Judiciário e do Ministério Público, seus poderes são altamente limitados. Questiona-se.
E foi o que aconteceu. Quando o policial ao se aproximar da residência para solicitar que o som fosse diminuído, um dos participantes o admoestou: “se não tem mandado a conversa é do portão pra fora”. De antemão, o policial sabe que dentre aquelas pessoas, existem vários advogados “com notórios saber jurídico” que conhecem bem “seus direitos”, mas infelizmente usurpam, ofendem e fazem menoscabo com os direitos alheios. Temendo a desmoralização, o agente da lei procura através de conversa, em sua maioria sem êxito, convencê-los a atender o clamor da população e pelo menos diminuir o volume do som, para que principalmente idosos e crianças possam dormir em paz.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 
         Mesmo se os moradores-veranistas quisessem usar do direito assegurado no art. 42, III da Lei das Contravenções Penais, iriam até a Delegacia de Policia Civil e fariam um Termo Circunstanciado de Ocorrência, objetivando a solução do conflito. Ocorre, porém, que na Delegacia de Policia Civil da praia da Pipa, tem apenas um agente e, pasmem, sem viatura. Nesse caso, não restaria nenhuma outra solução a não ser reclamar ao Senhor Bispo, Dom Jaime, representante de Deus entre os homens. 
Diferentemente, na praia de Pirangí acontecia problema semelhante. Mas, ao que pude apurar, as autoridades competentes dotaram, os policiais de instrumentos legais, previstos em nossa Constituição, para que pudessem ser utilizados no cumprimento da lei. Munidos de Mandado Judicial, aos policiais era permitido adentrar ao ambiente e apreender o equipamento de som que estivesse em desacordo com a legislação, caso o infrator se recusasse a cumprir o que determina a lei.   
                                                                        Solicitamos aos leitores que se manifestem a respeito da matéria para que possamos pressionar as autoridades competentes.

terça-feira, 3 de abril de 2012

CENAS URBANAS - Crianças Invisíveis

O Tráfego fluia normalmente.
Os veículos desfilam imponentes. A paisagem se descortina generosa. Os mundos se dividem nos limites dos vidros que abrem e fecham automaticamente ao leve toque dos motoristas. Lá fora um calor escaldante exaure as pessoas. Ali dentro uma amena temperatura aconchega o ambiente.

O sinal fecha. Rangidos de freios ecoam no ar. Como surgidos do nada, um pequeno exército de pessoas muda a paisagem. São vendedores ambulantes, mendigos, aleijados arrastando-se no asfalto, crianças famintas que mal balbuciam um pedido ininteligível de uma moeda, velhos e suas mãos tremulando no vazio, malabaristas e acrobatas que disputam a atenção e alguns trocados dos motoristas e passageiros.

Os dois mundos se encontram. Perplexidade e indiferença são sentimentos conflitantes e a ação, um ato constrito. O “levantar” dos vidros dos luxuosos carros substituem os limites da humanidade. Os olhos cravados no semáforo inibem, propositalmente, o contraste do momento.

O sinal abre. Tudo se movimenta e os mundos voltam a se separar. Pelo retrovisor, o olhar faminto da criança parece distante. Apenas parece, pois, num passe de mágica, no próximo sinal, a cena se repete. Como poderia aquela criança está aqui novamente. Não, ela não está! É outra criança. São outras crianças espalhadas por todos os semáforos das ricas avenidas da cidade. A pobreza não tem várias faces, semblantes diferentes. Todas parecem miseráveis, sujas, abandonadas, iguais. Todas são iguais em suas carências, em sua ânsia desesperada de misericórdia, em seus mudos lamentos.

O sinal abre. E reabre. E, em cada um deles, todos os dias, as muitas cenas urbanas se repetem no contraste das desigualdades.

O tempo passa. Sinais abrem e fecham sem parar. As distâncias entre os mudos: pobre e rico, aumentam sem parar.

Certo dia, em um dos muitos semáforos do seu caminho habitual, aquele indiferente motorista se depara com uma pequena aglomeração em torno de um cadáver postado na pista. A polícia algemara um jovem, quase criança. O motorista olhou com um pouco mais de atenção e deparou-se com um rosto conhecido. Indignado pensou:

- Meus Deus, era um daqueles garotos que mendigavam no semáforo da avenida Roberto Freire, há tão pouco tempo. Nunca mais o tinha visto. Que marginal, como pode a maldade humana chegar a esse ponto. Acabar com a vida de alguém sem qualquer motivo. Ainda bem que eu nunca me dispus a ajudar a nenhum deles.
O corpo jazia inerte.

Logo aquela vida seria apenas um desenho no asfalto.

Para aquele jovem, preso e algemado, a vida sempre fora um desenho, um mal acabado esboço colorido com as frustrantes tintas dos descasos e desmandos do poder constituído e da indiferença social. No meio da pequena multidão, alguém mais exaltado, falava de dignidade humana.

Imagine, alguém, repentinamente, lembrar da dignidade humana como se ela fosse apenas uma palavra.  E como falamos em dignidade humana. Mas, o que é dignidade humana?

(Cena Urbana, texto de autoria de Adauto José de Carvalho Filho, Auditor Fiscal da Receita Federal do Brasil Aposentado, Bacharel em Direito, escritor e poeta)