quinta-feira, 21 de novembro de 2013

REMINISCÊNCIAS DA RUA PRINCESA ISABEL – A SAGA DE FLORIANO - EL BODEGUERO – V

Avenida Deodoro da Fonseca - Internet

...Na década de 60 foram surgindo outros frequentadores, na sua maioria moradores da região e adjacências, além de “convidados”, como era o meu caso, pois naquela época morava na Avenida Deodoro.  O meu ingresso na turma foi através de um amigo de infância, Thales de Abreu Saraiva que ao se mudar da Rua Felipe Camarão para a Rua Princesa Isabel levou-me para a nova turma. Sua casa ficava em frente à residência dos irmãos Jahyr e Jurandyr Navarro, no final da rua próximo a ladeira do Baldo.    

Cito alguns frequentadores e suas estórias segundo as lembranças de José Augusto de Freitas - Zezé: Luis de França, apelidado de "Luis, o Bucaneiro". Certa vez Zezé fez um jornalzinho, com a caricatura dele, vestido de pirata, com perna de pau, papagaio e tudo. Havia os irmãos Bezerrinha, Dilson, Kessinho e Baiá. Tinha, ainda, o Rapa-coco, um senhor meio velho bem alto e magro; Abdênego, sargento do Exército, reformado; Heródoto, um cara atarracado, de porte atlético e de estatura elevada que quando enchia a cara ficava zanzando pela bodega e esfregando sua enorme pança no balcão. Numa dessas idas e vindas, desequilibrou-se e, acidentalmente, quebrou a quartinha da bodega. Um grande estrondo seguiu-se de um verdadeiro dilúvio, já que a enorme quartinha comportava quase 20 litros d’água. Cacos de barro se esparramaram sobre o passeio. Após um silêncio sepulcral dos que estavam presentes e o despertar de alguns pinguços adormecidos, todos os olhos voltaram-se para o culpado. Floriano que havia se ausentado da bodega pela porta que dava acesso a sua casa, ao ouvir o estrondo retorna, e atônito depara-se com o cenário avassalador. Depois de refeito olha para Heródoto e com voz paternal,  diz: “Heródoto, o que você fez? Você quebrou a quartinha do povo! A quartinha que matava a sede dos amigos! Você não fez mal a mim Heródoto; você prejudicou o povo que bebia água dessa quartinha!”...

                                          Foto internet

Heródoto, ainda zonzo e sem entender direito o que se passava ou o que tinha feito, com um ar de pura inocência, respondeu, com sua voz pausada e pastosa:
      - Ao povo, nobre amigo? Eu fiz mal ao povo? Quando ele se dirigia a Floriano tratava-o de "nobre amigo" (...) Envergonhado atira seu corpanzil totalmente sem domínio sobre umas caixas de cerveja e se entrega aos seus devaneios etílicos.  

Frequentavam ainda a bodega de Floriano: Vavá Pombo, irmão do exímio violonista o saudoso Efrain, que faleceu prematuramente após uma crise de apendicite; e também o não menos famoso Lelé, um dos maiores trombonista de nossa terra, morto em um acidente que ficou conhecido como a Tragédia do Baldo.
         
       Todos a seu tempo devem um pouco de sua formação na universidade da vida, aos ensinamentos aprendidos nos bancos feitos com caixas de cerveja e tamboretes da bodega de Floriano. Vavá Pombo grande craque da bola, tendo atuado como ponta direita do América, tinha fama de mentiroso e contador de histórias. De sua vez, irmão de saudoso Demóstenes, ídolo do Botafogo do Rio de Janeiro, tendo, inclusive, sido lembrado para compor a seleção brasileira da época. Era uma abençoada família de versáteis artistas.


                                   Botafogo 1950 - F.internet

No livro de depoimentos “Amigos do Tirol”, lançado em 2010, Mozinho um dos autores, narra uma estória que eu ouvi na bodega de Floriano e a ele transmiti há muitos anos atrás: contava Vavá que certa vez estava tão bêbado, mais tão bêbado, que jogou uma pedra no chão e errou. De outra feita, disse que após uma chuva torrencial notou, em cima um abacateiro que ficava no quintal de sua casa, uma manha escura pendurada em um dos galhos. Aproximou-se e cauteloso começou a cutucar a tal mancha com uma vara de bambu. Eis que em dado momento ouve um violento estrondo e ele cai pra trás. Refeito do susto surpreendeu-se ao perceber que tinha conseguido liberar um trovão que durante a chuva, acidentalmente ficara preso nos galhos do abacateiro.



         Havia também os que “assinavam ponto” regularmente como Ariosvaldo, que se dizia ex-combatente da FEB. Quando ele chegava ou passava, a meninada traquina gritava: "Chega-lhe a bufa" e ele saia esculhambando papagaios e periquitos... Floriano contava que quando o navio que transportava os combatentes para a Itália alcançou a saída da barra, Ariosvaldo pulou (heroicamente) no mar, retornou para casa e lá se escondeu até o final da guerra.

Raimundo, também conhecido como “Raymundo de La Cruz”, era um cara amarelo, de olhos acinzentados como de uma cobra. Floriano dizia que ele era um cara perigoso e que já havia matado gente. Certa vez, Carlinhos “barbeiro” disse uma brincadeira que Raimundo pensou que era com ele e fez o seguinte comentário: "formiga quando quer se perder cria asa, né Floriano"?  Carlinhos conhecedor da fama do colocutor desconversou e sem demora, deu no pé temeroso da observação.

F. internet


Numa determinada época, a orquestra de Ivanildo Sax de Ouro, veio fazer uma temporada no América F.C. e acabou ficando definitivamente em Natal. Os músicos passaram a frequentar a bodega de Floriano. Os mais assíduos, que logo fizeram amizade coma a turma da rua, foram: Odilon (violonista), Marçal, um meio japonês que era pianista e metido a filósofo; Saci, um negrinho alto e magricela, que entornava todas e tinha os olhos vermelhos e esbugalhados. Era um virtuoso do contrabaixo. Certa vez ele tocando no America, totalmente embriagado, caiu e continuou no chão, tocando o instrumento até o término da música.


O próprio Ivanildo também frequentava a bodega de vez em quando para bater um papo com os amigos e admiradores. Havia ainda uma figura exótica que todo mês chegava por lá: a professora Julieta. Ela parecia uma figura saída de um conto de fadas. Vestia uma roupa estilizada, de seda pura, com um coque no cabelo envolto em um lenço também de seda. Usava marrafas, brincos extravagantes e um batom bem vermelho tipo “boca louca”, nos grossos lábios. Lembrava uma velha cigana. Notava-se que sua idade já era bem avançada. Era aposentada e cuidava ao que parecia de alguns meninos, possivelmente seus sobrinhos. Ela comprava ninharias de confeito, doces cristalizados (mariola), raiva (bolinhos de goma), para levar pra eles. 
F. internet

De pé no balcão ordenava: "Floriano bote dois mil réis de raivas.” Floriano em obediência as ordens daquela extravagante dama, logo pegava em baixo do cepo de madeira um papel de embrulho ou um pedaço de jornal e com dedos ágeis começava a enrolar o pedido da madame (...)













terça-feira, 12 de novembro de 2013

REMINISCÊNCIAS DA RUA PRINCESA ISABEL – A SAGA DE FLORIANO - EL BODEGUERO – IV



...Em uma prateleira suspensa acima do balcão, pendurados com arame, podiam ser vistos outros itens tais como: peças de corda de agave, rodinhas de madeira para carro de brinquedo, baladeiras, tranças com cabeças de alho e de cebolas, vassouras de palha de carnaúba, canecos de alumínio e ágata, colheres de pau, raladores do coco, urupemas, espanadores, pinico, o velho conhecido urinol nas versões alumínio e ágata, colheres de pedreiro, lamparinas feitas de lata, pavios para candeeiros e lampiões, etc. No canto da parede, vassouras de piaçava – industrializadas - e cabos feitos com vara de marmeleiro, complemento que acompanhavam as vassouras de palha de carnaúba. Em uma gaveta abaixo da mesa do centro o dinheiro graúdo ficava dentro de uma caixa de charutos. O de menor valor, separado para troco, misturava-se com caixas de fósforos da marca Olho, cigarros em retalho e os famosos charutos Cesário. Por ser mais seguro, colocava também naquela gaveta pólvora negra da marca Elefante e espoletas guarani, vendidas para espingarda de soca. 

Em um “fiteiro”, bem a mostra numa das prateleiras de fundo, guardava produtos de aviamento tais como: carretéis de linhas branca e coloridas, lixa para unha, fecho ecler (zíper), colchetes, botões de diversas cores e tamanhos, alfinetes, agulhas para costura e agulhas de palombá – usadas para coser sacos de cereais – dedais, etc. Em cima da mesa arrumados uns sobre os outros, marços de cigarros industrializados como o Astoria, Gaivota, Continental, Hollywood e, ainda, os fabricados no Ceará, Asa e Iolanda. Vendia também para uma clientela seleta fumo de rolo e rapé (torrado) vindo direto de Arapiraca, como também o papel Colomy, utilizado na confecção dos cigarros também conhecidos como “brejeiros”. Naquele bazar, tinha de um tudo. Se o cliente procurasse e tivesse paciência podia encontrar até mesmo o famoso freio pra gato.

Dizem que a velha balança da bodega foi presenteada por sua mãe quando ele ainda era criança em uma de suas viagens a Macaíba. A peça foi adquirida de um artesão na feira domingueira daquela cidade.  Invocando o espírito altaneiro de Fabrício Pedroza, expoente máximo do comércio em toda região, lhe entrega a peça com a seguinte recomendação: ”vai Floriano, e seja um grande comerciante na vida!”

Ao lado do balcão, encostada na parede, uma velha quartinha de barro coberta por com uma caneca de alumínio atendia os pinguços mais sedentos, principalmente nas primeiras horas da manhã. A colocação estratégica da quartinha era beneficiada por uma brisa fraca, porém constante, que entrava pela porta voltada para o nascente. Em cima de um tamborete, uma velha lamparina a querosene, permanentemente acesa para o acendimento de cigarros. Recusava-se peremptoriamente a emprestar caixa de fósforos para acender cigarros dos fregueses. Em sua concepção, um gasto desnecessário, além do risco de perdê-la para os clientes mais “esquecidos”.
         

         Próximo às caixas de cervejas, empilhadas uma sobre as outras, uma lata de querosene Esso Jacaré e vários litros e garrafas com barbante amarrado no gargalo para facilitar o transporte e o contato com a mesma. O funil era colocado na primeira da fila e à medida que fossem enchendo, ia passando para as outras. Após o envasamento eram lacradas com tocos de sabugos de milho. Esse serviço era supervisionado por Floriano, porém, executado com a ajuda de alguns dos pinguços de plantão, que ao final do dia, eram regiamente pagos com um copo bem cheio da “prata da casa”.

Em cima do balcão um balaio de pão coberto com um pano feito de saco de açúcar, diariamente abastecido pela manhã e a tarde por "Mané do Pão" trazidos diretamente da padaria Rio Branco de seu Leonel. Pães tipo crioulo, francês, carteira e doce eram rapidamente vendidos as donas de casa da redondeza.
         
      No centro do balcão papeis para embrulhos misturados com pedaços de jornais, usados na embalagem dos produtos, descalçavam sob um enegrecido cepo de madeira. Para essa tarefa contava com a habilidade das mãos de Floriano que após acondicionar o produto vendido no centro do papel, começava a torcê-lo de baixo para cima executando uma série de dobras, uma sobre a outra, até transformar o embrulho em uma embalagem hermeticamente fechada. Coisas daquela época... Diferentemente do hoje que temos um saquinho plástico para tudo, inclusive, contribuindo para a poluição do planeta.
        
       Em baixo do balcão, suspensa em uma prateleira, uma bacia com água usada na lavagem dos copos de pinga. Chacoalhava o copo dentro da bacia e em seguinte o pendurava num secador de madeira preso na parede. Pouco tempo depois o copo já estava “esterilizado” e pronto para ser utilizado novamente. A água da bacia, naturalmente, só era trocada ao final do dia.

Sentados em velhos tamboretes ou em caixas vazias de cerveja, os “pinguços” mais assíduos. Entre uma lapada e outra, inevitavelmente precedida de um sonoro estalo de língua, degustavam a marvada. Como parte do ritual, após sorver aquele néctar, grossa cuspidela era atirada naquele chão de antepassados companheiros de garrafa, já encaminhados pelo Altíssimo, pra o andar de cima. Contavam suas aventuras, recheadas de devaneios, muitas vezes produto de suas mentes já corroídas pelo álcool.
        
       O anfitrião debruçado por cima do balcão com o queixo apoiado em um dos braços, com olhar sonolento e distante, escutava as mesmas estórias fantasiosas, somente despertado pela chegada abrupta de algum cliente. O pinguço alheio a tudo e a todos, continuava sua narrativa muitas vezes sem que a presença do cliente fosse notada. 

     Vez por outra também eram interrompidos pelos gritos estridentes de Minervina, esposa de Floriano, que vivia com cara de poucos amigos, a procura do papagaio fujão. Louro! Louro! Cadê você louro? Às vezes o papagaio fugia e se empoleirava na porta de duas folhas que dividia a casa da bodega. Tanto Floriano como seus asseclas, mesmo sabendo da localização da ave fujona deixavam que Minervina continuasse a procura que certamente terminava em boas risadas quando a ave finalmente era encontrada. Dessa forma vingavam-se da matrona, que vez por outra, estando ela de maus bofes, invadia a bodega e esculhambava todo mundo.
     
   
      Quando os pinguços não tinham dinheiro, Floriano não se fazia de rogado: sacava debaixo do balcão um litro branco lacrado por uma rolha de sabugo de milho, também conhecida como cachaça mole, e oferecia ao tradicional freguês, generosos copos bem cheios da “prata da casa”. Depois, sempre dava um jeitinho de ser ressarcido da generosidade com algum serviço de pouca monta (...).
        


sexta-feira, 1 de novembro de 2013

REMINISCÊNCIAS DA RUA PRINCESA ISABEL – A SAGA DE FLORIANO - EL BODEGUERO – III



...Aquele lado do balcão era o seu mundo. Desde tenra idade já frequentava esse espaço ajudando Dona Sofia, sua genitora e primeira proprietária da bodega, no atendimento a clientela. Não precisava de grande locomoção no seu labor diário, visto ser a bodega o prolongamento de sua residência que tinha frente voltada para a Rua Apodi n° 160.

Impávido atrás do balcão e pronto a atender aos pedidos dos mais variados e exigentes clientes, estava Floriano. Conheci-o com aspecto idoso no final da década de 60, muito embora ainda não tivesse completado 60 anos, visto ser nascido em 1910. Estatura mediana, tez muito alva em contraste com os óculos extremamente escuros que raramente era retirado da face. 

Floriano vestia sempre uma camisa branca, tipo “slack”, que cobria, entretanto não escondia uma preponderante barriga que lhe dava uma aparência patriarcal. No bolso da camisa, presa pela haste, uma caneta tinteiro utilizada para registrar o “fiado”, em um desgastado caderno de arame, velho e sebento, mas, que somente ele sabia decifrar suas anotações. Para localizar o cliente após as compras, metia o indicador por cima da língua e com movimentos cadenciados passava, página a página, até localizar o nome do indivíduo, na primeira linha, num verdadeiro ritual diário. A anotação era feita na presença do cliente com o valor da mercadoria e o dia da aquisição. O pagamento do “fiado”, ou “conta na caderneta” era prometido para todo final de cada mês. Caso isso não acontecesse, Floriano dava um jeito de mandar um recado ao devedor. Se esse não surtisse efeito, as compras ficavam suspensas até a total liquidação do débito ou uma possível negociação que exigia inclusive a presença física do devedor. Dona Anita, proprietária da Pensão Caicó era uma das suas habituais freguesas. Sempre que se aproximava o final do mês e a dispensa de mantimentos ficava mais vazia, era na bodega de Floriano que ia em busca de socorro.  

De vez em quando, o bodegueiro sacava do bolso um lenço encardido que mais parecia uma toalha de rosto e levantando um pouco os óculos enxugava os olhos. Sofria com a claridade. Um de seus olhos, além de não enxergar atacado por catarata, lacrimejava em excesso que o obrigava a essas constantes intervenções. O mesmo lenço também utilizava para enxugar o lábio inferior em constante salivação.

Compunha ainda sua indumentária calça preta protegida por um avental amarelado e desgastado pelo uso, preso as costas por duas tiras de pano terminadas em um nó. Uma escura mancha horizontal marcava no avental exatamente a altura do balcão, devido ao constante atrito com o mesmo, no vai e vem do atendimento diário. Nos pés, surrados chinelos de rabicho, que não raro permaneciam cobertos com um pó branco, proveniente de restos de farinha de mandioca, escapados da concha de alumínio usada para medir cereais. 


Estes, dispostos em latões ou sacos ficavam lado a lado no fundo da venda. O percurso entre os latões e a balança na pesagem dos produtos, deixava escapar migalhas do que estava sendo pesado. Ao fim do dia milho, feijão, arroz e farinha se misturavam num alinhamento que mais lembrava um formigueiro em atividade.

A tal balança, autêntica peça de museu, compunha-se de dois pratos de cobre sobre uma armação de ferro. De um lado era colocado o peso pretendido e do outro a mercadoria a ser adquirida. Conforme fosse, ia-se adicionando ou retirando o produto, até atingir o peso desejado.  Descansando ao lado da balança, cuidadosamente arrumadas em uma caixinha de madeira, peças de ferro de forma cilíndrica e padronizadas de 1 a 5 quilos, além de outras de tamanho menor e com forma arredondada usadas na pesagem das “quartas”, medida com 250 gramas, muito utilizada na pesagem de fumo de rolo, brochas para sapateiro, pregos, chumbo par espingarda e algumas especiarias, completava o artefato.
         

         Todo o recinto por trás do balcão era tomado por prateleiras que partindo do piso projetavam-se até o teto. Em arrumação pouco ortodoxa, eram expostos produtos de todo tipo. Latas de biscoitos sortido, manteiga papagaio, pacotes de macarrão Jandaia, goiabada cascão, bananada e marmelada da marca Peixe, leite Ninho e aveia Quaker misturavam-se a soda cáustica, pregos em quilo, brochas para sapateiro, óleo Benedito e Sol levante, sabão em barra, cera Parquetina, gordura de coco Cristal, anil Ideal, óleo lustra móveis peroba, sal, açúcar refinado e bruto, rapadura preta fabricada nos engenhos de Ceará-Mirim e as branquinhas, conhecidas como rapadura batida produzidas em Japecanga, cerveja Brahama e Antártica, as únicas existentes na época, guaraná Antártica, Dore, Jade, Leda, Crusch, Grapette e Fratellivita, breu, fósforo marca Olho ainda com a caixa feita com lascas de madeira, palito de dente, manga de chaminé, camisa para lâmpada Coleman e lampião Aladim, marços de vela usadas nas noites em que a Companhia Força e Luz não funcionava, no pagamento de promessas aos santos de devoção ou mesmo nas madrugadas das sextas-feiras evocando a proteção de tranca-ruas e orixás.

As garrafas de aguardente como Pitu, Serra Grande, Murim, Olho d’água, Caranguejo e Chica Boa ficavam enfileiradas na principal prateleira para a apreciação e o desejo dos clientes. Botijões de vinho Raposa e Sangue de Boi completavam a área reservada a bebidas. Num cantinho bem discreto, se é que naquele ambiente isso fosse possível, podiam-se ver ainda alguns produtos farmacológicos muito utilizados pelas donas de casa no cuidado com a saúde dos filhos: emulsão de Scott, leite de magnésio de Phillips, biotônico Fontoura e finalmente Sanarina, a maravilha do lar.

        














                         








































 Numa mesa de centro bolos diversos vendidos por unidade e em talhadas, além de raiva, brote seco e doce, pacotes de bolachas, alfinim, biscoito de polvilho, cocada, sequilho, puxa-puxa, broa de milho, fuba doce ou paçoquinha, cocada de amendoim popularmente chamada de quebra-queixo, soda preta feita com erva doce etc.. Em maior destaque, um confeiteiro/expositor de vidro com oito compartimentos, quatro em baixo e quatro em cima, deixava a mostra à medida que giravam sob os olhares desejosos das crianças, pirulitos kibom, confeitos (balas) de mel, hortelã e sortidos, chicletes de bola ping-pong, torrão, buzi, chocolates sonho de valsa e diamante negro, drops dulcora, chiclete adams, pastilhas de hortelã e outras iguarias para o deleite da garotada. Em outra mesa mais para a esquerda, frutas sazonais e ainda banana prata, naquela época ainda existia a verdadeira, nanica e de leite, laranja Bahia, limão e coco seco, também faziam parte dos itens oferecidos pelo empório...