quinta-feira, 17 de outubro de 2013

REMINISCÊNCIAS DA RUA PRINCESA ISABEL E A SAGA DE FLORIANO - EL BODEGUEIR - Parte I

Minervina, Floriano, Sofia, Geni, João Meira Lima e Sonia Maciel de Andrade.
(Foto registra o casamento de Floriano) Acervo de R. Andrade.
  
A estória começa quando no final do século XIX, o emigrante italiano Paolo Luigi Curcio, proveniente da região de Nápoli, desembarca no Brasil, possivelmente, pelo porto do Recife, porta de entrada de vários imigrantes, inclusive os italianos, que no Brasil teve como ápice o período compreendido entre 1800 a 1930.  Rumou para o interior do Rio Grande do Norte visando maiores e melhores possibilidades em sua nova vida e se estabelece na cidade de Vera Cruz. Artesão profissional especializado no fabrico de tachos de cobre e assemelhados, inicia um pequeno negócio naquela cidade do agreste potiguar. Tempos depois casa-se com uma moça nativa da região da tradicional família Ribeiro/Dantas. Dessa união nasceram diversos filhos e entre eles, Sofia Arlinda Curcio (1883/1959).

Como um bom profissional, ganha algum dinheiro, investe no ramo do comércio e amplia seus horizontes adquirindo terras na região, tornando-se, também, proprietário rural e agropecuarista. Por diversas vezes ouvira falar em Macaíba, uma promissora cidade próxima ao litoral, a 14 quilômetros da capital, que sob a batuta do paraibano da cidade de Pilar, Fabrício Gomes Pedroza (1809-1872), tornara-se um grande entreposto comercial. Com faro aguçado para bons negócios, vende todo seu patrimônio na cidade de Vera Cruz, muda-se com a família para Macaíba e inicia um novo negócio voltado exclusivamente para o ramo de estivas, também denominado popularmente de secos e molhados.   
         
       Dario Jordão de Andrade, nascido em Pirpirituba, microrregião do Brejo paraibano, chega à cidade de Macaíba em companhia de seu primo Olimpio Maciel de Andrade, agradam-se da cidade e resolvem se estabelecer. Tempos depois, Dario casa-se com Dona Sofia Arlinda Curcio que passa a se chamar Sofia Curcio de Andrade. Dessa união nasceram seis filhos. A exemplo do sogro envereda pelo ramo do comércio e se estabelece com um pequeno negócio ao lado de sua casa. A vida transcorre lenta e preguiçosamente naquele final de século, enquanto os filhos vão nascendo e sendo educados sob o olhar atento de Dona Sofia. 

O primogênito Clovis fez carreira como funcionário federal no Recife e ocupou posto de destaque na Alfândega daquela cidade. Escritor e poeta de grande sensibilidade, deixou algumas obras escritas; Nair, mãe do atual presidente do IHGRN Valério Mesquita; Nilda, que faleceu solteira; Sofia, mãe do nosso confrade Ticiano Duarte; Dario, juiz de direito de destacada atuação em nosso Estado, pai de Ivan Maciel de Andrade e, finalmente, o caçula de todos, o saudoso Floriano Jordão de Andrade.
         
      Em janeiro de 1910, falecia Dario Jordão de Andrade aos 33 anos de idade, quatro meses antes do nascimento de Floriano, que veio ao mundo em 05 de maio de 1910. Estava sentado em uma cadeira de balanço na porta de seu comércio, numa das tardes fagueiras do mês de janeiro, quando foi fulminado por um aneurisma, deixando a viúva com cinco filhos menores e um ainda para nascer.
         
      Dona Sofia ainda continuou por algum tempo tocando o comércio com as dificuldades inerentes a uma viúva no começo do século XX. Entretanto, enxergando mais adiante com olhos e coragem de uma autentica napolitana, vende o comércio e muda-se para a Capital preocupada em oferecer melhor educação para os filhos.

Então, em uma manhã ensolarada, por volta do ano de 1918, desembarca em Natal com cinco filhos pequenos um para nascer, com o receio do desconhecido, e a esperança de vencer na cidade grande. Compra uma velha bodega que já existia naquele mesmo endereço, anexa a uma casa que dava frente para a Rua Apodi, n°160. Inicia seu pequeno comércio, com vontade férrea, própria das grandes mulheres, já com comprovada experiência do tempo em que exercera a mesma atividade ao lado do marido, em sua cidade natal.        

Com o tempo, os filhos cresceram, casaram-se, com exceção de Nilda que faleceu solteira, e tomaram seus rumos pela vida. Somente Floriano, o mais novo de todos, continua na casa materna. Muito apegado à mãe, desde tenra idade, dedicou-se a ajudá-la no atendimento na bodega.

Quando rapaz inicia um namoro com uma moça que trabalhava na casa de dona Belarmina Ferreira Gomes, mais conhecida como Dona Bela, grande amiga de Sofia, que vem a ser a mãe dos Padres Monte e Nivaldo, que residia, na época, na Avenida Rio Branco n° 777, próximo à sua casa. A família não via com bons olhos aquele relacionamento, em virtude da grande diferença sócio-economica e cultural entre os enamorados, entretanto, nunca fizeram oposição ao relacionamento, respeitada assim, a vontade do jovem apaixonado.

Com a continuidade do namoro, Floriano resolve assumir o relacionamento com Minervina, era esse o nome de sua namorada, e aluga pra ela uma casa no bairro das Rocas. Posteriormente, resolve transferi-la para mais perto, aluga outra casa numa região antigamente denominada Salgadeira, que ficava próxima ao Baldo, no lado direito de quem sobre a ladeira em direção ao bairro do Alecrim. Nesse novo endereço, por ser próximo á bodega, passou a dormir com mais frequência nos braços aconchegante de Minervina.

Finalmente, com o falecimento de Dona Sofia, ocorrido em 21 de março de 1959, Minervina muda-se para a casa da Rua Apodi, casaram-se no civil e assim permaneceram até o fim de suas vidas.

Como todo jovem idealista da época, admirava do PCB - Partido Comunista Brasileiro. Homem de grande inteligência, leitor compulsivo e autodidata, apreciador das teorias do filósofo alemão Karl Marx e também admirador de Vladimir Ilitch Lenin. Nos anos de intensa repressão aos comunistas chegou a dar guarida em sua residência a dois líderes tupiniquins do partido: o médico Vulpiano Cavalcanti(1911-1988) e  Luiz Inácio Maranhão Filho (1921- dado como desaparecido a partir de 03 de abril de 1974, em São Paulo-SP). Vez por outra, confidenciava a amigos mais próximos cheio de orgulho: “ontem Vulpiano dormiu aqui em casa”. Luiz Maranhão também gozava desse mesmo privilégio.

Não era ativista, nem se envolveu diretamente com as ações do partido. Entretanto, como simpatizante, mesmo pondo em risco sua integridade física e também de sua família, mostrou-se solidário aos “camaradas” dentro de suas grandes limitações e parcos recursos (...)