sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

DO LIVRO "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS -

Saudosas lembranças II

Comecei a veranear na Pipa ainda na barriga da minha mãe, assim como todos os meus irmãos. Meus filhos trilharam o mesmo caminho, e também meu neto. É uma relação muito íntima que temos com aquele pedaço de chão. A família Barbalho/Simonetti iniciou os veraneios na Pipa no ano de 1926, três anos depois do nascimento da minha mãe, hoje com 86 anos de idade.
Como o veraneio acontecia somente no mês de janeiro, passávamos o ano inteiro esperando este acontecimento. Contávamos os dias, as semanas, os meses... E quando chegavam as férias do final do ano, a ansiedade era tanta que, por muitas vezes, perdia o sono e só adormecia quando era vencido pelo cansaço. Eu não via a hora de subir no caminhão para fazer aquela tão desejada viagem.

Na década de 60, já era possível contar com a modernidade e o conforto dos caminhões. Nossos pais viajavam na boleia enquanto os filhos e empregados acomodavam-se em cima da bagagem. Dentre toda a tralha que era levada, não faltavam cadeiras e colchões feitos com palha ou junco, para acomodar a todos.
As famílias que moravam em Natal saíam muito cedo e enfrentavam pelo menos 60 quilômetros de estrada de chão, pouco conservada, até a cidade de Goianinha. Eram horas sacudindo na carroceria do velho Dodge até avistar a Usina Estivas. De cima da ladeira, podia-se ver ao longe a bela cidade e compreender a exclamação encantada e justa do Dr. Alfredo de Araújo Cunha (1861-1929), que olhando o casario branco da cidadezinha clara disse: “Goianinha, Pátria de Anjos!”.

Depois de descer a ladeira com dificuldade, alcançávamos o vale e, a partir dali mais três quilômetros depois, entrávamos triunfantes na cidade. Estava vencida a primeira etapa da estafante viagem.Uma parada “estratégica” na casa de meu avô Odilon Barbalho, e o almoço estava garantido. Daí por diante começava o trecho mais complicado e sofrido da viagem. Era comum os velhos caminhões, após certa jornada, pararem por aquecimento no motor, mas nada que não fosse resolvido com uma boa lata d’água no radiador e logo já estavam de volta à estrada. Continuava a viagem como se nada tivesse acontecido. Não havia possibilidade de fazer toda aquela viagem sem dar um “prego”. Se não acontecia no trecho vencido entre Natal e Goianinha, podia contar que, até a
Pipa, não havia reza forte que fizesse chegar ao destino sem o famoso “prego”.

Não se esperava nem o sol esfriar, pois esse trecho era mais deserto e, se por acaso houvesse algum imprevisto no caminho, tinha-se tempo para realizar o conserto e chegar ao destino antes do anoitecer. Até o distrito de Piau, a viagem seguia sem maiores problemas. Depois que entrávamos nos “tabuleiros”, a estrada se tornava ainda mais precária. Geralmente essa estrada era utilizada somente por animais de carga e pessoas que faziam a pé o caminho entre Piau e Pipa. Por ser rara a passagem de carros, não havia nenhuma manutenção. Em determinados trechos a vegetação lateral era praticamente aberta pelo para-choque do caminhão, e acima de nossas cabeças as árvores se fechavam totalmente, formando um túnel de galhos e folhas. De tão próximos, era possível apanhar de cima da carroceria do caminhão, cajus, mangabas e outras frutinhas muçambê.

Havia dois pontos que eram temidos pelos motoristas, por causa de sua difícil transposição: a ladeira do Rio Galhardo e a ladeira do Sanharão. Na primeira, além da dificuldade de vencer a subida de areias frouxas, ainda tinha o problema do rio que, embora raso, impedia que o caminhão tomasse alguma velocidade. Nesses dois pontos descíamos todos, e a ladeira era vencida a pé. Ficavam somente o motorista e o “calunga” – alcunha do ajudante, que, de cepo na mão e em constante sintonia com o motorista, fazia, metro a metro, o veículo vencer, ladeira acima, as terríveis areias daquele trecho. O cepo era uma peça de madeira com uns 50cm de comprimento por uns 20cm de altura, que se colocava atrás das rodas traseiras do caminhão, impedindo que ele descesse após alguns metros de subida. Nunca esqueci os gritos ofegantes do motorista: “Bota o cepo”, e, pouco depois... “Tira o cepo”.

Sempre que o caminhão vencia um pouco a areia, era colocado o tal cepo para que ele não retornasse. Depois de algum descanso, lá se ia mais uma tentativa. Vencidos alguns metros de areia, novamente o cepo era colocado, era assim até que se chegássemos ao topo.

Na ladeira do Sanharão, acontecia a mesma coisa, porém com mais dificuldade, pois além do percurso ser maior, havia uma curva na metade da ladeira, que dificultava a subida. E, depois de praticamente um dia inteiro de viagem, chegávamos ao nosso destino.

Até o final da década de 70 não existia energia elétrica na Pipa. A iluminação das casas era feita com as lâmpadas a querosene. As marcas Coleman e Aladim eram as mais conhecidas. O querosene utilizado era o nosso velho Esso Jacaré. Essas lâmpadas eram o que havia de mais moderno. Durante as refeições noturnas ficavam nas salas de jantar e posteriormente eram transferidas para os alpendres, onde as famílias se reuniam para conversar amenidades ou mesmo jogar um carteado à base de sete e meio, buraco, pif-paf ou relancim.

Os candeeiros, lamparinas e lampiões eram usados na iluminação dos quartos, cozinhas e banheiros. Os mais afortunados possuíam geladeira também a querosene e tempos depois apareceram as mais modernas que funcionavam com botijão de gás.

Depois de um ano inteiro sem uso, as lâmpadas geralmente apresentavam algum problema de funcionamento e, nessa ocasião, entrava em cena tio Venício, irmão da minha mãe, especialista no conserto dessas lâmpadas. De óculos na ponta do nariz e sempre mastigando a língua no lado da boca – não havia defeito que ele não arrumasse. Depois de alguns minutos de trabalho e da colocação de uma camisa nova, era só dar algumas bombadas de ar e lá estavam à disposição 500 velas de boa iluminação.

Essas lâmpadas também eram utilizadas para iluminar os banhos noturnos. Quando isso acontecia, era preparada uma quantidade de “caipirinha” feita com a boa cachaça trazida dos engenhos de Goianinha, limão, açúcar e gelo. Este último era conseguido a duras penas nas velhas geladeiras; sempre ficava a desejar. Era tudo levado para a beira da praia, juntamente com os tira-gostos – “paredes”, previamente preparados pelas mulheres.

As lâmpadas eram colocadas suspensas em um “garajal” – tripé feito de madeira, que os nativos subiam para martelar as estacas dos currais de peixe – e a diante, quando a “marvada” começava a fazer efeito, os adultos ficavam mais relaxados. Era a ocasião pela qual nós adolescentes esperávamos. Aproveitando algum descuido dos nossos pais, também tomávamos um pouco daquela bebida maravilhosa que nos deixava alegres e risonhos.
Pela manhã, nós jovens nos reuníamos em algum daqueles alpendres para jogar conversa fora. Nós todos éramos parentes, e alguns, por morar em outros estados, só se encontravam durante o mês de janeiro, no veraneio da Pipa. Essa ocasião era esperada por todos com muita ansiedade. Como não ter saudade dessas coisas simples? De um tempo feliz de nossas vidas, que sabemos, nunca mais voltará.

Natal, outubro de 2009.

ACTA DIURNA - DENDÉ ARCOVERDE - PARTE II

De estatura acima da mediana, robusto e bem conformado, Dendé Arcoverde tinha os ombros amplos e o torax saliente. Dispunha de fôrça incrível, cavaleiro emérito e ati­rador maravilhoso. Pulava agilmente uma janela, de costas. A barba negra curta, rente a face vermelho-clara, fazia res­saltar a dentadura perfeita, branca como côco ralado. A voz é alta, estertórica, audível a distâncias que as lendas multi­plicam. Os olhos rasgados, enormes, negros e luminosos, faiscavam de irritação contínua. A esclerótíca, raiada de san­gue, é um distintivo que transmitiu aos seus bastardos.

Morou sempre em Cunhaú onde tinha uma "parte" .herdada de sua Mãe, cujo inventário é de 1846. Só arrendou as "partes" de seu tio, o Capitão-Mór André "de Estivas" e de seu primo, o Comendador André d'Albuquerque Maranhão, ·"de Itapecerica", em 1851. Cunhaú estava no centro das suas terras. Englobavam-se nelas a "usina Maranhão", "Bom Pas­sar", "Torre", "Antônio Freire", "Areré", "Mangueira", "Cruzeiro", "Estrela". Tudo era Cunhaú, até a extensão verdejante do "sítio Estrela" se incluía na denominação do engenho tra­dicional. Derredor dessa região rodava o Mêdo ...

Criminoso que tocasse, ao menos tocasse, uma estaca de Cunhaú, estava valido. Não havia "força do Governo" que se atrevesse a perseguí-lo. A casa-grande ficava circundada de choupanas onde se acoitavam os "fora da lei", fanáticos pelo brigadeiro, sombras do seu braço.

Depois do jantar, até ás trindades, o Brigadeiro, todo ­vestido de branco, passeava ao escurecer na calçada imensa da residência. Quem tinha negócio e não era pessôa de merecimento, alinhava-se, junto aos outros pretendentes, espe­rando que um olhar casual do Brigadeiro pousasse nele. Nin­guém ousava dirigir-lhe a palavra e sim responder. Mas, fosse como fosse, não deixavam de ter negócio e "trato" com ele. Não perdoava dívidas nem ficava devendo.
Foi o vingador de André d'Albuquerque, seu tio, assassinado em abril de 1817. Voltando d'Europa e sabendo mínuciosamente a morte do parente, inqueriu da vida do matador. Disseram que uma tentativa a tiro havia falhado. Dendé reprovou a técnica.

- Qual tiro! Tiro faz barulho e assombra a caca. Vamos á faca. É silencioso e seguro.
Procurou informar-se. Apontararm vários nomes como responsáveis João Álvares do Quental esporeára o cadáver. Francisco Felipe da Fonseca Pinto, o alfaiate Costa Bandeira. Falaram no tenente-coronel Antônio José Leite do Pinho.

- Eu não quero saber dos outros acusados. Ferissem ou não, certamente ficaram com medo da vingança. O que eu desejo saber é quem pregou uma medalha no peito e cercou as ,mangas de galões por ter assassinado um Cunhauzeiro. Quem aproveitou do crime é que é o principal criminoso.
Mandou um negro e um caboclo matarem á faca o coronel Leite do Pinho. Entregou-lhes facas de prata, dizem que envenenadas. Prometeu que nunca mais teriam necessidade de cousa alguma se trouxessem as orêlhas do coronel.

Os dois mandatários espreitaram Leite do Pinho durante horas.
Numa tarde de procissão terminada a cerimônia, o coronel deitou-se num tapete diante da casa, na atual Praça 7 de Setembro, em Natal, tomando fresco, e brincando com um neto. Os dois enviados de Cunhaú caíram sobre ele numa luta feroz e rápida. Não lhe poderam cortar a orêlha mas deixaram as facas enterradas no ferido, e fugiram. Leite do Pinho faleceu na madrugada de 15 de março de 1834.

Dendé recompensou seriamente aos dois asseclas Mandou sepultar o negro, vivo, perto da Casa-Grande de Cunhaú, e plantou um coqueiro em cima do túmulo. O caboclo foi em­palado na Mata das Varas e o corpo mumificado, até poucos anos espavoria os lenhadores. Cumprira a promessa. Caboclo e negro nunca mais tiveram necessidade de cousa alguma . . .
É façanha mais antiga de Dendé, sua "entrada" solene no memorial truculento em que é recordado ...

Ignoro a origem do seu tratamento de "Brigadeiro" De­balde, a meu pedido, o saudoso general Luíz Sombra rebuscou arquivos militares no Rio de Janeiro. Não há o menor vestí­gio de razão nesse título altissonante correspondente ao nos­so "General de Brigada". Mas "Brigadeiro" é como Dendé Ar­coverde é citado em toda região de seu prestigioso renome. Substitui quase o nome. Dizem, comumente "o Brigadeiro", e já se sabe que a evocação se refere ao impetuoso senhor de Cunhaú. De onde, e porque lhe veio o tratamento militar, quaís os serviços para merecê-la, em que época recebeu a mercê honorária, não sei. Não foi possível, apesar das pesquisas, saber.



Arma encontra-se no Instituto Hostórico e Geogrpafico do RN.


(Esta arma pretenceu ao negro Simplício, apelidado de "Cobra Verde", homem de confiança do "Brigadeiro"Dendé Arcoverde, impetuoso senhor de Cunhaú(1830). Era um atirador perfeito. Não errando um tiro. Sua espingarda foi batizada por "meio berro" porque matara uma novilha antes do animal acabar o berro iniciado)


O homem de confiança do Brigadeiro Dendé Arcoverde era o negro Simplício, conhecido por "Cobra Verde", alto, magro, sério como um ídolo, e agil como o vento. Era o melhor atirador dos arredores e nunca errou um tiro. Sua ar­ma especial era uma carabina Minié batizada por "Meio berro", porque matara uma novilha antes do. animal acabar o berro iniciado. Um bastardo de Dendé, Afonso Arcoverde, presenteou a arma ao Cel. Felipe Ferreíra, de "Mangabeira" e este ofereceu-m'a. Dei-a ao Instituto Histórico do Rio Gran­de do Norte, onde se encontra.


(Ormuz Simonetti segura a carabina "meio berro" no IHGRN)


O negro Simplício depois da morte do Brigadeiro, dei­xou a Província e se instalou numa casa que erguera no meio do mato, como um bicho saudoso da solidão e do mistério. Não admitia visitas e andava sempre armado. Jamais falava no nome do amo, a quem adorava. Morreu no dia do Natal de 1896, quando completava cem anos, data predita por ele como sendo de sua morte. Está sepultado em Mataraca, na Paraíba.


(Capela onde foi enterrado André de Albuquerque Maranhão Arcoverde)


(08.05.1941)

-Continua . . .

sábado, 24 de dezembro de 2011

Do livro “A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS”

SAUDOSOS VERANISTAS



Maurínio Sena



No dia 07 de fevereiro de 1981 foi feito o primeiro teste de energia elétrica na praia da Pipa. Logo em seguida, todos os veranistas se apressaram para instalar em cacimbas já existentes ou em poços artesianos previamente cavados, bombas elétricas para abastecer as caixas d’água. Esse abastecimento, até então era feito com muito sacrifício à custa de horas a fio, “exercitando-se” nas antigas e pesadas bombas manuais “Morumbi”, que na época eram o que de melhor existia no mercado.













Bomba Morumbi



Para se conseguir pouco mais de 1.000 litros d’água, era preciso muito suor e alguns calos nas mãos. Essa tarefa era delegada aos homens da casa, já que as mulheres se encarregavam apenas de gastar o precioso líquido em suas atividades domésticas. E como quem recebe “de graça” não se preocupa em gastar, nossas mãos viviam cheias de calos. Foi nessa época que eu, juntamente com os saudosos Múcio Barbalho e Evilásio de Souza Lima, especializamo-nos na instalação desses equipamentos. Esse serviço, embora gratuito, era executado com todo profissionalismo da equipe, que sempre dava um jeito de receber pelo “serviço prestado” de uma forma, digamos, mais sutil. Os serviços eram agendados sempre para os fins de semana. Começávamos lá pelas 10 horas da manhã, para que, calculadamente, pudéssemos chegar e atravessar com folga a hora do almoço. A única responsabilidade do dono da casa era de nos abastecer à vontade, durante a realização do serviço, com cerveja gelada, cachaça e tira-gostos, também chamados na época de parede.

Casa de Maurínio Sena.

Numa dessas ocasiões, a instalação da bomba foi na casa de Maurínio Sena. Como ele ainda não havia feito o poço, que na praia era conhecido como “poço tubular”, por ser feito com tubos de PVC, o equipamento seria instalado numa cacimba. Começamos o serviço na hora marcada e com pouco mais de hora e meia de trabalho o equipamento já estava pronto para funcionamento. Foi nesse instante que começou toda a malandragem, que nos era comum: alguém deu um jeito de afrouxar uma das conexões que ficavam longe das vistas dos curiosos e isso provocou a entrada de ar no sistema, impedindo seu funcionamento. Foi então feita uma pausa para o descanso que veio, como de costume, acompanhada das bebidas e dos petiscos.

Depois de várias horas de descanso, sempre alguém se oferecia para resolver o “problema”, mas nunca encontrava o tal defeito. Nesse dia especificamente, o problema só teve solução quando já escurecia e os técnicos, juntamente com outros participantes da farra, já bem “melados”, tinham devorado todo o tira-gosto disponível e já estavam tomando, como caldo, até mesmo a sopa que dona Lindalva, esposa de Maurínio, havia preparado para o jantar. E tudo isso com a devida cumplicidade do esposo, que era quem mais gostava dessas brincadeiras. Essa intimidade era comum entre nós.
Numa dessas farras na minha casa, Maurínio passava pela cozinha, retornando do banheiro, quando viu a mamadeira de leite que minha esposa tinha preparado para nossa primeira filha, hoje com 30 anos de idade. Não teve dúvidas, atacou a mamadeira e sem mesmo tirar o bico, tomou o mingau até o último gole, depois de mandar para dentro uma boa lapada de cana.


Começou a frequentar a Pipa nos anos cinquenta e se hospedava na casa de Arthur de Flora. Os veraneios começaram em 1978, logo após ter comprado a casa que pertencera a Francisquinho. A partir daquele ano, sempre passava os meses de janeiro e fevereiro veraneando com a família e só retornava a Natal, como a maioria dos veranistas, após o carnaval.


Maurínio Sena assina a ata da criação da Associação dos Veranistas da Praia da Pipa.

(Veneide, Ormuz, MAurínio, Evilásio, Dina e George)



Com seu jeito simples e amigável, conquistou logo a comunidade e também os veranistas. Como sua casa ficava em frente ao porto dos barcos, sempre aos finais de tarde lá estava ele em seu alpendre, rodeado de pescadores, que iam trocar dois dedos de prosa, enquanto aguardavam os botes que regressavam da pesca. Era esse relacionamento fraterno que mantinha com a comunidade, e que no fatídico dia 7 de fevereiro de 1994, dia de sua morte, presenciamos, emocionados – como a maior prova de amizade e gratidão dos nativos para com aquele que esteve sempre à disposição daquela comunidade.





Praia do Meio - Pipa RN


Inexplicavelmente, resolveu comemorar seu aniversário uma semana antes. Fez uma grande festa em sua casa e foi muito prestigiado com a presença de parentes e amigos. No outro dia, acordou mais cedo que de costume e não esperou pelo seu amigo e companheiro de caminhada, Edison Costa de Mello. Naquela manhã, resolveu caminhar sozinho. Seguiu no sentido da Pedra do Moleque e chegou até a praia das Minas, onde seu corpo foi encontrado por um grupo de turistas, que também fazia caminhada naquelas praias desertas, próximas à Praia de Sibaúma.




Praia das Minas - Pipa RN

Logo chegou a notícia na Pipa, e muitas pessoas da comunidade correram para o local. Eram homens, mulheres e até crianças que seguiam os pais, todos fizeram questão de ir ao local onde o corpo ainda se encontrava.
Depois que uma de suas filhas autorizou a remoção, os homens o puseram em uma rede e o conduziram, barreira acima, em terreno íngreme e de difícil caminhada, até a Pipa. O cortejo seguiu no mais completo silêncio, em respeito à dor dos familiares e amigos daquele que por tantos anos conviveu naquela comunidade, como se lá tivesse nascido. Tinha tantas mãos e ombros querendo ajudar naquela caminhada de volta para casa, que muitas vezes o pau da vela de um barco, que utilizaram para armar a rede onde conduziram o corpo, fora disputado por aqueles que seguiam o triste cortejo. Foi deveras emocionante essa demonstração de respeito e amizade. Várias pessoas na Pipa se ofereceram para trazê-lo de onde ele foi encontrado, em seu carro, percorrendo uma precária estrada que chegava próxima à Praia das Minas, o que foi prontamente recusado. Os amigos fizeram questão que o seu último retorno para casa fosse feito em seus ombros e braços. Queriam com essa atitude prestar a última homenagem ao amigo e companheiro que muito embora nascido em terras Pernambucanas, adotou aquele pedaço de chão como sendo a sua terra natal.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

ACTA DIURNA - DENDÊ ARCOVERDE PARTE I

Tenho a cópia desta PARTE I e mais a II e a III. Reli esta e vou aguardar a leitura das demais. Dendê Arcoverde foi o mandante do assasinato de meu bisavô Vicente Ferreira de Paiva que era pai de seu "desafete" Antônio Pereira de Brito Paiva (meu tio avô paterno). Na altura, 1842, meus ascendentes moravam no Engenho Tamatanduba, vizinho ao Cunhaú.
Fiz algumas postagens, sobre a SAGA de minha Família, em meu blog, "Da Cadeirinha de Arruar". Inclusive com fotos da Capela do Engenho Tamatanduba (em ruinas) e a Capela do Cunhaú onde os "SENHORES DO CUNHAÚ" foram enterrados, inclusive Dendê...

PS. Quem me enviou as cópias das Atas Diurnas, referentes a Dendê Arcoverde foi a neta de Câmara Cascudo, Daliana Cascudo. Cascudo correspondeu-se com meu pai, falando de Dendê Arcoverde e sua luta ferrenha com Brito Paiva.

Obrigada, Ormuz, pela partilha de tão importante
Um abraço.

Lúcia Bezerra de Paiva
Fortaleza - CE

POSSE NO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO

RECEBIMENTO DO TÍTULO DE SÓCIO EFETIVO DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE, A MAIS ANTIGA CASA DE CULTURA DO ESTADO, PELO SEU PRESIDENTE JURANDYR NAVARRO

domingo, 18 de dezembro de 2011

ACTA DIURNA - DENDÊ ARCOVERDE PARTE I

André d'Albuquerque Maranhão Arcoverde nasceu no engenho Cunhaú, freguesia de Nossa Senhora do Desterro de Vila Flor, termo de Goianinha, no ano de 1797. Era o segundo filho do tenente-coronel José Inácio d'Albuquerque Maranhão e de d. Luzia Antônia, irmã de André d'Albuquerque, o des¬graçado Chefe da revolução de 1817 no Rio Grande do Norte.

Teve a meninice tradicional dos meninos ricos, filhos de fidalgos, donos de engenhos. Correu a cavalo, saltou por¬teiras, armou arapucas, pulou os córregos, tomou banho no rio Piquiri, sesteou debaixo das sombras das velhas árvores, formou batalhão com os moleques da redondesa, esmurrou os primos, indigestou de bolo-preto e doce-seco, trepou aos coqueiros, assustou as matronas, dormiu cansado ...

O Pai, homem áustero e poucas falas, de manso trato e ameno viver, era governado pela mulher, dona Luzia Antô¬nia, enérgica e voluntariosa, chamada o' Homem da Família, de quem o filho herdaria a melhor parte de seu gênio impul¬sivo. Ao entrar na mocidade, José Inácio mandou Dendé, como todos os conheciam, para a Europa, aos estudos. Es¬tudar o que? Leis? Cânones? Medicina? Não se sabe. Portu¬gal era o viveiro onde se implumavam os borla-e-capêlo da época. Ignora-se o país onde Dendé Arco Verde fôra estu¬dar. D. Izabel Gondim afirma ter sido Paris. Alberto Mara¬nhão informa que a Alemanha. Creio em Portugal. Portugal era a Europa, para quase todos os aristocratas antigos.

Em 1817, estava na Europa quando a revolução estourou. Quando regressara ao Brasil? Não se sabe ainda. Suas notícias iniciais são de 1830. Voltando ao Cunhaú não trouxe diploma nem curso feito mas vinha com uma men¬talidade formada e concluída. Não há alteração dai em dian¬te nos seus modos e procedimentos. Há nele, a imutabilidade dos temperamentos decisivos.

É a mais estranha e sugestiva das figuras da Casa de Cumhaú. Em toda zona agreste do Rio Grande do Norte não há quem lhe desconheça o nome e não saiba uma sua faça¬nha. Quase oitenta anos depois de sua morte, ainda o Povo lhe cita o nome com respeito supersticioso. Indicam todos os recantos de sua morada, os caminhos percorridos, os crimes, a coragem, o arrojo irreprimível. Hoje, como há mais de meio século após seu passamento, todos os traba¬lhadores de dois municípios, só aludiam à sua pessoa, com um vagar amedrontado, dando, invariavelmente, o tratamen¬to oficial, "o Brigadeiro." E a voz cava estava traindo uma longa capitalização de obediência expontânea.

Dendé Arcoverde é um puro homem da Renascença, sem medo, sem pudor, sem respeito, sem supertição, despido de preconceitos, sem temer a Lei, nem ao Imperador, nem a Polícia, nem o Gabinete Ministerial, nem inimigos, vingan¬ças, ódios. Insensível, superior, desdenhoso, atrevido, inca¬paz de compreender os limites de sua vontade, ciente, inte¬gral que seu direito ia até as fronteiras de sua fôrça ele não tem remorsos nem piedades inferiores. Deliberando, exe¬cuta, com a precisão, a nitidez, a naturalidade de uma função normal. Tudo nele é natural, próprio, congênito. Diz o que quer, manda avisar a morte, intima que alguém deixe a casa e se mude, chibateia, surra, tortura, mata a punhal, a tiro, a veneno, comanda um exército de escravos ou pratica, sozinho, o ato, sem um arrepio na face, imóvel .e magnífica, como um autêntico barão feudal, um verdadeiro Herren-meister, pulso de ferro, coração de bronze, ao sol tropical do Brasil.

Tem, igualmente, conservadas, ciosamente, as virtudes de sua Raça. É faustoso, amante do cerimonial, generoso hos¬pedador, respeitando, como a um rito religioso, o próprio inimigo que se acolhesse à sua residência, dando, apenas, o número de dias bastantes para que se puzesse a salvamento da alcatéa que sacudiria em perseguição inexorável.

Não o podemos enquadrar dentro das regras da Moral e da Lei. Dendé Arcoverde é uma exceção, o Homem Forte instintivo, arrebatado, feroz, cavalheresco, impressionável, mag¬nífico de valentia, de atrevimento, de loucura pessoal. Não sofre um insulto. Não tolera um recalque. Não renuncia ao menor desejo. Veio, como Cezar Borgía, trazendo o "tuurumis¬mo", o Homem natural e vivendo pelas leis-das-homens. Como Cezar Borgia, desapareceu numa tragédia pequenina, inferior aos seus méritos reais de impulsão e de vontade.

(06.05.1940)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

MONÓLOGO DO NATAL

PARA REFLEXÃO

Monólogo do Natal

Eu não gosto de você, Papai Noel!
Também não gosto desse seu papel de vender ilusões à burguesia.
Se os garotos humildes da cidade soubessem do seu ódio à humildade, jogavam pedra nessa fantasia.




















Você talvez nem se recorde mais.
Cresci depressa, me tornei rapaz, sem esquecer, no entanto, o que passou.
Fiz-lhe um bilhete, pedindo um presente e a noite inteira eu esperei, contente.
Chegou o sol e você não chegou.
Dias depois, meu pobre pai, cansado, trouxe um trenzinho feio, empoeirado, que me entregou com certa excitação.



















Fechou os olhos e balbuciou: “É pra você, Papai Noel mandou”.
E se esquivou, contendo a emoção.
Alegre e inocente nesse caso, eu pensei que meu bilhete com atraso, chegara às suas mãos, no fim do mês.
Limpei o trem, dei corda, ele partiu dando muitas voltas.
Meu pai me sorriu e me abraçou pela última vez.
O resto eu só pude compreender quando cresci e comecei a ver todas as coisas com realidade.









Meu pai chegou um dia e disse, a seco: “Onde é que está aquele seu brinquedo?
Eu vou trocar por outro, na cidade”.
Dei-lhe o trenzinho, quase a soluçar e, como quem não quer abandonar um mimo que nos deu, quem nos quer bem, disse medroso: “O senhor vai trocar ele?
Eu não quero outro brinquedo, eu quero aquele.
E por favor, não vá levar meu trem”.
Meu pai calou-se e pelo rosto veio descendo um pranto que, eu ainda creio,
tanto e tão santo, só Jesus chorou!
Bateu a porta com muito ruído, mamãe gritou; ele não deu ouvidos. Saiu correndo e nunca mais voltou.
Você, Papai Noel, me transformou num homem que a infância arruinou. Sem pai e sem brinquedos.

Afinal, dos seus presentes, não há um que sobre para a riqueza do menino pobre que sonha o ano inteiro com o Natal.
Meu pobre pai doente, mal vestido, para não me ver assim desiludido, comprou por qualquer preço uma ilusão e, num gesto nobre, humano e decisivo, foi longe pra trazer-me um lenitivo, roubando o trem do filho do patrão.
Pensei que viajara, no entanto, depois de grande, minha mãe, em prantos, contou-me que fora preso.
























E como réu, ninguém a absolvê-lo se atrevia.
Foi definhando, até que Deus, um dia, entrou na cela e o libertou pro céu.

Do alagoano Aldemar Paiva, poeta, cordelista, radialista e compositor).

SESSÃO SOLENE NA ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO RN




Em Sessão Solene, presidida pelo Deputado Ricardo Motta, foi realizada ontem a homenagem ao transcurso dos 75 anos da Academia Norte-Riograndense de Letras - ANRL. A proposição partiu do Deputado Antônio Jácome e o "Plenário Deputado Clóvis Motta" viveu um dia de glória, com a presença de imortais, devidamente uniformizados com o pelerine e o colar acadêmicos e o pretígio de inúmeras entidades como a OAB/RN e ALEJURN, através do advogado Odúliko Botelho; a União Brasileira de Escritores do RN e a Academia Macaibense de Letras, através do escritor carlos Gomes; o Instituto Norte-Riograndense de Genealogia, na pessoa do seu Presidente Ormuz Simonetti, além dos Governos do Estado e Município de Natal, UFRN, TRE, TCE e outras entidades potiguares.

Os oradores apresentaram brilhantes discursos, a começar pelo propositor da homenagem, Deputado Antônio Jácome, seguido da Acadêmica Anna Maria Cascudo Barreto, também represedntando o Ludovicus - Instituto Câmara cascudo, que fez uma expressiva declamação em homenagem à ANRL; Acadêmico Juradyr Navarro, também representando o Instituto Histórico e Geográfico do RN, que traçou o perfil da Academia, desde a sua criação, até os dias presentes.

A sessão, iniciada com a execução do Hino Nacional Brasileiro, foi encerrada com a execução do Hino Oficial do Estado do Rio Grande do Norte.
A TV Assembléia registrou todo o evento, para a perpétua memória do acontecimento.
Tarde inesquecível. Parabéns à Academia e aos seus ilustres Acadêmicos.

(TRANSCRITO DO BLOG DE CARLOS GOMES)

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

DE VOLTA PARA O FUTURO

-IHGRN - PRESIDENTE EM EXERCÍCIO VAI EMPOSSAR NOVOS SÓCIOS E DIZ QUE PODE REALIZAR ELEIÇÕES PARA COMPOR NOVA DIRETORIA SE O TITULAR NÃO REASSUMIR

O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO do Rio Grande (IHGRN) vai empossar oficialmente 24novos sócios na próxima sexta-feira. Trata-se da primeira medida tomada pelo presidente em exercício Jurandyr Navarro, que assumiu o cargo com o afastamento do titular, Enélio Lima Petrovich, que se recupera de um Acidente Vascular Cerebral (AVC).

Enélio Petrovich é o presidente do instituto desde 1963, quando foi eleito para o cargo. Navarro explica o motivo da longevidade desta gestão: "Na época da sua posse foi realizada uma reunião entre a diretoria e ficou decidido que seu cargo seria perpétuo", disse. “Assumi pela ordem natural dos fatores e principalmente para não deixar o Instituto acéfalo, mas esperamos que ele volte. Não cogito no momento assumir o cargo definitivamente em respeito à sua condição de saúde", complementa.

Não é a primeira vez que o IHGRN fica na mão de um presidente vitalício. Nestor dos Santos Lima, tio de Enélio Petrovich, também dirigiu a instituição até a data do seu falecimento, em 1959. Ficou no cargo por 32 anos, tendo assumido a função em 1927. Após seu mandato, Aldo Fernandes assumiu o cargo até o ano de 1963, quando Enélio Petrovich foi eleito.

Alguns dos novos sócios do IHGRN esperam pela solenidade de posse há mais de 20 anos. Questionado sobre os motivos da desta demora, Navarro desconversa: "Sinceramente não sei, esta é uma questão para se conversar com Enélio". Em seguida, porém, fez questão de ressaltar que, durante todo este tempo, o presidente do instituto procurou empossar os demais sócios, no entanto, seu estado de saúde e algumas complicações no espaço físico do prédio não viabilizaram a ação.
"Ele já havia, inclusive, marcado uma reunião para empossar os sócios mas o teto do Instituto estava prestes a desabar então nós tivemos que resolver este problema e isso tomou quase dois anos", justificou. "Vários objetos do (prédio) anexo tiveram que ser transferidos para o salão do Instituto e isso tomou ainda mais tempo da diretoria", reforçou. Apesar disso, em abril do ano passado o IHGRN empossou como sócia Daliana Cascudo.

O presidente do Instituto de Norte-Rio-Grandense de Geologia, Ormuz Barbalho Simonetti, que se tomou sócio do IHGRN em setembro de 2008, é um dos que espera ansiosamente pelo momento de ser empossado. Sobre o atraso na entrega do titulo, ele nada tem nada a criticar. "Pela situação do momento, com o estado de saúde delicado no qual se encontra o presidente, serão empossadas 24 pessoas de uma vez só, mas isso não é comum.O normal é empossar uma pessoa de cada vez", explica.

Pela quantidade de novos sócios a cerimônia que será realizada no próprio Instituto também não reprisará um momento tradicional no qual o empossado apresenta um trabalho temático. "Mas alguns, se quiserem, podem exigir depois uma solenidade individual com os demais integrantes do Instituto e então apresentar o seu trabalho", explica Ormuz, comentando também que ele provavelmente fará a sua. “Ainda não tenho certeza se vou apresentar, mas pretendo sim. Estou com o meu trabalho pronto, inclusive, com o tema Genealogia a Serviço da Humanidade", disse, acrescen-tando que a gestão temporária abriu espaço para que isso possa acontecer em 2012.
Sobre o cargo vitalício do presidente ele prefere não comenta, falando apenas que esta é uma "página virada".

Aproveitou, contudo, para sugerir mudanças na estrutu¬ra do Instituto, principalmente com relação ao horário de funcionamento. “Acho que de¬veria começar o quanto antes a funcional nos dois expedientes, porque hoje só abre pela manhã e muitos estudantes, que não podem pesquisar durante esse período, ficam se acesso ao acervo”, concluiu.

(Matéria publicada no NOVO JORNAL, edição de 03/12/2011 pelo jornalista Henrique Arruda)

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

DO LIVRO "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS"

Prezado Ormuz,
Embora à distância, tenho acompanhado a sua trajetória de sucesso nas letras.
Eu sou um potiguara longe da taba há mais de quatro décadas. Mas me deleito com as suas reminiscências da Praia de Pipa, apesar da minha praia de infância ter sido na direção oposta, ao Norte, a praia da Redinha. A travessia do Potengi, o mais belo rio do mundo, do Canto do Mangue com seus peixes e barcos a vela, da festa do cajú e das pinturas do N. Navarro nas paredes do Ridinha clube.
Travei contato com o seu blog depois do fato lamentável da morte, melhor, do encantamento do nosso amigo comum Bartolomeu Melo.
Mando-lhe minhas saudações pelo mais recente êxito no Instituto histórico e desejo-lhe mais sucessos. Aproveito e mando lembranças aos amigos e conhecidos comuns quais Pedro Vicente e Homero Costa.
Segue um convite, em anexo.

Abraços,
Natanael Sarmento.

domingo, 4 de dezembro de 2011

DO LIVRO "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS"

SAUDOSOS VERANISTAS

Cleto Gadelha do Espírito Santo

Como de costume, durante todo o verão, passo a maioria dos meus fins de semana na Praia da Pipa. A minha casa fica em uma posição bastante privilegiada, bem de frente para o mar. Acostumei-me a dormir e acordar embalado pelo gostoso e melódico barulho das ondas.



















Quando a maré está cheia, as vagas rebentam em um quebra-mar que fica na frente da casa, mas não impede as água de se projetarem terraço adentro. Já me acostumei com a impressionante proximidade de minha casa com o mar.




















Pois bem, foi numa dessas manhãs que acordei com uma saudade danada daqueles finados veranistas com quem tivemos a sorte de conviver por tanto tempo. Saudade daquelas brincadeiras que promovíamos, das pescarias, dos passeios a Sibaúma, do banho no Rio do Galhardo, enfim, de tudo que já não fazemos mais.

















EVILÁSIO E O POETA ANTÔNIO PEQUENO

No dia anterior, tinha assistido à missa de sétimo dia do meu amigo Evilásio de Souza Lima. Ela aconteceu na igreja do distrito de Piau. Lá, encontrei toda sua família, mas, infelizmente, quase nenhum amigo mais próximo. Fiquei analisando com que rapidez nos esquecemos dos nossos amigos e parentes que vão para o andar de cima. Muita gente no enterro, pouca gente na missa de sétimo dia, na missa de trinta dias praticamente só a esposa, os filhos e, quando muito, os netos. Na missa de um ano, quando a família resolve fazer, imaginem!




















E nesse saudoso dia seguinte à missa, comecei a me lembrar dos que já haviam nos deixado. Fiquei surpreso quando comecei a contar e percebi a quantidade de amigos nossos que até “ontem” estavam com a gente nos veraneios de janeiro.
Lembrei-me de Cleto Gadelha do Espírito Santo, meu primo e grande amigo. Frequentador assíduo da Pipa, principalmente nos veraneios de janeiro, que nunca perdeu nenhum. Gostava de reunir os primos e sobrinhos no alpendre de sua casa, depois de uma pescaria, para tomar uma cachaça de cabeça com peixe frito. O seu passatempo preferido era a pescaria, pois ele amava o mar e tinha nesse esporte a sua plena realização. Dizia ser uma ótima terapia e que não havia melhor maneira de esquecer uma estafante semana de trabalho na Secretaria de Tributação, de onde era funcionário. A pescaria, além de terapêutica, também tinha a finalidade de conseguir o tira-gosto do fim de semana.
























Saía sempre muito cedo, acompanhado dos filhos e alguns sobrinhos. Lá para o meio-dia chegavam orgulhosos com o produto dos belos arremessos que ele fazia com sua longa vara de bambu. Nessa arte era um especialista. Ninguém naquelas bandas conseguia arremessar mais longe que ele. Para chegar a essas distâncias, tinha uma técnica toda especial: deixava a chumbada descansando sobre a areia e com mãos firmes e o corpo um pouco dobrado para trás, lançava a linha em direção ao mar, feito uma catapulta, 150 gramas de chumbada que, atrelada a anzóis espetados em apetitosos camarões, desaparecia de nossas vistas.

Muitas vezes já traziam os peixes tratados, para não perder tempo nem aumentar o serviço de dona Evaneide, sua paciente esposa, que em casa já preparava outros quitutes para quando a turma chegasse. Sempre podíamos contar com um caldinho de feijão verde regado com muito coentro e cebola, e uma paçoca bem batida no pilão, puxada na cebola roxa e na carne de charque, como só ela ainda sabe fazer.
Quando ele aparecia ao longe, caminhando sem pressa, com o seu inseparável molinete, atrelado a uma enorme vara de bambu, bem apoiada no ombro, era o sinal para os que estavam no banho de mar, e que logo mais começaria a “reunião”. Sempre trazia o samburá cheio de barbudos, carapebas, pescadas e mais todos os peixes que, por curiosidade ou fome, fisgassem seu anzol.















OS AMIGOS CLETO, CAFÉ E QUINCÓ

Era um homem feliz, nunca o vi mal humorado... Gostava da vida ao ar livre. Nasceu em Goianinha, no início dos anos trinta, e passou toda a infância e adolescência pelas ruas de barro batido da velha cidade. Gostava de caçar passarinhos, tomar banho de rio, andar a cavalo, enfim, de todas as travessuras próprias dos meninos daquela geração.
Morreu Cleto no dia 17 de janeiro de 1988. Era um domingo e a comunidade fazia os últimos preparativos para a famosa festa de São Sebastião. Estava ele cercado de parentes e amigos, sentado no alpendre da casa de seu companheiro de infância, Paulo Barbalho. A casa de Paulo ficava bem ao lado da sua. Era uma manhã ensolarada, própria do mês de janeiro, e a turma já tinha iniciado os “serviços” na casa em frente, que na época pertencia a Evandro Carvalho. Em seguida, fomos para a casa de tio Paulo. Era muito comum, naquela época, as pessoas começarem a beber na casa de um parente e, quando findava o dia, já tinham passado por diversas casas, numa peregrinação que se repetia por todo o fim de semana.

Em dado momento, Cleto encostou a cabeça no ombro de seu compadre e amigo Rubens Lisboa, que estava ao seu lado, e adormeceu para sempre... Morreu sem sofrer, no lugar de que mais gostava, vestido da maneira que se sentia bem. Na praia se livrava das roupas de trabalho e ficava a maior parte do tempo de calção, como ele gostava. Acredito que para a sua família deve ter sido, pelo menos, confortante saber que seu ente querido deu seu último suspiro nos braços acolhedores de seus amigos. Naquele ano, pela primeira vez, no dia 19 de janeiro, não foi realizada a parte profana da festa do padroeiro. Houve apenas a missa e a procissão, onde o comparecimento foi grandioso. A comunidade da Pipa juntamente com os veranistas lhe prestou a última homenagem, na igrejinha em que tantas vezes compareceu nas festas de São Sebastião. Quanta saudade, “camarada”!... Que Deus o tenha bem junto d’Ele e com todos aqueles saudosos veranistas que, certamente, estão com você.

Pipa, agosto de 2009.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

CONVITE -




















A Presidência em exercício do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, convida Vossa Excelência e Família, para Sessão solene, em que tomarão posse na categoria de Sócio Efetivo, desta Instituição, os integrantes da lista inclusa, devidamente aprovados pela Diretoria.
Saudará os novos sócios, representando este Instituto, o historiador e escritor, Marcus César Cavalcanti de Morais. E, em nome dos empossados, falará o historiador João Felipe da Trindade.
Em seguida, fará o juramento em nome dos Sócios, ora empossados, o historiador e folclorista Severino Vicente, e tecerá outras considerações.
Após, em breve alocução, farão apreciação sobre seus novos livros, os sócios Cláudio Galvão e João Felipe da Trindade, respectivamente.
A sua presença abrilhantará o evento

Natal (RN), Dezembro de 2011

RELAÇÃO DOS NOVOS SÓCIOS


1. AUGUSTO MARANHÃO
2. AURICÉIA ANTUNES DE LIMA
3. CARLOS ADEL TEIXEIRA DE SOUZA
4. CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES
5. GEORGE ANTÔNIO DE OLIVEIRA VERAS
6. GILENO GUANABARA
7. HOMERO DE OLIVEIRA COSTA
8. IVAN LIRA DE CARVALHO
9. JAIR FIGUEIREDO
10. JOÃO FELIPE DA TRINDADE
11. JOSÉ ADALBERTO TARGINO DE ARAÚJO
12. LÍVIO ALVES DE ARAÚJO DE OLIVEIRA
13. LÚCIA HELENA PEREIRA
14. LUIZ EDUARDO BRANDÃO SUASSUNA
15. MARCELO NAVARRO RIBEIRO DANTAS
16. MARIA DO PERPÉTUO SOCORRO WANDERLEY DE CASTRO
17. MARIA JANDIR CANDÉAS
18. ODÚLIO BOTELHO
19. ORMUZ BARBALHO SIMONETTI
20. PEDRO VICENTE COSTA SOBRINHO
21. RACINE SANTOS
22. SEVERINO VICENTE
23. UBIRATAN QUEIROZ DE OLIVEIRA
24. UILAME UMBELINO GOMES


Dia 09.12.2011 - 6° feira
Horas: 20:00
Local: Salão Nobre do IHGRN
Rua da Conceição, 622





Jurandyr Navarro
Presidente em Exercício