terça-feira, 17 de agosto de 2010

MUSEU NILO PEREIRA - CEARÁ-MIRIM RN

Prezado Ormuz

Visitei o Guaporé, há cerca de 20 anos, e, tão encantado fiquei, que, de passagem pelo Recife, fui conhecer o Nilo Pereira, na casa em que morava, se a memória não me trai, numa rua que levava o nome do pintor Lula Cardoso Aires. Tenho ainda comigo a plaquette do belo discurso que ele proferiu na reinauguração do engenho de seus maiores. É uma lastima o que você relata em sua crônica. Uma verdadeira tragédia para o patrimônio potiguar. Você fala dos vidros das janelas (e como eram belos!) e dos móveis. E os retratos de família ? E a lápide tumular que existia no fundo do parque, o que restará dela?

Fale com o Enélio e com o pessoal do IPHAN. Quem sabe, juntos, não conseguem que o governo do Estado faça algo.

Abs.

Victorino Chermont
Rio de Janeiro RN

MUSEU NILO PEREIRA - CEARÁ-MIRIM RN

Caro Osmuz:

Parabéns pela matéria em defesa do Museu Nilo Pereira. A sua advertência deve ser transformada em clamor geral pela restauração do patrimônio cultural esquecido.

Abraço,

Valério Mesquita

MUSEU NILO PEREIRA - CEARÁ-MIRIM RN

Brejo da Madre de Deus, 17 de agosto de 2010

Caro Ormuz,

Seu relato é algo em torno de estarrecedor. Ao falar da filmagens de jovens ensandecidos destruindo o nosso patrimônio quase não acreditei. Poderia me enviar estas imagens?

Peço sua autorização para enviar seu relato para algumas autoridades do IPHAN e acho que as imagens devem servir como prova de uma queixa que INRG e o Instituti Histórico do Rio grande do Norte tem a obrigação de prestar aos órgãos competentes como o Ministério Público, IPHAN etc.

Grande abraço,

ADELMO DE MEDEIROS

MUSEU NILO PEREIRA - CEARÁ-MIRIM RN

Meu Caro Ormuz (Cópia para Lúcia Pereira)

Li com toda atenção o seu texto sobreo o Museu Nilo Pereira - meu pai -, que me foi enviado pela minha prima Lúcia Pereira, a quem segue cópria deste e-mail. Notável a sua descrição, um relatório, verdadeiramente, da incúria do poder público, do desprezo da gestão, do relaxamento com a coisa pública. Eu não compreendi se o seu extraordinário documento foi publicado (talvez seja longo para jornal) ou se o será em órgão de circulação reconhecida no RGN. Isso, necessariamente, deveria acontecer.

De minha parte, meu caro Ormuz, já escrevi dois ou três artigos em um dos jornais de Natal - a República, se não me trai a memória -, já expedi carta ao Prefeito do Ceará-Mirim, da mesma forma ao Presidente da Fundação José Augusto e recentemente me dirigi ao Governo do Estado, através da Ouvidoria. Apenas desse último recebi a seca resposta de que a reclamação tinha sido encaminhada a quem de direito. Não sei bem quem será o figurante que pode responder pelo descaso que você tão bem descreve.

Mas, se você me autoriza, vou novamente escrever sobre a questão, chamando a atenção já no título para a ótima descrição que você faz dos morcegos e das mariposas, além do cururu como guardiões daquele santuário de minha família, onde pontificaram o meu bisavô Vicente Inácio Pereira, genro, como está no texto, do Barão. Hoje tenho em terras de Espanha um neto, Pablo de prenome e venho insistindo com minha filha para que ensine essas origens nobiliárquicas ao menino, pentaneto do Barão do Ceará- Mirim. Com igual descendência, por parte da avó, do Visconde de Goiana.

Mas, além de sua autorização para que tome o seu texto como base, citando-o naturalmente, gostaria que me indicasse - ou Lúcia fizesse isso - o jornal de maior circulação em Natal, para cuja redação hei de enviar o artigo.

Grato

Geraldo Pereira

MUSEU NILO PEREIRA - CEARÁ-MIRIM RN

Amigo Osmuz,

visitar o velho guaporé é uma tortura para aqueles que gostam de Ceará-Mirim. A situação do solar é muito pior do que podemos imaginar.

O Ministério Público já interferiu junto ao governo do Estado através de Agendamento de Conduta.
Em setembro de 2009 o presidente da Fundação José Augusto (responsável pelo predio) disse-me que tinha 300 mil para iniciar a restauração, só dependia da liberação pelo governo, porque o Ministério Publico tinha feito pressão.

Já fazem 11 meses dessa conversa e até agora não foi colocado uma telha no local.

A promotoria, parece, não poder "obrigar" esse pessoal executar a reforma.

De acordo com o Agendamento de Conduta, a Fundação deve entregar o Museu e os móveis )que ainda restarem) restaurados à municipalidade.

Todos em Ceará-Mirim (políticos e pseudos-defensores da cultura) falam muito para aparecerem, no entanto, nada fazem para mudar o quadro.

Agora que estamos em campanha eleitoral (nenhum desses caras) pedem um compromisso concreto para salvar aquele patrimônio.

São candidatos "copa do mundo" e arrastam milhares de votos de Ceará-Mirim. Por que nossos políticos não os fazem assinar uma carta de compromisso com relação a esse assunto?

Estamos sempre no final das prioridades de governo... tudo que poderia vir para nossa cidade, é desviado, para outros lugares.

É muito importante que todos de Ceará-Mirim leiam seu texto sobre o velho solar. Peço permissão para publicá-lo em meu blog e, também, no jormal o litoral do próximo mês.

abraços.
Gibsonm

MUSEU NILO PEREIRA - CEARÁ-MIRIM RN

Pois é caro Ormuz...assim caminha este Brasil velho! Os governantes nada querem fazer para manter um bem tão importante como este, simplesmente pelo fato de não conseguirem votos com a manutenção de museus. Incrivel não é? Os vandalos que vc viu e falou, é o espelho da educação do nosso povo...ninguem quer mais nada com nada...destruir algo para deleite próprio passou ha muito tempo ser prova de despreparo da familia, instituição inteiramente em decadência nos dias de hoje. É uma pena! Cheguei a conhecer o casarão, mas já em plena falta de conservação...no seu interior quase nada havia...Não dá realmente para entender o descaso de nossos governantes para com um bem de tão grande importância para a historia do RN e do município de C.Mirim, como este. Gostei do seu artigo... pena que estamos vivenciando um descaso total com bens que deveriam mostrar o passado aos nossos jovens...FAZER O QUE MEU? Infelizmente coisas assim acontecem em todo o Brasil, não é só por aqui.
meu abraço
felipe.

MUSEU NILO PEREIRA - CEARÁ-MIRIM RN

BELA E INDIGNADA CRÔNICA, CARO AMIGO.
POSSO PUBLICÁ-LA NO JORNAL DA CULTURA DE CEARÁ-MIRIM?
ABS
PEDRO SIMÕES

MUSEU NILO PEREIRA - CEARÁ-MIRIM RN

Parabéns, amigo:

Belíssimo e irretocável texto! Comovente e quase sarcástico, poético e quase patético. Mas, antes de tudo, competente em comunicar e contagiar sua indignação.

Um abraço comovido e solidário.

Bartola.

MUSEU NILO PEREIRA - CEARÁ-MIRIM RN

ORMUZ:

MANDEI PARA A FAMÍLIA ANTUNES, VARELLA E PEREIRA COM O NOME DO GENRO DO BARÃO (MEU TRISAVÔ) MANOEL ARELLA DO NASCIMENTO, DR. VICENTE IGNÁCIO PEREIRA - JÁ CORRIGIDO (NÃO EXISTIU ESSE VICENTE NELSON...)


ARTIGO MUITO BEM ESCRITO, TELÚRICO E ATÉ POÉTICO, NÃO FOSSE O AGRAVANTE DO ABANDONO DESSA VERGONHA. JÁ LASTIMEI POR ISSO, MUITAS VEZES, BEM ANTES DO FILME DO APEDREJAMENTO DOS VÂNDALOS DIVERTINDO-SE COM A NOBREZA DO VALE.

GRATA POR SUA VOZ DE LAMENTO POR UM SOLAR QUE JÁ FOI REFERÊNCIA HISTÓRICA NO VALE E PERTENCEU AOS QUE VIERAM ANTES DE MIM.

ASSINO CHORANDO.


LÚCIA HELENA PEREIRA
TRI-NETA DO SOLAR GUAPORÉ

GUARDIÕES DO MUSEU NILO PEREIRA

GUARDIÕES DO MUSEU NILO PEREIRA

MUSEU NILO PEREIRA - CEARÁ-MIRIM RN

MUSEU NILO PEREIRA - CEARÁ-MIRIM RN

MUSEU NILO PEREIRA - CEARÁ-MIRIM RN


ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Presidente do Instituto Norte-Rio-Grandense de Genealogia e membro do IHGRN e da UBE-RN)

VERGONHA

Foi com muita tristeza que, pela segunda vez, nesses últimos três meses, visitei as ruínas do que foi, há bem pouco tempo, o Museu Nilo Pereira em Ceará-Mirim RN. No último mês de maio, lá estive no finalzinho de tarde quando voltava de minha chácara, que fica no vizinho município de Maxaranguape. Naquela ocasião fui atraído pela beleza da lua cheia que surgia por trás do casarão do antigo Engenho Guaporé. Construído em meados do Século XIX, mais precisamente em 1850, em estilo neoclássico, o casarão foi residência do segundo vice-presidente da província do Rio Grande do Norte, Vicente Ignácio Pereira, genro do Barão de Ceará-Mirim.

Fazia algum tempo que não percorria aquela estradinha que lava ao casarão. Costumava visitá-lo nos anos 80 e 90, quando trabalhava no Banco do Brasil e fazia fiscalização nas propriedades rurais da região.

Aproveitei o ensejo para ver de perto, a situação em que o mesmo se encontrava, pois naquela semana havia me chegado, por e-mail, uma filmagem de vândalos atirando pedras nos vidros que adornavam portas e janelas. Era uma cena deplorável. Uns rapazes filmavam os outros, que naquela euforia bestial, se revezavam em atirar pedras, ao tempo que deliciavam-se com a destruição do patrimônio público e a memória da cidade. Fiquei horrorizado pela cena e lamentei que aquilo estivesse sendo praticado por jovens, que pareciam ser estudantes que para ali tinham se dirigido com esse propósito, já que o museu está localizado em uma área que não é passagem para lugar nenhum.

Infelizmente a situação em que se encontrava o Museu, era pior do que eu havia imaginado. A guarita que fica na entrada, estava em ruínas. Suas portas e janelas foram arrancadas, e parte o telhado já havia caído. A estrada, calçada com blocos de cimento, que dá acesso ao Solar, estava totalmente coberta pelo mato, assim como o estacionamento.

Aproximei-me da porta, mas não tive coragem de entrar, pois como disse, já estava escuro e as casas de marimbondos caboclos, pendiam das portas e janelas em posição ameaçadora. Eram eles, junto com morcegos os guardiões daquele patrimônio. Na entrada principal, impávido, lá estava um grande sapo cururu, bem postado na soleira, como se fosse o mordomo a espera do visitante. Esperava, talvez, alguma mariposa descuidada que por ali passasse em busca dos canaviais, que lhe complementaria sua refeição diária. Fiz algumas fotografias e prossegui viagem.

Hoje, como retornei da chácara mais cedo e estava acompanhado por alguns amigos, resolvi percorrer novamente aquele caminho coberto de mato, que leva ao Museu, com a intenção de mostrar aos amigos que me acompanhavam a situação de abandono que se encontrava aquele patrimônio de inestimável valor histórico. Novamente me senti desconfortável diante daquelas ruínas, principalmente por ele ser parte da história da cidade de Ceará-Mirim, cidade que aprendi a amar e respeitar desde que lá cheguei no início dos anos 80, para inaugurar a Agência do Banco do Brasil. Fiz e faço parte dessa cidade onde trabalhei durante 23 longos anos e conquistei grandes amigos.

Diante daquele quadro desolador, não pudemos deixar de nos perguntar: onde estão os Órgãos Públicos encarregados de manter e conservar aquele patrimônio? Porque deixaram a situação chegar até esse ponto? Que foi feito do mobiliário antigo que lá existia? Onde estão as várias peças, confeccionadas em jacarandá, e o belo piano de cauda que adornava a sala principal? É bem provável que hoje faça parte da mobília da casa de algum esperto, do tipo que considera o patrimônio público, como privado.

Adentramos ao casarão e pudemos constatar o que já imaginávamos quando chagamos próximos a entrada principal. Um verdadeiro espetáculo de destruição. Para todos os lados que olhávamos e por todos os cômodos que passávamos a visão era a mesma. Cheguei ao pé da bela escada de madeira que lava ao sótão e resolvi subir. Temeroso pela minha segurança, pois não sabia o estado que ela se encontrava, prossegui degrau por degrau até chegar lá em cima. A todo tempo me desviando de morcegos e marimbondos, consegui chegar são e salvo até a parte mais alta do velho casarão.

O sótão, composto por vários cubículos, é beneficiado por uma boa ventilação. Uns compartimentos com mais altura e outros, acompanhando o telhado, terminam em locais tão baixos que não permitem uma pessoa ficar em pé. No centro, onde fica a parte mais alta, uma janela para o nascente e outra para o poente, compõem sua arquitetura. Daquele local a visão é deslumbrante. Para o nascente se descortina o verde vale com seus canaviais ondulados ao sabor do vento. Para o poente vemos alguns coqueiros centenários e por trás deles o verde escuro da mata, que esconde aos pouco o crepúsculo que chega com o final da tarde, também constitui uma visão maravilhosa.

Ainda foi possível observar que a última seção do corrimão da escada, que também servia de parapeito, havia desaparecido. O piso ainda apresenta bom estado, em virtude de ter sido feito com madeira de lei. Entretanto, não pude deixar de notar que algumas tábuas estavam soltas, como se alguém as tivesse “preparado” para lavá-las em outra oportunidade. Talvez a mesma pessoa que se apropriou indevidamente do corrimão da escada.

Quando já me preparava para descer, fui surpreendido com uma visão inusitada. Num canto do corredor, que separa as duas extremidades da casa, quase despercebido, lá estava imóvel e bem acomodado, o velho cururu. Não sei como o batráquio conseguiu chegar até aquele local, pois para isso, teve que vencer três lances de uma escada íngreme e de degraus muito estreitos.

Mas, o importante é que ele conseguiu, pelo simples fato de ter tentado. E nós porque não tomamos o exemplo daquele velho morador do museu e também tentamos fazer algo para salvar aquele monumento enquanto as paredes ainda resistem ao abandono, ao descaso das autoridades e ao ataque dos vândalos?

Por que não tentamos conseguir um pouquinho do nosso suado dinheiro, que principalmente nessa época, é usado na compra de votos e consciências desse nosso povo sofrido e culturalmente ignorante, para recuperar uma parte da nossa memória? É justamente MEMÓRIA o que mais nos falta. Está literalmente em nossas mãos a oportunidade de mudar, escolhendo administradores comprometidos com a melhoria da Nação, principalmente no que se refere à educação. Um povo sem educação é presa fácil e sempre será refém de políticos espertalhões.


Natal, 13 de agosto de 2010.