A palavra “liquidação” está sendo
exaustivamente utilizada de maneira ardilosa, por boa parte dos comerciantes da
nossa cidade, como também em outros estados da federação, principalmente, por aqueles
estabelecimentos que comercializam produtos e peças de vestiário do sexo
feminino. São as mulheres, as principais vítimas desse embuste, já que
facilmente são arrebatadas por essas palavrinhas mágicas.
Algumas pessoas, no afã do
consumismo, muitas vezes chegam a compram mercadorias só pelo fato de serem
anunciadas “em liquidação”, mesmo sem a devida necessidade de uso, apenas, pelo
fato de serem oferecidas por um suposto preço baixo.
Por sua vez, alguns comerciantes
inescrupulosos, adotam vários tipos de armadilhas disfarçadas em “promoção/liquidação”,
senão vejamos: Liquidam-se produtos por um preço, ditos baixos, quando na
realidade eles realmente não custaram o que está sendo informado. Os descontos
anunciados chegam a incríveis 70% do valor do preço cobrado originalmente. Como
na maioria das vezes as margens de lucro dessa atividade, para os que pagam
seus impostos devidos, giram em torno de 20%, percebe-se que algo de muito estranho
acontece nesses anúncios. Outros majoram os preços de alguns produtos e 30/60
dias depois, retornam com o mesmo preço de antes, anunciando a tal “promoção/liquidação”.
Para não se falar, ainda, daqueles que reservam alguns itens do seu estoque, de
preferência artigos já fora de moda ou com pequenos defeitos, e os anunciam com
grande estardalhaço e em local bem visível do seu estabelecimento a palavra mágica:
LIQUIDAÇÃO. Chega-se ao cúmulo de se inaugurar uma loja já com a vitrine
exibindo faixas e cartazes com a famigerada palavra, como se fosse possível,
liquidar (leia-se vender por preço mais baixo), aquilo que ainda não foi
vendido.
Nos Estados Unidos utiliza-se o Black
Fridey – o dia das grandes “liquidações”, promovidas por alguns
magazines que acontece em toda última sexta-feira do mês de novembro, no dia
seguinte ao festejado Dia de Ação de Graças. As pessoas ficam na porta dos
grandes magazines que mais parecem as nossas conhecidas filas nos hospitais
públicos, em busca de atendimento, infelizmente fato comum em todas as cidades
brasileiras. Alguns desses magazines, em colaboração e, principalmente, em respeito
aos consumidores, abrem suas portas para atendê-los a partir das 4 ou 5 horas
da manhã. Outros, com o mesmo propósito, permanecem abertos desde o dia
anterior, o que ocorre na Inglaterra, como também em diversos países da Europa.
Acontece que nesses países a coisa é
levada a sério, pois, caso contrário, as autoridades responsáveis certamente
tomariam enérgicas providências contra os maus comerciantes, jamais permitindo
que os consumidores fossem ludibriados e expostos a desfaçatez dos espertalhões.
Já em nossa
aldeia tupiniquim, as ditas “liquidações” para alguns comerciantes, funcionam tal
qual a famosa “Lei do Gerson”, que tem como principal finalidade, apenas levar
vantagem, atraindo os incautos consumidores para suas dependências comerciais. Os
nossos órgãos fiscalizadores, ao que tudo indica fazem vistas grossas a essas
campanhas, e, talvez, nunca tenham adentrado nesses estabelecimentos, com a
finalidade de verificar se realmente as mercadorias ali expostas e ditas em “promoção/liquidação”,
tiveram efetivamente, seus preços reduzidos, e se as reduções são compatíveis
com o que está sendo anunciado.
Enquanto que no sul e
sudeste do país, onde se localizam os nossos maiores centros comerciais,
produtores e consumidores, especificamente no eixo Rio/São Paulo, as
liquidações ocorridas por ocasião nas mudanças das estações inverno e verão, as
coleções, desenhadas exclusivamente para cada uma delas, são oferecias a preços
diferenciados sempre que ocorrem tais mudanças. Entretanto, há consumidores mais
espertos principalmente nas classes média e também os remediados - média-baixa
-, que adquirem peças de vestuário oferecidas fora de estação, naturalmente, a
preços módicos, e as guardam para serem usadas no próximo ano com a chegada do inverno
ou verão, conforme o artigo adquirido.
A sofreguidão de
algumas pessoas para querer levar vantagem em tudo, à vezes se transformam em prejuízos
irreversíveis. O mais recente foi com o telexFREE, uma pirâmide financeira que
beneficiou uns poucos e prejudicou irremediavelmente uma quantidade enorme de
incautos investidores que acreditaram ser possível enriquecer em pouquíssimo
tempo, sentados confortavelmente em suas residências, na frente de um
computador. Apostaram nessa quimera e perderam. Ouvi relato de pessoas que
venderam tudo que possuíam inclusive suas casas, passando a morar de aluguel,
seus automóveis, enfim, tudo que pudesse rapidamente se transformar em dinheiro
vivo, para colocar nesse rendimento
milagroso na esperança de dobrar ou mesmo triplicar seus investimentos em
pouquíssimo tempo.
O anseio em
aplicar à conhecida “Lei do Gerson” tem produzido situações vexatórias e até de
certo modo, jocosas. Soube de um pitoresco caso em que uma senhora,
aparentemente de classe média alta, que se dirigiu a uma delegacia de policia para
prestar queixa por ter sido enganada com o famoso conto do vigário na compra de um bilhete premiado. Ao final do seu relato e do alto de sua
indignação, exige do delegado providências imediatas no sentido de prender o meliante.
O agente depois de ouvir pacientemente o relato da queixosa, lhe diz em tom admoestador:
“quem deveria ser presa era justamente a senhora, por tentar enganar um estelionatário
que se passava por indefeso tabaréu”... Sem argumentos e com a vergonha estampada
na cara, a madame cabisbaixa deixa a
delegacia amargando o prejuízo pela sua esperteza.
Portanto, fica
aqui um recado aos espertalhões: quem muito atira pedras para cima, uma poderá
lhe cair na cabeça. Pensem nisso. Um bom fim-de-semana para todos.
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