segunda-feira, 20 de abril de 2009

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - MATÉRIA PUBLICADA NA TRIBUNA DO NORTE EM 19.04.2009

ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Genealogista e historiador)

PIPA, primeiros habitantes

Foram os índios da tribo Potiguares seus primeiros habitantes. Porém, desde o ano de 1587, já se registra a presença dos franceses no nosso litoral. Posteriormente chegam também os holandeses. Estes, ao contrário dos franceses, estavam mais interessados em tomar terras para o plantio de cana-de-açúcar. A primeira tentativa para verificação dessas terras, foi feita em 1625 pelo capitão Uzeel, no comando de uma patrulha que chegou “furando mato desde a Bahia da Traição até o engenho Cunhaú”, no Rio Grande. A esquadra com 34 navios aportou no vizinho estado da Paraíba, em julho desse mesmo ano, comandada pelo almirante Balduíno Hendriczoon que, não podendo socorrer o governo flamengo na Bahia, navegavam em direção ao norte.

Já os corsários franceses que aqui chegaram junto com os flibusteiros, piratas dos mares da América, tinham como objetivo inicialmente, a prática do escambo com nossos indígenas. Posteriormente optaram pelo roubo deliberado do pau-brasil. Utilizaram-se inclusive dos nativos para cortar e transportar o pau de tinta, como era chamado o nosso pau-brasil, até o local denominado “Porto Madeira”, em Itacoatiara, nome primitivo da Pipa. Hoje o local é conhecido como Ponta do Madeiro. De cima da falésia, as toras eram jogadas até a praia. Permaneciam na enseada de águas calmas, até serem içadas para suas naus que partiam com destino ao porto de Dieppe na França.

O contrabando do pau-brasil, durou por vários anos e milhares de toras foram saqueadas de nossas matas e enviadas para a Europa. Os índios já utilizavam à tinta vermelha que extraíam da madeira na pintura do corpo em diversos rituais. Foi essa a razão que levou, principalmente os franceses, a exercerem durante anos, forte contrabando do pau-brasil, para a Europa. O que pensavam ser inesgotável, acabou por levar, ao longo de anos de exploração, a quase extinção da nobre madeira que emprestou seu nome ao do nosso país.

Por volta do ano de 1800, aporta na Pipa o português José Castelo da Silveira. Era mestre de carta de uma barcaça que fazia o transporte de mercadorias entre o Rio Grande do Norte e o porto do Recife. Histórias repetidas pela oralidade, dão conta que quando o “Velho Castelo”, como passou a ser chamado, desembarcou na praia, viu passando uma moça muito bonita e que lhe chamou bastante à atenção. Perguntou a um dos presentes: será que o pai daquela moça me dá ela em casamento? O interrogado respondeu afirmativamente e após perguntar ao futuro sogro e dele receber a aprovação, viajou para Portugal onde morava sua família, com promessa de breve retorno para o casamento. Três meses depois desse encontro, estavam casados. A moça se chamava Rita, por apelido, Cobrinha. Era filha de José Gomes de Abreu, antigo morador da comunidade.

Tornou-se sócio do sogro em uma barcaça menor que o mesmo já possuía, e continuou com a mesma atividade de antes. Transportava principalmente o sal de Areia Branca e Macau; o açúcar mascavo e a aguardente, produzidas nos engenhos de Goianinha, além de madeira, farinha de mandioca, látex extraído da mangabeira, peixe seco e óleo de carrapato, como chamavam o óleo extraído da mamona. Quando partia do porto da Pipa, as barcaças faziam paradas nos portos de Barra do Cunhaú, em Canguaretama; na Baía da Traição e em Cabedêlo, na Paraíba e finalmente no porto do Recife seu destino final. De lá, parte dessa mercadoria como a açúcar mascavo, óleo de mamona, sal e o látex de mangabeira, seguia para a Europa. Histórias passadas de pai pra filho, acrescidas de uma boa dose de fantasia, contam que o pagamento por esses produtos era feito com moedas de ouro ou prata que se media em cuias. Essas cuias são caixas de madeira em formato quadrado, com capacidade para cinco litros, utilizadas para medir cereais, principalmente milho e feijão, como também a farinha de mandioca.

Além da família de José Gomes, moravam na Pipa as famílias: dos Costas, oriunda do sertão mas que chegou inicialmente em Cabeceiras; a de Manoel Pequeno, a família de Honorato Urubu e a mais antiga que era a dos Hermógenes. Tempos depois chega a família Pegado. Essas famílias chegavam à Pipa geralmente fugindo dos longos períodos de estiagem que atingiam as povoações localizadas no sertão.

Inicialmente as terras da Pipa pertenciam aos moradores do arruado de Cabeceiras, localizado a poucos quilômetros da praia. Esses indivíduos devem ter chegado a essa localidade provenientes dos municípios de Vila Flor e Canguaretama, pelas suas proximidades. Nessa época, quando os habitantes da Pipa queriam adquirir algum pedaço de terra, dirigiam-se a Cabeceiras e lá negociavam diretamente com seus moradores, o valor da área pretendida.

Essa crônica faz parte do livro “A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS, a sua verdadeira história”. De autoria de Ormuz Barbalho Simonetti, tem publicação prevista para o ano de 2010. ormuzsimonetti@yahoo.com.br


Praia da Pipa -RN vista do morro do Cruzeiro

Praia da Pipa - O Cruzeiro dos Pescadores

PRAIA DA PIPA-RN

quinta-feira, 16 de abril de 2009

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - MATÉRIA PUBLICADA NA TRIBUNA DO NORTE EM 24.03.2009

ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Genealogista e historiador)

PIPA, viagem para o veraneio


Era grande a expectativa que causava, nos dias que antecediam a viajem para a praia da Pipa. Dias antes, o meu avô Odilon Barbalho, mandava um portador à Pipa, com recado ao seu compadre Antônio Pequeno (o velho), que era delegado distrital e exercia grande influência em toda a comunidade. Pedia que iniciasse, com alguns homens, uma “picada” com destino a Piau. Ele por sua vez, também iniciava, com seus empregados, outra picada partindo de Piau com destino à Pipa. Era um percurso de doze quilômetros que atravessava tabuleiros cobertos de fruteiras silvestre como mangabeiras, cajueiros e mais perto da praia, multiplicavam-se os pés de camboim, maçaranduba, guabiraba, murta, murici, cajarana, camaci, maria-preta, ubaia doce e azeda etc.
Quando os trabalhadores se encontravam, estava concluída a estrada que iria conduzir a caravana de veranistas, ávidos em passar todo o mês de janeiro desfrutando das águas mornas do mar da Pipa. Foram os carros-de-bois do meu avô Odilon Barbalho, os primeiros veículos movidos à tração animal a chegarem à praia da Pipa em janeiro de 1926
A viagem era sempre feita à noite para poupar homens e animais do escaldante sol dos meses de janeiro. As famílias com suas tropas de burros de carga, carros de bois, charretes e cabriolés, reuniam-se no oitão da igreja matriz. Por volta das sete horas da noite iniciavam a viagem. As moças e rapazes montavam cavalos. As moças e senhoras, naquela época, utilizavam uma sela chamada silhão. Era um tipo de sela maior que as normais, com estribo apenas em um dos lados, onde a pessoa ficava com um dos pés no estribo, e curvava a outra perna sobre um arção semicircular. Era apropriada para moças e senhoras quando cavalgavam de saias.
Os carros-de-bois levavam além de pessoas alguns móveis tais como: camas e pequenos armários. Levavam, ainda, vários utensílios domésticos e todas as tralhas que compõe uma cozinha.
Os rapazes e moças seguiam na frente com suas velozes montarias. Disputavam corridas e faziam diversas brincadeiras ao longo da viajem. Era comum que algumas pessoas, com habilidade para tocar instrumentos musicais, levassem violões, concertinas, triangulo, pandeiros e zabumbas para animar a longa viagem. A primeira parada era no distrito de Piau, que significava a metade do caminho a percorrer. Daí pra frente à estrada se transformava em picada, e a viagem se tornava mais lenta e penosa, principalmente para os animais de carga e tração. O solo ficava mais arenoso o que facilitava o atolamento, dos carros de bois que tinham, rodas de madeira muito finas para aquele tipo de terreno e carregavam a maior parte do peso.
Durante essa parada, por volta da meia noite, as mulheres aproveitavam para cuidar das crianças e comer algum lanche trazido para a ocasião. Aproveitavam, também, para utilizar os sanitários (latrinas) da casa dos compadres. Os homens geralmente iam para as bodegas e vendas para tomar uns tragos de boa cachaça de cabeça produzida nos engenhos da região.
Em seguida retomavam o caminho seguindo pela picada previamente aberta. Nesse tipo de solo a caravana seguia com mais dificuldade e depois de três a quatro horas de viagem chegava ao rio Galhardo onde era feita a última parada. Lá a demora era pequena, somente o tempo de dar água aos animais e enquanto algumas pessoas tomavam banho para desenfadar. Com mais hora e meia de viagem chegavam na praia da Pipa. A ansiedade era tanta que os rapazes e moças disparavam nos seus cavalos, e logo chegavam à praia. Horas depois chegavam os pesados e vagarosos carros de bois e os animais de carga. Eram recebidos pelos compadres e moradores do lugar com festa de boas-vindas. Era hora de arrumar tudo e começar o tão esperado veraneio.

Essa crônica faz parte do livro “A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS, a sua verdadeira história”. De autoria de Ormuz Barbalho Simonetti, tem publicação prevista para o ano de 2010. (ormuzsionetti@yahoo.com.br)


Praia da Pipa- Janeiro de 2009

São Sebastião da Pedra - Praia da Pipa RN

quarta-feira, 15 de abril de 2009

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - MATÉRIA PUBLICADA NA TRIBUNA DO NORTE EM 10.03.2009

ORMUZ BARBALHO SIMONETTI(Genealogista e historiador)

PIPA, os primeiros veranistas

A aristocracia canavieira de Goianinha escolhia, todos os anos, o mês de janeiro, para veranear na praia de Tibáu do Sul. Lá veraneavam os proprietários dos Engenhos: Bem Fica, Odilon Barbalho; do engenho Sumaré, Ezaúl Marinho; do engenho Bom Jardim Antônio Bento de Araújo Lima; o do engenho Ilha Grande Manoel Duarte da Silva; de engenho Cametá, Felipe Ferreira da Silva; do engenho Bosque Basílio Basiliano Barbalho; do engenho São Miguel, Benjamin Simonetti e outros.

Durante o inverno de 1924, ocorreu o rompimento da barra que separava a lagoa de Guaraíras das águas do oceano. Como a cidade se desenvolvera próxima ao mar, foi praticamente toda destruída, juntamente com as casas dos veranistas. A partir dessa data, as águas da lagoa de Guaraíras ficaram, definitivamente emendadas com o mar.
Impossibilitados de continuarem a veranear em Tibáu, em virtude do acontecido, escolheram então a praia da Pipa que ficava no mesmo município e a poucos quilômetros em direção ao sul.

O primeiro veraneio ocorreu em 1926. As casas a serem ocupadas eram conseguidas com os pescadores que, na maioria das vezes, saíam de suas moradas para alugar ou mesmo emprestar aos que chegavam. Iam morar temporariamente com os parentes. Eram casas muito pobres, construídas com madeira conseguida na região e cobertas com palhas de coqueiros. As paredes eram revestidas de taipa e, em alguns pontos, havia somente palhas de coqueiro. O banheiro junto com a latrina ficava separado da casa, lá no fundo do quintal. Escolhia-se uma área com cerca de dois metros quadrados onde se fincava quatro barrotes no chão e as paredes era feitas com palhas de coqueiro.

A latrina, como eram chamados os sanitários de antigamente, nada mais era que um buraco escavado no chão onde se atravessava uma tábua para facilitar o uso. Conforme a utilização e à medida do necessário iam sendo aterradas, com a própria areia retirada inicialmente.

A viajem de Goianinha até a praia da Pipa era muito penosa e demorada. As pessoas viajavam em carros puxados por juntas de bois, em lombos de animais ou mesmo acomodados dentro de caçuás que eram transportados por burros. O caçuá é um cesto grande e comprido, feito de cipó, sem tampa e com alças para prender às cangalhas dos animais de carga. Neles eram transportados, além de gêneros alimentícios, roupas e utensílios domésticos que seriam utilizados durante o período do veraneio.
Minha mãe conta que, quando pequena, fez diversas viagens para a Pipa, dentro desses cestos. Ela era acomodada de um lado e, do outro, ia meu tio Antônio Barbalho, tio Tonho, que era mais ou menos de sua idade, havendo assim uma melhor distribuição de peso. Quando a finalidade era o transporte de pessoas, estes cestos eram forrados com roupas, lençóis e toalhas para melhor conforto dos ocupantes. Com a continuidade dos veraneios as picadas se transformaram em estradas rudimentares mas que permitiam que os senhores de engenho, viajassem em seus “cabriolés”. Esse tipo de transporte, era uma espécie de carruagem coberta, com quatro rodas de madeira, parecida com as diligências do velho oeste americano.

Havia espaço para quatro pessoas na parte coberta e na parte externa, onde viajava o cocheiro, cabia mais uma pessoa. Eram puxadas por dois cavalos. Nos cabriolés, viajavam geralmente o senhor de engenho com sua esposa e, às vezes, alguma criança de colo.
Em Goianinha os engenhos Bem Fica, Ilha Grande, Cametá, Bom Jardim e Mourisco, possuíam esse tipo de transporte. Outros tinham charretes, que eram veículos menores e mais leves, também de tração animal. Não tinham cobertura e o assento comportava no máximo três pessoas, incluindo aí o condutor.

Quando era criança, tive oportunidade de viajar no cabriolé do engenho Bem Fica. Foi uma viagem curta mas inesquecível. Viajei do engenho até Goianinha. Ainda hoje posso sentir a emoção dessa viagem. O cabriolé puxado pela parelha de cavalos russos, Mele e Medalha, seguia estrada afora, estimulados pelos gritos e estalidos de chicote do cocheiro João de Gerson. Quanta saudade!

Essa crônica faz parte do livro “A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS, a sua verdadeira história”. De autoria de Ormuz Barbalho Simonetti, tem publicação prevista para o ano de 2010.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

PRAIA DA PIPA EM 1973

SÃO SEBASTIÃO PADROEIRO DA PIPA

PIPA à noite

NOVO LIVRO de Ormuz

Caro amigo Ormuz :

Tenho recebido e lido , com grande deleite e prazer.
São muito boas e me fazem lembrar as viagens que meu avô e a família
faziam , nos anos 20 , para a , então , deserta e distante Praia de Tambaú , em João Pessoa , Paraíba , que me eram contadas pelos meus  pais e por meus tios...
Parabéns e continue , estou ansioso pelas próximas crônicas.
Eu as dei a minha irmã caçula , pois ela é apaixonada pelas Praias do
Rio Grande do Norte
Um grande abraço do
Sérgio.