domingo, 17 de agosto de 2008
TRIBUNA DO NORTE - 20.08.2008 -Goianinha revista no tempo -Ticiano Duarte
Valter Fontoura, velho amigo e conterrâneo, pediu-me para adquirir o livro, “GENEALOGIA dos troncos familiares de Goianinha-RN”, de autoria de Ormuz Barbalho Simonetti, dizendo-se convidado para o lançamento festivo, ocorrido há poucos dias, mas, impossibilitado de faze-lo, por conta de outros compromissos em São Paulo, onde reside.Não li ainda a longa relação das famílias e descendentes ali citadas, mas, na ligeira consulta feita encontro os Fontoura da linha ancestral de Valter, espalhados nos municípios que ficam nas redondezas de Santo Antônio do Salto da Onça.Fui menino viajando por aquelas terras dos Barbalho e Simonetti. Meu pai tinha ligações afetivas com muitos deles (José, João e Luiz), com os proprietários do “Bosque”, onde ali ia buscar aguardente de primeira cabeçada, produzida para consumo especial dos amigos da família.Cascudo que é transcrito, no livro, com duas “Àctas Diurnas”, “Em louvor de Goianinha” e “Que deve o Rio Grande do Norte a Goianinha?”, relatando entre outras coisas o folclórico anedotário que corria na região do agreste e na capital, a propósito da avarícia e da frugalidade do seu povo. “Quando almoçam o fazem nas gavetas abertas para, no minuto que a visita se anuncia, fazer desaparecer, provisoriamente, a refeição”.Menino, morando em Nova Cruz, ouvi muitas anedotas sobre Goianinha, conhecida como a terra do muçu. Os estudantes que viajavam de trem com destino a Recife, nos tempos das aulas e férias, na parada da estação do trem em Goianinha, faziam blagues, piadas e ironias, Quando o trem dava saída, começavam a gritar, “olha o muçu, olha o muçu...”.Certa feita, o incorrigível Morvan Dantas, filho do desembargador Virgílio Dantas, arrancou o chapéu do prefeito, que estava em pé, frente ao vagão repleto de estudantes. Era a respeitável figura do velho Cabral Fagundes, depois proprietário de farmácias em nossa capital:- Seu Cabral, cadê o muçu?O trem em vez de dar partida, foi abastecer o vagão que conduzia água. Voltou e o prefeito entrou com dois policiais para prender Morvan. Este, astuciosamente, escondeu-se no sanitário e escapou de uma surra.De Goianinha conheci e queira bem a quatro amigos de infância: Hugo de Araújo Lima, Inácio Grilo, Luiz Bezerra de Araújo Lima e Paulo Barbalho. Este último mais ligado pela convivência quase diária, no tempo de estudante e depois nas lutas partidárias, nas campanhas memoráveis, sob à liderança de Aluízio Alves.Hugo Lima era proprietário rural e homem de bem. Inácio Grilo, colega do velho Marista, corajoso, filho de magistrado e intelectual, transferiu-se logo cedo para o sul do país. Atuou no jornalismo com sucesso. Voltou à terra, cansado das agitações do Rio e São Paulo. E hoje está em pleno vigor, morando em Natal. Luiz Bezerra de Oliveira Lima, companheiro de lutas estudantis, ingressou no Banco do Brasil, transferindo-se para Salvador, na Bahia.Goianinha como relata Cascudo, deu ao Estado filhos ilustres e muitos deles conheci de perto, magistrados, profissionais liberais, políticos, proprietários rurais.No anedotário popular corria a estória, pilhérica, de um mascate turco, que passara muita fome em Goianinha e ao despedir-se da cidade gravara uma quadrinha na parede de um sanitário de um bar: “Gonanina, Gonanina, nunca mais me verás tu. Criei ferrugem nos dentes e teia de aranha no c...”. Mas Alfredo de Araújo Cunha ao avistar a cidade, está na história de Cascudo, exclamara: “Goianinha pátria dos anjos”.Acho, também, que é ingrato o anedotário de ridicularia à Goianinha. Ao contrário, o seu povo é hospitaleiro e cordial. E cito o, exemplo de Paulo Barbalho. Sua casa, na fazenda “Benfica”, alpendrada, estava aberta diuturnamente para receber os amigos e os que lhe batiam à porta. Ninguém recebeu melhor neste Estado do que Paulo Barbalho. Mesa farta e exagerada. Ele fazia questão de receber fidalgamente, com a sua companheira Júlia, desmentindo a hipócrita e injuriosa versão que o povo de Goianinha era mesquinho e inóspito.Goianinha nos deu André de Albuquerque Maranhão; o primeiro bispo de Natal, Joaquim Antônio de Almeida, Dr. José Maria Castelo Branco. Que saudade de Paulo Barbalho, homenageado no livro de Ormuz, seu sobrinho. Ele devotou um profundo amor ao seu povo, que defendia como se fosse sua própria família. Ao rememorar os tempos de convivência, lembro o poeta: “Maravilhoso é o mundo que fundaste na fonte de uma infância que esperamos jamais estanque, nem se desvaneça”.
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