domingo, 24 de fevereiro de 2013

QUASE CARTA AOS INTELECTUAIS DO MEU ESTADO





         Em outubro de 2012, estive na cidade de João Pessoa-PB a convite da ALAN-PB - Academia de Letras e Artes do Nordeste - para a posse do novo presidente, o acadêmico Ricardo Bezerra. Representei na ocasião a instituição que presido o INRG-Instituto Norte-riograndense de Genealogia e, por delegação do presidente Jurandyr Navarro da Costa, representei, também, o IHGRN - Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte e a ACLA - Academia Cearamirinense de Letras e Artes, da qual tenho a honra de ocupar a cadeira 24, em que é patrono o escritor Bartolomeu Correia de Melo. A ACLA, no último dia 01 de fevereiro, perdeu o seu idealizador e primeiro presidente o saudoso Pedro Simões Neto, incansável guerreiro em defesa da memória cultural de Ceará-Mirim, sua terra de coração.

Fiquei surpreso, e ao mesmo tempo com uma pontinha de inveja, pela forma de como os nossos irmãos paraibanos, tratam a cultura naquele Estado. O auditório estava completamente lotado. Havia representantes de várias instituições culturais, como também autoridades de diversas áreas administrativas do Estado.
            
         Na ocasião, foram entregues aos ganhadores do concurso de poesia “Augusto dos Anjos”, promovido pela ALAN/PB, prêmios em dinheiro e também coleções de livros. O concurso, realizado em escolas públicas, tinha como finalidade incentivar a poesia e conhecimento da obra desse grande poeta paraibano, que alcançou os píncaros da glória nacional.
          
         Pelo que pude observar, as instituições culturais são muito valorizadas e costumam contar com apoio dos governantes, das universidades, de entidades particulares e o que é mais importante, de voluntários.

         Os discursos são pronunciados na medida certa, do tipo que não enfada os ouvintes e diz tudo o que é importante para a ocasião. As diversas personalidades que se destacaram na formação cultural do Estado são enaltecidas sem apoteose, sem exageros desnecessários, apenas na mesma medida correta de seus esforços, em prol da cultura de seu torrão e por extensão, do seu país.

         Aqui em nossa aldeia, os pobres potiguares continuam esquecendo, ou talvez não querendo lembrar, de tantos valores que deixaram sua marca indelével na cultura de nosso Estado. Continuamos com “dantes no quartel de Abrantes”, cultuando o monoteísmo cultural e transformando as belas Bachianas, em um “samba de uma nota só”.
            
         Isso não significa que as "vestais" não devam ser cultuadas, mas não com exclusividade, sob pena de passar a falsa impressão de que a cultura em nosso Estado estagnou no tempo.



VALÉRIO MESQUITA


Jurandyr Navarro (*)

Desde cedo vocacionou-se pela política, nela conquistando, através do sufrágio, o cargo de prefeito da sua terra natal e depois a investidura de legislador estadual, Ambos uniram-lhe a experiência vocacional, preparando-o para ocupar outras responsabilidades públicas. Após um interregno, exerceu a presidência da Fundação “José Augusto”, um dos pólos centrais da cultura potiguar, onde teve a oportunidade de penetrar nos meandros da nossa intelectualidade.
         Inteligente, aproveita a atmosfera e capacita-se a ouras investiduras, porém, antes deu partida à publicar, escrevendo na imprensa e depois lançando livros de sua lavra, escritos de estilo agradável, culminando com sua entrada na Academia Norte-Rio-Grandense de Letras, Instituto Histórico, Academia de Macaibense de Letras e outras entidades culturais.
         Quando deputado é indicado pela Assembléia para uma vaga no Conselho do Tribunal de Contas do Estado, tendo, depois, assumido a sua presidência e finalmente aposentando-se pela compulsória. Anteriormente pertenceu ao Conselho Estadual de Cultura.
         Essa trajetória foi percorrida dentre outras ocupações de interesse privado. Não descurou da responsabilidade, enfrentando-as e transpondo obstáculos.
                     Valério Mesquita, Ormuz Simonetti e Jurandyr Navarro

     Transcorrido esse percurso credenciou-se a exercer outras tarefas executivas. Eis que se apresenta um posto a ser preenchido nos dias presentes, a presidência do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, lendária instituição secular, guardadora da história da nossa terra. Cargo de alta responsabilidade da cultura potiguar, com mandato de três anos, podendo ser reconduzido, por igual período, de conformidade com a letra do novo Estatuto, aprovado por Assembleia Geral Extraordinária de 02 de maio de 2012.
         Nesse espaço de tempo poderá muito realizar pela entidade mais antiga, em funcionamento, do nosso circulo intelectual. E o fará, mercê sua demonstrada capacidade administrativa aliada à sua disposição de luta pelo progresso da nossa Cultura.
                         Carlos Gomes, Valério Mesquita e Ormuz Simonetti

Nessa conceituação, a mocidade de Valério Mesquita, em união com sua inteligência poderá acionar e impulsionar o futuro de nossas letras históricas. E ele alavancará esse projeto.
         Ao seu lado terá, igualmente como tiveram seus antecessores, pessoal qualificado para ajudá-lo!
         Alguns nomes de vanguarda ele contará nesse seu primeiro mandato, ais, o atual presidente do Instituto de Genealogia, Ormuz Barbalho Simonetti, Odúlio Botelho, Adalberto Targino, respectivamente ex-presidente e atual presidente da Academia de Letras Jurídicas; Carlos Gomes, escritor e advogado dos mais conceituados e ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil, Sessão do Rio Grande do Norte, entre outros.
         Todos eles capacitados, advindos de experiências em entidades públicas e provadas.
 George Veras, Carlos Gomes, Lúcia Helena, Tomilavisk, Ormuz Simonetti, Odúlio Botelho e Valério Mesquita
                 
     O importante e a chama crepitante da cultura histórica continuar sempre acessa, para clarear as nascentes mentes das gerações jovens e motivar o seu entendimento para o enfrentamento de novos desafios que o porvir apresentar.
         O importante, repito, é a ação do trabalho. Sem ele nada se faz.
         A mudança será benéfica para a nossa “Casa da Memória”.     

Jurandyr Navarro é o atual presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte
  

CONVITE PARA A POSSE DA NOVA DIRETORIA DO I.H.G.R.N.


                                            Convite                            


   O Escritor JURANDYR NAVARRO DA COSTA, Presidente do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE tem a satisfação de convidar Vossa Excelência e família para prestigiarem a sessão especial desta Instituição na qual ocorrerá a posse da NOVA DIRETORIA, sob o comando do Presidente, Valério Alfredo Mesquita, para o triênio 2013/2015.

Data: 15 de março de 2013 (sexta-feira)
Horário: 19:30 horas
Local: ACADEMIA NORTE-RIO-GRANDENSE DE LETRAS
Rua Mipibu, 443 - Centro - Natal - Rio Grande do Norte 

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

LEMBRANDO O BAR, CAFÉ E LANCHONETE DIA E NOITE



Somos apenas a sombra das nossas lembranças.


Ao longo dos anos, Natal ficou conhecida por ter pontos tido comerciais como bares, cafés e lanchonetes, cujo atrativo não justificavam a freguesia cativa que possuía. Eram locais de extrema simplicidade, mas que prendiam seus fregueses pelo bom atendimento, um cardápio simplificado que atendia ao paladar de todos, além de oferecer um ambiente descontraído onde quase todo mundo se conhecia.

Procurando conhecer a origem desse comércio – dia e noite mais promissor - , encontrei nos alfarrábios, textos que lembram a nossa cidade  numa data mito recuada, quando verifica-se que tudo teve seu início com o surgimento de um bar que foi pioneiro nesse setor. Este foi inaugurado na travessa Aureliano, na Ribeira, com o nome de bar “Chile”, que serviu de modelo aos demais seguidores.
     

                                      Bairro da Ribeira - Natal RN    

   Logo depois, sequenciado pelo modismo que já existia à época, surgiu o bar “Antártica”, ainda na Ribeira que depois de muito sucesso cedeu seu espaço físico ao “Cova da Onça”, que já chegou aos nossos dias num estado agonizante.
            Descobri ainda, que na Cidade Alta, precisamente que na Rua Ulisses Caldas, foi inaugurado o bar “Potiguarânia”, seguindo a mesma trilha de seus antecessores , fazendo algumas inovações que caíram no gosto de seus frequentadores. Perdurou alguns anos, até ser absorvido com toda sua estrutura pelo “Magestic”, que deu continuidade ao mesmo estilo.

                        Confeitaria Cisne - Rua João Pessoa - Natal RN
                                
Na Rua João Pessoa, - no Grande Ponto do meu tempo – tivemos o café “Maia” de Rossini Azevedo. O “Vesúvio” de Maiorana, o “Botijinha” de Jardelino Lucena, o bar e confeitaria “Cisne” de Múcio Miranda e o “Dia e Noite” de Nilton Armando de Souza. Este, com larga vivência no ramo – ex-garçom -, mas, sabia como ninguém, lidar com sua freguesia usando a devida  leveza, o prazer de servir e a dignidade profissional que ostentava.


Esse bar, próximo aos outros na Rua João Pessoa, ficava quase em frente à Caixa Econômica Federal, com seu espaço físico sendo ocupado hoje por uma loja que vende óculos e outras bugigangas de somenos importância. Abrigava uma pequena área delimitada por duas fileiras de mesas dispostas paralelamente, e no meio, um corredor por onde transitava o garçom e os convidados de ocasião. Lá no fundo, um balcão e  por trás dele, a figura sempre presente de seu proprietário que se atinha a tudo o que se passava no recinto. No final,  existia uma  parede divisória e à sua direita, uma pequena abertura de forma semicircular que servia de comunicação com a cozinha e por onde eram enviados os  pedidos e comandas. No cardápio constavam os mesmos itens desde sua inauguração e quando ocorria alguma alteração, era quase sempre na ordem inversa de seus itens.

Entretanto, o seu ponto alto era o garçom, vítima de todo tipo de gozação. Muito estimado por todos, atendia pelo apelido de “Gazolina” e possuía o dom da tolerância, sem nunca ter revidado as irreverências recebidas. Nunca perdia a fleuma, nem mesmo, quando os pedidos estava inserido o duplo sentido, tais como: -  “Gazolina, suspenda os ovos e passe a língua...” E assim por diante.
                                      Rua João Pessoa - Natal RN

Esse bar, que nunca fechava, razão do nome – era também palco de muita confusão, principalmente nas madrugadas dos fins e semana, quando as rixas iniciadas nos clubes sociais, terminavam quase sempre no seu âmbito, ou nas circunvizinhanças. Os motivos? – Os mesmos de sempre: o ciúme, a política, a polícia e o esporte. Havia ainda uma particularidade pouco observada, que era a ausência do sexo feminino no seu interior. Quando muito, elas eram atendidas em seus automóveis que ficavam nas imediações do bar.

Ainda lembro de muitos que frequentavam esse bar com certa assiduidade. Todos foram bem sucedidos nas  escolhas profissionais que fizeram e houve quem atingisse o topo na política, outros, nas empresas e os demais nas profissões que abraçaram. Citarei o nome de  alguns para poupar os poucos leitores desse incômodo: Artuzinho, Hélio Santa Rosa, Sidney e Ronald Gurgel, Haroldo e Franklin Bezerra, Marcos e Marciano Oliveira, Oscar e Osmar Medeiros, José e Ivo Barreto, Diógenes da Cunha Lima, Syllos Carvalho, Fernando Bezerra, Roberto Furtado, Lenilson Carvalho, Mário Sá Leitão, Waldemar Mattoso, Bentinho, Murilo Concentino, Aldanir Araújo e Abreu Junior.

Não darei ênfase – como fazia antes -, ao velho adágio que diz: “aqui tudo já teve”. Realmente, tivemos o “Dia e Noite”, que sem a mínima pretensão, marcou sua presença na história da nossa cidade, quando cativou pela plêiade de frequentadores que deu a ele o prestígio que necessitava. Lembrar o “Dia e Noite” é massagear o ego de muitos que ainda guardam em seus corações as lembranças desse tempo. Somos apenas a sombra das nossas lembranças.    

Jahyr Navarro – médico e escritor


quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

RECORDANDO OS VENDEDORES AMBULANTES E SEUS PREGÕES MATINAIS – Parte final

   Recordo do sorveteiro, empurrava seu carrinho de madeira, pintado com cores alegres.  Na frente, dois espelhinhos redondos, imitavam os faróis de um carro. Entre eles, duas flâmulas: uma do ABC e outra do América. Não revelava o time do coração, nem sob tortura. Tinha medo de perder os fregueses adversários. Num dos braços do carro, uma buzina tipo “fom, fom” era acionada para chamar a atenção da clientela. Naquela época o sorvete era feito em casa, e os sabores pouco mudavam: coco, coco- queimado, chocolate feito com toddy, morango (utilizava essência, pois a fruta só conhecíamos por foto) e algumas frutas sazonais.
        
         Sem horário nem dia definidos para sua aparição, ouvia-se também o grito do vendedor de cestos e espanadores. Vendia inclusive um espanador em miniatura que era comprado para as crianças brincar. Era um homem ainda jovem, porém sempre o via descansando à sombra dos enormes fícus- benjamina, que outrora arborizavam a Avenida Deodoro.

         Havia ainda os vendedores de serviços. O funileiro, que consertava panelas, caçarolas e toda a tralha utilizada nas cozinhas, inclusive o velho bule de café, feitos de ágata ou alumínio, substituídos que fora pelas garrafas térmicas. Às vezes sinto saudade daquele antigo bule sempre cheio de um gostoso café, torrado em casa, descansando sobre a chapa quente do fogão de lenha, na fazenda do meu pai. Os pequenos consertos que utilizava solda branca ou cravo eram realizados no local. Para isso utilizava uma pequena lamparina à base de álcool, que não deixa tisna, para aquecer o ferro de solda. Quando estava trabalhando, geralmente era acompanhado por olhos atentos e curiosos da meninada que em volta, cravava o homem das mais diversas perguntas. Ele pacientemente ia respondo a todos, enquanto trabalhava.

         Outro vendedor de serviço era o sapateiro que também acumulava a função de engraxate. Usava a mesma caixa de madeira com escovas, flanela e graxa nugette e mais as ferramentas necessárias aos consertos. Saltos e salteiras de couro e borracha, cola, que ficou conhecida como “cola de sapateiro”, biqueiras de aço, muito requisitada pelos jovens, brochas de diversos tamanhos, agulha grossa, um carretel de  linha “urso” e cera de carnaúba que passava na linha para torná-la mais resistente. Trazia ainda, uma peça de sola enrolada em baixo do braço, além de uma pequena faca muito afiada que usava tanto no corte da sola como no arremate dos solados. No ombro, enganchado em um dos lados, um “pé de ferro” peça imprescindível nos consertos dos sapatos e sandálias, principalmente no brocheamento. Apregoava seus serviços geralmente a uma clientela cativa, já que naquela época, os calçados eram utilizados até a total impossibilidade de novo conserto. Seu grito ecoava pelas ruas feito um lamento: sapateeeeiro! solado, meia-sola, salteiras e costuras. Sapateeeeiro!

         Por fim, me vem à figura do confeiteiro Mané Anão. Impávido, junto ao tabuleiro sortido de buzis, torrões, drops dulcora, chicletes Adams - aquele que trazia um pequeno número numa das orelhas, quando a caixinha era aberta -, o chiclete de bolas ping pong, que acompanhava figurinhas infantis, as coloridas jujubas, confeitos (balas) de mel e hortelã, além das desejadas barras de chocolate Diamante Negro, para nós, de valor inalcançável. Tinha a prerrogativa de ser o único vendedor em frente ao Cine Rio Grande, sob as bênçãos do seu proprietário Dr. Moacir Maia, corroborada por “Seu Antônio”, o temido administrador do cinema, sempre de prontidão impedindo a entrada dos garotos, que sonhavam em assistir filmes impróprios para sua idade.

         Todos esses saudosos personagens ainda continuam desfilando nas minhas lembranças de garoto, morador da Avenida Deodoro.