Odulio Botelho Medeiros
Se eu tivesse
convivido com o meu pai, certamente eu seria mais feliz. A minha infância teria
sido diferente, sem timidez, tristezas ou desencantos. Se eu tivesse convivido
com o meu pai, os percalços teriam sido menores, pois o seu ombro fraterno
teria me consolado. Se eu tivesse convivido com o meu pai, não teria os pesadelos
que ainda hoje os tenho: dormiria um sono mais profundo e reparador.
Se eu tivesse
convivido com o meu pai, o medo não existiria e uma fortaleza interior
guardaria comigo até hoje. Se eu tivesse convivido com o meu pai, teria ouvido
e recebido os seus conselhos, as suas lições, e a vida teria sido mais leve,
mais benevolente, e, inegavelmente mais virtuosa.
Se eu tivesse
convivido com o meu pai, teriam sido destruídas todas as fragilidades
interiores e, com certeza, haveria de olhar para frente e sempre para o alto.
Se eu tivesse convivido com o meu pai eu seria muito mais alegre, ameno e mais
tolerante.
Se eu tivesse
convivido com o meu pai, enfrentaria as dúvidas que ainda restam e as
desconfianças que ainda carrego. Se eu tivesse convivido com o meu pai, me
revelaria mais humano e mais compreensivo. Se eu tivesse convivido com o meu
pai, teria tido mais condições para entender os semelhantes e amá-los com maior
profundidade.
Se eu tivesse
convivido com o meu pai, a minha gratidão seria mais reconhecida e eu poderia
noticiar a todos o meu agradecimento. Se eu tivesse convivido com o meu pai,
teria jogado mais peladas de futebol, teria cantado mais, e estudado muito mais
e hoje falaria o idioma inglês e teria feito versos como o poeta Castro Alves.
Se eu tivesse
convivido com o meu pai, não teria trabalhado tanto, desde os dez anos de
idade. Se eu tivesse convivido com o meu pai, acreditaria mais nas pessoas e
não haveria desconfiança. Se eu tivesse convivido com o meu pai, possivelmente,
assistiria novela de televisão e valorizaria mais as manifestações do povo e
entenderia melhor a sua angústia.
Se eu tivesse
convivido com o meu pai, teria sido melhor filho, melhor pai, melhor avô,
melhor marido, melhor irmão, melhor amigo e até melhor de coração. Se eu tivesse
convivido com o meu pai, teria tido infindáveis palavras de agradecimento pelo
dom da vida.
Se eu tivesse
convivido com meu pai, o levaria ao futebol nas tardes dos domingos, aos bares
da vida, armaria para ele a melhor rede de dormir e ficaria a ouvir a sua voz e
os seus lamentos. Se eu tivesse convivido com meu pai, o deixaria bem à
vontade, contanto que ele ficasse de bem com a vida.
Se eu tivesse
convivido com o meu pai, não desperdiçaria o seu convívio, sairia sempre com
ele para beber e até namorar. Se eu tivesse convivido com o meu pai,
acreditaria mais na sorte, na vida, nas pessoas, no destino e muito mais em
DEUS.
Parabéns ao meu amigo Odúlio Botelho Medeiros. Esse belo e comovente artigo é exatamente tudo que eu desejaria ter escrito.