Ormuz Barbalho Simonetti, de amoroso e saudoso olhar para o passado e todas as coisas que o encantaram como menino, traz, na ilustração do notável artista Levi Bulhões, para o texto "A Praia de Pipa dos Meus Avós", a sua alma debruçada sobre as janelas do tempo, diante das rendeiras de almofadas de bilro, tecendo sonhos de outrora.
Peço licença ao artista Levi e ao escritor Ormuz Simonetti, para pegar uma carona na beleza dessa poesia feita em grafite, nessa paisagem que me fez chorar e lamentar a infância que passou há tanto tempo.
Nesse cenário, tão benfazejo, que me inspira as saudades, chego a sentir o cheiro da maresia e o bafo do mormaço do meio dia, quando caminhava com papai e minha babá, pelas brancas dunas de Jacumã.
Lúcia Helena Pereira
Natal/RN
terça-feira, 31 de maio de 2011
A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - ILUSTRAÇÃO
Mais uma tela do artista plástico Levi Bulhões, que faz parte da ilustração do livro "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS", que será lançado em outubro/2011. O artista utiliza a técnica mista da pintura acrílica com o bico de pena. A ilustração refere-se à crônica RENDEIRAS DE BILROS, que dentre outras coisas relata o dia a dia dessas profissionais que passavam horas a sombra dos coqueiros ou em frente as suas casas tecendo lindos trabalhos de renda nas intermináveis “conversas de comadres”.
sexta-feira, 27 de maio de 2011
COISAS DE NOSSA TERRA
DE VOLTA AO PASSADO 1
Hoje eu lembro com saudade o tempo que passou.
O tempo passa tão depressa mais em mim deixou.
Jovens tardes de domingo tantas alegrias.
Velhos tempos, belos dias . .
(Roberto Carlos).
Desde a última sexta-feira, 13 de maio, quando foi publicado o artigo, “OS PÁSSAROS VOLTARAM”, tenho recebido grande quantidade de e-mails e telefonemas que tratam do assunto. São amigos e também pessoas anônimas, dizendo-se gratificadas pela oportunidade que tiveram de, ao lerem a crônica, voltarem no tempo, mais precisamente aos anos 60 e 70, quando nessa época, moravam na cidade de Natal.
Ao colocar naquela crônica minhas reminiscências que se misturavam as emoções, no momento em que desenvolvia o texto, não imaginei que aquelas histórias se assemelhavam as de tantas outras pessoas. Histórias que já não conseguimos lembrar, pois o ritmo dos acontecimentos imposto pelo mundo globalizado, não deixa espaço para esse tipo de saudosismo. Somente aqueles que se aventuram a mergulhar num passado - não tão distante - movido às vezes por acontecimentos ou situações do presente, são premiados com esse tipo de emoção.
Dentre os vários e-mails que recebi, fiquei comovido com um recebido de Teresina-PI, enviado por Luiz Fernando Pereira de Melo: “Amigo Ormuz, li o artigo e tive o prazer de retorna a rua Vigário Bartolomeu 625, onde morei na infância. La ia sempre ao velho mercado compra as rodas dos nossos caminhões e também as belas frutas que ali eram vendidas. É muito bom relembrar o passado, principalmente o nosso que tivemos um grande privilegio de ter uma cidade como Natal dos anos 60 e 70. Um grande abraço e obrigado pelo prazer de retornar a minha infância.
Do Recife, assim se manifestou outro amigo, Geraldo Pereira filho do saudoso Nilo Pereira: “Lembrei de meu tempo de menino, quando pegava canário no quintal de casa, alguns de um amarelo que dava gosto de ver. Hoje em dia, em Aldeia, mais ou menos uns 20km daqui, ainda os vejo, mas são raros. Por lá tenho em quantidade saíras as mais diversas, sabiás e bem-te-vis, mas também guriatãs e tenho um vizinho e amigo, a quem hei de mandar sua crônica, que passa o dia observando os pássaros em sua casa.”
De Brasília o poeta Ciro Tavares me envia o seguinte e-mail: “Caro Ormuz: Sou desse tempo. Nasci na Deodoro, numa casa que meu pai alugou ao Palatinik e onde vivi bons momentos. Deixei a Deodoro pela Rua Assu, quando construímos uma casa. Sempre estive ligado à área, aos pés de fícus que o Ângelo, prefeito, resolveu destruir. Brinquei na Praça Pio X e sou testemunha da construção do cinema Rio Grande. Fui assíduo freqüentador dos papos noturnos, na esquina com a Rua João Pessoa, onde, aos domingos a mulherada gostava de fazer footing para nossa admiração. Sou do tempo do bondes que passavam acionando suas campainhas para Petrópolis. Ali também, o médico, já falecido, Costa Neto e eu esperávamos o transporte para nos levar para o americano Batista, no Barro Vermelho, onde conheci Carlos Gomes e Terezinha. Ali também deslumbrei-me com a beleza e o porte helênico de Marilda Freire, filha do médico Antônio Freire. Ali conheci José Evaldo Caldas, meu maior amigo por mais de 60anos. Os pássaros voltaram e nós não podemos fazer o mesmo. Forte abraço.”
Já da vizinha cidade de Fortaleza recebi de uma leitora a seguinte mensagem: “Ormuz, os pássaros, sempre voltam. Você, por exemplo, é prova disso. Aí está, me enviando e-mail e me convidando a cantar Geraldo Azevedo e apreciar um pouco de sua infância, em Natal (cidade que adoro). Lúcia Bezerra de Paiva.
De Natal recebo do amigo Joaquim de Medeiros Neto: “Caro amigo e confrade Ormuz: Nunca na minha vida tinha lido uma crônica como a da "volta dos pássaros"! Concebida e escrita com o espírito e o coração de menino. Meus parabéns estrelado pela bela crônica. Um grande abraço.”
Todas essas manifestações e outras que recebi e continuo recebendo, me deixaram particularmente comovido e emocionado. Primeiro por ter conseguido através de algumas linhas escritas com a mais pura emoção, propiciar aos leitores um mergulho maravilhoso na sua infância não muito distante. Tenho certeza que nessa viagem ao passado, muitas outras lembranças vieram se juntar àquelas que estavam sendo descrita. Lembranças que se encontravam escondidas no escaninho da memória afetiva, e que às vezes são desencadeadas por um simples cheiro, uma música ou, como nesse caso, por uma narrativa.
Quando escrevia essa crônica, meus pensamentos me levaram a passear pela Avenida Deodoro da Fonseca lá pelos anos 60. As lembranças me chegavam aos borbotões numa avalanche que não conseguia conter. Fechei os olhos por um momento e diante de mim, sugiram vários personagens que convivi naquela época. Via desfilar pela calçada os freqüentadores do bar e restaurante “A Palhoça” do saudoso João Damasceno, que ficava bem em frente a minha casa e vizinho ao Cine Rio Grande. Lá era o ponto de encontro de políticos e pessoas influentes da nossa sociedade, e que lá comparecia todo final de tarde para se deliciarem com os tira-gostos que eram servidos, principalmente os feitos a base de frutos do mar, especialidade da casa.
Cotenido, Poti, Luiz e Batuíra sempre estavam por perto ajudando o pai. Cotenido, por ser o gerente do restaurante, era o que mais convivia conosco e por isso de quem mais me recordo. Seu nome, dado pelo pai, foi inspirado nos dizeres grafados em latas de azeite de oliva importado da Espanha (cotenido neto) que, traduzido para o português, significa conteúdo líquido. Seu pai convivia com esses produtos importados no tempo em que trabalhava com Guglielmo Lettieri, proprietário da famosa Cantina Lettieri. O velho Lettieri também era proprietário da única fabrica de gelo de Natal na década de 30.
Registre-se, entretanto que, democraticamente, A Palhoça também era freqüentada por estudantes “lisos”, principalmente os dos colégios Marista e Atheneu. Ao final das aulas ou mesmo fazendo alguma “gazeta”, apareciam por lá. Era a época que se iniciavam na arte de degustar uma boa “loira suada”; uma “cuba libre” ou simplesmente, um Rum Merino puro com gelo. Essas bebidas por serem mais baratas estavam ao alcance de todos. Contudo, vez por outra, era preciso fazer um acordo com Cotenido, e “pendurar” a conta por inconteste falta de recursos financeiros, mesmo apelando para a famosa “vaquinha”. Nesses casos, o pagamento ficava para a próxima semana, ou quem sabe, o próximo mês.
Às vezes também disputávamos o pagamento da conta, ou parte dela, na “porrinha”, jogo em que os parceiros tentam adivinhar a soma dos palitos ocultos na mão dos participantes. No início dos anos 70, um fato acontecido naquele restaurante alojou-se em minha memória de maneira que todas as vezes que passo em frente ao local, me lembro do acontecido. Como na época morava do outro lado da rua, especificamente na casa de número 622, era comum saber tudo de extraordinário que lá acontecia. Certo dia fui surpreendido com uma aglomeração que se formava diante de um dos compartimentos – na entrada do restaurante havia vários camarotes cobertos e divididos por palhas de coqueiro onde se encontrava uma mesa de madeira, retangular, ladeada por dois bancos do mesmo tamanho -, ao me aproximar do local pude ver o que ocorria. Diante da mesa, vários senhores alguns sentados e outros em pé, bebiam e conversavam animadamente, porém, a atenção estava voltada para uma dupla que disputava, qual deles agüentaria beber a maior quantidade de cerveja. Quando os vi, não me surpreendi, pois a Cidade inteira tinha conhecimento de que eram grandes amigos, igualmente boêmios e quando na companhia com outros amigos, a abundância se fazia presente, e a tristeza não tinha lugar à mesa. Eram eles: Dr. Roberto Freire e o Senador Luiz de Barros. Infelizmente não soube quem venceu aquela animada disputa. Mas, bem tarde da noite quando fui para casa, a dupla ainda bebia e conversava animadamente com se tivesse iniciado a farra naquele instante. Em cima da mesa e no chão, já não tinha onde colocar garrafas vazias. Esses dois senhores fizeram historia e não deixaram seguidores.
Hoje eu lembro com saudade o tempo que passou.
O tempo passa tão depressa mais em mim deixou.
Jovens tardes de domingo tantas alegrias.
Velhos tempos, belos dias . .
(Roberto Carlos).
Desde a última sexta-feira, 13 de maio, quando foi publicado o artigo, “OS PÁSSAROS VOLTARAM”, tenho recebido grande quantidade de e-mails e telefonemas que tratam do assunto. São amigos e também pessoas anônimas, dizendo-se gratificadas pela oportunidade que tiveram de, ao lerem a crônica, voltarem no tempo, mais precisamente aos anos 60 e 70, quando nessa época, moravam na cidade de Natal.
Ao colocar naquela crônica minhas reminiscências que se misturavam as emoções, no momento em que desenvolvia o texto, não imaginei que aquelas histórias se assemelhavam as de tantas outras pessoas. Histórias que já não conseguimos lembrar, pois o ritmo dos acontecimentos imposto pelo mundo globalizado, não deixa espaço para esse tipo de saudosismo. Somente aqueles que se aventuram a mergulhar num passado - não tão distante - movido às vezes por acontecimentos ou situações do presente, são premiados com esse tipo de emoção.
Dentre os vários e-mails que recebi, fiquei comovido com um recebido de Teresina-PI, enviado por Luiz Fernando Pereira de Melo: “Amigo Ormuz, li o artigo e tive o prazer de retorna a rua Vigário Bartolomeu 625, onde morei na infância. La ia sempre ao velho mercado compra as rodas dos nossos caminhões e também as belas frutas que ali eram vendidas. É muito bom relembrar o passado, principalmente o nosso que tivemos um grande privilegio de ter uma cidade como Natal dos anos 60 e 70. Um grande abraço e obrigado pelo prazer de retornar a minha infância.
Do Recife, assim se manifestou outro amigo, Geraldo Pereira filho do saudoso Nilo Pereira: “Lembrei de meu tempo de menino, quando pegava canário no quintal de casa, alguns de um amarelo que dava gosto de ver. Hoje em dia, em Aldeia, mais ou menos uns 20km daqui, ainda os vejo, mas são raros. Por lá tenho em quantidade saíras as mais diversas, sabiás e bem-te-vis, mas também guriatãs e tenho um vizinho e amigo, a quem hei de mandar sua crônica, que passa o dia observando os pássaros em sua casa.”
De Brasília o poeta Ciro Tavares me envia o seguinte e-mail: “Caro Ormuz: Sou desse tempo. Nasci na Deodoro, numa casa que meu pai alugou ao Palatinik e onde vivi bons momentos. Deixei a Deodoro pela Rua Assu, quando construímos uma casa. Sempre estive ligado à área, aos pés de fícus que o Ângelo, prefeito, resolveu destruir. Brinquei na Praça Pio X e sou testemunha da construção do cinema Rio Grande. Fui assíduo freqüentador dos papos noturnos, na esquina com a Rua João Pessoa, onde, aos domingos a mulherada gostava de fazer footing para nossa admiração. Sou do tempo do bondes que passavam acionando suas campainhas para Petrópolis. Ali também, o médico, já falecido, Costa Neto e eu esperávamos o transporte para nos levar para o americano Batista, no Barro Vermelho, onde conheci Carlos Gomes e Terezinha. Ali também deslumbrei-me com a beleza e o porte helênico de Marilda Freire, filha do médico Antônio Freire. Ali conheci José Evaldo Caldas, meu maior amigo por mais de 60anos. Os pássaros voltaram e nós não podemos fazer o mesmo. Forte abraço.”
Já da vizinha cidade de Fortaleza recebi de uma leitora a seguinte mensagem: “Ormuz, os pássaros, sempre voltam. Você, por exemplo, é prova disso. Aí está, me enviando e-mail e me convidando a cantar Geraldo Azevedo e apreciar um pouco de sua infância, em Natal (cidade que adoro). Lúcia Bezerra de Paiva.
De Natal recebo do amigo Joaquim de Medeiros Neto: “Caro amigo e confrade Ormuz: Nunca na minha vida tinha lido uma crônica como a da "volta dos pássaros"! Concebida e escrita com o espírito e o coração de menino. Meus parabéns estrelado pela bela crônica. Um grande abraço.”
Todas essas manifestações e outras que recebi e continuo recebendo, me deixaram particularmente comovido e emocionado. Primeiro por ter conseguido através de algumas linhas escritas com a mais pura emoção, propiciar aos leitores um mergulho maravilhoso na sua infância não muito distante. Tenho certeza que nessa viagem ao passado, muitas outras lembranças vieram se juntar àquelas que estavam sendo descrita. Lembranças que se encontravam escondidas no escaninho da memória afetiva, e que às vezes são desencadeadas por um simples cheiro, uma música ou, como nesse caso, por uma narrativa.
Quando escrevia essa crônica, meus pensamentos me levaram a passear pela Avenida Deodoro da Fonseca lá pelos anos 60. As lembranças me chegavam aos borbotões numa avalanche que não conseguia conter. Fechei os olhos por um momento e diante de mim, sugiram vários personagens que convivi naquela época. Via desfilar pela calçada os freqüentadores do bar e restaurante “A Palhoça” do saudoso João Damasceno, que ficava bem em frente a minha casa e vizinho ao Cine Rio Grande. Lá era o ponto de encontro de políticos e pessoas influentes da nossa sociedade, e que lá comparecia todo final de tarde para se deliciarem com os tira-gostos que eram servidos, principalmente os feitos a base de frutos do mar, especialidade da casa.
Cotenido, Poti, Luiz e Batuíra sempre estavam por perto ajudando o pai. Cotenido, por ser o gerente do restaurante, era o que mais convivia conosco e por isso de quem mais me recordo. Seu nome, dado pelo pai, foi inspirado nos dizeres grafados em latas de azeite de oliva importado da Espanha (cotenido neto) que, traduzido para o português, significa conteúdo líquido. Seu pai convivia com esses produtos importados no tempo em que trabalhava com Guglielmo Lettieri, proprietário da famosa Cantina Lettieri. O velho Lettieri também era proprietário da única fabrica de gelo de Natal na década de 30.
Registre-se, entretanto que, democraticamente, A Palhoça também era freqüentada por estudantes “lisos”, principalmente os dos colégios Marista e Atheneu. Ao final das aulas ou mesmo fazendo alguma “gazeta”, apareciam por lá. Era a época que se iniciavam na arte de degustar uma boa “loira suada”; uma “cuba libre” ou simplesmente, um Rum Merino puro com gelo. Essas bebidas por serem mais baratas estavam ao alcance de todos. Contudo, vez por outra, era preciso fazer um acordo com Cotenido, e “pendurar” a conta por inconteste falta de recursos financeiros, mesmo apelando para a famosa “vaquinha”. Nesses casos, o pagamento ficava para a próxima semana, ou quem sabe, o próximo mês.
Às vezes também disputávamos o pagamento da conta, ou parte dela, na “porrinha”, jogo em que os parceiros tentam adivinhar a soma dos palitos ocultos na mão dos participantes. No início dos anos 70, um fato acontecido naquele restaurante alojou-se em minha memória de maneira que todas as vezes que passo em frente ao local, me lembro do acontecido. Como na época morava do outro lado da rua, especificamente na casa de número 622, era comum saber tudo de extraordinário que lá acontecia. Certo dia fui surpreendido com uma aglomeração que se formava diante de um dos compartimentos – na entrada do restaurante havia vários camarotes cobertos e divididos por palhas de coqueiro onde se encontrava uma mesa de madeira, retangular, ladeada por dois bancos do mesmo tamanho -, ao me aproximar do local pude ver o que ocorria. Diante da mesa, vários senhores alguns sentados e outros em pé, bebiam e conversavam animadamente, porém, a atenção estava voltada para uma dupla que disputava, qual deles agüentaria beber a maior quantidade de cerveja. Quando os vi, não me surpreendi, pois a Cidade inteira tinha conhecimento de que eram grandes amigos, igualmente boêmios e quando na companhia com outros amigos, a abundância se fazia presente, e a tristeza não tinha lugar à mesa. Eram eles: Dr. Roberto Freire e o Senador Luiz de Barros. Infelizmente não soube quem venceu aquela animada disputa. Mas, bem tarde da noite quando fui para casa, a dupla ainda bebia e conversava animadamente com se tivesse iniciado a farra naquele instante. Em cima da mesa e no chão, já não tinha onde colocar garrafas vazias. Esses dois senhores fizeram historia e não deixaram seguidores.
terça-feira, 24 de maio de 2011
A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - O LIVRO
Caro Ormuz, seu livro já é sucesso. Já estou desejosa de tê-lo em mãos para me deleitar com suas belíssimas crônicas e ilustrações. Excelente obra! Meus cumprimentos pela qualidade.
Jania Souza-UBE
Natal/RN
Jania Souza-UBE
Natal/RN
segunda-feira, 23 de maio de 2011
A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - ILUSTRAÇÃO
Mais uma tela do artista plástico Levi Bulhões, que faz parte da ilustração do livro "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS", que será lançado em outubro/2011. O artista utiliza a técnica mista da pintura acrílica com o bico de pena. A ilustração refere-se à crônica OS PRIMEIROS VERANISTAS, que dentre outras coisas relata a saga dos veranistas quando se deslocavam com seus rudimentares meios de transporte, da cidade de Goianinha até a praia da Pipa.
domingo, 22 de maio de 2011
A LINDA LENDA POTIGUAR DO TOURO MÃO-DE-PAU.
Nos sertões do nosso Rio Grande, até os tempos do meu bisavô Antônio Alves Machado, rico-homem de terras e gados, as enormes fazendas sertanejas de criação não tinham cercas nem pastos; os rebanhos viviam livres, embrenhados na caatinga sem fim. No manejo desse gado, pela seca de cada ano, havia o mutirão da ferra, pra marcação da garrotada nascida no inverno. Havia um grande curral, onde se reunia e dali partia a vaqueirama das redondezas; vestida de couro, mode os espinhos, vaquejando mato adentro, tangiam com belos aboios as vacas mansas e suas crias desmamadas. As reses mais ariscas eram perseguidas e derrubadas durante a perseguição por forte puxavante do rabo, pois a mata densa não permitia uso de laço. Depois de dominadas a muque, eram mascaradas ou peadas e trazidas para o curralão. Havia disputas entre os vaqueiros pelo maior número de bichos aprisionados. Daí nasceu o brabo esporte da vaquejada.
Mas, tamanha era a caatinga e tanto era o gado, que nem todos os garrotes do ano eram pegos e ferrados. Sempre restava algum mais esperto e arredio que não se deixava vencer, fugia pros pés-de-serra, cheios de lagedos, onde ficava mais fácil pro perseguido e mais difícil pros perseguidores. Assim, crescendo livre e sadio, sem contato humano, ficava cada ano mais selvagem e chegava a touro erado, o dito barbatão. Eram machos fortes e violentos, sem marca de dono, que passavam a atacar os vaqueiros em defesa das fêmeas que arrebanhavam, prejudicando o bom andamento dos trabalhos da pega de gado.
Vencer um barbatão era feito glorioso e vantajoso, pois, além do ganho em fama de traquejo e valentia, o vaqueiro preador ganhava o direito de posse do tourão vencido. Por sua ferocidade, sem nunca amansar nem sujeitar-se, era castrado ou abatido, após um festejo de torturas e abusos por parte da vaqueirama, muitas vezes vingando colegas mortos ou feridos nas tentativas de derrotá-lo.
Alguns barbatões, por invencíveis, muito se afamavam, como o cearense Boi Barroso, tourão vermelhusco que, segundo contam, deu sobrenome aos descendentes daquele que o venceu e castrou.
Na ribeira do Potengi, abas da serra Joana Gomes, criou-se um barbatão castanho, enorme e ladino, que por mais de uma década escapava dos quantos vaqueiros também famosos que vinham de longe querendo caçá-lo. Certa feita, durante uma perseguição, esse touro pisou num buraco de tatu, machucando um mocotó dianteiro. Mesmo assim prejudicado, por alguma manobra de esperteza, conseguiu escapar. A perna sarou, mas o pulso ficou duro, daí obrigando o animal a mancar. E ainda por vários anos falavam nesse bicho macho que, mesmo manco, ninguém vencia.
Aí surgiu a lenda do Touro Mão de Pau. Essa estória foi contada em cantorias do grande Fabião das Queimadas, escravo rabequeiro nascido e vivido na Lagoa dos Velhos. Depois, coletada por Câmara Cascudo, virou folheto de cordel, sendo enfim adaptada por Ariano Suassuna e cantada pelo talentoso Antônio Nóbrega. É uma comovente mostra da mais pura arte poética e musical nordestina, onde os antigos costumes e os bravos valores de honra são pungentemente louvados.
Da casa-grande da Fazenda Aliança, lugar de nossa posse, se avista o por-do-sol detrás da serra Joana Gomes. Diz-que em nenhum outro poente o céu tanto se avermelha; por certo, mode o sangue ali vertido pelo pelo honrado Mão-de-Pau.
Bartolomeu Correia de Melo
Se duvida dessas belezas, apois acesse o link:
http://www.youtube.com/watch?v=uYgPzCPQXiU
quinta-feira, 19 de maio de 2011
A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - ILUSTRAÇÃO
Essa tela do artista plástico Levi Bulhões, faz parte da ilustração do livro "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS", que será lançado em outubro/2011. O artista utiliza a técnica mista da pintura acrílica com o bico de pena. A ilustração refere-se à crônica OS PRIMEIROS HABITANTES, que dentre outras coisas relata o roubo do pau-brasil pelos corsários franceses.
domingo, 15 de maio de 2011
OS PÁSSAROS VOLTARAM
Caro amigo e confrade Ormuz: nunca na minha vida tinha lido uma cronica como a da "volta dos pássaros"! Concebida e escrita com o espírito e o coração de menino. Meus parabéns estrelado pela bela crônica. Um grande abraço.
Joaquim Medeiros
Natal/RN
Joaquim Medeiros
Natal/RN
OS PÁSSAROS VOLTARAM
Ormuz:
Os pássaros, sempre voltam.
Você, por exemplo, é prova disso.Aí está, me enviando e-mail e me convidando a cantar Geraldo Azevedo e apreciar um pouco de sua infância, em Natal(cidade que adoro).
Estou disposta, a trocar "figurinhas" genealógicas.
Convido-o a visitar me blog de nome "monárquico" rsr: Da Cadeirnha de Arruar, d'onde escrevo memórias, à luz das recordações da família -
Lúcia Bezerra de Paiva
Fortaleza/CE
Os pássaros, sempre voltam.
Você, por exemplo, é prova disso.Aí está, me enviando e-mail e me convidando a cantar Geraldo Azevedo e apreciar um pouco de sua infância, em Natal(cidade que adoro).
Estou disposta, a trocar "figurinhas" genealógicas.
Convido-o a visitar me blog de nome "monárquico" rsr: Da Cadeirnha de Arruar, d'onde escrevo memórias, à luz das recordações da família -
Lúcia Bezerra de Paiva
Fortaleza/CE
OS PÁSSAROS VOLTARAM
Parabéns amigo, pude curtir um pouco da natureza e o cantar dos pássaros através da sua crônica, além de ver Deus em tudo isso.
Carlos Cabral
Natal/RN
Carlos Cabral
Natal/RN
OS PÁSSAROS VOLTARAM
Amigo Ormuz, li o artigo e tive o prazer de retorna a rua Vigário Bartolomeu 625, onde morei na infância. La ia sempre ao velho mercado compra as rodas dos nossos caminhões e também as belas frutas que ali eram vendidas. É muito bom relembrar o passado, principalmente o nosso que tivemos um grande privilegio de ter uma cidade como Natal dos anos 60 e 70.
um grande abraço e obrigado pelo prazer de retornar a minha infância.
Fernando de Melo
Terezina/PI
um grande abraço e obrigado pelo prazer de retornar a minha infância.
Fernando de Melo
Terezina/PI
OS PÁSSAROS VOLTARAM
Caro Ormuz:
Sou desse tempo. Nasci na Deodoro, numa casa que meu pai alugou ao Palatinik e onde vivi bons momentos. Deixei a Deodoro pela Rua Assu, quando construímos uma casa. Sempre estive ligado à área, aos pés de fíicus que o Agnelo, prefeito, resolveu destruir. Brinquei na Praça pio X e sou testemunha da construção do cinema Rio Grande. Fui assíduo Frequentador dos papos noturnos, na esquina com a Rua João Pessoa, onde, aos domingos a mulherada gostava de fazer footing para nossa admiração. Sou do tempo do bondes que passavam acionando suas campainhas para Petrópolis. Ali também, o médico, já falecido, Costa Neto e eu esperávamos o transporte para nos levar para o americano Batista, no Barro Vermelho, onde conheci Carlos Gomes e Terezinha. Ali também deslumbrei-me com a beleza e o porte helênico de Marilda Freire, filha do médico Antônio Freire. Ali conheci José Evaldo Caldas, meu maior amigo por mais de 60 anos. Os pássaros voltaram e nós não podemos fazer o mesmo. Forte abraço do
Ciro José.
Brasília/DF
Sou desse tempo. Nasci na Deodoro, numa casa que meu pai alugou ao Palatinik e onde vivi bons momentos. Deixei a Deodoro pela Rua Assu, quando construímos uma casa. Sempre estive ligado à área, aos pés de fíicus que o Agnelo, prefeito, resolveu destruir. Brinquei na Praça pio X e sou testemunha da construção do cinema Rio Grande. Fui assíduo Frequentador dos papos noturnos, na esquina com a Rua João Pessoa, onde, aos domingos a mulherada gostava de fazer footing para nossa admiração. Sou do tempo do bondes que passavam acionando suas campainhas para Petrópolis. Ali também, o médico, já falecido, Costa Neto e eu esperávamos o transporte para nos levar para o americano Batista, no Barro Vermelho, onde conheci Carlos Gomes e Terezinha. Ali também deslumbrei-me com a beleza e o porte helênico de Marilda Freire, filha do médico Antônio Freire. Ali conheci José Evaldo Caldas, meu maior amigo por mais de 60 anos. Os pássaros voltaram e nós não podemos fazer o mesmo. Forte abraço do
Ciro José.
Brasília/DF
sábado, 14 de maio de 2011
OS PÁSSAROS VOLTARAM
Ormuz
A sua crônica sobre os pássaros está linda, muito bem feita, informativa e romântica, sobretudo com um estilo simples. Lembrei de meu tempo de menino, quando pegava canário no quintal de casa, alguns de um amarelo que dava gosto de ver. Hoje em dia, em Aldeia, mais ou menos uns 20km daqui, ainda os vejo, mas são raros. Por lá tenho em quantidade saíras as mais diversas, sabiás e bem-te-vis, mas também guriatãs e tenho um vizinho e amigo, a quem hei de mandar sua crônica, que passa o dia observando os pássaros em sua casa; observando e fotografando. Vou procurar o site dele com fotos lindas e lhe mandar o link.
Interessante a sua observação de que os pássaros estão voltando. Acho que há certas coisas na vida que se sabe, mas não se sabe dizer - meu pai dizia isso - e me parece que essa é uma dessas.
Atencioso abraço
Geraldo Pereira
Recife/PE
A sua crônica sobre os pássaros está linda, muito bem feita, informativa e romântica, sobretudo com um estilo simples. Lembrei de meu tempo de menino, quando pegava canário no quintal de casa, alguns de um amarelo que dava gosto de ver. Hoje em dia, em Aldeia, mais ou menos uns 20km daqui, ainda os vejo, mas são raros. Por lá tenho em quantidade saíras as mais diversas, sabiás e bem-te-vis, mas também guriatãs e tenho um vizinho e amigo, a quem hei de mandar sua crônica, que passa o dia observando os pássaros em sua casa; observando e fotografando. Vou procurar o site dele com fotos lindas e lhe mandar o link.
Interessante a sua observação de que os pássaros estão voltando. Acho que há certas coisas na vida que se sabe, mas não se sabe dizer - meu pai dizia isso - e me parece que essa é uma dessas.
Atencioso abraço
Geraldo Pereira
Recife/PE
sexta-feira, 13 de maio de 2011
OS PÁSSAROS VOLTARAM
OS PÁSSAROS VOLTARAM
“Canta, canta passarinho, canta, canta miudinho,
na palma da minha mão.
Quero ver você voando, quero ouvir você cantando,
quero paz no coração
Quero ver você voando, quero ouvir você cantando,
na palma da minha mão. . . “
Geraldo Azevedo
Na minha infância, na cidade de Natal, recordo que gostava de admirar, nas manhãs ensolaradas, uma grande diversidade de pássaros que cantavam nos pés de ficus benjamim que adornavam e arborizavam a Av. Deodoro da Fonseca, onde residia com minha família na casa de número 622. Cantavam e nidificavam naquelas árvores, entretanto, eram bem mais “ariscos” dos que os de hoje. Naquela época, os garotos se divertiam puxando “carrinhos” feitos com latas de leite vazias que eram cheias com areia, ou com carros feitos de madeira que eram confeccionados por nós mesmos. A madeira era obtida no antigo Armazém Natal que ficava na esquina da Av. Rio Branco com a Rua Ulisses Caldas.
Esse tipo de trabalho de fazer os próprios brinquedos ajudava a desenvolver a criatividade e a habilidade com as primeiras ferramentas, além do apego e amor aquele brinquedo. Os carros ou caminhões mais sofisticados tinham as rodas cobertas com tiras de borracha e os feixes de molas eram feitos com aspas de ferro, muito utilizadas na época, nas embalagens que chegavam ao comércio. Também brincávamos de bolinhas do gude (bolinha à vera!); com rodas de ferro, que eram empurradas e equilibradas com um arame de ponta envergada etc., porém, o brinquedo mais utilizado eram as temidas baladeiras.
Estilingue ou baladeira compunha-se de um gancho de madeira em forma de Y que eram retirados de árvores como o fícus Benjamin e das goiabeiras, considerados os melhores. Nas extremidades superiores amarravam-se duas tiras de borracha com média de 20 cm de comprimento por 1,5 cm de largura, retiradas de velhas câmaras de ar ou compradas no antigo mercado municipal na Av. Rio Branco, onde hoje funciona o Banco do Brasil. Na outra extremidade as tiras eram presas a um pedaço de couro ou sola, que conseguíamos com um antigo sapateiro que tinha sua oficina na Rua Princesa Isabel.
A baladeira era um brinquedo possuído e desejado pela maioria dos garotos daquela época. Tinha lugar de destaque nas perigosas guerras que fazíamos contra meninos de outras ruas. Por exemplo: Av. Deodoro versus Rua Felipe Camarão. Av. Deodoro contra a Travessa Camboim, do temido “Canteiro”, famoso personagem que metia medo nos garotos da época, por ser muito brigão, e diziam que sempre andava armado com um canivete.
Nesses combates utilizávamos seixos (pedra rolada) que considerávamos “munição real”. Quando a disputa era apenas diversão entre meninos da Av. Deodoro, utilizávamos apenas munição de “festim” que era os frutos ainda verdes da mamona – carrapateira -, muito abundantes nos terrenos baldios e que nunca machucavam, pois só podiam ser atiradas a distâncias consideradas seguras. Mas, aqui confesso envergonhado “mea culpa”, pois, também a utilizei em diversas ocasiões, contra as indefesas aves, pois, o único pecado que elas cometiam era cantar. E ao fazê-lo, eram facilmente localizadas entre as folhagens das árvores e abatidas com as certeiras pedras que atirávamos pelo simples fato de testar a pontaria, nas inconseqüentes brincadeiras de criança.
Naquela época as residências costumavam ter em seus quintais, além dos galinheiros onde as “penosas” eram cevadas para os dias de festa ou daquela visita inesperada, muitas árvores frutíferas. Pitombeiras, abacateiros, sapotizeiros, mangueiras, mamoeiros, goiabeiras, só para citar as mais comuns. Devido à grande quantidade dessas árvores, esses quintais eram freqüentados por pássaros que, na amanhecência do dia, nos despertava com seus gorjeios melodiosos.
Na década de 70, por volta dos anos de 1973/74, nossa fauna local sofreria uma grande mudança. Nessas mesmas árvores já podiam ser vistos os famigerados pardais. Inicialmente em casais, e pouco tempo depois em enormes bandos. Fui apresentado a esses pequenos predadores, quando ainda morava no Rio de Janeiro, onde iniciei minha vida profissional, no Banco do Brasil.
A chegada desses pássaros em nossa cidade, a exemplo do que aconteceu em outras cidades do nosso país, constituiu-se num verdadeiro desastre para nossa fauna alada de pequeno porte. Infelizmente, na época, ainda não havia esse apelo ecológico em defesa da natureza, sua fauna e flora. Porém, tenho minhas dúvidas que se o fato tivesse ocorrido em nossos dias, algo fosse feito para evitar o desastre diante de todas as agressões sofridas pela natureza, que diariamente presenciamos por esse Brasil a fora.
Predadores destemidos, obstinados, oportunista e territorialistas, os pardais não demoraram a expulsar de nossas árvores, a grande maioria dos pássaros de seu porte, e até mesmo os de porte mais avantajado, como os anuns.
Esse predador da espécime (Passer domesticus) que tem origem européia foi trazido para o Brasil no início do século XX, e teve como porta de entrada a cidade do Rio de Janeiro. A sua introdução tinha como objetivo de reduzir a proliferação de moscas e mosquitos que infestavam a cidade. Apesar de também serem predadores de insetos, a base de sua alimentação se constitui de grãos, o que resultou na pouca eficiência no controle da população desses invertebrados. Essa decisão precipitada e irresponsável que introduziu em nosso território, uma espécie endêmica do continente europeu, sem as devidas avaliações do impacto que causaria, constituiu-se num verdadeiro desastre para nossa fauna.
Na luta por territórios, os pardais utilizam várias técnicas para expulsar seus concorrentes. Uma delas se constitui no ataque em bandos, deixando suas vítimas em desvantagem numérica e obrigando-os, conseqüentemente, a fuga. Praticam, também, a invasão de ninhos e destruição dos ovos não eclodidos ou simplesmente a matança dos filhotes recém-nascidos. Como os pardais são aves com hábitos urbanos, e convive bem com a presença do homem, é bem possível que nossos pássaros, que não pereceram diante dos invasores, tenham encontrado refúgio seguro nas matas que cobrem as dunas que circundam parte de nossa cidade.
Entretanto, como a natureza é sábia e quase sempre resolve os problemas causados pela bestialidade dos homens, ao longo dos anos nossos pássaros foram se adaptando a presença do invasor e aprendendo a se defender com maior eficiência, e assim conseguiram conviver com os invasores.
Há algum tempo, todas as manhãs, caminho com um grupo de amigos pela Av. Rodrigues Alves. Sinto-me feliz em observar que há alguns anos os pássaros estão voltando para nossas árvores. Ao contrário da década de 70, é bem inferior o número de pardais encontrados. Durante as caminhadas vemos muitas rolinhas andarem em nossa frente à cata de pedrinhas e migalhas, sem temer os transeuntes. Ficaram tão mansinhas que às vezes precisamos desviar o caminho para não pisá-las. Em frente à capela de São Judas Tadeu, no final da Av. Rodrigues Alves, as inúmeras rolinhas empoleiradas nos fios da rede elétrica, lembram as linhas de uma partitura musical com todas as notas de um brasileiríssimo chorinho, quem sabe, o Tico-Tico no Fubá.
Os Bem-ti-vis, sanhaços, anuns, sibites, rouxinóis, colibris e até os bico-de-lacre, que são pássaro endêmico do continente africano, mas que não tem causado nenhum dano a nossa delicada fauna alada, desfilam por entre as árvores de nossa cidade cantando animadamente, para o deleite dos que cedo madrugam.
A mansidão e a excelente proliferação dessas aves devem-se, principalmente, a consciência ecológica despertada “ainda que tardia”, e atualmente muito valorizada. Infelizmente em nome dessa bandeira, alguns fanáticos têm cometidos excessos o que terminam por prejudicar toda a comunidade. Mas essa mesma tranqüilidade, também se deve ao desaparecimento dos tais meninos munidos com suas terríveis baladeiras.
Um dia resolvi trazer um pedacinho dessa natureza livre, pra dentro da minha morada. Comprei um alimentador de beija-flor, enchi-o com uma mistura de água com açúcar, coloquei na sacada do meu apartamento, e pacientemente esperei. Ao fim do quinto dia tive a alegria de receber o primeiro visitante. Era um beija-flor de cor negra, chamado popularmente de tesourão, pois, tem suas penas da calda em forma de tesoura. A partir desse dia, a todo instante, recebo a visita de várias espécimes, de tamanho e plumagens variadas. É uma delícia para os olhos e a mente. Depois de algum tempo de observação, já posso identificar cada um dos visitantes e até mesmo nominá-los.
Hoje, sempre que entro em casa logo me sento na varanda para observa esses pequenos seres alados que, além de desempenhar importante papel na polinização das plantas, se constitui numa das mais belas criação da natureza.
quinta-feira, 12 de maio de 2011
DO BLOG DE LUCIA HELENA PEREIRA
ROBERTO PEREIRA, FILHO DE NILO PEREIRA, JÁ SE ENCONTRA EM NATAL PARA A 20ª BNTM. APROVEITO PARA POSTAR SUA CARTA A ORMUZ SIMONETTI, POSTADO EM 05-05.
"Meu caro Ormuz:
Emocionado, apesar da tardança do horário e, à Drummond, cansado das canseiras desta vida, em plena madrugada, acessando o seu site, eis a surpresa do Guaporé, onde se situa, teimosa e resistentemente, o Museu Nilo Pereira, ocorreram-me somente palavras de agradecimento à sua sensibilidade e a sua “eterna vigilância” em clamar/preservar o patrimônio material e imaterial do Ceará Mirim de saudosas lembranças para a família Pereira, porque, cidade mágica e por ser a Pátria espiritual do meu saudoso pai, como assim se referiu o escritor Edgar Barbosa, passou a ser também pátria de todo o seu rebento, “filhos do sol, netos da lua”.
O poema do escritor Diógenes da Cunha Lima, deveria ser editado em poster e distribuído nas escolas, ofertado, também, aos visitantes do nosso Ceará - Mirim. Conversando com a prima e escritora Lúcia Helena - arte e talento na preservação da memória de Nilo Pereira - é o que costumo ouvir da lavra intelectual dela, que, nilopereirianamente, tem sido uma intérprete da obra de papai, da identidade deste com a cidade, onde “verde nasceu no engenho Verde Nasce”.
...muito, muitíssimo grato a esse espaço que você disponibiliza ao RN, à região Nordeste, ao Brasil e ao mundo, enfocando Nilo Pereira, o Guaporé, o Ceará Mirim.
Nesta semana, de 11 a 15 de maio, estarei em Natal, assoberbado por um evento internacional, a 20ª BNTM - Brazil National Tourism Mart -promovido pela Fundação CTI Nordeste que, há 12 anos, me tem como secretário executivo. Vou adequar a minha agenda para andar os bons caminhos do Ceará Mirim, como a refazer as inúmeras visitas feitas ao lado de Nilo, que, ao adentrar a cidade, exclamava/declamava: “esta é a ditosa pátria minha amada”, do poeta maior, Camões, no seu poema épico Os Lusíadas. Para, em seguida, ele puxar Os engenhos de minha terra, que, na primeira estrofe, dizia: “Dos engenhos de minha terra, só os nomes fazem sonhar: Esperança! Estrela d'Alva! Flôr do Bosque! Bom-Mirar!”
"...irei com a minha mulher, Elaine, que vai levando o meu/nosso netário, Mariana, Marcela e Rafaela, que, na parte do lazer, já me entregaram uma programação que contempla as dunas, as falésias, passeios de bugre etc, mas ainda não se reportaram à terra do bisavô, tampouco - são crianças - à civilização do açúcar, tão inerente ao Ceará - Mirim..." etc, Roberto.
O Filme que todos temos que assistir !!!
VAMOS MELHORAR 2011!
Uma das maiores empresas de marketing do mundo, resolveu passar uma mensagem para todos, através de um vídeo criado pela TAC (Transport Accident Commission) e que teve um efeito drastico na inglaterra. Depois desta mensagem, 40% da população da inglaterra, deixaram de usar drogas e se alcoolizar, pelo menos nas datas comemorativas. Não temos este tipo de iniciativa aqui no Brasil. Espero que todos assistam, mesmo que não se alcoolizem ou usem algum tipo de drogas, e que reflitam e passem para os seus contatos.
Link do video:
http://www.youtube.com/watch?v=Z2mf8DtWWd8
VAMOS MELHORAR 2011!
Uma das maiores empresas de marketing do mundo, resolveu passar uma mensagem para todos, através de um vídeo criado pela TAC (Transport Accident Commission) e que teve um efeito drastico na inglaterra. Depois desta mensagem, 40% da população da inglaterra, deixaram de usar drogas e se alcoolizar, pelo menos nas datas comemorativas. Não temos este tipo de iniciativa aqui no Brasil. Espero que todos assistam, mesmo que não se alcoolizem ou usem algum tipo de drogas, e que reflitam e passem para os seus contatos.
Link do video:
http://www.youtube.com/watch?v=Z2mf8DtWWd8
domingo, 8 de maio de 2011
MÃE, A MAIS BELA DAS PALAVRAS
Perguntaram a uma mãe qual dos filhos que mais amava e ela respondeu:
o pequenino até que cresça;
o enfermo até que cure;
o ausente até que volte
(Al-Asfahani)
Quanta saudade!!
POEMA DAS MÃES (Giuseppe Ghiaroni)
Mãe! hoje eu volto a te ver na antiga sala
onde uma noite te deixei sem fala
dizendo adeus como quem vai morrer.
E me viste sumir pela neblina,
porque a sina das mães é esta sina:
amar, cuidar, criar e depois perder.
Perder o filho é como achar a morte.
Perder o filho quando, grande e forte,
já podia ampará-la e compensá-la.
Mas nesse instante uma mulher bonita,
sorrindo, o rouba, e a velha mãe aflita
ainda se volta para abençoá-la.
Assim parti, e nos abençoaste.
Fui esquecer o bem que me ensinaste,
fui para o mundo me deseducar.
E tu ficaste num silêncio frio,
olhando o leito que eu deixei vazio,
cantando uma cantiga de ninar.
Hoje volto coberto de poeira
e te encontro quietinha na cadeira,
a cabeça pendida sobre o peito.
Quero beijar-te a fronte, e não me atrevo.
Quero acordar-te, mas não sei se devo,
não sinto que me caiba este direito.
O direito de dar-te este desgosto,
de te mostrar nas rugas do meu rosto
toda a miséria que me aconteceu.
E quando vires e expressão horrível
da minha máscara irreconhecível,
minha voz rouca murmurar:”Sou eu!”
Eu bebi na taberna dos cretinos,
eu brandi o punhal dos assassinos,
eu andei pelo braço dos canalhas.
Eu fui jogral em todas as comédias,
eu fui vilão em todas as tragédias,
eu fui covarde em todas as batalhas.
Eu te esqueci: as mães são esquecidas.
Vivi a vida, vivi muitas vidas,
e só agora, quando chego ao fim,
traído pela última esperança,
e só agora quando a dor me alcança
lembro quem nunca se esqueceu de mim.
Não! Eu devo voltar, ser esquecido.
Mas que foi? De repente ouço um ruído;
a cadeira rangeu; é tarde agora!
Minha mãe se levanta abrindo os braços
e, me envolvendo num milhão de abraços,
rendendo graças, diz:
“Meu filho!”, e chora.
E chora e treme como fala e ri,
e parece que Deus entrou aqui,
em vez de o último dos condenados.
E o seu pranto rolando em minha face
quase é como se o Céu me perdoasse,
me limpasse de todos os pecados.
Mãe! Nos teus braços eu me transfiguro.
Lembro que fui criança, que fui puro.
Sim, tenho mãe! E esta ventura é tanta
que eu compreendo o que significa:
o filho é pobre, mas a mãe é rica!
O filho é homem, mas a mãe é santa!
Santa que eu fiz envelhecer sofrendo,
mas que me beija como agradecendo
toda a dor que por mim lhe foi causada.
Dos mundos onde andei nada te trouxe,
mas tu me olhas num olhar tão doce
que , nada tendo, não te falta nada.
Dia das Mães! É o dia da bondade
maior que todo o mal da humanidade
purificada num amor fecundo.
Por mais que o homem seja um mesquinho,
enquanto a Mãe cantar junto a um bercinho
cantará a esperança para o mundo!
o pequenino até que cresça;
o enfermo até que cure;
o ausente até que volte
(Al-Asfahani)
Quanta saudade!!
POEMA DAS MÃES (Giuseppe Ghiaroni)
Mãe! hoje eu volto a te ver na antiga sala
onde uma noite te deixei sem fala
dizendo adeus como quem vai morrer.
E me viste sumir pela neblina,
porque a sina das mães é esta sina:
amar, cuidar, criar e depois perder.
Perder o filho é como achar a morte.
Perder o filho quando, grande e forte,
já podia ampará-la e compensá-la.
Mas nesse instante uma mulher bonita,
sorrindo, o rouba, e a velha mãe aflita
ainda se volta para abençoá-la.
Assim parti, e nos abençoaste.
Fui esquecer o bem que me ensinaste,
fui para o mundo me deseducar.
E tu ficaste num silêncio frio,
olhando o leito que eu deixei vazio,
cantando uma cantiga de ninar.
Hoje volto coberto de poeira
e te encontro quietinha na cadeira,
a cabeça pendida sobre o peito.
Quero beijar-te a fronte, e não me atrevo.
Quero acordar-te, mas não sei se devo,
não sinto que me caiba este direito.
O direito de dar-te este desgosto,
de te mostrar nas rugas do meu rosto
toda a miséria que me aconteceu.
E quando vires e expressão horrível
da minha máscara irreconhecível,
minha voz rouca murmurar:”Sou eu!”
Eu bebi na taberna dos cretinos,
eu brandi o punhal dos assassinos,
eu andei pelo braço dos canalhas.
Eu fui jogral em todas as comédias,
eu fui vilão em todas as tragédias,
eu fui covarde em todas as batalhas.
Eu te esqueci: as mães são esquecidas.
Vivi a vida, vivi muitas vidas,
e só agora, quando chego ao fim,
traído pela última esperança,
e só agora quando a dor me alcança
lembro quem nunca se esqueceu de mim.
Não! Eu devo voltar, ser esquecido.
Mas que foi? De repente ouço um ruído;
a cadeira rangeu; é tarde agora!
Minha mãe se levanta abrindo os braços
e, me envolvendo num milhão de abraços,
rendendo graças, diz:
“Meu filho!”, e chora.
E chora e treme como fala e ri,
e parece que Deus entrou aqui,
em vez de o último dos condenados.
E o seu pranto rolando em minha face
quase é como se o Céu me perdoasse,
me limpasse de todos os pecados.
Mãe! Nos teus braços eu me transfiguro.
Lembro que fui criança, que fui puro.
Sim, tenho mãe! E esta ventura é tanta
que eu compreendo o que significa:
o filho é pobre, mas a mãe é rica!
O filho é homem, mas a mãe é santa!
Santa que eu fiz envelhecer sofrendo,
mas que me beija como agradecendo
toda a dor que por mim lhe foi causada.
Dos mundos onde andei nada te trouxe,
mas tu me olhas num olhar tão doce
que , nada tendo, não te falta nada.
Dia das Mães! É o dia da bondade
maior que todo o mal da humanidade
purificada num amor fecundo.
Por mais que o homem seja um mesquinho,
enquanto a Mãe cantar junto a um bercinho
cantará a esperança para o mundo!
terça-feira, 3 de maio de 2011
AINDA SOBRE O MUSEU NILO PEREIRA 2
NILO PEREIRA E O BARÃO DO GUAPORÉ
POEMA DO PRESIDENTE DA ACADEMIA NORTE-RIOGRANDENSE DE LETRAS, PROF. DIÓGENES DA CUNHA LIMA SOBRE O CASARÃO DO GUAPORÉ (MUSEU NILO PEREIRA) - CEARÁ-MIRIM RN.
O VELHO SOLAR
Diógenes da Cunha Lima
Guaporé, velho solar
Abandonado nas sombras,
Afrancesado, ruínas,
Visíveis galgos de louça
Vigiam homens de outrora.
Um repuxo d'água canta
Sua cantiga molhada,
As estátuas lá em cima
Simbolizando o Trabalho,
Agricultura e Comércio,
Lampiões de cada lado.
Da porta quase desfeita
Um jardim, verde sem fim,
Ladeia a sóbria mansão.
Em frente, a casa de banhos
Semelha simples igreja
Paredes encobrem a nudez
Banhista d'água corrente.
A brisa toma a manhã
E cobre o canavial,
Cambiteiro descoberto
Cantando, vem bem-ti-vi.
E o neto da casa, sábio,
Os olhos vazando o tempo
Vê coisas, paisagens, gente,
Presenças de antigas eras.
Na solidão animada,
Nos verdes do vale sonho,
Vicente Ignácio Pereira,
Barba à Pedro II,
Reconstrói sua morada.
Suas botas de Senhor
(Desenhos no couro cru)
Pisam o chão encharcado.
Às suas ordens tijolos
E argamassa se casam,
Enquanto a cana açucara
No parol, a almanjarra,
Garapa, mel, rapadura,
Rolete, canavial,
Cachaça de bagaceira.
Vicente Ignácio Pereira
Cuida de muitos doentes,
Escreve de experiência
Sobre a cólera mortal,
Lê contos, faz jornalismo,
E assegura a vitória
Do Partido Liberal.
Lembra que foi presidente
Da Província Rio Grande
Na seca mor dos Dois Sete,
Victor de Castro Barroca
Vai por seu mando ajudar
Aos retirantes, no vale.
Vicente Ignácio Pereira
Dá ordens para o passado
E o Guaporé logo expulsa
Seu silêncio espectral.
O salão nobre se enche
Da melhor gente da terra
Em faustos, recepções.
Augusto Meira recita
Seu romantismo, amores,
Juvenal louva com graça
As virtudes da preguiça.
No salão nobre os Barões
Do Ceará-Mirim assistem
A toda festa, ar sisudo,
Nos retratos da parede
Iluminada do espanto
Das arandelas azuis.
Dobé, Izabel Augusta,
Tão caridosa, tão santa,
Interroga: onde é que está
Meu neto Nilo? O engenho
Desmorona com a vida?
Vou morar na Rua Grande?
Na sala azul e conversa
São as cenas da moagem.
História do "São Francisco"
Repetida a toda gente:
No ano sessenta e oito
Insistiram com o Barão
Toda a vantagem haveria
De assumir a presidência
Da Província potiguar.
Demais, estando em Natal
Evitaria a doença
Um surto de catapora
Que assolava no vale.
O Barão pouco pensou
Pra responder, afirmando:
Eu prefiro as cataporas.
E ficou na Casa Grande.
Anoitecendo no vale
Os sinos de uma capela
Tocam chamando o silêncio.
Tia Augusta vai cantar
Para o menino dormir
Cantigas de antigamente.
A vida, a sorte, a madrasta
Carinho de mãe não tem:
"Carpinteiro de meu pai
Não me cortes os cabelos
Que minha mãe penteou,
Minha madrasta cortou
Pelo figo da figueira
Que o passarim beliscou".
Na sala de rosa cor
Explode o riso das moças
Tia Augusta Vaz Pereira
Toca valsas no piano
De cauda, sons multicores.
Retrato de sinhá-moça
Belinha, Pacheco Dantas,
Encantada mas risonha,
Ama os saraus da família.
Tio Riquete Pereira
Levemente aborrecido
Com leitura interrompida
Fecha o volume de Eça
No sofá, frisos dourados,
De repente, tudo volta:
Pára a moenda, alambiques,
Uma procissão de sombras
Se mistura a todos nós
No mistério da ausência,
Os pirilampos do vale
São círios da noite escura,
O Guaporé remergulha
Na quietude da morte.
O tempo, velho alquimista,
Joga o verde em nossos olhos,
Dá outra vida ao-que-foi
Na beleza restaurada:
Deus caprichou neste vale
Na manhã da criação
Em verde, luz, soledade.
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