quinta-feira, 25 de junho de 2015

ORIGEM DA FESTA JUNINA - PUBLICADA NO BLOG DA ACLA-

A Academia de Letras e Artes Pedro Simões Neto (ACLA) brinda seus leitores contando as origens dos festejos juninos (Santo Antônio, São João e São Pedro): as quadrilhas, os fogos de artifícios, as comidas típicas, as fogueiras, o vestuário, as músicas.
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Apesar de muito comemorada no Brasil, a Festa Junina tem origem nos países católicos da Europa, que prestavam a sua homenagem a São João, mas lá ela era chamada de Festa Joanina. Aqui no Brasil, a festa tem forte influência indígena e negra. Isso pode ser percebido nas músicas, que são as mesmas que foram cultuadas pelos negros, nos quilombos e nas senzalas, como o xaxado, o coco, o maxixe e até mesmo o próprio forró. Na alimentação, a presença forte do milho, canjica, pamonha, bolo de milho, milho cozido, pé de moleque, entre outras. As comidas típicas também são símbolos juninos, como forma de agradecimento pela fartura nas colheitas, principalmente do milho, a festa se tornou farta em seus deliciosos quitutes

No Brasil, a festa de São João é celebrada desde 1583. As tradições juninas, a Quadrilha, os fogos de artifício, o vestuário e a fogueira, têm origem diversa, conforme veremos a seguir: 
- A QUADRILHA veio da França. Era uma dança com passos inspirados nos bailes da nobreza europeia, surgida nos salões da corte francesa. Era chamada de “quadrille”. Na época da colonização do Brasil, os portugueses trouxeram essa dança, onde os participantes obedecem a um marcador, que usa palavras afrancesadas para indicar o movimento que devem fazer, tais como: “anavantur” (en avant tout), “anarriê” (en derrière), “avancê” (avancer), “balancê” (balancer), etc.). A mistura do linguajar matuto com o francês deu origem ao “matutês”, com humor e sotaque do interior nordestino. Nesta dança, é preciso seguir os comandos todos e no c’est fini das apresentações os casais se despedem acenando ao público. 

- OS FOGOS DE ARTIFÍCIO foram trazidos dos chineses, onde teria surgido a manipulação da pólvora para a fabricação de fogos. Há também quem diga que é uma forma de agradecer aos deuses pelas boas colheitas. São elementos de proteção, pois espantam os maus espíritos, além de servir para acordar São João com o barulho. 

- OS VESTIDOS RENDADOS e a DANÇA DE FITAS, são uma característica da Península Ibérica, bastante usados em Portugal e na Espanha. 

Todos estes elementos culturais foram, com o passar do tempo, misturando-se aos aspectos culturais dos brasileiros (indígenas, afro-brasileiros e imigrantes europeus) nas diversas regiões do país, tomando características particulares em cada uma delas. 
As festas juninas são comemoradas em todo o Brasil, entretanto na região Nordeste – onde chegou através dos padres Jesuítas – estas festas ganham uma grande expressão. Como é uma região onde a seca é um problema grave, os nordestinos aproveitam as festividades para agradecer as chuvas na região, que servem para manter a agricultura. 

- A FOGUEIRA é o maior símbolo das festas juninas. A história conta que as suas raízes são católicas. Se deriva de um trato feito entre as primas Isabel e Maria. Isabel acendeu uma fogueira sobre o monte para avisar a Maria do nascimento de São João Batista e assim pedir a sua ajuda. Aqui no Brasil teve o integral apoio dos índios, que já adoravam dançar ao pé do fogo. 
Outros dizem que as fogueiras eram acesas na festa de São João para lembrar que foi ele quem anunciou a vinda de Cristo, o símbolo da luz divina. 

Há ainda quem considere a fogueira uma proteção contra os maus espíritos, que atrapalhavam a prosperidade das plantações. 
Por fim, há aqueles que utilizam a fogueira apenas para se aquecer e unir as pessoas ao seu redor, já que a festa é realizada num mês frio.
As brasas da fogueira também são um exemplo dessas tradições: assim que se apagam, devem ser guardadas. Conservam, desse modo, um poder de talismã que garante uma vida longa a quem segue o ritual. Talvez por isso algumas superstições dizem que faz mal brincar com fogo, urinar ou cuspir nas brasas ou arrumar a fogueira com os pés. 

Em Ceará-Mirim, no sítio Ilha Grande, o seu proprietário, que se chamava João, saudava o santo do seu nome, soltando dezenas de foguetões, dizendo que era pra acordar São João, que dormira o ano inteiro. Ainda nesse sítio costumava-se acender fogueiras, a cada ano maiores. Quando as labaredas da fogueira se apagavam, sobrando as brasas, que eram abanadas para ficar mais acesas, o seu filho, Paulo da Cruz, descalço, passava sobre o braseiro e nunca queimou seus pés.

Também nesse sítio, em homenagem ao São João, adultos e crianças, amigos e filhos dos amigos, moradores e seus filhos também realizavam o culto do batismo, do parentesco (primos) e até casamentos à beira da fogueira.

OBRA E SÍTIOS CONSULTADOS:
Spineli, Maria da Conceição Cruz – MEMÓRIAS DO TIMBÓ, À SOMBRA DA TIMBAUBA


terça-feira, 16 de junho de 2015

O “BARÃO” DO DIAMANTE


No “Livro das velhas figuras”, o mestre Luís da Câmara Cascudo conta uma estória no mínimo curiosa, que se passou no Ceará-Mirim do início do século XIX.
Diz-nos que Miguel Ribeiro Dantas, Barão de Mipibu, casara-se em 1824, com uma prima, Dona Maria, filha do abastado português Antônio Bento Viana, dono do engenho Carnaubal e benemérito da paróquia, a quem havia doado terras de sua pertença onde hoje correm as ruas da cidade de Ceará-Mirim, conhecidas como “terras da Santa”.

Como era hábito, o casamento realizou-se na casa da noiva e, a pedido da consorte, o Barão demorou-se por mais de um mês na casa do sogro. Certo dia, chamou a mulher para acompanha-lo à sua residência em São José de Mipibu e a noiva preferiu demorar-se mais na sua cidade. O Barão, teimoso, manteve-se no propósito de retornar à sua cidade e partiu sem a noiva, deixando-a grávida.

Nunca mais retornou para buscar a noiva e nem esta o procurou. Teimosos e caprichosos os dois.
Em 1825 nasceu Miguel Ribeiro Dantas, o terceiro com o mesmo nome de família, que herdou a fortuna do avô português. Quando decidiu casar-se, escolheu uma tia, Dona Maria Angélica, oito anos mais velha que ele e irmã do seu pai. Toda a família se opôs, mas o terceiro Miguel era teimoso, segundo Cascudo, “por direito hereditário”.

Foi a São José de Mipibu acompanhado por uma escolta de quatorze escravos armados a bacamarte e raptou a sua escolhida. Tiveram apenas uma filha, Dona Maria Generosa, que veio de se casar com o Dr. Olinto José Meira, ex-presidente da Província do Rio Grande do Norte e pai do Juiz Meira e Sá.

O senhor de engenho, que ostentava o título de Coronel Comandante Superior da Guarda Nacional na Comarca de Ceará-Mirim, viveu até os setenta e quatro anos, criando fama de homem generoso, que gostava de auxiliar os necessitados e de mesa farta. Ainda louvado na narrativa de Cascudo “seus escravos, criados, libertos, amigos, conhecidos, aderentes e parasitas, gravitavam junto aquele núcleo irradiante de dádivas e benesses”.

Tinha paixão pelos cavalos, tratados à pão de ló, como se dizia antigamente. Tinha até um cavalo reservado para montaria do imperador. Dizia-se que o fidalgo cavalheiro daria o animal de presente ao governante quando recebesse o título de “Barão do Diamante”, o nome do engenho que havia adquirido.

Deu-se então um episódio que bem ilustra o bom humor, a tolerância e o amor aos cavalos do senhor de engenho. Vamo-nos valer da “verve” do sábio norte-riograndense:
“Um escravo de estimação, noitinha, selava um dos melhores cavalos de Miguel Ribeiro Dantas e galopava até a cidade, voltando pela madrugada. Uma vez, metido num ‘fobó’, esqueceu-se das horas e o sol nasceu. Assombrado com o próprio atrevimento, o escravo montou o cavalo e regressou, pensando no merecido castigo. Miguel Ribeiro, na calçada da Casa Grande, avistou, manhãzinha, o negro que, inconscientemente, fazia o animal esquipar, em ‘baralha-ata’, seguro e direito, como um ‘Marialva’. Assim entrou no pátio e, defrontando a figura severa do amo, o escravo ‘deu-de-rédeas’, sofreando a montada com tal ímpeto que esta, escorregando nas quatro patas, freadas pelo puxão furioso, deslizou até quase o alpendre, deixando um largo sulco, igual e reto, n’areia úmida. Miguel Ribeiro Dantas sacudiu os braços para o ar, num entusiasmo de conhecedor:
- É o que te valeu, negro dos seiscentos diabos! Vamos medir o risco!...
E, com o escravo, radiantes ambos, curvaram-se para medir o cumprimento da trilha traçada pelo cavalo.
Matéria publicada no "Jornal da Cultura de Ceará-Mirim", edição de agosto de 2010.


sexta-feira, 12 de junho de 2015

CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES


               Carlos Gomes tomando posse na Academia Macaibense de Letras


A Academia Norte-Riograndense de Letras recebe hoje, para ocupar a Cadeira número 33, o jurista, escritor e poeta CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES.

A trajetória de vida deste ilustre norte-riograndense, é pautada pela dignidade, pela competência e pela honradez. Sem sombra de dúvida, ele marcará presença na ANRL, com o seu brilho, como de costume o faz por onde passa: como advogado, como professor universitário, como presidente da OAB/RN, como Procurador do Tribunal de Contas do Estado, como Controlador Geral do Estado, como Presidente da Comissão da Verdade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como membro da Academia Macaibense de Letras, como membro da ALEJURN, como sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. 

A Academia Cearamirinense de Letras e Artes “Pedro Simões Neto”-ACLA, que se fará presente à cerimônia, felicita o seu Sócio Benemérito, que continuará o trabalho de colaborar com os seus pares na condução das letras e da cultura do nosso Estado.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

O CARATAM – MAIS UMA SANTA CRUZ DO CEARÁ-MIRIM.

Franklin Marinho Barbosa de Queiroz



O CARATAM é uma pequena Santa Cruz, localizada, geograficamente, entre as localidades de Primeira Lagoa e da Fazenda Cavalcanti, em terras que antigamente pertenceram a Vital de Oliveira Correia (um conhecido político e fazendeiro cearamirinense, filho do Major Oliveira, da Guarda Nacional, falecido em 12/11/1968).

Desconheço a origem do nome CARATAM, mas sei que foi palco de uma passagem do fabulário do Ceará-Mirim, bastante curiosa.
Havia um cidadão de idade avançada, chamado João Maria, um vaqueiro, que também era curandeiro e benzedor. Era considerado um homem de “rezas fortes”, sobretudo quando se destinava a dominar o animais domésticos enfurecidos ou desaparecidos.

O velho costumava montar uma jumenta, na qual percorria estradas, à procura de gado sumido. Quando chegava no campo, em que pastava aquela rês, fazia uma pequena fogueira em baixo de uma árvore de grande porte, nela subia e, lá de cima, ficava jogando dentro da fogueira acesa, pedacinhos de sebo de gado, fazendo produzir uma fumaça muito cheirosa. E o velho ficava a rezar, pedindo para aquela rês aparecer. Repentinamente a rês aparecia para cheirar a fumaça da fogueira e, de onde ele estava, de cima da árvore, ele laçava certeiramente o animal. Em seguida, montava a sua jumenta e, com a rês dominada, a conduzia com facilidade, como se fosse um animal doméstico.

Numa dessas viagens, à procura de rês desaparecida, o velho não voltou mais. Foi a derradeira. A sua jumenta voltou só, chegando em casa sem a montaria e sem nada.
Tempos depois, um caçador, sentindo-se muito cansado procurou uma árvore que lhe protegesse, aos pés da qual deitou-se e adormeceu. Acordou-se com uma sensação de que estava sendo puxado, foi quando ele percebeu que havia se deitado em cima de um “couro velho”, mas que, na realidade, era uma perneira de vaqueiro, onde havia, dentro dela, uma caveira. Tudo isso estava coberta de folhas, amontoadas pelo tempo. Tal fato despertou a curiosidade do o caçador que, se aprofundando nas buscas, encontrou a caveira de um cachorro e uma velha sela. Aquela era a caveira de João Maria, o vaqueiro rezador, um homem de Deus.

Deduz-se que o velho João Maria, tendo se sentido mal, deitou-se naquele local, soltando a jumenta, que na certeza dele, iria para sua casa. Mas a cadela, fiel ao amigo, ali ficou, onde morreu de fome, mas continuou fiel ao seu escudeiro.

No local onde foi encontrada a caveira do velho João Maria, foi construída uma Santa Cruz, que passou a ser palco de visitação constante, de pessoas de vários recantos do nordeste, que ali chegavam para pagar promessas feitas ao homem santo, que continuou a ajudar as pessoas humildes depois de morto, com os seus pretensos milagres – de acordo com a crendice popular.
Não conheci o velho João Maria, que viveu em outra época, conheci o Venceslau, um sobrinho e filho de criação seu, herdeiro da sua arte. Era também curandeiro, embora vivesse de fazer relho de couro de boi e também velas, feitas de sebo de gado, que vendia nas portas das casas de farinha, no interior, montado também numa velha besta. Este foi amigo de meu pai.

A Santa Cruz eu conheci e, se o tempo ou o homem não a destruiu, está lá, para corroborar mais esta estória das história de Ceará-Mirim. 
Foram tempos que vivi, que de longe ficou. Vivo o Ceará-Mirim de hoje, com lembranças no passado.
Um dia ao acordar, eu disse:
Ceará-Mirim,
Não sei se te encanto ou desencanto
Mas é a ti
Que amo tanto.


Franklin Marinho é ocupante da Cadeira número 22 da ACLA