(AS IMAGENS ABAIXO EXIBIDAS SÃO DA BARRA DO CUNHAÚ E VILA FLOR. FORAM COLETADAS DO GOOGLE E FUNCIONAM COM MERA ILUSTRAÇÃO)
Ao médico, e depois ao dr. José Nicolau Rigueira Costa, Chefe de Polícia da Paraiba, a "Ressuscitada" contou sua história espantosa.
Casara sem amor, imposto Anacleto José de Matos pelos pais. O namorado fiel era um português, moço forte, bonito. Anacleto era grosseiro, impulsivo, grotesco. Depois de casada, encontrava-se com o português frequentemente. Um dia o marido surpreendeu-os em palestra intima. Não a matou imediatamente por temer a vingança fulminante dos Albuquerque Maranháo. Procurou o Comendador e narrou a traição de sua filha.
Antonio d' Albuquerque Maranhão Cavalcanti reunira o "conselho de Família", expondo o enrêdo, denuncia de Anacleto e pedindo sugestões para o bom nome da raça ílustríssima. Discutiram quase uma noite inteira. Dona Maria já estava presa, num quarto, incomunicável, guardada por um escravo, de bacamarte ponteiro.
Uma escravinha de confiança, esgueirando-se pelos corredores achatando-se de encontro as paredes, furou o cerco dos negros fiéis e vôou até o português, dizendo a tragédia.
Pela madrugada um escravo montou a cavalo e galopou para Vila Flor, para a residência de um parente, levan¬do uma carta. O "conselho de Familia" deliberara suprimir Dona Maria do número dos vivos. Resolvera-se optar pelo veneno porque o corpo seria vestido e visitado, quando ex¬posto no caixão. Convinha, apesar' da onipotência, anular os vestigios de um crime. Deram a Dona Maria Umbelina ordem para que "se encomendasse a Deus, pedindo perdão pelos pecados cometidos." Os Juizes, membros natos desse "con¬selho", eram sem macula de pecado.
CASA DE CÃMARA E CADEIA EM VILA FLOR
Voltando de Vila Flor, onde recebera uma dose de ve¬neno, o escravo foi detido pelo português. E convenceu-se depressa que devia substituir o veneno por um outro pó, igual em côr, que o português lhe entregava ao mesmo tempo que moedas de ouro, sedutoras como uma tentação.
Dona Maria passou o dia orando mas a escrava vinha pode dizer-lhe o que estava preparado. Tomasse o "veneno" sem susto. O "veneno" foi ingerido ao escurecer. A's trindades, hora em que o sino da Capela soava as três badaladas da "Ave Maria". expirava, suavemente, em seu leito de jacaran¬dá trabalhado, a filha mais moça do Comendador Albuquer¬que Maranhão Cavalcanti.
Tão violento era o veneno que o corpo da morta se enríjou dentro de poucas horas. Vestiram-na, mandando par¬ticipar aos parentes distantes, com os convites para o enter¬ro que seria na manhã seguinte. Estavam com mêdo de uma putrefação rápida. Ainda corre uma reminiscência de que o •cadáver estava podre ao ser sepultado. Era um elemento que a familia fazia circular, apressando a ida para o sepulcro.
Sepultada, Dona Maria voltou a si, alta madrugada, nos braços do português, num galope doído de cavalo robusto se¬guido por dois negros possantes, armados e resolutos.
Os cavalos levaram a "Ressuscitada" até Barra de Cunhaú onde uma canôa esperava. Remaram para a Baía da Traição, terra paraibana. Aí passaram para uma barcaça porque o português não queria ir para a Paraíba, região cheia de Albuquerque Maranhões, influentes e ousados. O rumo era ao norte.
E, pela manhã, a barcaça, lentamente, cortou águas, roteiro do Ceará, ajudada pelos ventos que rodavam do sul.
No Ceará, morrera o português, de morte natural. Um soldado airoso, substituíra-o. Ficara morando em Míssão Velha. Indo assistir uma "Festa de Novena" em São José de Piranhas, na Paraíba, apaixonara-se por outro soldado, abandonando o primeiro. Com esse soldado paraibano vivera até que, sendo ele transferido para um destacamento longinquo, não o quizera acompanhar. Decidiu descer para à Cidade da Paraíba.
Era essa a história da "Ressuscitada de Cunhaú". . .
(03.02.1941)
MISSÃO VELHA-CE
-continua na próxima semana-
(Transcrição ipsis litteris do “Livro das Velhas Figuras”)
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