...Um dia, porém, depois de mais de trinta anos ininterruptos no ofício de cortar cana, não os braços, mas as pernas lhe faltaram. Quis levantar-se e não pode. Estava paralítico. E era de ser ver a sua tortura, quando o engenho apitava pela manhã, não podendo ele acudir ao seu chamado. Então, escorregava da tipóia, e ia se arrastando pelo chão até a porta do casebre, tapado de bagaço de cana e ficava na soleira a olhar os companheiros que passavam de foice às costas, para o canavial. Não chorava. O homem do campo não chora. Pegava a foice, alfange que impelido pela força de seu braço decepara centenas de partidos da preciosa gramínea e beijava-a, aconchegando-a no coração que soluçava...
E não suportando mais a vida, morreu, uma ano
depois, abraçado ao instrumento de seu trabalho.
Morreu de esmola, esfarrapado, faltando-lhe, por
vez, até a "candéia de gás" para iluminar-lhe as últimas noites de
angustia. Só as estrelas e o céu azul não lhe negaram o amparo de seu brilho cotidiano.
Imagem Gibson Alves Machado
Antonio Mossoró! Cooperador incansável de
Oiteiro! Devo à Divina Providência a graça dos auxílios que lhe foram prestados
em nome do engenho que ele tanto amou e engrandeceu com a tenacidade de seu
trabalho.
Sua dedicação ficar-me-á na alma como o contínuo
farfalha do canavial, música que o Antonio Mossoró tanta amava e cuja lembrança
me faz pedir perdão a Deus pelo gozo dos bens que me foram outorgado, graças ao
esforço alheio tão mal compensado.
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