terça-feira, 21 de janeiro de 2014
quarta-feira, 8 de janeiro de 2014
CARTAS DE COTOVELO 2014 (6)
Estou desconfiando que já vivi demais, pois todos os livros de reminiscências
que tenho lido nos últimos tempos, me encontro na história ou na paisagem.
A coincidência mais recente ocorreu com a pequena obra ‘Confraria de Floriano’,
que recebi de presente de um dos seus integrantes, o amigo e escritor Ormuz
Barbalho Simonetti.
O livro apresenta registros emocionais e emocionados de alguns dos meninos
protagonistas dos acontecimentos marcantes dos anos 60 e 70, numa velha bodega
na esquina das Ruas Princesa Isabel e Apodi nº 160, de propriedade de Floriano
(Jordão de Andrade), de tradicional família macaibense, onde foi fundada a Confraria
de adolescentes, compartilhando com o Mercadinho de Pedro David, no outro lado
da rua.
As narrativas evocam os anos dourados em Natal, um verdadeiro ‘tempo dos
pardais no verde dos quintais’, onde o medo se chamou ‘jamais’.
Não participei dessa Confraria, mas de outra que se reunia na Rua Ceará Mirim,
no Baldo, mas a bodega era também eventual pouso de nossa turma quando se
dirigia para a diversão nos mesmos lugares rememorados dos cinemas Rex, Rio
Grande e Nordeste, com algumas incursões no Poti e certamente nos filmes de
faroeste e seriados(Legião do Zorro, O Homem Fioguete, Flaxh Gordon, Tarzan,
Rock Lane, Roy Rogers, Gene Autry, Cavaleiro Negro) dos cinemas São Luiz e São
Pedro, estes no Alecrim, tendo por transporte o velho ‘bonde’, de saudosa
memória. Ainda tenho guardada uma substancial coleção de revistas em quadrinhos
daquele tempo, iniciada desde 1948 em Macaíba e adquiri praticamente todas as
séries em cópias reproduzidas em DVD,s.
Lembro-me bem que comprávamos cigarros, que eram acesos em uma lamparina
permanente acesa, escondida em um pequeno caixote de madeira, com um orifício
na parte superior e lá éramos abastecidos com uma guaraná ou, às vezes, algo
mais ‘substancioso’ para nossas folias.
Recordo dos polis fabricados em casa, dos lanches no ‘Dia e Noite,
Espaguetilândia, Caldo de Cana Orós, dos porres de lança perfume, da cuba
libre, da vodka com laranjada, do cuscuz da Mata, naqueles taboleiros de metal
com duas tampas e da correria dos vendedores para atrair clientes, do
verdureiro trazendo os seus produtos nos ombros (caçoás), do pão vendido em
cestos por Seu Pedro do pão, no lombo de animais, a velha da carimã, pirulito,
cocada, rolete de cana, cavaco chinês(está de volta), dos velhos carnavais das
‘bagunças’ e dos bailes na Assen, Aéro, América e ABC. Não conheci o ‘Coice de
Mula’, mas lembro dos ‘Tora da linha’.
As peladas tinham o mesmo ardor, em quintais diferentes no Barro Vermelho ou na
própria rua Ceará Mirim, como igualmente a escolha das nossas musas.
Porém aquela vida pacífica e alegre era comum, algumas vezes perigosa, nos
banhos proibidos do poço do dentão ou dos jogos nas lojas de bilhar da Ribeira,
com portas fechadas por conta do juizado de menores.
É claro que havia alguma variação nas preferências, mas a atmosfera era a
mesma. Até as alcunhas ou apelidos se pareciam – Zezé, Cacá, Gordo, Magro,
China, Bob, Xuba, Lula, Baiá, Bel, Baíto, os Pelados, Dôta, Beto, Gasolina, Gás
óleo, Chico. Tivemos as nossas perdas pranteadas, mas nenhuma em decorrência
das torturas de um regime de força. Quando muito tivemos vizinhos que
responderam processos nos idos de 1964, como Renê, Juarez, Romeiro.
Posso até ter notado aquela molecada em suas reuniões, mas lhes dei atenção,
pois já estava num patamar de idade, pelo menos, em dez anos à frente, onde as
diversões eram mais variadas ‘e o buraco era mais embaixo’.
Recordar é viver, diz um velho ditado; recordar é sofrer, as sombras do
passado; de sonho que viveu em nossos corações ou de um amor que morreu
deixando uma cruel paixão. Crer num sonho de ilusão, ver na imaginação ...
Basta, a garganta já está embargada!
Por: Carlos Roberto de Miranda Gomes
sexta-feira, 13 de dezembro de 2013
REMINISCÊNCIAS DA RUA PRINCESA ISABEL – A SAGA DE FLORIANO “EL BODEGUERO”. ÚLTIMA PARTE.
Em
uma noite do mês junho de 1972, despedi-me da turma da Princesa Isabel, dos
meus amigos do Atheneu, da minha cidade de Natal, e rumei para São Paulo onde iria
assumir no Banco do Brasil, o que seria o meu primeiro emprego.
Pouco
me recordo daquela última semana passada junto com essa turma. A expectativa de
viver e trabalhar em outra cidade, não me deixava pensar em mais nada. O foco
era a viagem. O desconhecido me assustava, ao tempo que também me atraia. Como
seria morar sozinho? O que me esperava naquela cidade grande? A verdade é que eu
pouco conhecia além das fronteiras de minha cidade, já que meu vôo fora de
Natal tinha apenas conseguido alcançar
as cidades de João Pessoa, com os pic-nic
do professor Humberto do Atheneu, que de tanto fazer esse tipo de viajem, terminou
recebendo o apelido de “Humberto Pic-nic”
e a cidade do Recife, onde fui assistir o casamento de um primo.
Hoje
escrevendo essas crônicas, vagas lembranças fragmentadas daquela época, chegam-me
à memória como fleches daqueles últimos dias que antecederam a minha viagem a
São Paulo. Recordo que saímos pelos bares da vida, tomamos umas cervejas e,
como de costume, tudo terminou em serenatas.
Ao
retornar nos anos seguintes, o tempo era curto para dividi-lo entre os
familiares e os velhos amigos. E como sequência natural das coisas, cada um foi
tomando o seu rumo pela vida. Uns mudaram-se para outros estados, outros para
ruas mais afastadas e lá formaram novas turmas. O ensino superior, outra fase
importante na vida dos jovens, obrigatoriamente abriria espaço para a
convivência com novos amigos que estudariam e se divertiriam juntos.
Quando deixei Natal em
1972, a turma de frequentadores da “Bodega de Floriano” já estava se
dissipando. Faço aqui uma retrospectiva dos que me chegam à memória e as
profissões que abraçaram pela vida: Jairo (engenheiro); Adauto (advogado e
escritor); Levi (artista plástico); Jaime Ninho (economista); Adilson Gurgel
(advogado); Hamilton Gurgel (bancário); Chiquinho (serviços de
telecomunicação); Leonardo Naná (engenheiro); Rominho (comerciante); Leo Leite
(matemático); Gilson Leite (bancário); Beto Coronado (psicólogo e professor); Zé
Ivo (odontólogo); Jorge Chopp (médico); João Bosco (professor universitário);
Cacá (pintor), Paulinho (médico); Alberto (engenheiro); Carlos Castim
(advogado) e Thales (engenheiro), todos morando atualmente em Natal.
Barroca, Carlinhos,
Mario Maromba e Sérgio China faleceram. Josemar (odontólogo) mora em (Brasília;
Zezé (bancário) mora em Caruaru-Pe; Maninho mora em Maceió; Túlio e Calabé
moram em Recife.
Quanto
a essas reuniões, tudo começou quando no final da década de 80, por ocasião das
festividades natalinas, Beto e Jairo se encontraram e, pela primeira vez,
trataram do assunto. Comentaram sobre a possibilidade de reunir alguns
componentes da turma, para uma confraternização na época natalina. Dez anos
depois, em 1999, meia dúzia dos amigos daquela época reuniu-se no hotel
Barreira Rocha para um almoço de reencontro. Aquele almoço seria o pontapé
inicial para a sucessão ininterruptas dessas reuniões, que no próximo sábado completam
15 anos.
Nesse
dia faremos uma homenagem especial ao nosso patrono Floriano, proprietário da
bodega, que deu nome a nossa confraria, onde essa e outras turmas no passado se
reuniam diariamente para conversar, fazer amigos e beber na fonte do
conhecimento de um dos bodegueiros mais festejados e admirados de nossa cidade.
Viva
Floriano “El Bodegero”!
sábado, 7 de dezembro de 2013
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE
– A MAIS ANTIGA INSTITUIÇÃO CULTURAL DO ESTADO –
Rua da Conceição, 622 / 623, Centro – CEP: 59025-270 – Natal/RN - Brasil
CNPJ.: 08.274.078.0001-06 - Fone: (0xx84) 3232-9728
E-mail: ihgrn1902@gmail.com
Tendo em vista os comentários relativos ao embargo pelo IPHAN, de serviço que
estava sendo realizado no auditório da sede do Instituto, esta Diretoria,
após reunião especial, resolveu emitir esta nota oficial para a reposição da
verdade:
1º) Não é exata a divulgação de que o piso retirado do auditório fosse original;
2º) A Diretoria do IHGRN conhecia o requerimento dirigido ao IPHAN visando a recuperação do auditório, sob a responsabilidade do Vice-Presidente, diante da precariedade dos mosaicos ali existentes e dos problemas de funcionamento e segurança que vinham ocorrendo em relação ao piso do referido auditório.
3º) Declara que a ação do Diretor Vice-Presidente Ormuz Barbalho Simonetti não foi arbitrária, pois a autorização foi requerida ao órgão competente, embora reconheça que o seu Diretor interpretou equivocadamente o teor da resposta, em forma de Parecer, elaborado pelo IPHAN, tendo o mesmo assumido a responsabilidade de fazer os devidos esclarecimentos, o que já ocorreu, sendo apresentada a documentação exigida pelo referido órgão federal.
4º) A Diretoria acatou as justificativas apresentadas pelo citado dirigente e reconhece que o dirigente referido agiu de boa fé e em prol da Instituição;
5º) Por último, a Diretoria repudia os comentários divulgados via rede social, de forma precipitada e sem a observância do contraditório, o que gerou distorções sobre a realidade dos fatos, excetuando-se, apenas, as reportagens da imprensa, consideradas comedidas e observando o princípio do contraditório. Compromete-se esta Diretoria a prestar os esclarecimentos necessários aos seus associados, à imprensa e à sociedade potiguar, tão logo concluído o processo em andamento no IPHAN.
Natal, 06 de dezembro de 2013
Valério Alfredo
Mesquita
Presidente
quinta-feira, 21 de novembro de 2013
REMINISCÊNCIAS DA RUA PRINCESA ISABEL – A SAGA DE FLORIANO - EL BODEGUERO – V
Avenida Deodoro da Fonseca - Internet
...Na
década de 60 foram surgindo outros frequentadores, na sua maioria moradores da
região e adjacências, além de “convidados”, como era o meu caso, pois naquela
época morava na Avenida Deodoro. O meu
ingresso na turma foi através de um amigo de infância, Thales de Abreu Saraiva
que ao se mudar da Rua Felipe Camarão para a Rua Princesa Isabel levou-me para
a nova turma. Sua casa ficava em frente à residência dos irmãos Jahyr e
Jurandyr Navarro, no final da rua próximo a ladeira do Baldo.
Cito alguns frequentadores e suas
estórias segundo as lembranças de José Augusto de Freitas - Zezé: Luis de França,
apelidado de "Luis, o Bucaneiro". Certa vez Zezé fez um jornalzinho,
com a caricatura dele, vestido de pirata, com perna de pau, papagaio e
tudo. Havia os irmãos Bezerrinha, Dilson, Kessinho e Baiá. Tinha, ainda, o
Rapa-coco, um senhor meio velho bem alto e magro; Abdênego, sargento do
Exército, reformado; Heródoto, um cara atarracado, de porte atlético e de
estatura elevada que quando enchia a cara ficava zanzando pela bodega e
esfregando sua enorme pança no balcão. Numa dessas idas e vindas,
desequilibrou-se e, acidentalmente, quebrou a quartinha da bodega. Um grande
estrondo seguiu-se de um verdadeiro dilúvio, já que a enorme quartinha
comportava quase 20 litros d’água. Cacos de barro se esparramaram sobre o
passeio. Após um silêncio sepulcral dos que estavam presentes e o despertar de
alguns pinguços adormecidos, todos os olhos voltaram-se para o culpado.
Floriano que havia se ausentado da bodega pela porta que dava acesso a sua
casa, ao ouvir o estrondo retorna, e atônito depara-se com o cenário
avassalador. Depois de refeito olha para Heródoto e com voz paternal, diz: “Heródoto, o que você fez? Você quebrou a
quartinha do povo! A quartinha que matava a sede dos amigos! Você não fez mal a
mim Heródoto; você prejudicou o povo que bebia água dessa quartinha!”...
Foto internet
Heródoto, ainda zonzo e sem entender
direito o que se passava ou o que tinha feito, com um ar de pura inocência,
respondeu, com sua voz pausada e pastosa:
- Ao povo, nobre amigo?
Eu fiz mal ao povo? Quando ele se dirigia a Floriano tratava-o de
"nobre amigo" (...) Envergonhado atira seu corpanzil
totalmente sem domínio sobre umas caixas de cerveja e se entrega aos seus
devaneios etílicos.
Frequentavam ainda a bodega de Floriano: Vavá Pombo, irmão do exímio
violonista o saudoso Efrain, que faleceu prematuramente após uma crise de
apendicite; e também o não menos famoso Lelé, um dos maiores trombonista de
nossa terra, morto em um acidente que ficou conhecido como a Tragédia do Baldo.
Todos a seu tempo devem um
pouco de sua formação na universidade da vida, aos ensinamentos aprendidos nos
bancos feitos com caixas de cerveja e tamboretes da bodega de Floriano. Vavá
Pombo grande craque da bola, tendo atuado como ponta direita do América, tinha
fama de mentiroso e contador de histórias. De sua vez, irmão de saudoso
Demóstenes, ídolo do Botafogo do Rio de Janeiro, tendo, inclusive, sido
lembrado para compor a seleção brasileira da época. Era uma abençoada família
de versáteis artistas.
Botafogo 1950 - F.internet
No livro de depoimentos “Amigos do
Tirol”, lançado em 2010, Mozinho um dos autores, narra uma estória que eu ouvi
na bodega de Floriano e a ele transmiti há muitos anos atrás: contava Vavá que
certa vez estava tão bêbado, mais tão bêbado, que jogou uma pedra no chão e
errou. De outra feita, disse que após uma chuva torrencial notou, em cima um
abacateiro que ficava no quintal de sua casa, uma manha escura pendurada em um
dos galhos. Aproximou-se e cauteloso começou a cutucar a tal mancha com uma
vara de bambu. Eis que em dado momento ouve um violento estrondo e ele cai pra
trás. Refeito do susto surpreendeu-se ao perceber que tinha conseguido liberar
um trovão que durante a chuva, acidentalmente ficara preso nos galhos do
abacateiro.
Havia também os que
“assinavam ponto” regularmente como Ariosvaldo, que se dizia ex-combatente da
FEB. Quando ele chegava ou passava, a meninada traquina gritava:
"Chega-lhe a bufa" e ele saia esculhambando papagaios e periquitos...
Floriano contava que quando o navio que transportava os combatentes para a
Itália alcançou a saída da barra, Ariosvaldo pulou (heroicamente) no mar,
retornou para casa e lá se escondeu até o final da guerra.
Raimundo, também conhecido como
“Raymundo de La Cruz”, era um cara amarelo, de olhos acinzentados como de uma
cobra. Floriano dizia que ele era um cara perigoso e que já havia matado gente. Certa vez, Carlinhos
“barbeiro” disse uma brincadeira que Raimundo pensou que era com ele e fez o
seguinte comentário: "formiga quando quer se perder cria asa, né
Floriano"? Carlinhos conhecedor da fama
do colocutor desconversou e sem demora, deu no pé temeroso da observação.
F. internet
Numa determinada época, a orquestra de
Ivanildo Sax de Ouro, veio fazer uma temporada no América F.C. e acabou ficando
definitivamente em Natal. Os músicos passaram a frequentar a bodega de
Floriano. Os mais assíduos, que logo fizeram amizade coma a turma da rua,
foram: Odilon (violonista), Marçal, um meio japonês que era pianista e metido a
filósofo; Saci, um negrinho alto e magricela, que entornava todas e tinha os olhos vermelhos e
esbugalhados. Era um virtuoso do contrabaixo. Certa vez ele tocando no America,
totalmente embriagado, caiu e continuou no chão, tocando o instrumento até o
término da música.
O próprio Ivanildo também frequentava a
bodega de vez em quando para bater um papo com os amigos e admiradores. Havia
ainda uma figura exótica que todo mês chegava por lá: a professora Julieta. Ela
parecia uma figura saída de um conto de fadas. Vestia uma roupa estilizada, de
seda pura, com um coque no cabelo envolto em um lenço também de seda. Usava marrafas,
brincos extravagantes e um batom bem vermelho tipo “boca louca”, nos grossos
lábios. Lembrava uma velha cigana. Notava-se que sua idade já era bem avançada.
Era aposentada e cuidava ao que parecia de alguns meninos, possivelmente seus
sobrinhos. Ela comprava ninharias de confeito, doces cristalizados (mariola),
raiva (bolinhos de goma), para levar pra eles.
F. internet
De pé no balcão ordenava:
"Floriano bote dois mil réis de raivas.” Floriano em obediência as ordens
daquela extravagante dama, logo pegava em baixo do cepo de madeira um papel de
embrulho ou um pedaço de jornal e com dedos ágeis começava a enrolar o pedido
da madame (...)
terça-feira, 12 de novembro de 2013
REMINISCÊNCIAS DA RUA PRINCESA ISABEL – A SAGA DE FLORIANO - EL BODEGUERO – IV
...Em
uma prateleira suspensa acima do balcão, pendurados com arame, podiam ser
vistos outros itens tais como: peças de corda de agave, rodinhas de madeira
para carro de brinquedo, baladeiras, tranças com cabeças de alho e de cebolas,
vassouras de palha de carnaúba, canecos de alumínio e ágata, colheres de pau,
raladores do coco, urupemas, espanadores, pinico, o velho conhecido urinol nas
versões alumínio e ágata, colheres de pedreiro, lamparinas feitas de lata,
pavios para candeeiros e lampiões, etc. No canto da parede, vassouras de
piaçava – industrializadas - e cabos feitos com vara de marmeleiro, complemento
que acompanhavam as vassouras de palha de carnaúba. Em uma gaveta abaixo da
mesa do centro o dinheiro graúdo ficava dentro de uma caixa de charutos. O de
menor valor, separado para troco, misturava-se com caixas de fósforos da marca
Olho, cigarros em retalho e os famosos charutos Cesário. Por ser mais seguro,
colocava também naquela gaveta pólvora negra da marca Elefante e espoletas
guarani, vendidas para espingarda de soca.
Em um “fiteiro”, bem a mostra numa das prateleiras de fundo, guardava produtos de aviamento tais como: carretéis de linhas branca e coloridas, lixa para unha, fecho ecler (zíper), colchetes, botões de diversas cores e tamanhos, alfinetes, agulhas para costura e agulhas de palombá – usadas para coser sacos de cereais – dedais, etc. Em cima da mesa arrumados uns sobre os outros, marços de cigarros industrializados como o Astoria, Gaivota, Continental, Hollywood e, ainda, os fabricados no Ceará, Asa e Iolanda. Vendia também para uma clientela seleta fumo de rolo e rapé (torrado) vindo direto de Arapiraca, como também o papel Colomy, utilizado na confecção dos cigarros também conhecidos como “brejeiros”. Naquele bazar, tinha de um tudo. Se o cliente procurasse e tivesse paciência podia encontrar até mesmo o famoso freio pra gato.
Em um “fiteiro”, bem a mostra numa das prateleiras de fundo, guardava produtos de aviamento tais como: carretéis de linhas branca e coloridas, lixa para unha, fecho ecler (zíper), colchetes, botões de diversas cores e tamanhos, alfinetes, agulhas para costura e agulhas de palombá – usadas para coser sacos de cereais – dedais, etc. Em cima da mesa arrumados uns sobre os outros, marços de cigarros industrializados como o Astoria, Gaivota, Continental, Hollywood e, ainda, os fabricados no Ceará, Asa e Iolanda. Vendia também para uma clientela seleta fumo de rolo e rapé (torrado) vindo direto de Arapiraca, como também o papel Colomy, utilizado na confecção dos cigarros também conhecidos como “brejeiros”. Naquele bazar, tinha de um tudo. Se o cliente procurasse e tivesse paciência podia encontrar até mesmo o famoso freio pra gato.
Dizem
que a velha balança da bodega foi presenteada por sua mãe quando ele ainda era
criança em uma de suas viagens a Macaíba. A peça foi adquirida de um artesão na
feira domingueira daquela cidade.
Invocando o espírito altaneiro de Fabrício Pedroza, expoente máximo do
comércio em toda região, lhe entrega a peça com a seguinte recomendação: ”vai
Floriano, e seja um grande comerciante na vida!”
Ao
lado do balcão, encostada na parede, uma velha quartinha de barro coberta por
com uma caneca de alumínio atendia os pinguços mais sedentos, principalmente
nas primeiras horas da manhã. A colocação estratégica da quartinha era
beneficiada por uma brisa fraca, porém constante, que entrava pela porta
voltada para o nascente. Em cima de um tamborete, uma velha lamparina a
querosene, permanentemente acesa para o acendimento de cigarros. Recusava-se
peremptoriamente a emprestar caixa de fósforos para acender cigarros dos
fregueses. Em sua concepção, um gasto desnecessário, além do risco de perdê-la
para os clientes mais “esquecidos”.
Próximo às caixas de cervejas, empilhadas uma sobre as
outras, uma lata de querosene Esso Jacaré
e vários litros e garrafas com barbante amarrado no gargalo para facilitar o
transporte e o contato com a mesma. O funil era colocado na primeira da fila e à
medida que fossem enchendo, ia passando para as outras. Após o envasamento eram
lacradas com tocos de sabugos de milho. Esse serviço era supervisionado por
Floriano, porém, executado com a ajuda de alguns dos pinguços de plantão, que
ao final do dia, eram regiamente pagos com um copo bem cheio da “prata da
casa”.
Em
cima do balcão um balaio de pão coberto com um pano feito de saco de açúcar,
diariamente abastecido pela manhã e a tarde por "Mané do Pão" trazidos diretamente da padaria Rio Branco de seu Leonel. Pães tipo crioulo, francês,
carteira e doce eram rapidamente vendidos as donas de casa da redondeza.
No centro do balcão papeis para embrulhos misturados com
pedaços de jornais, usados na embalagem dos produtos, descalçavam sob um
enegrecido cepo de madeira. Para essa tarefa contava com a habilidade das mãos
de Floriano que após acondicionar o produto vendido no centro do papel,
começava a torcê-lo de baixo para cima executando uma série de dobras, uma
sobre a outra, até transformar o embrulho em uma embalagem hermeticamente
fechada. Coisas daquela época... Diferentemente do hoje que temos um saquinho
plástico para tudo, inclusive, contribuindo para a poluição do planeta.
Em
baixo do balcão, suspensa em uma prateleira, uma bacia com água usada na
lavagem dos copos de pinga. Chacoalhava o copo dentro da bacia e em seguinte o
pendurava num secador de madeira preso na parede. Pouco tempo depois o copo já
estava “esterilizado” e pronto para ser utilizado novamente. A água da bacia,
naturalmente, só era trocada ao final do dia.
Sentados
em velhos tamboretes ou em caixas vazias de cerveja, os “pinguços” mais
assíduos. Entre uma lapada e outra, inevitavelmente precedida de um sonoro
estalo de língua, degustavam a marvada.
Como parte do ritual, após sorver aquele néctar, grossa cuspidela era atirada
naquele chão de antepassados companheiros de garrafa, já encaminhados pelo
Altíssimo, pra o andar de cima. Contavam suas aventuras, recheadas de devaneios,
muitas vezes produto de suas mentes já corroídas pelo álcool.
O anfitrião debruçado por cima do balcão com o queixo
apoiado em um dos braços, com olhar sonolento e distante, escutava as mesmas
estórias fantasiosas, somente despertado pela chegada abrupta de algum cliente.
O pinguço alheio a tudo e a todos, continuava sua narrativa muitas vezes sem
que a presença do cliente fosse notada.
Vez por outra também eram interrompidos pelos gritos estridentes de Minervina, esposa de Floriano, que vivia com cara de poucos amigos, a procura do papagaio fujão. Louro! Louro! Cadê você louro? Às vezes o papagaio fugia e se empoleirava na porta de duas folhas que dividia a casa da bodega. Tanto Floriano como seus asseclas, mesmo sabendo da localização da ave fujona deixavam que Minervina continuasse a procura que certamente terminava em boas risadas quando a ave finalmente era encontrada. Dessa forma vingavam-se da matrona, que vez por outra, estando ela de maus bofes, invadia a bodega e esculhambava todo mundo.
Vez por outra também eram interrompidos pelos gritos estridentes de Minervina, esposa de Floriano, que vivia com cara de poucos amigos, a procura do papagaio fujão. Louro! Louro! Cadê você louro? Às vezes o papagaio fugia e se empoleirava na porta de duas folhas que dividia a casa da bodega. Tanto Floriano como seus asseclas, mesmo sabendo da localização da ave fujona deixavam que Minervina continuasse a procura que certamente terminava em boas risadas quando a ave finalmente era encontrada. Dessa forma vingavam-se da matrona, que vez por outra, estando ela de maus bofes, invadia a bodega e esculhambava todo mundo.
Quando os pinguços não tinham dinheiro, Floriano não se fazia de rogado: sacava debaixo do balcão um litro branco lacrado por uma rolha de sabugo de milho, também conhecida como cachaça mole, e oferecia ao tradicional freguês, generosos copos bem cheios da “prata da casa”. Depois, sempre dava um jeitinho de ser ressarcido da generosidade com algum serviço de pouca monta (...).
sexta-feira, 1 de novembro de 2013
REMINISCÊNCIAS DA RUA PRINCESA ISABEL – A SAGA DE FLORIANO - EL BODEGUERO – III
...Aquele lado do balcão era o seu
mundo. Desde tenra idade já frequentava esse espaço ajudando Dona Sofia, sua
genitora e primeira proprietária da bodega, no atendimento a clientela. Não
precisava de grande locomoção no seu labor diário, visto ser a bodega o
prolongamento de sua residência que tinha frente voltada para a Rua Apodi n°
160.
Impávido atrás do balcão e pronto a
atender aos pedidos dos mais variados e exigentes clientes, estava Floriano.
Conheci-o com aspecto idoso no final da década de 60, muito embora ainda não
tivesse completado 60 anos, visto ser nascido em 1910. Estatura mediana, tez
muito alva em contraste com os óculos extremamente escuros que raramente era retirado
da face.
Floriano vestia sempre uma camisa
branca, tipo “slack”, que cobria, entretanto não escondia uma preponderante
barriga que lhe dava uma aparência patriarcal. No bolso da camisa, presa pela
haste, uma caneta tinteiro utilizada para registrar o “fiado”, em um desgastado
caderno de arame, velho e sebento, mas, que somente ele sabia decifrar suas
anotações. Para localizar o cliente após as compras, metia o indicador por cima
da língua e com movimentos cadenciados passava, página a página, até localizar
o nome do indivíduo, na primeira linha, num verdadeiro ritual diário. A
anotação era feita na presença do cliente com o valor da mercadoria e o dia da
aquisição. O pagamento do “fiado”, ou “conta na caderneta” era prometido para
todo final de cada mês. Caso isso não acontecesse, Floriano dava um jeito de
mandar um recado ao devedor. Se esse não surtisse efeito, as compras ficavam
suspensas até a total liquidação do débito ou uma possível negociação que
exigia inclusive a presença física do devedor. Dona Anita, proprietária da
Pensão Caicó era uma das suas habituais freguesas. Sempre que se aproximava o
final do mês e a dispensa de mantimentos
ficava mais vazia, era na bodega de Floriano que ia em busca de socorro.
De vez em quando, o bodegueiro sacava do
bolso um lenço encardido que mais parecia uma toalha de rosto e levantando um
pouco os óculos enxugava os olhos. Sofria com a claridade. Um de seus olhos,
além de não enxergar atacado por catarata, lacrimejava em excesso que o
obrigava a essas constantes intervenções. O mesmo lenço também utilizava para
enxugar o lábio inferior em constante salivação.
Compunha ainda sua indumentária calça
preta protegida por um avental amarelado e desgastado pelo uso, preso as costas
por duas tiras de pano terminadas em um nó. Uma escura mancha horizontal
marcava no avental exatamente a altura do balcão, devido ao constante atrito
com o mesmo, no vai e vem do atendimento diário. Nos pés, surrados chinelos de
rabicho, que não raro permaneciam cobertos com um pó branco, proveniente de
restos de farinha de mandioca, escapados da concha de alumínio usada para medir
cereais.
Estes, dispostos em latões ou sacos ficavam lado a lado no fundo da venda. O percurso entre os latões e a balança na pesagem dos produtos, deixava escapar migalhas do que estava sendo pesado. Ao fim do dia milho, feijão, arroz e farinha se misturavam num alinhamento que mais lembrava um formigueiro em atividade.
Estes, dispostos em latões ou sacos ficavam lado a lado no fundo da venda. O percurso entre os latões e a balança na pesagem dos produtos, deixava escapar migalhas do que estava sendo pesado. Ao fim do dia milho, feijão, arroz e farinha se misturavam num alinhamento que mais lembrava um formigueiro em atividade.
A tal balança, autêntica peça de museu,
compunha-se de dois pratos de cobre sobre uma armação de ferro. De um lado era
colocado o peso pretendido e do outro a mercadoria a ser adquirida. Conforme
fosse, ia-se adicionando ou retirando o produto, até atingir o peso
desejado. Descansando ao lado da balança,
cuidadosamente arrumadas em uma caixinha de madeira, peças de ferro de forma
cilíndrica e padronizadas de 1 a 5 quilos, além de outras de tamanho menor e
com forma arredondada usadas na pesagem das “quartas”, medida com 250 gramas,
muito utilizada na pesagem de fumo de rolo, brochas para sapateiro, pregos,
chumbo par espingarda e algumas especiarias, completava o artefato.
Todo o recinto por trás do balcão era
tomado por prateleiras que partindo do piso projetavam-se até o teto. Em
arrumação pouco ortodoxa, eram expostos produtos de todo tipo. Latas de
biscoitos sortido, manteiga papagaio, pacotes de macarrão Jandaia, goiabada
cascão, bananada e marmelada da marca Peixe, leite Ninho e aveia Quaker
misturavam-se a soda cáustica, pregos em quilo, brochas para sapateiro, óleo
Benedito e Sol levante, sabão em barra, cera Parquetina, gordura de coco
Cristal, anil Ideal, óleo lustra móveis peroba, sal, açúcar refinado e bruto,
rapadura preta fabricada nos engenhos de Ceará-Mirim e as branquinhas,
conhecidas como rapadura batida produzidas em Japecanga, cerveja Brahama e Antártica,
as únicas existentes na época, guaraná Antártica, Dore, Jade, Leda, Crusch, Grapette
e Fratellivita, breu, fósforo marca Olho ainda com a caixa feita com lascas de
madeira, palito de dente, manga de chaminé, camisa para lâmpada Coleman e
lampião Aladim, marços de vela usadas nas noites em que a Companhia Força e Luz
não funcionava, no pagamento de promessas aos santos de devoção ou mesmo nas
madrugadas das sextas-feiras evocando a proteção de tranca-ruas e orixás.
As garrafas de aguardente como Pitu,
Serra Grande, Murim, Olho d’água, Caranguejo e Chica Boa ficavam enfileiradas
na principal prateleira para a apreciação e o desejo dos clientes. Botijões de
vinho Raposa e Sangue de Boi completavam a área reservada a bebidas. Num
cantinho bem discreto, se é que naquele ambiente isso fosse possível, podiam-se
ver ainda alguns produtos farmacológicos muito utilizados pelas donas de casa
no cuidado com a saúde dos filhos: emulsão de Scott, leite de magnésio de
Phillips, biotônico Fontoura e finalmente Sanarina, a maravilha do lar.


Numa mesa de centro bolos diversos vendidos por unidade e em talhadas, além de raiva, brote seco e doce, pacotes de bolachas, alfinim, biscoito de polvilho, cocada, sequilho, puxa-puxa, broa de milho, fuba doce ou paçoquinha, cocada de amendoim popularmente chamada de quebra-queixo, soda preta feita com erva doce etc.. Em maior destaque, um confeiteiro/expositor de vidro com oito compartimentos, quatro em baixo e quatro em cima, deixava a mostra à medida que giravam sob os olhares desejosos das crianças, pirulitos kibom, confeitos (balas) de mel, hortelã e sortidos, chicletes de bola ping-pong, torrão, buzi, chocolates sonho de valsa e diamante negro, drops dulcora, chiclete adams, pastilhas de hortelã e outras iguarias para o deleite da garotada. Em outra mesa mais para a esquerda, frutas sazonais e ainda banana prata, naquela época ainda existia a verdadeira, nanica e de leite, laranja Bahia, limão e coco seco, também faziam parte dos itens oferecidos pelo empório...
quinta-feira, 24 de outubro de 2013
REMINISCÊNCIAS DA RUA PRINCESA ISABEL – A SAGA DE FLORIANO - EL BODEGUERO – II
...Naquela época, bodegas, vendas e mercearias, eram pontos
de encontro de amigos. A bodega de Floriano, como era conhecida, tinha sua
localização bastante privilegiada. Próxima do Grande Ponto, na época centro
nevrálgico da cidade de Natal, frequentado principalmente por intelectuais,
políticos e homens de negócios. O nome Grande Ponto vem desde a época dos
bondes. Ali existia um café com esse nome no cruzamento da Av. Rio Branco com a
Rua Pedro Soares, que a partir de 1930 passo a se chamar Rua João Pessoa. Anos
depois desaparecia o café, porém o cruzamento eternizou-se com o nome Grande
Ponto.
Era
passagem obrigatória para quem subia a ladeira do Baldo procedente do Alecrim
com destino ao bairro da Ribeira e o centro da cidade, como também os passantes
advindos dos arrabaldes de Tirol e Petrópolis, que se destinavam ao populoso
bairro do Alecrim.
Bodega de Floriano - Foto 2013
Apesar da sua excelente localização
geográfica, havia ainda a figura emblemática de Floriano, que com ares de
magistrado, administrava seu comércio por atrás daquele velho balcão, ao tempo
que recebia sem distinção, num contínuo ritual de entra e sai, notórios e
anônimos, que para ali se dirigiam em busca das mais recentes notícias da
cidade e também para beber na fonte do conhecimento e do entretenimento
gratuito, de uma boa e divertida conversa, uma vez que o velho Floriano, além
de inteligente era especialista em “causos”, herança passada para seu sobrinho
Valério Mesquita, que divertiam seus ouvintes, para não se falar na maior de
suas qualidades: a de leitor compulsivo.
Nas lembranças dos veteranos Jurandyr Navarro e Ticiano Duarte, desde a
década de 40, costumavam passar por ali para “dois dedos de prosa”: Sebastião
Fagundes. Seu pai era proprietário de um açougue em frente a bodega de
Floriano; Luiz Rabelo, oficial da policia militar, boêmio, inteligência
privilegiada e uma das maiores expresses da poesia potiguar; os irmão Ageu, Orlando
e José Garcia, este último muito querido pelos amigos e de temperamento afável.
Foi covardemente assassinado por desafetos de seu irmão mais velho Ageu Garcia,
que o tocaiaram na Avenida Rio Branco próximo a casa do padre Monte, em plena
luz do dia. Os irmãos Juarez e Vladimir Limeira, fanático torcedor do Vasco.
Escrevia matérias sobre futebol no jornal religioso “A Ordem”. Os irmãos José Estanislau e Tarcisio Fonseca,
Sebastião e Sílvio Fagundes, Crizanto, Sandoval e Breno Capistrano que moravam
na Av Rio Branco. Breno era piloto de avião e após o casamento mudou-se para
Cuba onde permaneceu por vários anos. Joldemar, apelidado de “Touro” e também
de “Canela de Ferro”. Era um tipo excêntrico, gostos esquisitos e de estomago
de aço. Conta-se que gostava de se exibir chupando mangas caídas nos quintais,
preferencialmente as mais maduras que ao cair no chão ficavam cheias de
bichinhos (pupas). De outra feita, na bodega de Floriano arrebatou de uma só
vez e com rapidez impressionante, um punhado de moscas que estavam pousadas
sobre migalhas de açúcar em cima do balcão. Após o bote certeiro, mais certeiro
ainda foi o local que ele colocou os insetos: dentro da boca e em seguida os
engoliu como se fosse algum regalo de nossa culinária; José do Patrocínio, grande
professor de português. Vestia-se com sobriedade e agia com austeridade. Quando
corrigia alguém por “assassinar a língua pátria”, chamava-o de “analfa”. Morreu
provavelmente de cirrose hepática devido ao consumo excessivo de álcool.
Durante o governo de Monsenhor Walfredo Gurgel, Jurandyr Navarro então
secretário do gabinete civil, conseguiu para o professor um tratamento em
Recife, totalmente custeado pelo Estado. Recusou viajar a capital pernambucana
vindo a falece meses depois; Clovis Cabana Campos Cortez; Luiz “Senhora”; Rui
“Parrudo”; Jeremias, atualmente aposentado do TCE e Josué que foi gerente do
Banco do Nordeste em Natal. Mora atualmente no Recife no bairro de Boa Viagem.
Editou por muito tempo um pitoresco jornalzinho com o nome de “Gibi Aquático”
que era vendido na praia de Boa Viagem. Como diferencial a excentricidade de ser
lido, preferencialmente dentro d’água, visto ter suas páginas protegida por um
plástico lacrado nas bordas; o próprio Ticiano Duarte, primo de Floriano e os
sobrinhos Valério Mesquita e Ivan Maciel; os irmãos Jurandyr e Jahyr Navarro;
Roberto Furtado, um dos fundadores do antigo MDB em nosso Estado; José
Estanilsau da Fonseca e Tarcísio Fonseca que formou-se engenheiro; Sílvio
Fagundes irmão de Sebastião; os irmãos Crizaldo, Crisanto e Crizeldo; Sandoval
Capistrano, conhecido boêmio e empresário; os irmãos Geraldo Melo, Assis Melo e
outros.
Gibi Aquático
Naquela
época a brincadeira mais preferida entre os jovens eram as peladas realizadas
no leito da própria rua, naquele tempo de chão batido. Daí ter surgido o
saudoso Goitacás, time formado pela meninada da rua que disputava campeonatos
com times da redondeza.
O futebol se constituía numa das paixões de Floriano, principalmente,
quando o Vasco da Gama, de Ademir Menezes (o queixada) estava em campo.
Lembro-me de tê-lo visto, algumas vezes, sentado ao lado do balcão com ouvido
colado no velho rádio Zenith, vibrando pelas vozes memoráveis dos narradores
Jorge Cury ou Waldir Amaral, as acirradas disputas do time de seu coração.
Quando o Vasco ganhava ficava todo faceiro e brincalhão, zombava dos
adversários. Entretanto, se perdia, o humor modificava. Falava pouco e por
vezes chegava a fechar a bodega mais cedo.
Foto internet
Naquele ambiente pululava entre outras
presenças, que por certo serão alvo de futuras narrativas, um verdadeiro
séquito de clientes diuturnos, a quem os meninos da época
classificavam como “os bebos de Floriano”. Logo pela manhã, iam chegando
um a um, como fieis seguidores de uma religião ou mesmo abelhas inebriadas pelo
aroma do néctar presente naquela taverna. Pediam uma “caninha” e iam se
acomodando nos caixotes de bebidas que serviam de bancos, até que o elenco
estivesse completo.
F. internet
Apesar de manter todas as portas sempre
abertas, em número de quatro, das quais duas viradas para a Rua Princesa
Isabel, o ambiente permanecia sombrio. Um balcão enegrecido pelo tempo e pelo
uso dividia o ambiente em dois. No canto direito, uma tábua tipo alçapão
atrelada a velhas dobradiças, rangia ao ser levantada, nas poucas vezes que o
bodegueiro precisava transpor seus domínios, para atender alguma emergência, ou
ainda retirar do recinto, algum bêbado inconveniente...
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