terça-feira, 14 de junho de 2011

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - ILUSTRAÇÃO

Mais uma BELÍSSIMA tela, desse excelente artista. Uma grande homenagem, a um mestre carpinteiro...O seu livro,Ormuz, já "atrai" pelo título, com as ilustrações, mais dá vontade que venha logo à luz...

Lúcia Bezerra de Paiva
Fortaleza/CE

segunda-feira, 13 de junho de 2011

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - ILUSTRAÇÃO



Mais uma tela do artista plástico Levi Bulhões, que faz parte da ilustração do livro "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS", que será lançado em outubro/2011. O artista utiliza a técnica mista da pintura acrílica com o bico de pena. A ilustração refere-se à crônica "MORRE O MESTRE FRANCISQUNHO",que dentre outras coisas relata a vida do carpinteiro naval Francisquinho, que foi o maior construtor de barcos da região.

COISAS DE NOSSA TERRA

Ormuz,
As "COISAS DE NOSSA TERRA", tem muito de semelhantes,nas cidades nordestinas..muitas vezes só muda de nome. O cavaco-chinês, por exemplo, em Fortaleza chama-se "chegadinha", a descrição é a mesma que você faz. Fiz um poemeto, dedicado à terra amada, Fortaleza, que publiquei em meu blog, Da Cadeirinha de Arruar, no dia 13de abril último, no qual pergunto por algumas "coisas da nossa terra"...-"Cadê, a chegadinha musical, regada simplesmente a triângulo ?"...mais adiante respondo : "Só restou a chegadinha, rareando na calçada"...
Neste poema, falo de alguma coisas, que o "tempo levou"...como "o puxa-puxa da Tereza", "o cruzeata na hora"...nossos vendedores ambulantes...no passado...
Excelente, a sua postagem. Gosto disso...
Um abraço

Lúcia Bezerra de Paiva
Fortaleza/CE

COISAS DE NOSSA TERRA

ORMUZ,

EM CADA ESCRITO SEU, VEM A POESIA DAQUELA HORA. NÃO POSSO DEIXAR DE FAZER UMA VÊNIA AO GRANDE MEMORIALISTA, O ESCRITOR PRIMOROSO, GUARDADOR DAS MELHORES LEMBRANÇAS DE TEMPOS RECUADOS.

PARABÉS!


LUCIA HELENA PEREIRA
NATAL/RN

COISAS DE NOSSA TERRA

Caro amigo Ormuz:

Acompanhei pelo Jornal de Hoje a trilogia “De Volta ao Passado III – Vendedores Ambulantes”. Parabéns pela análise lúcida e pelo resgate humano e social dos fatos e personagens.


Abraço,

VALÉRIO MESQUITA
Natal/RN

sábado, 11 de junho de 2011

COISAS DE NOSSA TERRA

DE VOLTA AO PASSADO III- VENDEDORES AMBULANTES

O cavaco-chinês é uma massa feita com farinha de trigo e açúcar, de sabor agradável e que se dissolve com facilidade na boca. Muito fino e quebradiço, o biscoito de formato arredondado, tem o tamanho de um prato, mais ou menos 20 centímetros. São transportados dentro de uma espécie de baú cilíndrico, feito de flandre ou alumínio, que o vendedor traz preso às costas atado por uma arreata de couro. Muito embora tendo o nome de chinês, a guloseima teve sua origem na Índia. É praxe dos vendedores de cavaco chinês percorrer vários quilômetros no desempenho do seu ofício. Partiam de fabriquetas que ficavam em bairros mais afastados, e caminhavam até os bairros da Cidade Alta, Tirol e Petrópolis, onde residia a maioria dos seus fregueses.




















O percurso era marcado pelo compasso do toque estridente do triangulo de ferro, característica desses profissionais. Tilingue, tilingue tingue, tilingue, tilingue tingue. Bastava ouvir esse toque que todos já sabiam quem vinha passando. A meninada que dispusesse de alguns trocados, não exitavam e logo aparecia nas portas ou janelas a gritar: cavaco! cavaco!

RAFAEL-VENDEDOR DE CAVACO CHINÊS - FOTO EM FRENTE A PGE

Atualmente os vendedores de cavaco chinês ainda podem ser encontrados nas ruas de Natal. O triangulo de ferro, o toque, o baú, tudo continua igual. Apenas a embalagem modificou. Agora são servidos acondicionados em um saco plástico, como infelizmente quase tudo que compramos hoje em dia, com 10 unidades, ao módico preço de R$ 1,00 (Um real).

























Havia também o vendedor de geléia de coco, um doce feito a base de açúcar mascavo, mocotó e pedaços de coco. A iguaria era muito apreciada por jovens e adultos, porém igualmente temido para os que se utilizavam de dentaduras postiças. Todo cuidado era pouco na hora de apreciar a guloseima, em virtude de sua consistência. Bastava um descuido na hora de mastigar e a “perereca” ficava agarrada do doce deixando o incauto cidadão em situação vexatória.



Outro personagem que deixou sua marca indelével na memória dos freqüentadores do Cine Rio Grande foi Mané Anão, um vendedor de confeito, como era chamado na época. Em seu tabuleiro havia uma diversidade de balas, drops Dulcora, torrão, buzi, chicletes Adams, pirulito, pastilha Garoto, chiclete de bola ping-pong, e outras bugigangas. Bem antes de iniciar as seções, lá vinha ele com o tabuleiro na cabeça, e andar gingado, peculiar dos que sofrem de nanismo. A mercadoria que ele trazia em consignação da Confeitaria Cirne, do Sr. Múcio Miranda, que ficava no Grande Ponto, onde ao final do dia retornava para guardar seu tabuleiro. Mané Anão era natural de Lajes-RN. Quando o conheci já era um homem de seus 40 anos. Todavia, sempre que não estava trabalhando gostava de tomar umas e outras e embriagava-se com facilidade.



Certa vez, junto com os motoristas da praça de carros de aluguel que ficava no canteiro central em frente à Praça Pio X, hoje a nova Catedral, tomou uma carraspana tão grande que desfaleceu. Seus amigos motoristas, que gostava de fazer gozação com o indefeso anão, lá pela madrugada, colocou Mané completamente despido dentro de um dos cestos de arame que ficava preso ao poste de ferro, onde se colocava o lixo varridos das ruas do centro.

Quando o dia amanheceu e os primeiros trabalhadores passavam pela Deodoro com destino aos seus locais de trabalhos, paravam para ver o “resultado” de uma noite de bebedeira. A cena era hilariante. O pobre anão dormia o sono dos inocentes, completamente despido dentro de um cesto de arame. A ressaca do inditoso vendedor durou quase um mês. Vencida a vergonha, retornou ao “gramado” e depois das pazes feita com os motoristas, tudo começou novamente como se nada tivesse acontecido.
























Vez por outra também freqüentava naquelas ruas, o comprador de garrafas. Para transportar sua carga, adotava a mesma técnica dos verdureiros sendo que utilizava apenas um grande balaio em cada lado da peça de madeira – calão-, e ao invés de varas, os balaios eram presos por quatro pedaços de cordas ou arames. Nesses balaios eram distribuídos os produtos que comprava, sempre procurando o equilíbrio do peso em cada um deles.

Com seus passos ritmados que acompanhava o movimento dos balaios e facilitava sua caminhada, anunciava com fala quase musical: “garrafeeeeeiro, compro litro, meio-litro, garrafa, jornal, revista, lata de óleo, quem tiver eu compro!”. E assim passava o dia inteiro carregando sua cruz, para no final da tarde depois de percorrer léguas tirana, revender tudo que tinha conseguido comprar. A carga, geralmente bastante pesada, obrigava-o a conduzi-la em seus cansados e maltratados ombros, até os bairros da Ribeira ou Rocas onde ficavam os depósitos dos compradores desse tipo de mercadorias. Havia também aqueles que utilizavam apenas um grande balaio que transportava na cabeça. Todo esse esforço lhe rendia apenas alguns míseros trocados que dia a dia amealhava para o sustento de sua família.
(Imagem ilustrativa)
















(Imagem ilustrativa)

Outro famoso personagem que habita minha memória foi o gazeteiro Cambraia. Apelido que adquiriu por ter os cabelos pixains e muito brancos.
Era um homem negro, de estatura elevada, e tinha um vozeirão que chamava a atenção quando anunciava: ô lêlê, ô lêlê, jorná de Natá, ô lêlê, ô lêlê, jorná de Natá. O jornal que anunciava era o Diário de Natal. Tinha um jeitão desconjuntado, e uma voz enrolada que dificultava entender o que dizia. Somente os que o conhecia sabiam o produto que estava vendendo.



Para estimular os fregueses anunciava manchetes que não existiam, causando risos e facilitando a venda. Lembro de certa vez ele passou anunciando aos gritos: Ô lêlê Jorná de Natá, a muié de Batazar engoliu um canhão. E assim, com essa cantiga desengonçada, caminhava pelas ruas sempre se dirigindo para o Grande Ponto, confluência das Ruas João Pessoa com a Princesa Izabel e a Av. Rio Branco, local onde se reunia a intelectualidade da época, seja na calçada do Natal Clube, ou da Farmácia Santa Lygia.

Hoje, ao lembrar aqueles heróicos vendedores ambulantes, minha alma se enche de melancólico. Formavam, sem dúvidas, uma verdadeira instituição de valentes brasileiros que apesar de terem tido poucas oportunidades em suas vidas, mas cada um deles desempenhava seu papel na sociedade com seus trejeitos, suas habilidades, estratégias de venda e principalmente nos dava lição de luta honesta pela sobrevivência. Como admirava esses homens e essas mulheres! Por muito tempo habitaram a minha imaginação. Dentre outros grandes brasileiros, tornaram-se meus verdadeiros heróis, a quem presto meu reconhecimento e minha homenagem.

terça-feira, 7 de junho de 2011

ELAS CONTINUAM A ME VISITAR.



HABILIDOSAS, SEMPRE DARÃO UM JEITO DE VENCER OBSTÁCULOS E ALEGRAR SEUS OLHOS. MUITAS ESPERAM POR ESSA OPORTUNIDADE. SÓ PEDEM EM TROCA UM POUCO DE ÁGUA COM AÇUCAR. EXPERIMENTE! A NATUREZA AGRADECE


AS TELAS DE PROTEÇÃO COM O TEMPO PASSAM A SER SEU POLEIRO FAVORITO

sexta-feira, 3 de junho de 2011

COISAS DE NOSSA TERRA

DE VOLTA AO PASSADO II -VENDEDORES AMBULANTES

Nas minhas recordações da Av. Deodoro, lembro também dos vendedores ambulantes, muito comuns naquela época. Subindo a rua com seu andar vagaroso, lá vinha o verdureiro. Após se abastecer de frutas e verduras no velho mercado municipal que ficava na Av. Rio Branco onde hoje se localiza o Banco do Brasil, passava bem cedinho em frente às nossas casas. Sempre usando um chapéu de palha para se proteger do sol, andar ritimado como quem dança um xote, anunciava em voz dolente: verdureeeeiroo! Frutas e verduras fresquiiiinhas! Os produtos eram dispostos em três balaios que presos uns aos outros por varas, formavam uma espécie de prateleira. Os dois conjuntos de três cestos eram atrelados a uma madeira roliça, conhecida como calão, que o vendedor conduzia nos ombros. No primeiro cesto e consequentemente o maior de todos, eram arrumadas as mercadorias de maior porte como: Jerimum, mandioca, batata doce, inhame, banana, melancia, mamão e outras frutas, dependendo da sazonalidade.



Acima dele, num cesto de menor tamanho vinham os tomates, pimentões, molhos de feijão verde (ainda não se usava vender o feijão já debulhado e acondicionado em sacos plásticos), cebolas, batata inglesa etc. Por último, ficava o menor de todos, que se destinava ao chamado “tempero verde”. Nele eram colocadas as folhagens: couve, alface, cebolinha, coentro, etc. Também expunham penduradas as varas que uniam os cestos, belas tranças de alho, que era mercadoria de maior valor. Trazia ainda, se por encomenda, diversas raízes, ervas aromáticas e medicinais tais como: manjericão, erva doce, louro, hortelã pimenta, colorau, cravo da Índia, canela, pimenta do reino, cominho, gengibre etc.

















As varas que prendiam os cestos partiam 10 centímetros abaixo do balaio maior, para impedir que o mesmo, quando retirado do ombro do verdureiro para servir a clientela, não tocasse no solo, preservando assim a qualidade dos alimentos, principalmente nas épocas chuvosas. O peso desse conjunto era distribuído proporcionalmente, de maneira a facilitar ao condutor o transporte da carga. Essa antiga maneira de carregar mercadorias que tem sua origem na China deve ter chegado ao Brasil trazido pelos colonizadores portugueses que mantinham diversas colônias no continente asiático.
Outros vendedores também desfilavam por aquelas ruas anunciando seus produtos. Gritavam a todos os pulmões, não obstante o grande esforço que fazia para dar um tom melódico a sua voz, prática comum aos vendedores ambulantes.



Cedo do dia, estrategicamente antes do café da manhã, e no fim da tarde, ouvíamos o vendedor de cuscuz que gritava: “cuscuz da mata bem fresquiiiiinho!” vamos Dona, compre um cuscuizinho pra comer com um café quentinho!!! Como se não bastasse todo esse anuncio, no intuito de despertar ainda mais a atenção das donas de casa, também batia com a espátula que usava para retirar o cuscuz, na perna do tabuleiro, provocando um barulho característico, aumentando ainda mais o poder de chamar a atenção dos possíveis compradores.

Por ali também passava uma senhora que, com voz trêmula e cansada, anunciava: “Carimãããããã novinha, vai passando a carimã!!”. Produto extraído a partir da raiz da mandioca que, após processo de fermentação, é utilizada para fazer bolos e biscoitos. Também é conhecida como puba ou mandioca mole.
Lembro bem da vendedora, uma senhora baixinha e carrancuda, que parecia ter uns 65 anos de idade. Tinha cabelos brancos prateados que após enrolados eram presos para trás e terminava num bem elaborado coque, que juntamente com a rodilha, dava apoio para o caixote onde trazia bem acondicionado, o seu produto. O caixote, coberto com um pano muito alvo, era equilibrado com muita habilidade em sua cabeça. Sua voz arrastada e seu semblante marcado com rugas do tempo denotavam cansaço.












Essa vendedora sempre andava com um porrete de madeira à mão. Pela idade avançada, o bastão lhe servia de bengala em suas caminhadas. Tinha também a função de se defender dos cães vadios que perambulavam pelas ruas a procura de alimentos nas latas de lixo. Porém, sua principal utilidade era “ameaçar” os garotos, que traquinos, sempre mexiam com a pobre senhora. Escondidos atrás dos pés de ficus esperavam sua passagem. Quando ela anunciava aos berros: “carimããããããñnnn, vai passando a carimãaaaannn!!” logo ouvia-se alguém gritar: A CARIMÃ ESTÁ PODRE!! Aí o tempo fechava. Disparava uma série de palavrões sempre dando maior ênfase, aqueles que atingiam a genitora do dono da voz, que oculto se divertia com o desfile das mais obscenas palavras, que ela guardava justamente para essas ocasiões. Se conseguisse ver o garoto, ameaçava alcançá-lo para lhe aplicar um corretivo. Mas a ameaça ficava apenas nos palavrões, pois sabia nunca conseguiria alcançá-lo, e resignada, seguia seu caminho, anunciando sua mercadoria.

Na esquina da Av. Deodoro com a Rua Ulisses Caldas, onde ainda hoje existe o Colégio da Imaculada Conceição, era “ponto comercial” de um vendedor de “poli”, uma espécie de picolé dos anos 60, muito apreciado naquela época. Há quem defenda que o nome “poli” teve sua origem nesse tal picolé que era vendido em frente ao cine Polytheama, que ficava na rua Chile, no Bairro da Ribeira, e foi o primeiro cinema de Natal. Daí a origem do nome, que por sinal só era conhecido em nossa cidade. O cinema foi inaugurado no dia 8 de dezembro de 1912, e seu proprietário era Petronilo Gomes de Paiva. O “poli” popularizou-se através de algumas pessoas que possuíam geladeira, não raro, também, o produziam tanto para consumo como também para venda. Eram conhecidos como “poli de caçamba” ou “poli de geladeira”. Ainda recordo as placas de madeira tosca que eram exibidas na frente de algumas casas com a inscrição: ”VENDE-SE POLI”















O tal vendedor era conhecido pelo carinhoso apelido de Prego. Nunca soubemos o seu verdadeiro nome. Tratava-se de um homem moreno, alto e magro, de meia idade. Tinha como atrativo para vender seu produto, uma enorme língua que apertava entre as gengivas, já que era desprovido de todos os dentes, ao tempo que fazia uma assustadora careta causando risos incontroláveis aos passantes.
Nessa mesma esquina, sem que houvesse concorrência ou disputa, também podiam ser encontrados vendedores de pitombas, roletes de cana-caiana, alfenim, e às vezes até o vendedor de cavaco chinês, acostumado a percorrer grandes distâncias no bom desempenho de seu ofício, ali se demorava um pouco por ocasião do término das aulas.

As crianças de hoje não puderam vivenciar todas essas passagens, exceto ao não menos famoso cavaco chinês que ainda hoje ouvimos o tilintar do seu triangulo e que permanece fazendo a alegria, tanto para as crianças, quanto para os pais que, revigorados, fazem uma viagem de volta ao passado.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

OS PÁSSAROS VOLTARAM





Do poeta Ciro Tavares inspirado na crônica Os Pássaros Voltaram


OS PÁSSAROS

Há sempre boas lembranças dos nossos dias,

recordações permanentes que só a morte abandona.

Regresso à antiga praça no meio das tardes estivais,

Meninos de calças curtas, suas bicicleta e patins.

Éramos muitos sem dar conta do avanço das horas.

Um dia, desses que não fogem, houve a magia do momento,

Que ficou na melancolia das retinas.

Súbito silêncio nos rondou, depois a ventania o pó das ruas

Finalmente a algazarra dos pássaros assombrando.

A revoada acinzentou o espaço onde o balé acontecia

por minutos incontáveis nosso alumbramento.

Foram-se com medo do poente que chegava,

e nunca mais voltaram aos saudosos olhos que voaram.

terça-feira, 31 de maio de 2011

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS

Ormuz Barbalho Simonetti, de amoroso e saudoso olhar para o passado e todas as coisas que o encantaram como menino, traz, na ilustração do notável artista Levi Bulhões, para o texto "A Praia de Pipa dos Meus Avós", a sua alma debruçada sobre as janelas do tempo, diante das rendeiras de almofadas de bilro, tecendo sonhos de outrora.

Peço licença ao artista Levi e ao escritor Ormuz Simonetti, para pegar uma carona na beleza dessa poesia feita em grafite, nessa paisagem que me fez chorar e lamentar a infância que passou há tanto tempo.

Nesse cenário, tão benfazejo, que me inspira as saudades, chego a sentir o cheiro da maresia e o bafo do mormaço do meio dia, quando caminhava com papai e minha babá, pelas brancas dunas de Jacumã.

Lúcia Helena Pereira
Natal/RN

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - ILUSTRAÇÃO



Mais uma tela do artista plástico Levi Bulhões, que faz parte da ilustração do livro "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS", que será lançado em outubro/2011. O artista utiliza a técnica mista da pintura acrílica com o bico de pena. A ilustração refere-se à crônica RENDEIRAS DE BILROS, que dentre outras coisas relata o dia a dia dessas profissionais que passavam horas a sombra dos coqueiros ou em frente as suas casas tecendo lindos trabalhos de renda nas intermináveis “conversas de comadres”.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

COISAS DE NOSSA TERRA

DE VOLTA AO PASSADO 1




Hoje eu lembro com saudade o tempo que passou.
O tempo passa tão depressa mais em mim deixou.
Jovens tardes de domingo tantas alegrias.
Velhos tempos, belos dias . .
(Roberto Carlos).



Desde a última sexta-feira, 13 de maio, quando foi publicado o artigo, “OS PÁSSAROS VOLTARAM”, tenho recebido grande quantidade de e-mails e telefonemas que tratam do assunto. São amigos e também pessoas anônimas, dizendo-se gratificadas pela oportunidade que tiveram de, ao lerem a crônica, voltarem no tempo, mais precisamente aos anos 60 e 70, quando nessa época, moravam na cidade de Natal.
Ao colocar naquela crônica minhas reminiscências que se misturavam as emoções, no momento em que desenvolvia o texto, não imaginei que aquelas histórias se assemelhavam as de tantas outras pessoas. Histórias que já não conseguimos lembrar, pois o ritmo dos acontecimentos imposto pelo mundo globalizado, não deixa espaço para esse tipo de saudosismo. Somente aqueles que se aventuram a mergulhar num passado - não tão distante - movido às vezes por acontecimentos ou situações do presente, são premiados com esse tipo de emoção.




Dentre os vários e-mails que recebi, fiquei comovido com um recebido de Teresina-PI, enviado por Luiz Fernando Pereira de Melo: “Amigo Ormuz, li o artigo e tive o prazer de retorna a rua Vigário Bartolomeu 625, onde morei na infância. La ia sempre ao velho mercado compra as rodas dos nossos caminhões e também as belas frutas que ali eram vendidas. É muito bom relembrar o passado, principalmente o nosso que tivemos um grande privilegio de ter uma cidade como Natal dos anos 60 e 70. Um grande abraço e obrigado pelo prazer de retornar a minha infância.

Do Recife, assim se manifestou outro amigo, Geraldo Pereira filho do saudoso Nilo Pereira: “Lembrei de meu tempo de menino, quando pegava canário no quintal de casa, alguns de um amarelo que dava gosto de ver. Hoje em dia, em Aldeia, mais ou menos uns 20km daqui, ainda os vejo, mas são raros. Por lá tenho em quantidade saíras as mais diversas, sabiás e bem-te-vis, mas também guriatãs e tenho um vizinho e amigo, a quem hei de mandar sua crônica, que passa o dia observando os pássaros em sua casa.”

De Brasília o poeta Ciro Tavares me envia o seguinte e-mail: “Caro Ormuz: Sou desse tempo. Nasci na Deodoro, numa casa que meu pai alugou ao Palatinik e onde vivi bons momentos. Deixei a Deodoro pela Rua Assu, quando construímos uma casa. Sempre estive ligado à área, aos pés de fícus que o Ângelo, prefeito, resolveu destruir. Brinquei na Praça Pio X e sou testemunha da construção do cinema Rio Grande. Fui assíduo freqüentador dos papos noturnos, na esquina com a Rua João Pessoa, onde, aos domingos a mulherada gostava de fazer footing para nossa admiração. Sou do tempo do bondes que passavam acionando suas campainhas para Petrópolis. Ali também, o médico, já falecido, Costa Neto e eu esperávamos o transporte para nos levar para o americano Batista, no Barro Vermelho, onde conheci Carlos Gomes e Terezinha. Ali também deslumbrei-me com a beleza e o porte helênico de Marilda Freire, filha do médico Antônio Freire. Ali conheci José Evaldo Caldas, meu maior amigo por mais de 60anos. Os pássaros voltaram e nós não podemos fazer o mesmo. Forte abraço.”



Já da vizinha cidade de Fortaleza recebi de uma leitora a seguinte mensagem: “Ormuz, os pássaros, sempre voltam. Você, por exemplo, é prova disso. Aí está, me enviando e-mail e me convidando a cantar Geraldo Azevedo e apreciar um pouco de sua infância, em Natal (cidade que adoro). Lúcia Bezerra de Paiva.

De Natal recebo do amigo Joaquim de Medeiros Neto: “Caro amigo e confrade Ormuz: Nunca na minha vida tinha lido uma crônica como a da "volta dos pássaros"! Concebida e escrita com o espírito e o coração de menino. Meus parabéns estrelado pela bela crônica. Um grande abraço.”

Todas essas manifestações e outras que recebi e continuo recebendo, me deixaram particularmente comovido e emocionado. Primeiro por ter conseguido através de algumas linhas escritas com a mais pura emoção, propiciar aos leitores um mergulho maravilhoso na sua infância não muito distante. Tenho certeza que nessa viagem ao passado, muitas outras lembranças vieram se juntar àquelas que estavam sendo descrita. Lembranças que se encontravam escondidas no escaninho da memória afetiva, e que às vezes são desencadeadas por um simples cheiro, uma música ou, como nesse caso, por uma narrativa.

Quando escrevia essa crônica, meus pensamentos me levaram a passear pela Avenida Deodoro da Fonseca lá pelos anos 60. As lembranças me chegavam aos borbotões numa avalanche que não conseguia conter. Fechei os olhos por um momento e diante de mim, sugiram vários personagens que convivi naquela época. Via desfilar pela calçada os freqüentadores do bar e restaurante “A Palhoça” do saudoso João Damasceno, que ficava bem em frente a minha casa e vizinho ao Cine Rio Grande. Lá era o ponto de encontro de políticos e pessoas influentes da nossa sociedade, e que lá comparecia todo final de tarde para se deliciarem com os tira-gostos que eram servidos, principalmente os feitos a base de frutos do mar, especialidade da casa.
Cotenido, Poti, Luiz e Batuíra sempre estavam por perto ajudando o pai. Cotenido, por ser o gerente do restaurante, era o que mais convivia conosco e por isso de quem mais me recordo. Seu nome, dado pelo pai, foi inspirado nos dizeres grafados em latas de azeite de oliva importado da Espanha (cotenido neto) que, traduzido para o português, significa conteúdo líquido. Seu pai convivia com esses produtos importados no tempo em que trabalhava com Guglielmo Lettieri, proprietário da famosa Cantina Lettieri. O velho Lettieri também era proprietário da única fabrica de gelo de Natal na década de 30.




Registre-se, entretanto que, democraticamente, A Palhoça também era freqüentada por estudantes “lisos”, principalmente os dos colégios Marista e Atheneu. Ao final das aulas ou mesmo fazendo alguma “gazeta”, apareciam por lá. Era a época que se iniciavam na arte de degustar uma boa “loira suada”; uma “cuba libre” ou simplesmente, um Rum Merino puro com gelo. Essas bebidas por serem mais baratas estavam ao alcance de todos. Contudo, vez por outra, era preciso fazer um acordo com Cotenido, e “pendurar” a conta por inconteste falta de recursos financeiros, mesmo apelando para a famosa “vaquinha”. Nesses casos, o pagamento ficava para a próxima semana, ou quem sabe, o próximo mês.




Às vezes também disputávamos o pagamento da conta, ou parte dela, na “porrinha”, jogo em que os parceiros tentam adivinhar a soma dos palitos ocultos na mão dos participantes. No início dos anos 70, um fato acontecido naquele restaurante alojou-se em minha memória de maneira que todas as vezes que passo em frente ao local, me lembro do acontecido. Como na época morava do outro lado da rua, especificamente na casa de número 622, era comum saber tudo de extraordinário que lá acontecia. Certo dia fui surpreendido com uma aglomeração que se formava diante de um dos compartimentos – na entrada do restaurante havia vários camarotes cobertos e divididos por palhas de coqueiro onde se encontrava uma mesa de madeira, retangular, ladeada por dois bancos do mesmo tamanho -, ao me aproximar do local pude ver o que ocorria. Diante da mesa, vários senhores alguns sentados e outros em pé, bebiam e conversavam animadamente, porém, a atenção estava voltada para uma dupla que disputava, qual deles agüentaria beber a maior quantidade de cerveja. Quando os vi, não me surpreendi, pois a Cidade inteira tinha conhecimento de que eram grandes amigos, igualmente boêmios e quando na companhia com outros amigos, a abundância se fazia presente, e a tristeza não tinha lugar à mesa. Eram eles: Dr. Roberto Freire e o Senador Luiz de Barros. Infelizmente não soube quem venceu aquela animada disputa. Mas, bem tarde da noite quando fui para casa, a dupla ainda bebia e conversava animadamente com se tivesse iniciado a farra naquele instante. Em cima da mesa e no chão, já não tinha onde colocar garrafas vazias. Esses dois senhores fizeram historia e não deixaram seguidores.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - O LIVRO

Caro Ormuz, seu livro já é sucesso. Já estou desejosa de tê-lo em mãos para me deleitar com suas belíssimas crônicas e ilustrações. Excelente obra! Meus cumprimentos pela qualidade.

Jania Souza-UBE
Natal/RN