sexta-feira, 3 de junho de 2011

COISAS DE NOSSA TERRA

DE VOLTA AO PASSADO II -VENDEDORES AMBULANTES

Nas minhas recordações da Av. Deodoro, lembro também dos vendedores ambulantes, muito comuns naquela época. Subindo a rua com seu andar vagaroso, lá vinha o verdureiro. Após se abastecer de frutas e verduras no velho mercado municipal que ficava na Av. Rio Branco onde hoje se localiza o Banco do Brasil, passava bem cedinho em frente às nossas casas. Sempre usando um chapéu de palha para se proteger do sol, andar ritimado como quem dança um xote, anunciava em voz dolente: verdureeeeiroo! Frutas e verduras fresquiiiinhas! Os produtos eram dispostos em três balaios que presos uns aos outros por varas, formavam uma espécie de prateleira. Os dois conjuntos de três cestos eram atrelados a uma madeira roliça, conhecida como calão, que o vendedor conduzia nos ombros. No primeiro cesto e consequentemente o maior de todos, eram arrumadas as mercadorias de maior porte como: Jerimum, mandioca, batata doce, inhame, banana, melancia, mamão e outras frutas, dependendo da sazonalidade.



Acima dele, num cesto de menor tamanho vinham os tomates, pimentões, molhos de feijão verde (ainda não se usava vender o feijão já debulhado e acondicionado em sacos plásticos), cebolas, batata inglesa etc. Por último, ficava o menor de todos, que se destinava ao chamado “tempero verde”. Nele eram colocadas as folhagens: couve, alface, cebolinha, coentro, etc. Também expunham penduradas as varas que uniam os cestos, belas tranças de alho, que era mercadoria de maior valor. Trazia ainda, se por encomenda, diversas raízes, ervas aromáticas e medicinais tais como: manjericão, erva doce, louro, hortelã pimenta, colorau, cravo da Índia, canela, pimenta do reino, cominho, gengibre etc.

















As varas que prendiam os cestos partiam 10 centímetros abaixo do balaio maior, para impedir que o mesmo, quando retirado do ombro do verdureiro para servir a clientela, não tocasse no solo, preservando assim a qualidade dos alimentos, principalmente nas épocas chuvosas. O peso desse conjunto era distribuído proporcionalmente, de maneira a facilitar ao condutor o transporte da carga. Essa antiga maneira de carregar mercadorias que tem sua origem na China deve ter chegado ao Brasil trazido pelos colonizadores portugueses que mantinham diversas colônias no continente asiático.
Outros vendedores também desfilavam por aquelas ruas anunciando seus produtos. Gritavam a todos os pulmões, não obstante o grande esforço que fazia para dar um tom melódico a sua voz, prática comum aos vendedores ambulantes.



Cedo do dia, estrategicamente antes do café da manhã, e no fim da tarde, ouvíamos o vendedor de cuscuz que gritava: “cuscuz da mata bem fresquiiiiinho!” vamos Dona, compre um cuscuizinho pra comer com um café quentinho!!! Como se não bastasse todo esse anuncio, no intuito de despertar ainda mais a atenção das donas de casa, também batia com a espátula que usava para retirar o cuscuz, na perna do tabuleiro, provocando um barulho característico, aumentando ainda mais o poder de chamar a atenção dos possíveis compradores.

Por ali também passava uma senhora que, com voz trêmula e cansada, anunciava: “Carimãããããã novinha, vai passando a carimã!!”. Produto extraído a partir da raiz da mandioca que, após processo de fermentação, é utilizada para fazer bolos e biscoitos. Também é conhecida como puba ou mandioca mole.
Lembro bem da vendedora, uma senhora baixinha e carrancuda, que parecia ter uns 65 anos de idade. Tinha cabelos brancos prateados que após enrolados eram presos para trás e terminava num bem elaborado coque, que juntamente com a rodilha, dava apoio para o caixote onde trazia bem acondicionado, o seu produto. O caixote, coberto com um pano muito alvo, era equilibrado com muita habilidade em sua cabeça. Sua voz arrastada e seu semblante marcado com rugas do tempo denotavam cansaço.












Essa vendedora sempre andava com um porrete de madeira à mão. Pela idade avançada, o bastão lhe servia de bengala em suas caminhadas. Tinha também a função de se defender dos cães vadios que perambulavam pelas ruas a procura de alimentos nas latas de lixo. Porém, sua principal utilidade era “ameaçar” os garotos, que traquinos, sempre mexiam com a pobre senhora. Escondidos atrás dos pés de ficus esperavam sua passagem. Quando ela anunciava aos berros: “carimããããããñnnn, vai passando a carimãaaaannn!!” logo ouvia-se alguém gritar: A CARIMÃ ESTÁ PODRE!! Aí o tempo fechava. Disparava uma série de palavrões sempre dando maior ênfase, aqueles que atingiam a genitora do dono da voz, que oculto se divertia com o desfile das mais obscenas palavras, que ela guardava justamente para essas ocasiões. Se conseguisse ver o garoto, ameaçava alcançá-lo para lhe aplicar um corretivo. Mas a ameaça ficava apenas nos palavrões, pois sabia nunca conseguiria alcançá-lo, e resignada, seguia seu caminho, anunciando sua mercadoria.

Na esquina da Av. Deodoro com a Rua Ulisses Caldas, onde ainda hoje existe o Colégio da Imaculada Conceição, era “ponto comercial” de um vendedor de “poli”, uma espécie de picolé dos anos 60, muito apreciado naquela época. Há quem defenda que o nome “poli” teve sua origem nesse tal picolé que era vendido em frente ao cine Polytheama, que ficava na rua Chile, no Bairro da Ribeira, e foi o primeiro cinema de Natal. Daí a origem do nome, que por sinal só era conhecido em nossa cidade. O cinema foi inaugurado no dia 8 de dezembro de 1912, e seu proprietário era Petronilo Gomes de Paiva. O “poli” popularizou-se através de algumas pessoas que possuíam geladeira, não raro, também, o produziam tanto para consumo como também para venda. Eram conhecidos como “poli de caçamba” ou “poli de geladeira”. Ainda recordo as placas de madeira tosca que eram exibidas na frente de algumas casas com a inscrição: ”VENDE-SE POLI”















O tal vendedor era conhecido pelo carinhoso apelido de Prego. Nunca soubemos o seu verdadeiro nome. Tratava-se de um homem moreno, alto e magro, de meia idade. Tinha como atrativo para vender seu produto, uma enorme língua que apertava entre as gengivas, já que era desprovido de todos os dentes, ao tempo que fazia uma assustadora careta causando risos incontroláveis aos passantes.
Nessa mesma esquina, sem que houvesse concorrência ou disputa, também podiam ser encontrados vendedores de pitombas, roletes de cana-caiana, alfenim, e às vezes até o vendedor de cavaco chinês, acostumado a percorrer grandes distâncias no bom desempenho de seu ofício, ali se demorava um pouco por ocasião do término das aulas.

As crianças de hoje não puderam vivenciar todas essas passagens, exceto ao não menos famoso cavaco chinês que ainda hoje ouvimos o tilintar do seu triangulo e que permanece fazendo a alegria, tanto para as crianças, quanto para os pais que, revigorados, fazem uma viagem de volta ao passado.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

OS PÁSSAROS VOLTARAM





Do poeta Ciro Tavares inspirado na crônica Os Pássaros Voltaram


OS PÁSSAROS

Há sempre boas lembranças dos nossos dias,

recordações permanentes que só a morte abandona.

Regresso à antiga praça no meio das tardes estivais,

Meninos de calças curtas, suas bicicleta e patins.

Éramos muitos sem dar conta do avanço das horas.

Um dia, desses que não fogem, houve a magia do momento,

Que ficou na melancolia das retinas.

Súbito silêncio nos rondou, depois a ventania o pó das ruas

Finalmente a algazarra dos pássaros assombrando.

A revoada acinzentou o espaço onde o balé acontecia

por minutos incontáveis nosso alumbramento.

Foram-se com medo do poente que chegava,

e nunca mais voltaram aos saudosos olhos que voaram.

terça-feira, 31 de maio de 2011

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS

Ormuz Barbalho Simonetti, de amoroso e saudoso olhar para o passado e todas as coisas que o encantaram como menino, traz, na ilustração do notável artista Levi Bulhões, para o texto "A Praia de Pipa dos Meus Avós", a sua alma debruçada sobre as janelas do tempo, diante das rendeiras de almofadas de bilro, tecendo sonhos de outrora.

Peço licença ao artista Levi e ao escritor Ormuz Simonetti, para pegar uma carona na beleza dessa poesia feita em grafite, nessa paisagem que me fez chorar e lamentar a infância que passou há tanto tempo.

Nesse cenário, tão benfazejo, que me inspira as saudades, chego a sentir o cheiro da maresia e o bafo do mormaço do meio dia, quando caminhava com papai e minha babá, pelas brancas dunas de Jacumã.

Lúcia Helena Pereira
Natal/RN

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - ILUSTRAÇÃO



Mais uma tela do artista plástico Levi Bulhões, que faz parte da ilustração do livro "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS", que será lançado em outubro/2011. O artista utiliza a técnica mista da pintura acrílica com o bico de pena. A ilustração refere-se à crônica RENDEIRAS DE BILROS, que dentre outras coisas relata o dia a dia dessas profissionais que passavam horas a sombra dos coqueiros ou em frente as suas casas tecendo lindos trabalhos de renda nas intermináveis “conversas de comadres”.

sexta-feira, 27 de maio de 2011

COISAS DE NOSSA TERRA

DE VOLTA AO PASSADO 1




Hoje eu lembro com saudade o tempo que passou.
O tempo passa tão depressa mais em mim deixou.
Jovens tardes de domingo tantas alegrias.
Velhos tempos, belos dias . .
(Roberto Carlos).



Desde a última sexta-feira, 13 de maio, quando foi publicado o artigo, “OS PÁSSAROS VOLTARAM”, tenho recebido grande quantidade de e-mails e telefonemas que tratam do assunto. São amigos e também pessoas anônimas, dizendo-se gratificadas pela oportunidade que tiveram de, ao lerem a crônica, voltarem no tempo, mais precisamente aos anos 60 e 70, quando nessa época, moravam na cidade de Natal.
Ao colocar naquela crônica minhas reminiscências que se misturavam as emoções, no momento em que desenvolvia o texto, não imaginei que aquelas histórias se assemelhavam as de tantas outras pessoas. Histórias que já não conseguimos lembrar, pois o ritmo dos acontecimentos imposto pelo mundo globalizado, não deixa espaço para esse tipo de saudosismo. Somente aqueles que se aventuram a mergulhar num passado - não tão distante - movido às vezes por acontecimentos ou situações do presente, são premiados com esse tipo de emoção.




Dentre os vários e-mails que recebi, fiquei comovido com um recebido de Teresina-PI, enviado por Luiz Fernando Pereira de Melo: “Amigo Ormuz, li o artigo e tive o prazer de retorna a rua Vigário Bartolomeu 625, onde morei na infância. La ia sempre ao velho mercado compra as rodas dos nossos caminhões e também as belas frutas que ali eram vendidas. É muito bom relembrar o passado, principalmente o nosso que tivemos um grande privilegio de ter uma cidade como Natal dos anos 60 e 70. Um grande abraço e obrigado pelo prazer de retornar a minha infância.

Do Recife, assim se manifestou outro amigo, Geraldo Pereira filho do saudoso Nilo Pereira: “Lembrei de meu tempo de menino, quando pegava canário no quintal de casa, alguns de um amarelo que dava gosto de ver. Hoje em dia, em Aldeia, mais ou menos uns 20km daqui, ainda os vejo, mas são raros. Por lá tenho em quantidade saíras as mais diversas, sabiás e bem-te-vis, mas também guriatãs e tenho um vizinho e amigo, a quem hei de mandar sua crônica, que passa o dia observando os pássaros em sua casa.”

De Brasília o poeta Ciro Tavares me envia o seguinte e-mail: “Caro Ormuz: Sou desse tempo. Nasci na Deodoro, numa casa que meu pai alugou ao Palatinik e onde vivi bons momentos. Deixei a Deodoro pela Rua Assu, quando construímos uma casa. Sempre estive ligado à área, aos pés de fícus que o Ângelo, prefeito, resolveu destruir. Brinquei na Praça Pio X e sou testemunha da construção do cinema Rio Grande. Fui assíduo freqüentador dos papos noturnos, na esquina com a Rua João Pessoa, onde, aos domingos a mulherada gostava de fazer footing para nossa admiração. Sou do tempo do bondes que passavam acionando suas campainhas para Petrópolis. Ali também, o médico, já falecido, Costa Neto e eu esperávamos o transporte para nos levar para o americano Batista, no Barro Vermelho, onde conheci Carlos Gomes e Terezinha. Ali também deslumbrei-me com a beleza e o porte helênico de Marilda Freire, filha do médico Antônio Freire. Ali conheci José Evaldo Caldas, meu maior amigo por mais de 60anos. Os pássaros voltaram e nós não podemos fazer o mesmo. Forte abraço.”



Já da vizinha cidade de Fortaleza recebi de uma leitora a seguinte mensagem: “Ormuz, os pássaros, sempre voltam. Você, por exemplo, é prova disso. Aí está, me enviando e-mail e me convidando a cantar Geraldo Azevedo e apreciar um pouco de sua infância, em Natal (cidade que adoro). Lúcia Bezerra de Paiva.

De Natal recebo do amigo Joaquim de Medeiros Neto: “Caro amigo e confrade Ormuz: Nunca na minha vida tinha lido uma crônica como a da "volta dos pássaros"! Concebida e escrita com o espírito e o coração de menino. Meus parabéns estrelado pela bela crônica. Um grande abraço.”

Todas essas manifestações e outras que recebi e continuo recebendo, me deixaram particularmente comovido e emocionado. Primeiro por ter conseguido através de algumas linhas escritas com a mais pura emoção, propiciar aos leitores um mergulho maravilhoso na sua infância não muito distante. Tenho certeza que nessa viagem ao passado, muitas outras lembranças vieram se juntar àquelas que estavam sendo descrita. Lembranças que se encontravam escondidas no escaninho da memória afetiva, e que às vezes são desencadeadas por um simples cheiro, uma música ou, como nesse caso, por uma narrativa.

Quando escrevia essa crônica, meus pensamentos me levaram a passear pela Avenida Deodoro da Fonseca lá pelos anos 60. As lembranças me chegavam aos borbotões numa avalanche que não conseguia conter. Fechei os olhos por um momento e diante de mim, sugiram vários personagens que convivi naquela época. Via desfilar pela calçada os freqüentadores do bar e restaurante “A Palhoça” do saudoso João Damasceno, que ficava bem em frente a minha casa e vizinho ao Cine Rio Grande. Lá era o ponto de encontro de políticos e pessoas influentes da nossa sociedade, e que lá comparecia todo final de tarde para se deliciarem com os tira-gostos que eram servidos, principalmente os feitos a base de frutos do mar, especialidade da casa.
Cotenido, Poti, Luiz e Batuíra sempre estavam por perto ajudando o pai. Cotenido, por ser o gerente do restaurante, era o que mais convivia conosco e por isso de quem mais me recordo. Seu nome, dado pelo pai, foi inspirado nos dizeres grafados em latas de azeite de oliva importado da Espanha (cotenido neto) que, traduzido para o português, significa conteúdo líquido. Seu pai convivia com esses produtos importados no tempo em que trabalhava com Guglielmo Lettieri, proprietário da famosa Cantina Lettieri. O velho Lettieri também era proprietário da única fabrica de gelo de Natal na década de 30.




Registre-se, entretanto que, democraticamente, A Palhoça também era freqüentada por estudantes “lisos”, principalmente os dos colégios Marista e Atheneu. Ao final das aulas ou mesmo fazendo alguma “gazeta”, apareciam por lá. Era a época que se iniciavam na arte de degustar uma boa “loira suada”; uma “cuba libre” ou simplesmente, um Rum Merino puro com gelo. Essas bebidas por serem mais baratas estavam ao alcance de todos. Contudo, vez por outra, era preciso fazer um acordo com Cotenido, e “pendurar” a conta por inconteste falta de recursos financeiros, mesmo apelando para a famosa “vaquinha”. Nesses casos, o pagamento ficava para a próxima semana, ou quem sabe, o próximo mês.




Às vezes também disputávamos o pagamento da conta, ou parte dela, na “porrinha”, jogo em que os parceiros tentam adivinhar a soma dos palitos ocultos na mão dos participantes. No início dos anos 70, um fato acontecido naquele restaurante alojou-se em minha memória de maneira que todas as vezes que passo em frente ao local, me lembro do acontecido. Como na época morava do outro lado da rua, especificamente na casa de número 622, era comum saber tudo de extraordinário que lá acontecia. Certo dia fui surpreendido com uma aglomeração que se formava diante de um dos compartimentos – na entrada do restaurante havia vários camarotes cobertos e divididos por palhas de coqueiro onde se encontrava uma mesa de madeira, retangular, ladeada por dois bancos do mesmo tamanho -, ao me aproximar do local pude ver o que ocorria. Diante da mesa, vários senhores alguns sentados e outros em pé, bebiam e conversavam animadamente, porém, a atenção estava voltada para uma dupla que disputava, qual deles agüentaria beber a maior quantidade de cerveja. Quando os vi, não me surpreendi, pois a Cidade inteira tinha conhecimento de que eram grandes amigos, igualmente boêmios e quando na companhia com outros amigos, a abundância se fazia presente, e a tristeza não tinha lugar à mesa. Eram eles: Dr. Roberto Freire e o Senador Luiz de Barros. Infelizmente não soube quem venceu aquela animada disputa. Mas, bem tarde da noite quando fui para casa, a dupla ainda bebia e conversava animadamente com se tivesse iniciado a farra naquele instante. Em cima da mesa e no chão, já não tinha onde colocar garrafas vazias. Esses dois senhores fizeram historia e não deixaram seguidores.

terça-feira, 24 de maio de 2011

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - O LIVRO

Caro Ormuz, seu livro já é sucesso. Já estou desejosa de tê-lo em mãos para me deleitar com suas belíssimas crônicas e ilustrações. Excelente obra! Meus cumprimentos pela qualidade.

Jania Souza-UBE
Natal/RN

segunda-feira, 23 de maio de 2011

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - ILUSTRAÇÃO



Mais uma tela do artista plástico Levi Bulhões, que faz parte da ilustração do livro "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS", que será lançado em outubro/2011. O artista utiliza a técnica mista da pintura acrílica com o bico de pena. A ilustração refere-se à crônica OS PRIMEIROS VERANISTAS, que dentre outras coisas relata a saga dos veranistas quando se deslocavam com seus rudimentares meios de transporte, da cidade de Goianinha até a praia da Pipa.

domingo, 22 de maio de 2011

A LINDA LENDA POTIGUAR DO TOURO MÃO-DE-PAU.




Nos sertões do nosso Rio Grande, até os tempos do meu bisavô Antônio Alves Machado, rico-homem de terras e gados, as enormes fazendas sertanejas de criação não tinham cercas nem pastos; os rebanhos viviam livres, embrenhados na caatinga sem fim. No manejo desse gado, pela seca de cada ano, havia o mutirão da ferra, pra marcação da garrotada nascida no inverno. Havia um grande curral, onde se reunia e dali partia a vaqueirama das redondezas; vestida de couro, mode os espinhos, vaquejando mato adentro, tangiam com belos aboios as vacas mansas e suas crias desmamadas. As reses mais ariscas eram perseguidas e derrubadas durante a perseguição por forte puxavante do rabo, pois a mata densa não permitia uso de laço. Depois de dominadas a muque, eram mascaradas ou peadas e trazidas para o curralão. Havia disputas entre os vaqueiros pelo maior número de bichos aprisionados. Daí nasceu o brabo esporte da vaquejada.

Mas, tamanha era a caatinga e tanto era o gado, que nem todos os garrotes do ano eram pegos e ferrados. Sempre restava algum mais esperto e arredio que não se deixava vencer, fugia pros pés-de-serra, cheios de lagedos, onde ficava mais fácil pro perseguido e mais difícil pros perseguidores. Assim, crescendo livre e sadio, sem contato humano, ficava cada ano mais selvagem e chegava a touro erado, o dito barbatão. Eram machos fortes e violentos, sem marca de dono, que passavam a atacar os vaqueiros em defesa das fêmeas que arrebanhavam, prejudicando o bom andamento dos trabalhos da pega de gado.

Vencer um barbatão era feito glorioso e vantajoso, pois, além do ganho em fama de traquejo e valentia, o vaqueiro preador ganhava o direito de posse do tourão vencido. Por sua ferocidade, sem nunca amansar nem sujeitar-se, era castrado ou abatido, após um festejo de torturas e abusos por parte da vaqueirama, muitas vezes vingando colegas mortos ou feridos nas tentativas de derrotá-lo.
Alguns barbatões, por invencíveis, muito se afamavam, como o cearense Boi Barroso, tourão vermelhusco que, segundo contam, deu sobrenome aos descendentes daquele que o venceu e castrou.

Na ribeira do Potengi, abas da serra Joana Gomes, criou-se um barbatão castanho, enorme e ladino, que por mais de uma década escapava dos quantos vaqueiros também famosos que vinham de longe querendo caçá-lo. Certa feita, durante uma perseguição, esse touro pisou num buraco de tatu, machucando um mocotó dianteiro. Mesmo assim prejudicado, por alguma manobra de esperteza, conseguiu escapar. A perna sarou, mas o pulso ficou duro, daí obrigando o animal a mancar. E ainda por vários anos falavam nesse bicho macho que, mesmo manco, ninguém vencia.

Aí surgiu a lenda do Touro Mão de Pau. Essa estória foi contada em cantorias do grande Fabião das Queimadas, escravo rabequeiro nascido e vivido na Lagoa dos Velhos. Depois, coletada por Câmara Cascudo, virou folheto de cordel, sendo enfim adaptada por Ariano Suassuna e cantada pelo talentoso Antônio Nóbrega. É uma comovente mostra da mais pura arte poética e musical nordestina, onde os antigos costumes e os bravos valores de honra são pungentemente louvados.

Da casa-grande da Fazenda Aliança, lugar de nossa posse, se avista o por-do-sol detrás da serra Joana Gomes. Diz-que em nenhum outro poente o céu tanto se avermelha; por certo, mode o sangue ali vertido pelo pelo honrado Mão-de-Pau.

Bartolomeu Correia de Melo

Se duvida dessas belezas, apois acesse o link:
http://www.youtube.com/watch?v=uYgPzCPQXiU

quinta-feira, 19 de maio de 2011

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - ILUSTRAÇÃO



Essa tela do artista plástico Levi Bulhões, faz parte da ilustração do livro "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS", que será lançado em outubro/2011. O artista utiliza a técnica mista da pintura acrílica com o bico de pena. A ilustração refere-se à crônica OS PRIMEIROS HABITANTES, que dentre outras coisas relata o roubo do pau-brasil pelos corsários franceses.

domingo, 15 de maio de 2011

OS PÁSSAROS VOLTARAM

Caro amigo e confrade Ormuz: nunca na minha vida tinha lido uma cronica como a da "volta dos pássaros"! Concebida e escrita com o espírito e o coração de menino. Meus parabéns estrelado pela bela crônica. Um grande abraço.

Joaquim Medeiros
Natal/RN

OS PÁSSAROS VOLTARAM

Ormuz:
Os pássaros, sempre voltam.
Você, por exemplo, é prova disso.Aí está, me enviando e-mail e me convidando a cantar Geraldo Azevedo e apreciar um pouco de sua infância, em Natal(cidade que adoro).
Estou disposta, a trocar "figurinhas" genealógicas.
Convido-o a visitar me blog de nome "monárquico" rsr: Da Cadeirnha de Arruar, d'onde escrevo memórias, à luz das recordações da família -

Lúcia Bezerra de Paiva
Fortaleza/CE

OS PÁSSAROS VOLTARAM

Parabéns amigo, pude curtir um pouco da natureza e o cantar dos pássaros através da sua crônica, além de ver Deus em tudo isso.

Carlos Cabral
Natal/RN

OS PÁSSAROS VOLTARAM

Amigo Ormuz, li o artigo e tive o prazer de retorna a rua Vigário Bartolomeu 625, onde morei na infância. La ia sempre ao velho mercado compra as rodas dos nossos caminhões e também as belas frutas que ali eram vendidas. É muito bom relembrar o passado, principalmente o nosso que tivemos um grande privilegio de ter uma cidade como Natal dos anos 60 e 70.
um grande abraço e obrigado pelo prazer de retornar a minha infância.

Fernando de Melo
Terezina/PI