
segunda-feira, 11 de maio de 2009
A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS
Recebi sua mensagem com os 4 artigos. Gostei muito. Minha mãe sabia fazer renda com bilro; ela me dizia que aprendeu vendo as mulheres fazendo. Tenho comigo alguns bilros. Certa ocasião ela fez umas rendas só para eu ver.
Parabéns pelo seu trabalho. Gosto muito da História do nossoBrasil.
Abraços a todos.
Azenati e Daniel.
Santos – São Paulo
A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS
A crônica de hoje traz uma profissão, das mais puras e bonitas, de mãe para filhas que hoje quase não se ver. Parabéns pelo resgate que faz.
Abração
Martorano Rêgo
Natal-RN
A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS
Lá pelo interior da Paraíba se usava também bilros com caroços de macaíba (ou macaúba, como dizem alguns)...
Parabéns pelo trabalho.
Abraços.
Antônio Gouveia
A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS
Belo texto. Desenrolar todos estes fios, de maneira tão poética e lírica não é fácil. Coisas de aposentado e escritor.
Parabéns.
Um abraço,
Flávio Almeida
Natal-RN
A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS
A primeira e única vez que vi alguém fazer renda de bilro, foi quando era criança. Minha avó (Maria Simonetti) , dizia também que era costume, cantar uma cantiga enquanto se fazia a renda. Pena que eu não me lembro da cantiga.
Um grande abraço.
Daniel Simonetti Avenida Cândido de Abreu, 526, Conjunto 209 A Centro Cívico Curitiba-Paraná CEP: 80530-000 Fone/Fax: 55 41-3352-4517 Cel 9925-9082 - Nextel 92*20498 daniel@panlogistica.com.br www.panlogistica.com.br
domingo, 10 de maio de 2009
A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - MATÉRIA PUBLICADA NA TRIBUNA DO NORTE EM 10.05.2009
PIPA, rendeiras de bilro
A renda de bilros é, sem dúvida, uma das mais antigas e mais ricas manifestações da arte do nosso povo. Surgiu no século XV na Itália, posteriormente chegou à França e depois a Portugal. É uma arte praticada exclusivamente por mulheres. Chegou ao Brasil com a colonização trazida pelas esposas e filhas dos portugueses. Estremadura, Minho, Algarve e Alentejo, são as regiões que mais tradição tem na renda de bilro e eram feitas geralmente no âmbito doméstico.
No Brasil a atividade desenvolveu-se nas comunidades interioranas, particularmente nas faixas litorâneas. Na Pipa, como na maioria das comunidades praianas, as rendeiras gostavam de se reunir para “bater bilros” na sombra dos coqueirais que se estendiam por toda a beira da praia. Lá debruçadas sobre suas almofadas, teciam belas rendas animadas por intermináveis conversas de comadres. Também cantavam antigas canções e hinos religiosos. Tudo ao som do inconfundível gemido melódico que vinha das palhas dos coqueiros fustigadas pelos ventos.
À noite, iluminadas pelas chamas de lamparinas e candeeiros, lá estavam elas na incansável labuta na arte que suas mães e avós lhe ensinaram. Às vezes, dependendo das encomendas, trabalhavam madrugada a dentro até o amanhecer do dia. As peças eram vendidas nas cidades mais próximas como Goianinha, Vila Flor, Canguaretama e Ares. Por vezes, apenas uma delas seguia para a cidade levando o trabalho das outras, que era oferecido de porta em porta. Era comum as encomendas para enxoval de noiva. Das pessoas mais afortunadas, recebiam encomendas de toalhas de banquetes, caminhos de mesa, cochas para cama e toalhas para altar que eram doadas as igrejas.
Em Cabeceiras, havia um sujeito de nome Chico Bem-te-vi, uma espécie de corretor das rendeiras, que em troco de uma comissão, levava os trabalhos das rendeiras da Pipa para vendê-los em Natal. Com o dinheiro conseguido, elas compravam além das linhas utilizadas na confecção das rendas, produtos que consumiam no dia-a-dia com a família. Os pescadores sempre contavam com esse dinheiro extra do trabalho de suas mulheres e filhas, principalmente nas entressafras ou quando as safras de peixes não lhes eram favorável. Na praia da Pipa, a renda de bilros era praticada pela maioria das mulheres. Algumas delas se tornaram famosas pela delicadeza com que faziam suas peças. Zulmira, Maria Alves, Zilda, Maria Segunda, Zelda, Geralda, Isaura e Francisca Martins eram as mais conhecidas.
O aprendizado era passado de mãe pra filha, ainda muito cedo. Começa pela observação, em casa, no trabalho diário das mães rendeiras. Lá pelos oito a nove anos de idade iniciam em pequenas almofadas e com “pontos” mais simples, que além de facilitar o aprendizado, utilizam, no máximo, quatro pares de bilros. Com o tempo, e dependendo da habilidade das meninas, as mães iam introduzindo o aprendizado das rendas mais complexas o que naturalmente aumentava o número de pares de bilros. As rendas são tecidas em cima de uma almofada, que consiste de um cilindro com tamanho médio de 60 a 80 cm. São cheias com capim ou palha de bananeiras. De tempos em tempos esse enchimento tem que ser trocado para dar maior consistência a almofada e melhorar a segurança dos alfinetes.
Estas peças de metal, podem ser substituídos, principalmente em beiras de praia, por espinhos de cardeiro e laranjeira. Os bilros são peças de madeira feitas de ubaia, pau branco ou mamãozinho, madeiras abundante na região, de fácil manuseio e muito resistente. Uma das extremidades tem forma de pêra. O outro lado permanece fino como um lápis e na ponta é enrolado o fio que irá formar a renda. E, finalmente, o cartão perfurado que é a matriz do trabalho a ser feito. Este último é preso na almofada e os bilros são presos na outra extremidade.
Os fios são traçados e enrolados uns sobre os outros e vão formando o desenho estabelecido no cartão. Dependendo do tipo de renda chega-se a utilizar até 30 pares de bilros. São vários os tipos de rendas. Geralmente tem a ver com a região onde habitam. As rendas mais comuns na Pipa eram: olho de pombo, orelha de pano, bico macho, bico fêmea, renda premi, gomo de cana, formozeira e ceará. As iniciantes começam com bicos que são mais fáceis de serem feitos pois utilizam apenas 4 bilros. Com o tempo, e dependendo da habilidade de cada uma, aumenta-se a complexidade da renda e naturalmente o número de bilros.
Em seu livro “Minhas Oitenta Primaveras”, Maria Segunda Marinho conta que aprendeu a fazer rendas, com um coco verde que imitava uma almofada. Enfiava umas varetas nos coquinhos para parecer com os bilros e os alfinetes faziam com os ponteiros da palha seca. As linhas eram os fios retirados dos sacos de estopa. E assim ela fazia pequenos bicos para enfeitar as roupas das bonecas de pano. Maria Segunda, tornou-se uma das mais respeitadas rendeiras da praia da Pipa.
Dona Zilda Marinho, hoje com 74 anos de idade, é uma das poucas rendeiras que ainda trabalha, diariamente, em sua almofada. Ela me relatou um fato bastante curioso. Em 1951, morava e estudava em Natal, na casa de uma madrinha. Através de uma amiga que trabalhava no Palácio do Governo, conseguiu vender algumas de suas rendas aos funcionários do Gabinete do Governador Sílvio Piza Pedrosa. Fico admirado com a vitalidade dessa senhora, que conheço desde quando eu era criança. Criou, junto com seu marido pescador, João Peixinho, 12 filhos.
Foi a tenacidade dessa senhora, aliada ao amor pela sua arte, muitas vezes trabalhando madrugada a dentro, somente com a luz da lua, que ajudou financeiramente a criar tão numerosa família. Também começou como a maioria das filhas de pescadores, observando a mãe trabalhando em sua almofada. Tinha apenas 7 anos de idade e já se preocupava em aprender a profissão de sua mãe para poder ajudá-la. A exemplo de Maria Segunda, também começou a fazer rendas, traçando pequenos bicos, em um coco que imitava uma almofada.
Essa crônica faz parte do livro “A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS, a sua verdadeira história”. De autoria de Ormuz Barbalho Simonetti, tem publicação prevista para o ano de 2010. (ormuzsionetti@yahoo.com.br)
quarta-feira, 6 de maio de 2009
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO DISTRITO FEDERAL
Instituto Histórico E Geográfico - Df
Ilmo Sr.
Ormuz Barbalho Simonetti
Prezado Senhor,
Tenho a satisfação de comunicar-lhe que em reunião do dia 18 de março de 2009 seu nome foi aprovado, por unanimidade, para compor o quadro de sócio correspondente deste Instituto Histórico e Geográfico do Distrito Federal.
Affonso Heliodoro dos Santos
Presidente
quarta-feira, 29 de abril de 2009
segunda-feira, 20 de abril de 2009
A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - MATÉRIA PUBLICADA NA TRIBUNA DO NORTE EM 19.04.2009
ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Genealogista e historiador)
PIPA, primeiros habitantes
Foram os índios da tribo Potiguares seus primeiros habitantes. Porém, desde o ano de 1587, já se registra a presença dos franceses no nosso litoral. Posteriormente chegam também os holandeses. Estes, ao contrário dos franceses, estavam mais interessados em tomar terras para o plantio de cana-de-açúcar. A primeira tentativa para verificação dessas terras, foi feita em 1625 pelo capitão Uzeel, no comando de uma patrulha que chegou “furando mato desde a Bahia da Traição até o engenho Cunhaú”, no Rio Grande. A esquadra com 34 navios aportou no vizinho estado da Paraíba, em julho desse mesmo ano, comandada pelo almirante Balduíno Hendriczoon que, não podendo socorrer o governo flamengo na Bahia, navegavam em direção ao norte.
Já os corsários franceses que aqui chegaram junto com os flibusteiros, piratas dos mares da América, tinham como objetivo inicialmente, a prática do escambo com nossos indígenas. Posteriormente optaram pelo roubo deliberado do pau-brasil. Utilizaram-se inclusive dos nativos para cortar e transportar o pau de tinta, como era chamado o nosso pau-brasil, até o local denominado “Porto Madeira”, em Itacoatiara, nome primitivo da Pipa. Hoje o local é conhecido como Ponta do Madeiro. De cima da falésia, as toras eram jogadas até a praia. Permaneciam na enseada de águas calmas, até serem içadas para suas naus que partiam com destino ao porto de Dieppe na França.
O contrabando do pau-brasil, durou por vários anos e milhares de toras foram saqueadas de nossas matas e enviadas para a Europa. Os índios já utilizavam à tinta vermelha que extraíam da madeira na pintura do corpo em diversos rituais. Foi essa a razão que levou, principalmente os franceses, a exercerem durante anos, forte contrabando do pau-brasil, para a Europa. O que pensavam ser inesgotável, acabou por levar, ao longo de anos de exploração, a quase extinção da nobre madeira que emprestou seu nome ao do nosso país.
Por volta do ano de 1800, aporta na Pipa o português José Castelo da Silveira. Era mestre de carta de uma barcaça que fazia o transporte de mercadorias entre o Rio Grande do Norte e o porto do Recife. Histórias repetidas pela oralidade, dão conta que quando o “Velho Castelo”, como passou a ser chamado, desembarcou na praia, viu passando uma moça muito bonita e que lhe chamou bastante à atenção. Perguntou a um dos presentes: será que o pai daquela moça me dá ela em casamento? O interrogado respondeu afirmativamente e após perguntar ao futuro sogro e dele receber a aprovação, viajou para Portugal onde morava sua família, com promessa de breve retorno para o casamento. Três meses depois desse encontro, estavam casados. A moça se chamava Rita, por apelido, Cobrinha. Era filha de José Gomes de Abreu, antigo morador da comunidade.
Tornou-se sócio do sogro em uma barcaça menor que o mesmo já possuía, e continuou com a mesma atividade de antes. Transportava principalmente o sal de Areia Branca e Macau; o açúcar mascavo e a aguardente, produzidas nos engenhos de Goianinha, além de madeira, farinha de mandioca, látex extraído da mangabeira, peixe seco e óleo de carrapato, como chamavam o óleo extraído da mamona. Quando partia do porto da Pipa, as barcaças faziam paradas nos portos de Barra do Cunhaú, em Canguaretama; na Baía da Traição e em Cabedêlo, na Paraíba e finalmente no porto do Recife seu destino final. De lá, parte dessa mercadoria como a açúcar mascavo, óleo de mamona, sal e o látex de mangabeira, seguia para a Europa. Histórias passadas de pai pra filho, acrescidas de uma boa dose de fantasia, contam que o pagamento por esses produtos era feito com moedas de ouro ou prata que se media
Além da família de José Gomes, moravam na Pipa as famílias: dos Costas, oriunda do sertão mas que chegou inicialmente em Cabeceiras; a de Manoel Pequeno, a família de Honorato Urubu e a mais antiga que era a dos Hermógenes. Tempos depois chega a família Pegado. Essas famílias chegavam à Pipa geralmente fugindo dos longos períodos de estiagem que atingiam as povoações localizadas no sertão.
Inicialmente as terras da Pipa pertenciam aos moradores do arruado de Cabeceiras, localizado a poucos quilômetros da praia. Esses indivíduos devem ter chegado a essa localidade provenientes dos municípios de Vila Flor e Canguaretama, pelas suas proximidades. Nessa época, quando os habitantes da Pipa queriam adquirir algum pedaço de terra, dirigiam-se a Cabeceiras e lá negociavam diretamente com seus moradores, o valor da área pretendida.
Essa crônica faz parte do livro “A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS, a sua verdadeira história”. De autoria de Ormuz Barbalho Simonetti, tem publicação prevista para o ano de 2010. ormuzsimonetti@yahoo.com.br