Foi com
muita tristeza que, pela segunda vez, nesses últimos três meses, visitei as
ruínas do que foi, há bem pouco tempo, o Museu Nilo Pereira em Ceará-Mirim RN.
No último mês de maio, lá estive no finalzinho de tarde quando voltava de minha
chácara, que fica no vizinho município de Maxaranguape. Naquela ocasião fui
atraído pela beleza da lua cheia que surgia por trás do casarão do antigo
Engenho Guaporé. Construído em meados do Século XIX, mais precisamente em 1850,
em estilo neoclássico, o casarão foi residência do segundo vice-presidente da
província do Rio Grande do Norte, Vicente Ignácio Pereira, genro do Barão de
Ceará-Mirim.
Fazia
algum tempo que não percorria aquela estradinha que lava ao casarão. Costumava
visitá-lo nos anos 80 e 90, quando trabalhava no Banco do Brasil e fazia
fiscalização nas propriedades rurais da região.
Infelizmente
a situação em que se encontrava o Museu, era pior do que eu havia imaginado. A
guarita que fica na entrada, estava em ruínas.
Suas portas e janelas foram arrancadas, e parte o telhado já havia
caído. A estrada, calçada com blocos de cimento, que dá acesso ao Solar, estava
totalmente coberta pelo mato, assim como o estacionamento.
Aproximei-me
da porta, mas não tive coragem de entrar, pois como disse, já estava escuro e
as casas de marimbondos caboclos, pendiam das portas e janelas em posição
ameaçadora. Eram eles, junto com morcegos os guardiões daquele patrimônio. Na
entrada principal, impávido, lá estava um grande sapo cururu, bem postado na
soleira, como se fosse o mordomo a espera do visitante.
Esperava, talvez, alguma
mariposa descuidada que por ali passasse em busca dos canaviais, que lhe
complementaria sua refeição diária. Fiz algumas fotografias e prossegui viagem.
Hoje,
como retornei da chácara mais cedo e estava acompanhado por alguns amigos,
resolvi percorrer novamente aquele caminho coberto de mato, que leva ao Museu,
com a intenção de mostrar aos amigos que me acompanhavam a situação de abandono
que se encontrava aquele patrimônio de inestimável valor histórico. Novamente me senti desconfortável diante daquelas
ruínas, principalmente por ele ser parte da história da cidade de Ceará-Mirim,
cidade que aprendi a amar e respeitar desde que lá cheguei no início dos anos
80, para inaugurar a Agência do Banco do Brasil. Fiz e faço parte dessa cidade
onde trabalhei durante 23 longos anos e conquistei grandes amigos.
Diante
daquele quadro desolador, não pudemos deixar de nos perguntar: onde estão os
Órgãos Públicos encarregados de manter e conservar aquele patrimônio? Por que
deixaram a situação chegar até esse ponto?
Que foi feito do mobiliário antigo que lá existia? Onde estão as várias
peças, confeccionadas em jacarandá, e o belo piano de cauda que adornava a sala
principal? É bem provável que hoje faça parte da mobília da casa de algum
esperto, do tipo que considera o patrimônio público, como privado.
Adentramos
ao casarão e pudemos constatar o que já imaginávamos quando chagamos próximos a
entrada principal. Um verdadeiro espetáculo de destruição. Para todos os lados
que olhávamos e por todos os cômodos que passávamos a visão era a mesma.
Cheguei ao pé da bela escada de madeira que lava ao sótão e resolvi subir.
Temeroso pela minha segurança, pois não sabia o estado que ela se encontrava,
prossegui degrau por degrau até chegar lá em cima. A todo tempo me desviando de
morcegos e marimbondos, consegui chegar são e salvo até a parte mais alta do
velho casarão.
O
sótão, composto por vários cubículos, é beneficiado por uma boa ventilação. Uns
compartimentos com mais altura e outros, acompanhando o telhado, terminam em
locais tão baixos que não permitem uma pessoa ficar em pé. No centro, onde fica
a parte mais alta, uma janela para o nascente e outra para o poente, compõem
sua arquitetura. Daquele local a visão é deslumbrante. Para o nascente se
descortina o verde vale com seus canaviais ondulados ao sabor do vento. Para o
poente vemos alguns coqueiros centenários e por trás deles o verde escuro da
mata, que esconde aos pouco o crepúsculo que chega com o final da tarde, também
constitui uma visão maravilhosa.
Ainda
foi possível observar que a última seção do corrimão da escada, que também
servia de parapeito, havia desaparecido.
O piso ainda apresenta bom estado, em virtude de ter sido feito com
madeira de lei. Entretanto, não pude deixar de notar que algumas tábuas estavam
soltas, como se alguém as tivesse “preparado” para lavá-las em outra
oportunidade. Talvez a mesma pessoa que se apropriou indevidamente do corrimão
da escada.
Quando
já me preparava para descer, fui surpreendido com uma visão inusitada. Num
canto do corredor, que separa as duas extremidades da casa, quase despercebido,
lá estava imóvel e bem acomodado, o velho cururu. Não sei como o batráquio
conseguiu chegar até aquele local, pois para isso, teve que vencer três lances
de uma escada íngreme e de degraus muito estreitos.
Mas, o
importante é que ele conseguiu, pelo simples fato de ter tentado. E nós porque
não tomamos o exemplo daquele velho morador do museu e também tentamos fazer
algo para salvar aquele monumento enquanto as paredes ainda resistem ao abandono,
ao descaso das autoridades e ao ataque dos vândalos?
Por que
não tentamos conseguir um pouquinho do nosso suado dinheiro, que principalmente
nessa época, é usado na compra de votos e consciências desse nosso povo sofrido
e culturalmente ignorante, para recuperar uma parte da nossa memória? É
justamente MEMÓRIA o que mais nos falta. Está literalmente em nossas mãos a
oportunidade de mudar, escolhendo administradores comprometidos com a melhoria
da Nação, principalmente no que se refere à educação. Um povo sem educação é
presa fácil e sempre será refém de políticos espertalhões.
Natal,
13 de agosto de 2010.
Lamentável! Um descaso total dos órgãos que deveria preservar o patrimônio histórico. Aqui, no Ceará, não é diferente. Os estádios de futebol, são de primeiro mundo, no entanto. Fiquei triste mas, só tenho a parabenizá-lo pela divulgação dessa vergonha.
ResponderExcluirUm abraço, amigo.