Os antigos
blocos carnavalescos propiciaram a nossa cidade décadas de alegrias, não
obstante a ocorrência de fatos que resultaram em profunda tristeza. Pelo menos
dois acidentes com vitimas fatais marcaram de maneira trágica a história dos
antigos blocos carnavalescos.
Um delas aconteceu na confluência das Ruas
Jundiaí com a Avenida Hermes da Fonseca, onde uma garota com apenas 15 anos de
idade, no vigor de sua juventude, teve sua vida bruscamente e brutalmente
interrompida por um veículo desgovernado, quando caminhava com outros foliões
ao lado da alegoria de seu bloco.
Outro acidente,
de grande proporção, marcou para sempre a história dessas agremiações, e que de
certa forma, contribuiu para por fim a tradição carnavalesca da Cidade de Natal.
Na madrugada
de 25 de fevereiro de 1984, precisamente as 0h:50 minutos, o bloco Puxa Saco
esteve no centro da maior tragédia acontecida durante o período carnavalesco em
nossa cidade, inclusive com repercussão na imprensa internacional, dada a
violência do fato e o número de mortos e feridos que produziu. Ficou conhecida
como a “Tragédia do Baldo”, e ceifou 19 vidas, feriu gravemente 12 pessoas, e
produziu ferimentos leves em dezenas de outros indivíduos.
Aluizio Farias Batista
Tudo começou
quando o motorista de transporte coletivo da empresa Guanabara, Aluizio Farias
Batista que fazia a linha Alecrim/Rocas, por volta das 20 horas, recebeu ordens
para dirigir-se à Av. Interventor Mario Câmara - Avenida Seis -, próximo ao
Mercado Público, pois iria transportar algumas agremiações carnavalescas, num
total de 2 viagens, sendo uma para o bairro das Quintas e outra para a Cidade
da Esperança. Ao final da segunda viagem recebeu nova solicitação para fazer mais
uma com destino ao bairro das Rocas, transportando outra escola de samba.
Reclamou do funcionário que coordenava a saída dos ônibus, ponderando que o
combinado seriam apenas duas viagens, mesmo assim, concordou em fazer mais essa
viagem.
Partiu do bairro
do Alecrim com o ônibus completamente lotado. Naquela ocasião transportava componentes
da escola de samba “Malandros do Samba” que como já foi dito, dirigiam-se ao
bairro das Rocas. Em dado momento, teve início uma discussão entre o motorista
e alguns de seus componentes, que eufóricos, faziam algazarra dentro do ônibus.
Devido ao tumulto, os passageiros talvez por brincadeira, começaram a acionar insistentemente
a campainha do ônibus o que teria provocado à ira do motorista, e este passou a
dirigir o veículo em desabalada carreira, desrespeitando, inclusive, todos os
semáforos existentes em seu trajeto.
Ônibus após o acidente
Relataram alguns
ocupantes do ônibus, que diante das reclamações dos passageiros quanto à
velocidade desenvolvida pelo veículo, o motorista teria dito: “se tiver que morrer, morre todo mundo”.
Dai em diante, continuou em alta velocidade pela Rua Coronel Estevão e próximo
do início da subida do Baldo, ao fazer uma curva em alta velocidade, o veículo
bate a traseira em um fusca que estava estacionado de placa DN 9799-RN. A
batida mudou a trajetória do ônibus que foi em direção ao bloco, que naquele
momento iniciava a subida da Avenida Rio Brando.
Segundo me
contou Ricardo Miranda, testemunha ocular da tragédia que naquela ocasião se
encontrava em frente à casa de João Motta, na Avenida Rio Branco: “o veículo
passou pelo meio do bloco atingindo pessoas num trecho de 86 metros , desde o início
da subida da Avenida Rio Branco até o local que eu estava. Quando o ônibus
parou, me aproximei na tentativa de ajudar alguém e me deparei com uma cena
dantesca. Nunca consegui esquecer. Corpos despedaçados, misturavam-se a pessoas
feridas que gritavam por socorro presos em baixo do coletivo.
Fusca envolvido no acidente
Os primeiro a
serem atingidos foram os músicos que estavam na retaguarda. Em seguida, os componentes
da agremiação e também vários foliões que naquela ocasião acompanhavam o bloco
e até se misturavam a eles, pois não havia entre os componentes e os outros
foliões nenhum tipo de isolamento”.
O Puxa-Saco
era um bloco sem alegoria. Músicos que faziam parte da “Banda Galha”, muito
conhecida em nossa capital, formavam a orquestra do bloco. Tocavam frevos e
machinhas carnavalescas quando aconteceu a tragédia. O conhecido trombonista
Lelé, irmão do saudoso Efrain, foi um dos músicos que perdeu a vida nesse
acidente.
Quando o
ônibus parou, diversos populares acorreram ao local, na tentativa de ajudar os
feridos. Foi quando perceberam que o veículo começou a se movimentar de ré,
pois não havia ninguém no seu comando. O motorista aproveitou a confusão para
evadir-se do local. Na pressa, abandonou o veículo sem acionar o sistema de
freios. A tragédia que já era enorme ameaçava tornar-se ainda maior. Nessa
ocasião, vários populares se puseram na traseira do veículo na tentativa de
impedir seu retorno e também ajudar a retirar alguns corpos e feridos que
estavam sob o mesmo. Foi quando apareceu um desses heróis anônimos, enviado por
Deus nessas ocasiões extremas.
Antonio Luiz
de Araújo Guerra - Toinho Batata, que anteriormente tinha tentado segurar o
motorista fujão, sobe no coletivo e consegue acionar o freio e em seguida
engata uma macha, evitando assim um possível aumento do número de vítimas.
Processos - 2 volumes
No dia
seguinte à tragédia o Dr. Maurílio Pinto coordenador geral da Polícia Civil,
determinou ao delegado Pedro Avelino Neto que investigasse o caso.
Em
depoimento ao delegado, o motorista contou que após o acidente passou em casa,
trocou de roupa e seguiu para Parnamirim, cidade que faz parte da grande Natal,
refugiando-se na residência de um primo. Sobre o acidente contou uma versão
totalmente diferente àquela relatada pelos passageiros do ônibus, e
naturalmente se eximindo de qualquer culpa. Como não foi produzido o flagrante,
após prestar depoimento Aluisio Farias Batista foi liberado pela polícia e desapareceu.
Até hoje não se tem nenhuma notícia de seu paradeiro.
Em abril de
2009, 25 anos depois da tragédia o motorista Aluizio Farias Batista que foi
denunciado pelo promotor José Maria Alves, foi julgado a revelia. O processo de
nr. 001.000.723-0, com 02 volumes e 447 páginas, guarda vários depoimentos de
testemunhas e também de pessoas que sobreviveram ao acidente.
O caso
“Tragédia do Baldo”, foi apresentado no dia 8 de dezembro de 2005, no programa
Linha Direta da Rede Globo de Televisão.
Prestamos nesta
matéria uma homenagem a memória das pessoas que perderam suas preciosas vidas naquele
lamentável acidente: Abimael Florêncio Bernardo,
Acelúsio Borges Gomes, Astor dos Santos Dantas, Benedito Alves da Silva,
Dinarte de Medeiros Mariz Neto, Esdras César da Silva, Francisco Alves da
Silva, Jaecy Cabral de Oliveira, Jethe Nunes de Oliveira, José dos Santos
Xavier, José Félix de Lima, José Luiz da Silva, Luiz Inácio da Silva, Milton
Servita de Brito, Murilo Alberto Viana da Silva, Rizomar Correia dos Santos,
Simone Banhos Teixeira, Walace Martins Gomes e Wellington Teófanes de Assis. Que
Deus os guarde em Bom
Lugar.
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