Mensagem enviada a Cléa Bezerra de Mello Centeno no dia 12 de junho de
2006, por ocasião da publicação de seu livro DEVER DE MEMÓRIA, uma biografia de
Ubaldo Bezerra de Mello.
Querida prima Cléa,
Parabéns pelo belo
livro. Li devagar, divagando, saboreando cada capitulo, feliz por neles
encontrar algumas lembranças comuns. Afinal, tive o prazer e honra de
tangenciar alguns poucos aspectos da minha vida com a desse grande homem.
Aliás, na minha memória, ele me parecia enorme quando, em pequenino, lhe tomava
a benção. Fiquei feliz por agora conhecê-lo em mais detalhes. Era meu padrinho
e grande amigo do meu pai.
Em dado momento, você
fala dos livros que eram lidos pela família. Essa informação me remeteu aos
anos de 1957/58, eu com 6 ou 7 anos de idade, morando na avenida Deodoro nº
622. Foi a estória de Robson Crusoé, o livro que ganhei de presente numa das
frequentes visitas dos meus padrinhos Ubaldo e Haydée. E ainda restam na minha
lembrança: o livro, a estória, seus sorrisos e minha grata alegria. Tempos
depois pude entender o real significado daquele presente. Era natural que se
presenteasse uma criança daquela idade com um brinquedo qualquer. Porém, sempre
enxergando adiante do seu tempo, ele deu-me algo mais valioso: sonho e
conhecimento.
A sua narrativa sobre
as usinas Ilha Bela e Santa Terezinha, o rio Água Azul, a verde visão dos
canaviais e outras saudades muito me emocionaram, pois, de certo modo, em
outras épocas, fazem parte também de minha estória. No ano de 1978, quando da
inauguração da agência do Banco do Brasil em Ceará-Mirim, fui convidado para
atuar como Fiscal de Operações Rurais onde permaneci até o dia de minha
aposentadoria, em 04 de junho 2001. Portanto, foram 23 anos de minha vida
dedicados àquela região, virada em terra adotiva, que recordo com carinho.
Ainda hoje sinto o cheiro do açúcar mascavo descansando nas formas de madeira
purgando mel-de-furo, vejo os pátios cobertos com bagaço de cana secando para
alimentar as caldeiras, a fumaça dos bueiros turvando o azul das tardes, ouço o
apito dos engenhos, o tropel da burrarada com cambitos cheios de cana, o
estalido do chicote dos cambiteiros açoitando a beleza das manhãs.
Um grato e comovido abraço de
Ormuz, filho de Arnaldo.
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