Tudo começou quando resolvi descansar por uns dias, após o
lançamento do meu livro “A Praia da Pipa do tempo dos meus avós”, em outro
país, já que nunca havia atravessado nossas fronteiras.
Entretanto, o primeiro desafio era convencer minha esposa a
fazer a viagem de avião. Vários pousos e decolagens a esperavam, e só em
comentar o fato, ela ficava deveras apavorada.
Depois de muita conversa ao pé do ouvido, recheadas de
promessas em sua maioria, impossíveis de serem cumpridas, lhe convenci a ir
para o “sacrifício”. Resolvida a primeira etapa, tive a grata surpresa da
companhia de dois casais amigos, que se juntaria a nós, nessa aventura
além-fronteiras, em terras de língua espanhola. Um dos casais, pais do meu
genro, e o outro, seu filho, que viajava com sua esposa. Não poderia haver
melhores companhias. Minha esposa, por sua vez, ficou mais confiante e eu,
agradecido pela sorte de ter aquelas pessoas conosco, numa aventura com duração
prevista para 10 dias.
Parecia que tudo estava se encaixando como uma luva. Seria
uma viagem inesquecível, já que para mim, minha esposa e um dos casais,
fazíamos nossa primeira viagem internacional.
Realmente foi “inesquecível” em todos os sentidos. Começou
quando adquirimos, através do site da TAM, as seis passagens Natal/São
Paulo/Chile. Na ocasião de confirmar a compra, nos enganamos quanto à data do
embarque. Descobrimos depois que havíamos adquirido os bilhetes 30 dias antes
do dia em que pretendíamos viajar. Resultado: perdemos todas as passagens, pois
como os bilhetes foram adquiridos em uma promoção, mesmo comunicando com
antecedência, como foi o nosso caso, a TAM não permitiu fazer troca,
substituição ou remarcação para o dia do embarque.
No dia que antecedeu a viagem amanheci com uma enorme dor no
calcanhar direito. Logo suspeitei da famosa “gota”, pois, vez por outra, quando
me excedo nos miúdos e carne
vermelha, ela logo se apresenta. Felizmente depois de uma consulta ao médico,
constatamos que se tratava apenas de uma tendinite, enfermidade não menos
preocupante, principalmente para quem vai fazer uma viagem de turismo e
normalmente precisa caminhar grandes distâncias. Explicada ao médico a minha
condição de viajante naquela madrugada, o problema foi equacionado com uma
potente injeção à base de corticóide. Enfim, na madrugada do dia 1 de novembro,
partimos de Natal com destino a São Paulo.
Após uma hora e meia de voo, de repente o silêncio da
aeronave era rompido por um grito de pavor. Depressa! Depressa! ... era a
esposa de um dos meus amigos, que muito aflita, chamava a aeromoça. Olhei para
trás e também me assustei com a cena. Com a cabeça pendendo para um dos lados,
seu marido desfalecia. Passou mal e veio a desmaiar por falta de oxigênio. Seu
organismo, por problemas pulmonares, às vezes não consegue fazer a troca do
oxigênio respirado no ambiente pressurizado da aeronave,
o que provocou o seu desfalecimento.
Tínhamos conhecimento do seu problema pulmonar, pois a mesma
situação já havia acontecido em outro voo, quando íamos para Gramado-RS, onde
fomos assistir ao espetáculo do Natal Luz. Nesse episódio, só tivemos
conhecimento do fato, quando pousamos em Natal, e nos revelou que havia sofrido
do mesmo desconforto durante o vôo, só tornando quando a aeronave se preparava
para o pouso. Como era um vôo noturno, nem mesmo sua esposa percebeu o
ocorrido.
Entretanto, nessa viagem, não tivemos maiores preocupação,
pois dias antes ele havia feito todos os exames e, consultando do seu
médico acerca do problema, dele obteve um atestado que foi apresentado à
tripulação, por ocasião do embarque, informando que o mesmo sofria de problemas
respiratórios, (hipóxia hipobárica: deficiência de oxigênio nos tecidos
consequente à diminuição da pressão parcial do oxigênio no ar respirado), e
recomendava que ele fosse ofertado oxigênio, caso houvesse necessidade. Ficou
previamente acertado com a tripulação, que se houvesse necessidade ele
acionaria um dispositivo localizado acima de seu assento.
O dispositivo foi aceso e imediatamente é socorrido pela
tripulação, que prontamente lhe atende com uma garrafa de oxigênio. Dez minutos
depois que retoma a respiração normal, um dos tripulantes solicita a presença
de algum médico, que por acaso estivesse a bordo. Apresentou-se uma médica, que
por sinal era do seu circulo de amizade, e gentilmente lhe faz companhia até o
desembarque em São Paulo.
Desembarcamos
em Guarulhos pouco mais das seis horas, de uma manhã ensolarada. Três horas
depois, reembarcávamos com destino a Santiago do Chile. Após tomarmos assento,
sentimos a falta do nosso companheiro. Depois de algum tempo, fomos informados
pelo seu filho que ele havia sido impedido de embarcar, sob a alegação de que a
aeronave não dispunha de oxigênio suficiente, caso houvesse necessidade durante
o voo Guarulhos-Santiago. A tripulação recusava-se terminantemente a autorizar
seu embarque, temendo a repetição do ocorrido no voo entre Natal e São
Paulo.
A aeronave continuava estacionada aguardando a solução da
pendência. Logo, fomos informados que ele só poderia viajar no dia seguinte e
com equipamento próprio (Concentrador de Oxigênio para uso aeronáutico). Teria
que adquirir, por sua conta, uma garrafa de oxigênio. Esse equipamento ainda
teria que ser submetido a analise da TAM. Também foi exigido a compra de outro
bilhete, pois o equipamento – uma garrafa de oxigênio -, viajaria na poltrona
vizinha.
(continua na próxima semana)
Que sufoco!!!
ResponderExcluirVou "subir" para ler o segundo capítulo...(sufocante, mas interessante!).