terça-feira, 22 de novembro de 2011
A RESSUSCITADA DO CUNHAÚ- PARTE III
Durante a narrativa, a "Ressuscitada de Cuntuiú" descrevia, com precisão, o ambiente em que se criara, indicando a vasta parentela fidalga, as ligações genealógicas, aprumada, certeira, impecável. O dr. Rigueira Costa ficou impressionado. Levou o fato ao conhecimento do Presidente da Província da Paraíba, dr. Francisco de Araújo Lima. A história passou ao domínio público, despertando um interesse geral.
A "Ressuscitada" ficou literalmente coberta de presentes, de mimos, de agrados. Exigia-se uma punição severa para a família Albuquerque Maranhão. O Chefe de Polícia informou aos interessados, creio que em caráter particular, Anacleto José de Matos, sopitando a ira, acompanhado pelo Comendador, seu ex-sogro, compareceu à Chefatura de Polícia paraibana. Foram acareados com a mulher. Ambos afirmaram ser a primeira vez que a viam. O Comendador negou firmemente a história maravilhosa. A filha falecera e ainda era chorada por todos. Dona Joana não reconheceu a que se dizia sua filha. Nem mesmo achara uma parecida com a outra.
A "Ressuscitada de Cunhaú" se defendia tenazmente. Enumerava detalhes da casa de sua família, particularidades domésticas, anedotas privadas, desnorteando o auditório. Indicou um sinal roxo, bem visível, que sua mãe teria no alto da perna direita. Anacleto José de Matos tinha uma cicatriz em meia-lua, em cima do mamilo esquerdo. Era vestígio de uma dentada que ela lhe dera em certa ocasião. Rigueira Costa pretendeu, para anular as suspeitas, mandar proceder a um exame em Dona Joana d' Albuquerque Maranhão e em Anacleto José de Matos. Ambos repeliram a idéia com violência exagerada. Autoridades e povo ficavam convencidos de que a "Ressusoitada" era, positivamente, a filha martirizada pela família aristocrática, impiedosa e terrível.
Os amigos, mais íntimos e mais poderosos da Casa Cunhaú, correram em auxílio do Comendador, exposto ao exa¬me coletivo e atormentado pela crítica social e unânime da Paraíba. Dois amigos o tenente-coronel Manuel Salustiano de Medeiros e o dr. Felíx Antônio Ferreira d'Albuquerque, grandes proprietários e agricultores, o segundo ex-deputado provincial no Rio Grande do Norte, foram depor, endossando as negativas feitas e influindo para que a vistoria não fos¬se realizada. O Comendador, furioso pela curiosidade pública e fremente de indignação pelo atrevimento do dr. Rigueira Costa sonhar examinar a respeitavel coxa de dona Joana d'Albuquerque Maranhão, dizia que só depois de passar por cima do seu cadaver.
AMARO BEZERRA CARNEIRO CAVALCANTE
O processo contra Anacleto José de Matos, acusado de tentativa de uxoricídio, foi iniciado. Toda a família Albuquerque Maranhão, alarmada, movimentou o prestígio, para obstar aquele escândalo sem precedentes.
Surgiu então o dr. Amaro Carneiro Bezerra Cavalcanti, deputado-geral pelo Rio Grande do Norte, casado com dona Maria Cândida, prima do Comendador e irmã de Dona Joana, mãe da "sei disant" "Ressuscitada"_
O dr. Amaro, deputado-geral pela terceira vez era então conservador puro, casado na maloca saquarema legítima e cioso de sua bandeira, Amícissimo do Comendador, que fôra seu "suplente" na Décima Legislatura, vôou em socorro dos seus grandes eleitores.
A situação política era propícia. Estavam dominando os conservadores, com o gabinete presidido pelo Marquês de Olínda Senador Pedro de Araújo Lima. O dr. Amare Bezerra deteve a marcha do processo e fê-lo desaparecer. O dr. José Nicolau Rigueira Costa, o Chefe de Polícia que tanto cuida¬do estava tendo pelas averiguações, foi, imediatamente transferido para o sul.
PEDRO DE ARAUJO LIMA - MARQUES DE OLINDA
A Ressucitada de Cunhaú desapareceu. Dizem que o dr. Amaro a levou para o Rio de Janeiro. Dizem que a mataram. Dizem que viajou para o norte, com dinheiro dado pelos Albuquerque Maranhão. Nunca mais ouviram falar em sua existencia, centralizadora das palestras durante tanto tempo.
Anacleto José de Matos, que se casou novamente, o Comendador, Dona Joana, os parentes, regressaram, tranquilos, as residências. Dissipara-se o fantasma da "Ressuscitada".
(07.12.1941)
Continua na próxima semana.
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