A VIAGEM PARA O VERANEIO
GOIANINHA NA ÉPOCA DOS PRIMEIROS VERANEIOS
Era grande a expectativa que causava, nos dias que antecediam a viagem para a Praia da Pipa. Dias antes, o meu avô Odilon Barbalho mandava um portador a Pipa, com recado ao seu compadre Antônio Pequeno (o Velho), que era delegado distrital e exercia grande influência em toda a comunidade. Pedia que iniciasse, com alguns homens, uma “picada” com destino a Piau.
DISTRITO DE PIAU-MUNICÍPIO DE TIBAU DO SUL
Ele, por sua vez, também iniciava, com seus empregados, outra picada partindo de Piau com destino a Pipa. Era um percurso de doze quilômetros que atravessava tabuleiros cobertos de fruteiras silvestres, como mangabeiras, cajueiros e mais perto da praia, multiplicavam-se os pés de camboim, maçaranduba, guabiraba, murta, murici, cajarana, camaci, maria-preta, ubaia doce e azeda etc.
MANGABEIRAS COBRINDO A ESTRADA
Quando os trabalhadores se encontravam, estava concluída a estrada que iria conduzir a caravana de veranistas ávidos em passar todo o mês de janeiro desfrutando das águas mornas do mar da Pipa. Foram os carros de boi do meu avô Odilon Barbalho, os primeiros veículos movidos à tração animal, a chegar a Praia da Pipa, em janeiro de 1926.
HOMENS ABRINDO PICADA NO TABOLEIRO
A viagem era sempre feita à noite para poupar homens e animais do escaldante sol do mês de janeiro. As famílias, com suas tropas de burros de carga, carros de boi, charretes e cabriolés, reuniam-se no oitão da igreja matriz. Por volta das sete horas da noite iniciavam a viagem. As moças e os rapazes montavam cavalos. As moças e senhoras, naquela época, utilizavam uma sela chamada silhão. Era um tipo de sela maior que as normais, com estribo apenas em um dos lados, onde a pessoa ficava com um dos pés no estribo e curvava a outra perna sobre um arção semicircular. Era apropriada para moças e senhoras quando cavalgavam de saias.
A VIAGEM ERA FEITA AO CAIR DA TARDE
Os carros de boi além de carregar pessoas, levavam alguns móveis, como camas e pequenos armários. Levavam, ainda, vários utensílios domésticos e todas as tralhas que compõem uma cozinha.
Rapazes e moças seguiam na frente, com suas velozes montarias. Disputavam corridas e faziam diversas brincadeiras ao longo da viagem. Era comum que algumas pessoas, com habilidade para tocar instrumentos musicais, levassem violões, concertinas, triângulos, pandeiros e zabumbas, para animar a longa viagem.
A primeira parada era no distrito de Piau, que significava a metade do caminho a percorrer. Daí pra frente, a estrada se transformava em picada, e a viagem se tornava mais lenta e penosa, principalmente para os animais de carga e tração. O solo ficava mais arenoso, o que facilitava o atolamento dos carros de boi que tinham rodas de madeira muito finas para aquele tipo de terreno e carregavam a maior parte do peso.
Durante essa parada, por volta da meia noite, as mulheres aproveitavam para cuidar das crianças e comer algum lanche trazido para a ocasião. Aproveitavam, também, para utilizar os sanitários (latrinas) da casa dos compadres. Os homens geralmente iam para as bodegas e vendas para tomar uns tragos de boa cachaça de cabeça produzida nos engenhos da região.
Em seguida, retomavam o caminho seguindo pela picada previamente aberta. Nesse tipo de solo a caravana seguia com mais dificuldade. Depois de três a quatro horas de viagem chegava ao Rio Galhardo, onde era feita a última parada. Lá a demora era pequena, somente o tempo de dar água aos animais enquanto algumas pessoas tomavam banho para desenfadar. Com mais hora e meia de viagem chegavam na Praia da Pipa.
LOCAL ONDE PRIMEIRO SE AVISTA A PRAIA DA PIPA- FOTO DE 1970
A ansiedade era tanta, que os rapazes e moças disparavam nos seus cavalos, e logo chegavam à praia. Horas depois chegavam os pesados e vagarosos carros de boi e os animais de carga. Eram recebidos com festa de boas-vindas pelos compadres e moradores do lugar. Era hora de arrumar tudo e começar o tão esperado veraneio.
Natal, março de 2009.
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