ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Presidente do Instituto Norte-Riograndense de Genealogia-INRG,membro do IHGRN e UBE-RN)www.ormuzsimonetti@yahoo.com.br
Publicada em “O JORNAL DE HOJE” edição do dia 15 de janeiro de 2010.
São Sebastião, o padroeiro da Pipa.
Ninguém sabe dizer em que década a comunidade adotou São Sebastião como seu padroeiro. Na época que existia a primeira igreja, ou igreja velha, localizada aonde é hoje a casa de tio Venício, tinha na frente um frondoso pé de fruta pão onde se realizava a festa do padroeiro. Essa data era comemorada no dia 6 de janeiro, dia de Reis. Por falta de manutenção, com o tempo a igreja velha caiu e a Pipa ficou alguns anos sem igreja. Os santos foram transferidos pra casa de Vicência Torres, mais conhecida por Totores, aonde se chegou a rezar missas e realizar batizados. Por volta do ano de 1952 teve início a construção da igreja nova, concluída três anos depois. A demora deveu-se aos parcos recursos daquela comunidade pobre, porém de pessoas determinadas.
As pedras utilizadas nos alicerces foram trazidas da distante praia das Cancelas, localizada ao Sul da Pipa. As pessoas se organizavam em mutirões noturnos e aproveitando as noites de lua clara, seguiam em grandes romarias para realizar a penosa tarefa. Para aliviar a caminhada, as mulheres entoavam hinos em louvou ao santo padroeiro. As mães e seus filhos menores traziam em suas mãos as pedras de menor tamanho; enquanto que os homens, utilizando rodilhas de pano, conduziam em seus ombros e cabeças, as de tamanho maior e conseqüentemente mais pesadas. Os tijolos, comprados em Goianinha, como não existia estrada, foram trazidos aos poucos, em lombo de animais acomodados em caixões ou caçuás. O dinheiro para o pagamento dos pedreiros e para adquirir outros materiais necessários, era conseguido, as duras penas, de porta em porta, com doações feitas pelos moradores. Aqueles mais afortunados doavam mais, enquanto os que pouco possuíam colaboravam com a força de seus braços, contanto que de alguma forma, contribuíssem para a construção do templo sagrado.
O local escolhido foi um sítio de coqueiros, dizem que foram plantados décadas atrás pelo Velho Castelo. Para a edificação do templo, quase todos os coqueiros tiveram que ser derrubados. Três anos após o início da construção e de muito sacrifício comunitário, a nova igreja finalmente foi inaugurada no dia 20 de janeiro de 1955, com missa rezada pelo padre Severino Bezerra, então pároco de Goianinha. A partir desse dia, a comunidade passou a comemorar todo dia 20 de janeiro, o dia do Santo Padroeiro com as festividades em sua homenagem.
Na atual igreja, ainda existe a primeira imagem de São Sebastião, não medindo mais que 15 cm, que era venerada pelos fiéis, desde o tempo da igreja velha, na época construída de taipa e coberta com palhas de coqueiro. Durante as procissões, como não havia andor, a imagem era conduzida nas mãos ou nos ombros dos fiéis. Por ser muito pequena, foi essa a maneira encontrada para que, durante o percurso da procissão, todos pudessem apreciá-la.
Em 1952, o poeta Antonio Pequeno pediu, em nome dos nativos, a Aguinaldo Simonetti, que fizesse doação de uma imagem do padroeiro em tamanho maior, que seria melhor apreciada, tanto no seu nicho, como por ocasião das procissões. Cumprindo o prometido, no ano seguinte, chega a cidade de Goianinha vinda diretamente do Rio de Janeiro, uma imagem do santo feita em bronze, com média de 50 cm de altura, e pesando uns 25 kg. No dia que chegou a Goianinha trazida pelo próprio Aguinaldo, por coincidência, Antonio Pequeno se encontrava em Goianinha, pois era dia de feira. Muito emocionado e agradecido pelo presente, ele enviou mais que depressa um portador à Pipa, para comunicar a boa nova e preparar a comunidade para a chegada da imagem, prometido para a boquinha da noite.
O próprio Antonio Pequeno se encarregou do traslado da imagem para a praia da Pipa. Chegando no horário previsto, a comunidade recebeu a nova imagem com festa e admiração, principalmente pela sua imponência e riqueza de detalhes. Por ter sido confeccionada em bronze, material desconhecido pela população, por ser amarela, alguns achavam que era feita de ouro.
Naquele mesmo ano, no dia 19 de janeiro, a imagem seguiu em procissão, carregada nos ombros dos fiéis, como era tradição, que ostentavam orgulhosos aquele presente vindo de terras distantes. Cada homem a conduzia por um determinado tempo devido ao seu peso, mas também pelo orgulho e a oportunidade de tal honraria. Após algumas procissões a comunidade solicitou ao mesmo doador que lhes trouxesse uma imagem menor pesada, de maneira que os fiéis pudessem, sem grandes sacrifícios, conduzi-la da forma tradicional, ou seja, nos ombros durante todo o percurso. Novamente atendida em seu pleito, a comunidade foi contemplada com uma nova imagem feita de gesso.
Depois de algumas reuniões, os fiéis resolveram colocar a imagem de bronze em um pedestal construído a mando do próprio Aguinaldo, em cima de uma pedra, na beira-mar, próximo ao porto dos barcos. Desde então ficou conhecido como São Sebastião da Pedra.
Os primeiros pedestais foram feito com pedras de recifes do coral, abundantes no local. Com o tempo e a força das ondas que neles batiam, durante as marés de enchente, terminavam por derrubá-los depois algum tempo.
Ao longo de todos esses anos, outros pedestais foram construídos e tiveram o mesmo destino. Quando acontecem às marés de cavação, ainda podemos ver pedaços de alguns deles, em volta da pedra principal. O último, construído de maneira tradicional, foi erguido em 1980 por Telis Simonetti, em pagamento a uma promessa. Resistiu mais tempo ao impacto das ondas por ter utilizado em sua construção a técnica do concreto armado. Mesmo assim, em abril de 2003, durante uma violenta maré esse pedestal também sucumbiu às forças da natureza. Desta vez, com maior gravidade, pois com sua queda a imagem presa a ele foi bastante danificada.
Surgia nessa ocasião à oportunidade que eu esperava para, a exemplo do meu sobrinho, também pagar uma promessa que havia feito em 2001. Prometi erguer naquele local um pedestal que não mais fosse derrubado pelas ondas, e a partir daquela data, seria minha a responsabilidade da manutenção daquele monumento. E assim foi feito.
No dia 16 de junho de 2003, chega à Pipa, depois de passar por uma minuciosa restauração em Natal, a imagem do santo padroeiro. A torre, feita em aço inox e imitando uma bóia náutica para que não oferecesse resistência às grades marés, já estava bem fixada na pedra aguardando à hora de receber a imagem. A mesma chegou à Pipa, em uma manhã ensolarada, trazida por mim e minha família em uma alegre carreata desde a cidade de Natal.
A primeira parada foi na casa de Joaninha de Zé de Hemetério, onde uma multidão se “acotovelavam” desde cedo curiosa para ver o resultado da restauração e ansiosa para aclamar o seu padroeiro. E não foram decepcionados. Entre cantos de louvor e ladainhas, o Padroeiro foi conduzido em procissão, pelas principais ruas da praia até a igreja onde o monsenhor Armando, pároco de Goianinha, abençôo a imagem em missa bastante concorrida.
À tardinha, com a maré baixa, seguiu em procissão até a pedra, onde foi novamente entronizado, olhando para o nascente e abençoa toda a nossa comunidade e seus visitantes.
Pipa, 10 de janeiro de 2010.
Muito bom seu blog.
ResponderExcluiracesse o meu tbm.
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