ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Genealogista e historiador)
PIPA, primeiros habitantes
Foram os índios da tribo Potiguares seus primeiros habitantes. Porém, desde o ano de 1587, já se registra a presença dos franceses no nosso litoral. Posteriormente chegam também os holandeses. Estes, ao contrário dos franceses, estavam mais interessados em tomar terras para o plantio de cana-de-açúcar. A primeira tentativa para verificação dessas terras, foi feita em 1625 pelo capitão Uzeel, no comando de uma patrulha que chegou “furando mato desde a Bahia da Traição até o engenho Cunhaú”, no Rio Grande. A esquadra com 34 navios aportou no vizinho estado da Paraíba, em julho desse mesmo ano, comandada pelo almirante Balduíno Hendriczoon que, não podendo socorrer o governo flamengo na Bahia, navegavam em direção ao norte.
Já os corsários franceses que aqui chegaram junto com os flibusteiros, piratas dos mares da América, tinham como objetivo inicialmente, a prática do escambo com nossos indígenas. Posteriormente optaram pelo roubo deliberado do pau-brasil. Utilizaram-se inclusive dos nativos para cortar e transportar o pau de tinta, como era chamado o nosso pau-brasil, até o local denominado “Porto Madeira”, em Itacoatiara, nome primitivo da Pipa. Hoje o local é conhecido como Ponta do Madeiro. De cima da falésia, as toras eram jogadas até a praia. Permaneciam na enseada de águas calmas, até serem içadas para suas naus que partiam com destino ao porto de Dieppe na França.
O contrabando do pau-brasil, durou por vários anos e milhares de toras foram saqueadas de nossas matas e enviadas para a Europa. Os índios já utilizavam à tinta vermelha que extraíam da madeira na pintura do corpo em diversos rituais. Foi essa a razão que levou, principalmente os franceses, a exercerem durante anos, forte contrabando do pau-brasil, para a Europa. O que pensavam ser inesgotável, acabou por levar, ao longo de anos de exploração, a quase extinção da nobre madeira que emprestou seu nome ao do nosso país.
Por volta do ano de 1800, aporta na Pipa o português José Castelo da Silveira. Era mestre de carta de uma barcaça que fazia o transporte de mercadorias entre o Rio Grande do Norte e o porto do Recife. Histórias repetidas pela oralidade, dão conta que quando o “Velho Castelo”, como passou a ser chamado, desembarcou na praia, viu passando uma moça muito bonita e que lhe chamou bastante à atenção. Perguntou a um dos presentes: será que o pai daquela moça me dá ela em casamento? O interrogado respondeu afirmativamente e após perguntar ao futuro sogro e dele receber a aprovação, viajou para Portugal onde morava sua família, com promessa de breve retorno para o casamento. Três meses depois desse encontro, estavam casados. A moça se chamava Rita, por apelido, Cobrinha. Era filha de José Gomes de Abreu, antigo morador da comunidade.
Tornou-se sócio do sogro em uma barcaça menor que o mesmo já possuía, e continuou com a mesma atividade de antes. Transportava principalmente o sal de Areia Branca e Macau; o açúcar mascavo e a aguardente, produzidas nos engenhos de Goianinha, além de madeira, farinha de mandioca, látex extraído da mangabeira, peixe seco e óleo de carrapato, como chamavam o óleo extraído da mamona. Quando partia do porto da Pipa, as barcaças faziam paradas nos portos de Barra do Cunhaú, em Canguaretama; na Baía da Traição e em Cabedêlo, na Paraíba e finalmente no porto do Recife seu destino final. De lá, parte dessa mercadoria como a açúcar mascavo, óleo de mamona, sal e o látex de mangabeira, seguia para a Europa. Histórias passadas de pai pra filho, acrescidas de uma boa dose de fantasia, contam que o pagamento por esses produtos era feito com moedas de ouro ou prata que se media
Além da família de José Gomes, moravam na Pipa as famílias: dos Costas, oriunda do sertão mas que chegou inicialmente em Cabeceiras; a de Manoel Pequeno, a família de Honorato Urubu e a mais antiga que era a dos Hermógenes. Tempos depois chega a família Pegado. Essas famílias chegavam à Pipa geralmente fugindo dos longos períodos de estiagem que atingiam as povoações localizadas no sertão.
Inicialmente as terras da Pipa pertenciam aos moradores do arruado de Cabeceiras, localizado a poucos quilômetros da praia. Esses indivíduos devem ter chegado a essa localidade provenientes dos municípios de Vila Flor e Canguaretama, pelas suas proximidades. Nessa época, quando os habitantes da Pipa queriam adquirir algum pedaço de terra, dirigiam-se a Cabeceiras e lá negociavam diretamente com seus moradores, o valor da área pretendida.
Essa crônica faz parte do livro “A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS, a sua verdadeira história”. De autoria de Ormuz Barbalho Simonetti, tem publicação prevista para o ano de 2010. ormuzsimonetti@yahoo.com.br
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