segunda-feira, 20 de julho de 2015

O IHGRN ABRE SUAS PORTAS PARA REGISTRAR O CENTENÁRIO DO AMÉRICA FUTEBOL CLUBE - 14-7-1915

Por solicitação dos dirigentes do América Futebol Clube, o Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte realizou sessão solene para registrar a passagem dos 100 anos de fundação do Clube alvirubro, ocorrida nas cercanias do próprio Instituto no dia 14 de julho de 1915.





 A sessão foi presidida pelo Vice-Presidente Ormuz Barbalho Simonetti em razão de problemas de saúde ocorridos com o Presidente Valério, participando da Mesa dos Trabalhos os ex-Presidentes Fernando Nesi, Jussier Santos e o Presidente em exercício Hermano Morais, além dos Secretários do Instituto Carlos Gomes e Odúlio Botelho e o representante do Prefeito de Natal, Dr. Luiz Eduardo Machado, Secretário de Esporte e Lazer .
 O auditório ficou lotado, além de grande contingente de americanos e americanas que assistiram a solenidade em um telão colocado no Largo Vicente de Lemos


Para falar pelo Instituto o Presidente Valério Mesquita designou o Secretário Geral e torcedor do América, escritor e pesquisador Carlos Roberto de Miranda Gomes, que fez alguns registros interessantes, dos quais resumidos os seguintes:


Fundação do América Foot Ball Club
e fundadores

Apesar dos precários registros documentais, é absolutamente exato que o clube foi fundado no dia 14 de julho de 1915, feriado nacional comemorativo da “Queda da Bastilha”, na França, fato ocorrido ironicamente na residência do Desembargador Joaquim Homem de Siqueira Cavalcanti (não apreciava futebol), situada na Rua Vigário Bartolomeu, possivelmente nº 565, antiga Rua da Palha na Cidade Alta, precisamente em uma dependência onde ocupavam os irmãos Carlos e Oscar, que dava para o Beco da Lama, depois Rua Vaz Gondim (há indicações dos nºs  598 e 600) e hoje Rua Professor José Ivo, onde se reuniram 15 desportistas. Hoje o imóvel não tem mais fundos para o Beco da Lama, pois foi vendida uma parte para loja que fica na Rua Ulisses Caldas, esquina com o Beco).

O novo clube recebeu inicialmente o nome de América Foot Ball Club, expressão inglesa muito em voga, quinze dias depois da fundação do ABC que, no futuro, tornar-se-ia o seu principal adversário.

Acrescente-se, por oportuno, que antes da data da fundação oficial houve uma reunião preparatória realizada informalmente no dia 11 de julho na residência do Senhor Manoel Coelho de Souza (Inspetor da Alfândega), localizada à Rua Nova, que contemporaneamente recebeu o nome de Av. Rio Branco, local onde posteriormente funcionou, por muito tempo, a Livraria Universitária. Foi nessa reunião preliminar que se aprazou a fundação oficial para o dia 14, por ser feriado nacional. (Informações colhidas de depoimentos que afirmam ter sido declaração do Doutor Oscar Siqueira). Contudo, tendo por base declarações do grande desportista e americano Gil Soares, nessa fundação teriam comparecido 27 jovens nas dependências onde servia de sala de estudos dos irmãos Coelho, inclusive Manoel Coelho Filho teria participado da primeira diretoria presidida por Getúlio Soares.

Certamente essa diferença entre 15, 27, 34, 36 ou 38 fundadores se justifica pelo do fato de que nem todos estiveram numa única reunião ou assinaram a lista de presença, mas que se agregaram nas seguintes até o registro do estatuto, situação muito comum na fundação de entidades. Assim, damos fé a todas as versões, haja vista que o ocorrido não descaracteriza o grande número de desportistas interessados na criação do América, ficando assim a relação, pela ordem alfabética:

São fundadores nas versões comparadas de Gil Soares, Oscar Siqueira, José Rodrigues de Oliveira, Miguel Leandro, Carlos Barros, Lauro Lustosa, Fernando Nesi e Luiz G.M.Bezerra:

1 – ABEL VIANA, estudante e foi proprietário de uma das mais tradicionais padarias de Natal;
2 – AGUINALDO CÂMARA, conhecido por “Barba Azul”, irmão da Profª Belém Câmara;
3– AGUINALDO FERNANDES DE OLIVEIRA, filho do Des. Luiz Fernandes;
4 – AGUINALDO TINOCO, filho do Cel. João Juvenal Pedrosa Tinoco, chefe da firma Pedrosa & Tinoco & Cia.;
5 – ANIBAL ATALIBA, filho do velho Ataliba, da Estrada de Ferro Central /RN e grande amigo do trovador João Carlos de Vasconcelos;
6 – ANTONIO BRAGA FILHO, empregado da “Casa Lotérica”, de Cussy  de Almeida;
7 – ANTONIO DA ROCHA SILVA (Bidó), cunhado do falecido Aurélio Machado França, funcionário federal;
8 – ANTONIO TRIGUEIRO, empregado da Loja “O Amigo do Povo”, de Felinto Manso, na Praça do Mercado, Cidade Alta;
9 - ARARY DA SILVA BRITO, funcionário do Ministério da Fazenda, Oficial Administrativo da Alfândega/Natal e de Tributos Federais da Alfândega/RJ;
10 - ARMANDO DA CUNHA PINHEIRO, filho do Prof° João Tibúrcio e falecido como tenente do Exército;
11 – AUGUSTO SERVITA PEREIRA DE BRITO (Pigusto), funcionário do Departamento de Segurança Pública do Estado;
12 - CAETANO SOARES FERREIRA, amazonense e irmão do 2° Presidente Getúlio Soares Ferreira;
13 – CARLOS DE LAET, filho de João Antonio, da Brigada do Exército;
14                    – CARLOS FERNANDES BARROS, fiscal de Consumo, aposentado;
15 – CARLOS HOMEM DE SIQUEIRA, funcionário da Estrada de Ferro Central do Brasil/RN;
16 – CLINIO BENFICA, estudante, nascido em Baixa Verde (hoje João Câmara);
17 – CLOVIS FERNANDES BARROS, comerciário, passou a residir em Recife/PE;
18 – CLODOALDO BAKKER, estudante e funcionário federal;
19 - EDGAR BRITO;
20 - EUCLIDES OLIVEIRA, nome acrescentado pelo tabelião Miguel Leandro;
21 - FRANCISCO LOPES DE FREITAS, chefe do expediente da Prefeitura de Natal e do Dep. De Finanças e campeão de bilhar em Natal, amante do remo e apontado como 1º Presidente do América no período de 14/7 a 14/12/1915.  Assinala-se o nome de FRANCISCO LOPES TEIXEIRA também apontado como 1º Presidente, o que nos leva a acreditar, pela similitude do nome, se trate da mesma pessoa;
22 – FRANCISCO PEREIRA DE PAULA (Canela de Ferro), estudante e funcionário público;
23 – FRANCISCO REIS LISBÔA, estudante falecido ainda jovem;
24 – GETÚLIO SOARES FERREIRA, 2° Presidente do América por eleição direta por aclamação (15/12/15 a 14/12/16). Era campeão de Natação pelo Centro Náutico Potengi, tendo treinado para uma das Olimpíadas. Amazonense, ingressou no Banco do Brasil e serviu em Natal;
25 - JOAQUIM REVOREDO, nome apontado pelo tabelião Miguel Leandro;
26 – JOÃO BATISTA FOSTER GOMES SILVA (Padaria), funcionário de “A República” e responsável pela cobrança/América;
27 – JOSÉ ARAGÃO, estudante e funcionário público;
28 – JOSÉ ARTUR DOS REIS LISBÔA, estudante, irmão de Francisco, ambos filhos do Capitão do Porto, Reis Lisboa, intelectual, foi Delegado de Policia em Recife;
29 – JOSÉ FERNANDES DE OLIVEIRA (Lélio), estudante. A família residia no “chalet” da av. Rio Branco, onde morou o Dr. Solon Galvão, esquina com a rua Apodi;
30 – JOSÉ LOPES TEIXEIRA, comerciário e irmão de Francisco Lopes Teixeira (de Freitas), 1° Presidente eleito, por aclamação, na reunião de fundação;
31 – LAURO DE ANDRADE LUSTOSA, empregado da firma Olimpio Tavares & Cia.;
32 – LUCIANO GARCIA, estudante, posteriormente funcionário público;
33 – MANOEL COELHO DE SOUZA FILHO, estudante, que muito se esforçou para as atividades do clube. Faleceu no Rio de Janeiro;
34 – MARIO MONTEIRO, irmão do falecido telegrafista Orlando Monteiro.  Trabalhava no semáforo da torre da Catedral;
35 – NAPOLEÃO SOARES FERREIRA, irmão de Getúlio e Caetano Soares Ferreira;
36 – OSCAR HOMEM DE SIQUEIRA, estudante, atleta e Presidente do América, que alcançou o alto posto de Desembargador, como seu pai Joaquim Homem de Siqueira;
37 – SIDRACK CALDAS, irmão de Abdenego Caldas, figura ilustre da cidade;
38 – VITAL BARROCA, eleito Vice-Presidente para a segunda gestão, iniciada em 15/12/1915.

      No encerramento da sessão aconteceu um fato inusitado: O orador da noite, escritor Carlos Gomes pediu a palavra e leu os primeiros versos do Hino Oficial do América e em seguida indagou se alguém conhecia, gerando um rebuliço na platéia pois os torcedores tinham acabado de entoar o hino no final da missa que antecedeu a solenidade. Então o orador disse, pois um dos autores do hino está aqui no recinto e ao se apresentar o empresário musical HILTON ACIOLI foi aplaudido de pé e em seguida suportou uma maratona de fotografias com os presentes. Foi um momento de total contentamento, coroando um dia de comemorações. Um pouco da história:

O hino oficial, assim reconhecido pela família americana e constante do seu site oficial é a composição dos componentes do Trio Marayá - letra de Behring Leiros e Hilton Acioli e música de Marconi Campos, com a denominação “Eu sou América”:
 
Eu sou América
Marcha
Música: Marconi Campos
Letra: Behring Leiros e Hilton Acioli
Int.: Trio Marayá

Ficha Técnica
Gravação Especial -
Compacto Simples  PCS 40.006  de 1973
Gravado no Estúdio Eldorado em São Paulo-SP
Técnico Flávio Augusto - Marcus Vinícius- Luiz Carlos
Uma promoção Exclusiva da S. S. Propaganda LTDA
Natal.


O nosso time mostra a sua raça no jogo,
É o América, América
Vai conquistando o coração do povo no jogo,
E na torcida eu sou América
Eu sou América e tenho orgulho de ser,
Porque o América em tudo é o melhor
É alegria no esporte e no futebol
América, América (Bis)
Meu coração vibra nas suas cores
Eu sou América, América
É uma canção que canta mil amores, enfim,
Cantou América, América
Vamos em frente gente Americana
Mostrar que o nosso time entrou pra valer
Bola pra frente, quero ver jogando pra ganhar
América, América (Bis)

Outra Gravação Especial – Pedrinho Mendes
CD  - América é sucesso  ao Vivo  - Ano 1998
Gravado no Estúdio Companhia do Som-RN (Lula)
Técnico Eli Medeiros
Produzido por Alex Padang - Natal.
Fonte Acervo da Música Popular (Leide Câmara)

O produtor Hilton, ladeado pela escritora Leide Câmara, Odúlio Botelho e Carlos Gurgel, os dois últimos membros da Comissão de Recepção, juntamente com o orador da solenidade.
O Presidente Hermano Morais com Hilton Acioli e Leide Câmara

O público aplaude o ilustre visitantes e o fez por tempo demorado, inclusive todos ficaram de pé e felizes.

Foi uma solenidade histórica e importante para as duas Instituições - IHGRN e o Centenário América Futebol Clube (1915-2015.

Do blog do IHGRN.

segunda-feira, 13 de julho de 2015

LANÇAMENTO DE LIVRO -



Previsto para a segunda quinzena do mês de outubro, o lançamento da segunda edição do livro A PRAIA DA PIPA DO TEMPO DOS MEUS AVÓS. A edição especial terá nova capa com fotografia de Gustavo Mitilene que também participa com várias outras fotos. 

O livro será confeccionado em papel couche valorizando assim a beleza das paisagens, fotos e gravuras que fazem parte dessa edição. Haverá um acréscimo de 120 páginas e 230 fotografias e imagens coloridas, perfazendo um total de 526 páginas e 660 fotos/imagens. Nele o leitor terá a oportunidade de conhecer histórias e estórias de um dos balneários mais belos do nosso país, conhecido internacionalmente por suas belezas naturais, além de fauna e flora exuberantes e incomparáveis.    

                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                          

domingo, 5 de julho de 2015

A TURFA NO RIO GRANDE DO NORTE

O Professor e Acadêmico Janilson Dias de Oliveira (Cadeira número 14 da ACLA), é o autor de uma pesquisa sobre a TURFA, um mineral que enriquece o solo cearamirinense.

A Turfa é uma substância mineral, que se origina na matéria orgânica depositada nas várzeas dos rios durante um longo período geológico. Com a umidade, a matéria ali depositada não sofre decomposição e transforma-se neste mineral. É uma rocha com alto teor de substâncias húmicas e com capacidade de segurar água e sais minerais, além de reter vários metais pesados, contribuindo para o equilíbrio do meio ambiente.
Sobre o assunto, assim fala o Professor Janilson.
A TURFA NO RIO GRANDE DO NORTE


A origem dos combustíveis fosseis teve origem
a milhares de anos, em decorrência dos fenômenos naturais que provocaram a acumulação de quantidades significativas de matéria orgânica na superfície do solo. Esses depósitos foram ao logo dos anos, sendo encobertos por novas camadas, proporcionando transformações químicas importantes para a formação dessa substância. Dessas transformações encontramos o carvão mineral, o linheto e a TURFA. De outras cadeias, originam-se o petróleo, o gás natural e folhelhos betuminosos.
A TURFA é parte do estágio incipiente da formação do carvão mineral, sendo, portanto, considerado um mineral formado nos últimos dez mil anos, resultante do atrofiamento e da decomposição incompleta do material lenhoso e de arbustos, musgos e liquens em condição de umidade excessiva.
No Nordeste essas turfeiras são encontradas nos estados de Alagoas, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. 
As turfeiras concentram-se na faixa costeira com uma reserva de 243 milhões de metros cúbicos. No Rio Grande do Norte é encontrada no baixo vale dos rios em Ceará-Mirim, Piranhas, Trairi-Arari, Maxaranguape e Riacho Pau Brasil (graju), Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM) 840.063/84 a maior reserva medida da TURFA é de Ceará-Mirim, que avulta em 1.182.000 toneladas em base seca. Convém ressaltar que a maior parte das turfeiras estão encobertas por canaviais, mesmo sabendo-se que o poder calorífico da TURFA é três vezes superior ao bagaço da cana usado nas caldeiras. Mesmo assim, faz-se opção pela cana de açúcar, que é um recurso energético renovável, ao contrário da TURFA. Segundo Ramos, 1982 apud Franchi, 2004, dependendo de suas características e eventuais tratamento, podem-se produzir, a partir da TURFA, gazes combustíveis, coque, ceras, açucares, carvão ativado, asfalto, álcool, parafinas, óleos, gasolina, querosene, lubrificantes, fertilizantes organo-minerais e de solubilidade controlada. Outras utilizações da TURFA: na agricultura como insumo para a produção de condicionamento do solo, biofertilizantes, substrato de mudas ou aplicação in natura no solo e principalmente na horticultura.
Bibliografia;
AGUAR, S. Catão. Fontes energéticas brasileiras - inventário/tecnologia: TURFA. CHESF, RJ, 1987.
FRANCHI, J. Guilherme. A Utilização da TURFA como adsorvente de metais pesados. Tese de doutorado – USP, SP, 2004.
RAMOS,B.V.; LIMA, Francisco C.A. TURFA: salvação energética para o Nordeste? In: Congresso Brasileiro de Geologia – Anais, Salvador, 1982.

quarta-feira, 1 de julho de 2015

PRINCIPAIS MUDANÇAS NA ORTOGRAFIA


Professora Maria da Conceição Paiva (Ceiça Paiva).

A partir desta quarta-feira, vamos estudar as principais mudanças na ortografia da língua portuguesa, de acordo com a 5ª edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP), publicado pela Academia Brasileira de Letras, em março de 2009. 
Histórico - O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa foi assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990, para unificar o registro escrito nos oito países que falam português: Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe e, posteriormente, por Timor Leste. 

No Brasil, o Acordo foi aprovado pelo Decreto Legislativo nº 54, de 18 de abril de 1995. Desde 1º de janeiro de 2009, passou a vigorar no Brasil e em todos os países da CLP (Comunidade de países de Língua Portuguesa) o PERÍODO DE TRANSIÇÃO para as novas regras ortográficas que se finaliza em 31 de dezembro de 2015. "Termina nesta quarta-feira (13) o prazo de seis anos para os portugueses adotarem o jeito de escrever do Novo Acordo Ortográfico. 

No Brasil, a fase de transição termina oficialmente em 1º de janeiro de 2016. A nova ortografia já é muito usada nos dois países. Mas em Portugal, ainda tem muita gente que contesta o Acordo Ortográfico." (Jornal Hoje - Lisboa, Portugal -André Luiz Azevedo- Edição do dia 12/05/2015) A reforma Ortográfica prevê mudanças na língua portuguesa, como O FIM DO TREMA, A SUPRESSÃO DE CONSOANTES MUDAS, NOVAS REGRAS PARA O EMPREGO DO HÍFEN, INCLUSÃO DAS LETRAS W, K e Y ao IDIOMA, além de NOVAS REGRAS DE ACENTUAÇÃO. OBS.: Esse Acordo é meramente ortográfico; portanto, restringe-se à língua escrita, não afetando nenhum aspecto da língua falada. 
ACORDO ORTOGRÁFICO - PRINCIPAIS MUDANÇAS 

01. MUDANÇAS NO ALFABETO O alfabeto passa a ter 26 letras. Foram reintroduzidas as letras K, W e Y. Essas letras, que na verdade não tinham desaparecido da maioria dos nossos dicionários, são usadas em várias situações: 
a) na escrita de símbolos de unidades de medida: km (quilômetro), kg (quilograma), w (watt); 
b) na escrita de palavras estrangeiras (e seus derivados): show, playboy, windsurf, fu, yin, yang, kafka, kafkiano... 

02. TREMA Não se usa mais o trema (¨), sinal colocado sobre a letra U para indicar que ela deve ser pronunciada nos grupos GUE, GUI, QUE, QUI. COMO ERA: conseqüência, cinqüenta, freqüência... COMO FICOU: consequência, cinquenta, frequência. Entretanto, sua permanência ainda incide sobre os nomes próprios e seus derivados. Exemplos: Müller – mülleriano – Hübner – hübneriano... 

03. ACENTUAÇÃO - O QUE MUDOU - Não se usa mais o acento dos ditongos abertos ÉI e ÓI das palavras paroxítonas (palavras que têm acento tônico na última sílaba) 
COMO ERA.................... COMO FICOU

apóia (verbo apoiar)....... apoia
assembléia..................... assembleia
bóia................................. boia
colméia........................... colmeia
geléia.............................. geleia
idéia................................ ideia
jibóia............................... jiboia
epopéia........................... epopeia
estréia............................. estreia
jóia.................................. joia
platéia............................. plateia
heróico............................ heroico
ATENÇÃO: essa regra é válida somente para as palavras PAROXÍTONAS; assim, continuam a ser acentuadas as palavras oxítonas e os monossílabos tônicos terminados em ÉIS e ÓIS. Exemplos: herói, heróis, dói, papéis, coronéis... 

03.1 - Nas palavras PAROXÍTONAS, não se usa mais o acento no I e no U tônicos quando vierem depois de um ditongo decrescente. Exemplos: 
COMO ERA............................ COMO FICOU
Baiúca (bodega, taberna)....... baiuca
bocaiúva (palmeira) ................bocaiuva
cauíla (mesquinho)................. cauila
feiúra.......................................feiura

ATENÇÃO: 
a) se a palavra for oxítona e o ''I" ou o "U" estiverem em posição final (ou seguidos de S), o acento permanece. Ex.: tuiuiú, tuiuiús, Piauí. 
b) Se o "I" ou o "U" forem precedidos de ditongo crescente, o acento permanece. Ex.: Guaíba, Guaíra
RELEMBRANDO: DITONGO: quando dois sons vocálicos (vogais) estão juntos na mesma sílaba. Ex.: pEIxe, sAUdade, pAIxÃO... 

Para entendermos como acontece a classificação de crescente ou decrescente, temos que saber distinguir uma vogal de uma semivogal. Toda vez que uma vogal está sozinha na sílaba, ela classifica-se como vogal, mas quando ela está junto a outra vogal ela pode ficar em menos evidência, mais “fraca” ou “escondida”, estas são as chamadas semivogais. Ex: APAIXONADO: neste caso a sílaba -PAI- contém duas vogais. A mais aberta ou “forte” é a letra A, enquanto que a letra I é mais fechada e “fraca”. Neste caso, diz-se que é a junção da vogal A + a semivogal I. 

3.2 - Não se usa mais o acento das palavras terminadas em ÊEM e ÔO(s) 

COMO ERA............ COMO FICOU
abençôo.................. abençoo
crêem (v. crer)........ creem
dêem (v. dar).......... deem
enjôo....................... enjoo
lêem (v. ler)............. leem
magôo.....................magoo
perdôo.....................perdoo
povôo...................... povoo
vêem (v. ver)........... veem
vôos........................ voos
zôo.......................... zoo

Por hoje é só; na próxima quarta-feira estudaremos um pouco mais sobre as mudanças nas regras de acentuação, conforme o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa.


quinta-feira, 25 de junho de 2015

ORIGEM DA FESTA JUNINA - PUBLICADA NO BLOG DA ACLA-

A Academia de Letras e Artes Pedro Simões Neto (ACLA) brinda seus leitores contando as origens dos festejos juninos (Santo Antônio, São João e São Pedro): as quadrilhas, os fogos de artifícios, as comidas típicas, as fogueiras, o vestuário, as músicas.
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Apesar de muito comemorada no Brasil, a Festa Junina tem origem nos países católicos da Europa, que prestavam a sua homenagem a São João, mas lá ela era chamada de Festa Joanina. Aqui no Brasil, a festa tem forte influência indígena e negra. Isso pode ser percebido nas músicas, que são as mesmas que foram cultuadas pelos negros, nos quilombos e nas senzalas, como o xaxado, o coco, o maxixe e até mesmo o próprio forró. Na alimentação, a presença forte do milho, canjica, pamonha, bolo de milho, milho cozido, pé de moleque, entre outras. As comidas típicas também são símbolos juninos, como forma de agradecimento pela fartura nas colheitas, principalmente do milho, a festa se tornou farta em seus deliciosos quitutes

No Brasil, a festa de São João é celebrada desde 1583. As tradições juninas, a Quadrilha, os fogos de artifício, o vestuário e a fogueira, têm origem diversa, conforme veremos a seguir: 
- A QUADRILHA veio da França. Era uma dança com passos inspirados nos bailes da nobreza europeia, surgida nos salões da corte francesa. Era chamada de “quadrille”. Na época da colonização do Brasil, os portugueses trouxeram essa dança, onde os participantes obedecem a um marcador, que usa palavras afrancesadas para indicar o movimento que devem fazer, tais como: “anavantur” (en avant tout), “anarriê” (en derrière), “avancê” (avancer), “balancê” (balancer), etc.). A mistura do linguajar matuto com o francês deu origem ao “matutês”, com humor e sotaque do interior nordestino. Nesta dança, é preciso seguir os comandos todos e no c’est fini das apresentações os casais se despedem acenando ao público. 

- OS FOGOS DE ARTIFÍCIO foram trazidos dos chineses, onde teria surgido a manipulação da pólvora para a fabricação de fogos. Há também quem diga que é uma forma de agradecer aos deuses pelas boas colheitas. São elementos de proteção, pois espantam os maus espíritos, além de servir para acordar São João com o barulho. 

- OS VESTIDOS RENDADOS e a DANÇA DE FITAS, são uma característica da Península Ibérica, bastante usados em Portugal e na Espanha. 

Todos estes elementos culturais foram, com o passar do tempo, misturando-se aos aspectos culturais dos brasileiros (indígenas, afro-brasileiros e imigrantes europeus) nas diversas regiões do país, tomando características particulares em cada uma delas. 
As festas juninas são comemoradas em todo o Brasil, entretanto na região Nordeste – onde chegou através dos padres Jesuítas – estas festas ganham uma grande expressão. Como é uma região onde a seca é um problema grave, os nordestinos aproveitam as festividades para agradecer as chuvas na região, que servem para manter a agricultura. 

- A FOGUEIRA é o maior símbolo das festas juninas. A história conta que as suas raízes são católicas. Se deriva de um trato feito entre as primas Isabel e Maria. Isabel acendeu uma fogueira sobre o monte para avisar a Maria do nascimento de São João Batista e assim pedir a sua ajuda. Aqui no Brasil teve o integral apoio dos índios, que já adoravam dançar ao pé do fogo. 
Outros dizem que as fogueiras eram acesas na festa de São João para lembrar que foi ele quem anunciou a vinda de Cristo, o símbolo da luz divina. 

Há ainda quem considere a fogueira uma proteção contra os maus espíritos, que atrapalhavam a prosperidade das plantações. 
Por fim, há aqueles que utilizam a fogueira apenas para se aquecer e unir as pessoas ao seu redor, já que a festa é realizada num mês frio.
As brasas da fogueira também são um exemplo dessas tradições: assim que se apagam, devem ser guardadas. Conservam, desse modo, um poder de talismã que garante uma vida longa a quem segue o ritual. Talvez por isso algumas superstições dizem que faz mal brincar com fogo, urinar ou cuspir nas brasas ou arrumar a fogueira com os pés. 

Em Ceará-Mirim, no sítio Ilha Grande, o seu proprietário, que se chamava João, saudava o santo do seu nome, soltando dezenas de foguetões, dizendo que era pra acordar São João, que dormira o ano inteiro. Ainda nesse sítio costumava-se acender fogueiras, a cada ano maiores. Quando as labaredas da fogueira se apagavam, sobrando as brasas, que eram abanadas para ficar mais acesas, o seu filho, Paulo da Cruz, descalço, passava sobre o braseiro e nunca queimou seus pés.

Também nesse sítio, em homenagem ao São João, adultos e crianças, amigos e filhos dos amigos, moradores e seus filhos também realizavam o culto do batismo, do parentesco (primos) e até casamentos à beira da fogueira.

OBRA E SÍTIOS CONSULTADOS:
Spineli, Maria da Conceição Cruz – MEMÓRIAS DO TIMBÓ, À SOMBRA DA TIMBAUBA


terça-feira, 16 de junho de 2015

O “BARÃO” DO DIAMANTE


No “Livro das velhas figuras”, o mestre Luís da Câmara Cascudo conta uma estória no mínimo curiosa, que se passou no Ceará-Mirim do início do século XIX.
Diz-nos que Miguel Ribeiro Dantas, Barão de Mipibu, casara-se em 1824, com uma prima, Dona Maria, filha do abastado português Antônio Bento Viana, dono do engenho Carnaubal e benemérito da paróquia, a quem havia doado terras de sua pertença onde hoje correm as ruas da cidade de Ceará-Mirim, conhecidas como “terras da Santa”.

Como era hábito, o casamento realizou-se na casa da noiva e, a pedido da consorte, o Barão demorou-se por mais de um mês na casa do sogro. Certo dia, chamou a mulher para acompanha-lo à sua residência em São José de Mipibu e a noiva preferiu demorar-se mais na sua cidade. O Barão, teimoso, manteve-se no propósito de retornar à sua cidade e partiu sem a noiva, deixando-a grávida.

Nunca mais retornou para buscar a noiva e nem esta o procurou. Teimosos e caprichosos os dois.
Em 1825 nasceu Miguel Ribeiro Dantas, o terceiro com o mesmo nome de família, que herdou a fortuna do avô português. Quando decidiu casar-se, escolheu uma tia, Dona Maria Angélica, oito anos mais velha que ele e irmã do seu pai. Toda a família se opôs, mas o terceiro Miguel era teimoso, segundo Cascudo, “por direito hereditário”.

Foi a São José de Mipibu acompanhado por uma escolta de quatorze escravos armados a bacamarte e raptou a sua escolhida. Tiveram apenas uma filha, Dona Maria Generosa, que veio de se casar com o Dr. Olinto José Meira, ex-presidente da Província do Rio Grande do Norte e pai do Juiz Meira e Sá.

O senhor de engenho, que ostentava o título de Coronel Comandante Superior da Guarda Nacional na Comarca de Ceará-Mirim, viveu até os setenta e quatro anos, criando fama de homem generoso, que gostava de auxiliar os necessitados e de mesa farta. Ainda louvado na narrativa de Cascudo “seus escravos, criados, libertos, amigos, conhecidos, aderentes e parasitas, gravitavam junto aquele núcleo irradiante de dádivas e benesses”.

Tinha paixão pelos cavalos, tratados à pão de ló, como se dizia antigamente. Tinha até um cavalo reservado para montaria do imperador. Dizia-se que o fidalgo cavalheiro daria o animal de presente ao governante quando recebesse o título de “Barão do Diamante”, o nome do engenho que havia adquirido.

Deu-se então um episódio que bem ilustra o bom humor, a tolerância e o amor aos cavalos do senhor de engenho. Vamo-nos valer da “verve” do sábio norte-riograndense:
“Um escravo de estimação, noitinha, selava um dos melhores cavalos de Miguel Ribeiro Dantas e galopava até a cidade, voltando pela madrugada. Uma vez, metido num ‘fobó’, esqueceu-se das horas e o sol nasceu. Assombrado com o próprio atrevimento, o escravo montou o cavalo e regressou, pensando no merecido castigo. Miguel Ribeiro, na calçada da Casa Grande, avistou, manhãzinha, o negro que, inconscientemente, fazia o animal esquipar, em ‘baralha-ata’, seguro e direito, como um ‘Marialva’. Assim entrou no pátio e, defrontando a figura severa do amo, o escravo ‘deu-de-rédeas’, sofreando a montada com tal ímpeto que esta, escorregando nas quatro patas, freadas pelo puxão furioso, deslizou até quase o alpendre, deixando um largo sulco, igual e reto, n’areia úmida. Miguel Ribeiro Dantas sacudiu os braços para o ar, num entusiasmo de conhecedor:
- É o que te valeu, negro dos seiscentos diabos! Vamos medir o risco!...
E, com o escravo, radiantes ambos, curvaram-se para medir o cumprimento da trilha traçada pelo cavalo.
Matéria publicada no "Jornal da Cultura de Ceará-Mirim", edição de agosto de 2010.


sexta-feira, 12 de junho de 2015

CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES


               Carlos Gomes tomando posse na Academia Macaibense de Letras


A Academia Norte-Riograndense de Letras recebe hoje, para ocupar a Cadeira número 33, o jurista, escritor e poeta CARLOS ROBERTO DE MIRANDA GOMES.

A trajetória de vida deste ilustre norte-riograndense, é pautada pela dignidade, pela competência e pela honradez. Sem sombra de dúvida, ele marcará presença na ANRL, com o seu brilho, como de costume o faz por onde passa: como advogado, como professor universitário, como presidente da OAB/RN, como Procurador do Tribunal de Contas do Estado, como Controlador Geral do Estado, como Presidente da Comissão da Verdade da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como membro da Academia Macaibense de Letras, como membro da ALEJURN, como sócio do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte. 

A Academia Cearamirinense de Letras e Artes “Pedro Simões Neto”-ACLA, que se fará presente à cerimônia, felicita o seu Sócio Benemérito, que continuará o trabalho de colaborar com os seus pares na condução das letras e da cultura do nosso Estado.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

O CARATAM – MAIS UMA SANTA CRUZ DO CEARÁ-MIRIM.

Franklin Marinho Barbosa de Queiroz



O CARATAM é uma pequena Santa Cruz, localizada, geograficamente, entre as localidades de Primeira Lagoa e da Fazenda Cavalcanti, em terras que antigamente pertenceram a Vital de Oliveira Correia (um conhecido político e fazendeiro cearamirinense, filho do Major Oliveira, da Guarda Nacional, falecido em 12/11/1968).

Desconheço a origem do nome CARATAM, mas sei que foi palco de uma passagem do fabulário do Ceará-Mirim, bastante curiosa.
Havia um cidadão de idade avançada, chamado João Maria, um vaqueiro, que também era curandeiro e benzedor. Era considerado um homem de “rezas fortes”, sobretudo quando se destinava a dominar o animais domésticos enfurecidos ou desaparecidos.

O velho costumava montar uma jumenta, na qual percorria estradas, à procura de gado sumido. Quando chegava no campo, em que pastava aquela rês, fazia uma pequena fogueira em baixo de uma árvore de grande porte, nela subia e, lá de cima, ficava jogando dentro da fogueira acesa, pedacinhos de sebo de gado, fazendo produzir uma fumaça muito cheirosa. E o velho ficava a rezar, pedindo para aquela rês aparecer. Repentinamente a rês aparecia para cheirar a fumaça da fogueira e, de onde ele estava, de cima da árvore, ele laçava certeiramente o animal. Em seguida, montava a sua jumenta e, com a rês dominada, a conduzia com facilidade, como se fosse um animal doméstico.

Numa dessas viagens, à procura de rês desaparecida, o velho não voltou mais. Foi a derradeira. A sua jumenta voltou só, chegando em casa sem a montaria e sem nada.
Tempos depois, um caçador, sentindo-se muito cansado procurou uma árvore que lhe protegesse, aos pés da qual deitou-se e adormeceu. Acordou-se com uma sensação de que estava sendo puxado, foi quando ele percebeu que havia se deitado em cima de um “couro velho”, mas que, na realidade, era uma perneira de vaqueiro, onde havia, dentro dela, uma caveira. Tudo isso estava coberta de folhas, amontoadas pelo tempo. Tal fato despertou a curiosidade do o caçador que, se aprofundando nas buscas, encontrou a caveira de um cachorro e uma velha sela. Aquela era a caveira de João Maria, o vaqueiro rezador, um homem de Deus.

Deduz-se que o velho João Maria, tendo se sentido mal, deitou-se naquele local, soltando a jumenta, que na certeza dele, iria para sua casa. Mas a cadela, fiel ao amigo, ali ficou, onde morreu de fome, mas continuou fiel ao seu escudeiro.

No local onde foi encontrada a caveira do velho João Maria, foi construída uma Santa Cruz, que passou a ser palco de visitação constante, de pessoas de vários recantos do nordeste, que ali chegavam para pagar promessas feitas ao homem santo, que continuou a ajudar as pessoas humildes depois de morto, com os seus pretensos milagres – de acordo com a crendice popular.
Não conheci o velho João Maria, que viveu em outra época, conheci o Venceslau, um sobrinho e filho de criação seu, herdeiro da sua arte. Era também curandeiro, embora vivesse de fazer relho de couro de boi e também velas, feitas de sebo de gado, que vendia nas portas das casas de farinha, no interior, montado também numa velha besta. Este foi amigo de meu pai.

A Santa Cruz eu conheci e, se o tempo ou o homem não a destruiu, está lá, para corroborar mais esta estória das história de Ceará-Mirim. 
Foram tempos que vivi, que de longe ficou. Vivo o Ceará-Mirim de hoje, com lembranças no passado.
Um dia ao acordar, eu disse:
Ceará-Mirim,
Não sei se te encanto ou desencanto
Mas é a ti
Que amo tanto.


Franklin Marinho é ocupante da Cadeira número 22 da ACLA


quinta-feira, 21 de maio de 2015

MITOLOGIA DO VALE DE CEARÁ-MIRIM: A ESTÓRIA DA BOTIJA NO ENGENHO SÃO PEDRO TIMBÓ


No nordeste (dizem...), os holandeses, jesuítas ou ricos fazendeiros, deixavam escondidas verdadeiras riquezas, que ficavam enterradas no chão, em paredes de taperas, em mourões de porteiras ou nas proximidades de grandes árvores, até que um dia, através de sonho, mostrava-se a um escolhido, o local exato onde estava aquele tesouro. No sonho era informado como se comportar para a retirada da “Botija. Sempre à noite e sem acompanhantes. Quem não cumprisse as determinações, não receberia o tesouro. E, com a fortuna nas mãos, a pessoa deveria se mudar para um lugar distante, caso contrário, não desfrutaria da riquezas.
O Ceará-Mirim também teve as suas “botijas”. Muito se ouviu falar das riquezas obtidas por esse meio, embora tudo estivesse no campo do “boato”. Hoje, finalmente, a Acadêmica Ceiça Cruz apresenta um desses casos, por ela vivenciado. 

MITOLOGIA DO VALE DE CEARÁ-MIRIM: 
A ESTÓRIA DA BOTIJA NO ENGENHO SÃO PEDRO TIMBÓ

Maria da Conceição Cruz Spineli, ocupante da Cadeira 19 da ACLA

Em Dicionário do Folclore Brasileiro, pág. 681, Câmara Cascudo afirma que tesouro significa “dinheiro enterrado, o mesmo que botija para o sertão do Nordeste, ouro em moedas, barras de ouro ou de prata, deixadas pelo holandês ou escondidos pelos ricos, no milenar e universal costume de evitar o furto ou o ladrão de casa, de quem ninguém evita”.
Ainda no mesmo verbete, Câmara Cascudo diz que “os tesouros dados pelas almas do outro mundo dependiam de condições, missas, orações, satisfação de dívidas e obediência a um certo número de regras indispensáveis, trabalhar de noite, ir sozinho, em silêncio, identificar o tesouro pelos sinais sucessivamente deparados [...]. O tesouro é encontrado unicamente por quem o recebeu em sonhos [...]. Se faltar alguma disposição, erro no processo extrativo, o tesouro transformar-se-á em carvão.”

Lá pelo Timbó também encontramos estórias de tesouros enterrados, de minas, botijas. O assunto era para adultos, mas as crianças curiosas escutavam. Falava-se em sussurros as coisas do além, do sobrenatural, de almas penadas querendo livrar-se do fardo da mina enterrada de que nada lhes servia no outro mundo. Geralmente o pedido da alma penada vinha sob a forma de sonho. 

No Engenho Timbó, um homem e uma mulher tiveram um sonho idêntico, na mesma noite, e logo cedo os dois confabulavam a experiência e se arvoraram na empreitada. A mulher me contou, anos depois, detalhes do sonho: que era um homem alvo e bonito, vestido com rica indumentária (inclusive me falava de abotoaduras douradas em sua roupa e nas botas), cortês e educado, e que lhe indicava a existência de um tesouro enterrado debaixo da tamarineira que ficava no meio do curral dos burros, no Timbó de Dentro. O homem do sonho era bem didático, riscando o chão com um graveto, para explicar-lhe com muita clareza o local exato onde enterrara o tesouro. 
Ela deveria sair de casa ainda escuro da madrugada, ele insistia que fosse cedo, antes do sol nascer. Que fossem só ela e o senhor que tivera o mesmo sonho, que fizessem orações no percurso e durante toda a operação, que levassem água benta e não portassem objetos cortantes, pontiagudos ou armas de fogo. No sonho, ele ficava de cócoras, mexia na terra com as mãos dizendo que a terra onde estava enterrado o tesouro era bem fofinha, que ela não teria dificuldades em encontrá-lo, que o sinal era uma bola de ouro que estaria amarrada a uma corrente, também de ouro, fechando a tranca de um caixão comprido.
Durante o sonho, enquanto conversava com o senhor bem trajado, aparecia uma mulher, maltrapilha, os poucos cabelos ralos desalinhados pelo vento. Ela parecia estar suspensa do chão. A figura acanhada não falava, só olhava com olhar vago e mortiço o senhor que dava detalhes de como proceder para a retirada da mina. Dessa figura, a mulher que me contou o sonho tinha medo, muito medo.
Depois de muito conversarem, resolveram sair em busca do local onde estava a mina. De cara, contrariaram quase todas as regras impostas pela alma penada doadora do tesouro. Saíram com o sol alto, levaram um grupo grande de pessoas com pá, enxada, até gente com arma de fogo na cintura. Eu acho que eles tinham medo de saírem ainda escuro e só os dois.
Começaram a retirada do tesouro, o homem mandava os trabalhadores cavarem com a enxada e a pá, e a mulher pedia que só usassem as mãos como lhe ensinara o doador da mina, no sonho; assim o fizeram. Na busca, começaram a ver a bola de ouro, o sinal anunciado no sonho, quando surgiu um enorme cachorro com os olhos de fogo e um dos trabalhadores que cavava o chão gritou: “ô cachorro da mulesta!”; o cachorro saiu em disparada e o local em que já aparecera a bola de ouro virou um imenso formigueiro.
A frustração da mal sucedida empreitada ainda persiste após muitas décadas. Conta-se que poucos dias após o ocorrido, um trabalhador com serviço alugado em tempo da safra da cana, e que se hospedava na casa grande do Zumba, no Timbó de Dentro, havia tirado essa mina nas caladas da noite. Esse homem desapareceu do engenho misteriosamente. No local onde estava enterrada a botija, só um grande buraco.


quarta-feira, 20 de maio de 2015

BARTOLOMEU CORREIA DE MELO




                 BARTOLOMEU CORREIA DE MELO 


Intelectual de primeira grandeza, foi um dos integrantes da equipe que idealizou a criação da ACLA. Depois, com o agravamento da sua saúde, desistiu de integrar a Academia, sob o pretexto de que “estava mais para Patrono do que para Acadêmico”, e a pilhéria, tristemente, tornou-se realidade. É o patrono da Cadeira número 25, ocupada pelo Acadêmico Ormuz Barbalho Simon
etti.
Bartolomeu Correia de Melo era cearamirinense por adoção. Amava tanto a terra dos canaviais, onde passou a melhor parte de sua infância, que a ela dedicou a sua literatura. Começou a escrever já maduro – com mais de cinquenta anos. Durante todo esse tempo, amadureceu a sua prosa e o vinho, doce que nem o mel de engenho, da devoção à sua cidade. 

Escreveu dois livros de contos, Tempo de Estórias e Lugar de Estórias em que o cenário é uma recriação do Ceará-Mirim de sua juventude, tornado imemorial pelas características universais e pela temática, atual ainda hoje. E os personagens são os tipos que povoaram aquela época, ora rebatizados e temperados com uma pitada deliciosa de ficção, onde o humor, as pequenas-grandes tragédias dos homens e mulheres do povo e os seus hábitos, são exibidos com invejável maestria. 

Além de uma prosa aliciadora, dessas que deixam saudade quando termina e que nos socorre da solidão, ele criou uma linguagem recolhida da fala do seu povo. Uma espécie de dialeto que os cearamirinenses e todos os que viveram à margem dos canaviais e dos engenhos de açúcar, entendem. Bartolomeu é criativo e original, tanto na tessitura das suas estórias, quanto no poder comunicativo da sua linguagem.

O escritor de “Tempo de Estórias” pode ser lembrado como um dos reinventores da “Escola de Ceará-Mirim” que, contemporaneamente apresenta expressões literárias como Franklin Jorge, Inácio Magalhães de Senna e Pedro Simões, entre outros, responsáveis pela recorrente busca de sua terra e pela criação de uma linguagem inserida neste contexto memorial.
O livro "Musa Cafusa" foi publicado após a sua morte.

TEOREMA
Passa da conta. A nossa tabuada
resulta um teorema esquisito:
"Eu mais você somados somos um,
pois, eu menos você, não resta nada,
num vazio de adeus quase irrestrito."
Nós anulados, sem fator comum,
somos inequação desesperada,
binômio sem afago nem afeto.
Pelo " princípio do pudor nenhum",
gemendo imprecisões, recalculamos
a tangente raiz do nosso grito;
teimando soluções, multiplicamos
razões pra dividir nosso infinito...
E assim, a divergir, nos igualamos,
nesse amor inexato, mas bonito.