sábado, 29 de dezembro de 2012

UMA VIAGEM INESQUECÍVEL – SEXTA PARTE


Duas coisas me chamaram a atenção na visita a Santiago do Chile: O bairro Providencia onde ficava o hotel, é de uma beleza singular. As ruas são tão limpas que causam inveja a nós brasileiros mal educados, acostumados atirar no chão ou pela janela dos carros em movimento, coisas que não nos serve mais. Isso, em parte, deve-se ao poder público, que incentiva essa prática perniciosa, quando se ausenta de suas responsabilidades com relação à limpeza das cidades. Aqui em nossa bela e suja cidade de Natal, temos um bom exemplo dessa ausência.  

                ALAMEDA DO BAIRRO PROVIDENCIA

          Na frente das residências, os jardins são verdadeiras obras de arte. Flores de todas as cores e tamanhos se sucedem num colorido deslumbrante e arrebatador, capaz de encher os olhos do mais indiferente transeunte. 


                           RESIDÊNCIA NO BAIRRO PROVIDENCIA

            Tudo isso sem nenhuma proteção de cercas ou muros, apenas, protegidos pela educação. Tive o privilégio de caminhar por entre esses jardins. 
                             PÁSSAROS NOS JARDINS

           Os pássaros, agradecidos por viverem num ambiente tão saudável, saltitavam em nossa frente, como se quisessem nos guiar por aquelas alamedas encantadoras.
        As praças publicas, que considero a alma das cidades, e o mais democrático dos espaços urbanos, são belíssimas. Nos fins de semana e feriados, os chilenos acorrem a essas verdadeiras ilhas de bonança. É comum ver leitores solitários à sombra das árvores; casais de namorados planejando o futuro; idosos em estado de contemplação, talvez mergulhados em suas lembranças; famílias inteiras se entregam a animadas conversas enquanto os “niñhos” brincam em torno, aproveitando aqueles gramados impecavelmente limpos e bem cuidados. Isso tudo disposto harmonicamente entre, arvores, homens e flores. 


                                   PRAÇAS PÚBLICAS

       Também me chamou a atenção o sistema político/administrativo das cidades, que divide o país em 346 comunas – bairros -, agrupadas em 54 províncias, espalhadas por 15 regiões do país. Cada comuna, é administrada por um alcalde, - prefeito - e um grupo entre 6 e 8 concejales – conselheiros, eleitos por voto popular, por um período de 4 anos. Na região de Valparaíso, por exemplo, temos 7 comunas, enquanto que em Santiago são 34.


                                           VALPARAÍSO       

            Esse sistema permite descentralizar a administração das cidades, tornando-as mais ágeis e eficientes. Cada alcaide, juntamente com seus consejales, obrigatoriamente residentes na própria comuna, preocupa-se apenas com seu bairro, ou seja, com o lugar que escolheram para viver. O nosso guia Maurício, é um dos seis concejales da comuna de Ñuñhoa, na província de Santiago.


                              ESTRADA PARA O VALLE NEVADO

          No dia seguinte faríamos o último passeio naquele belo país. O tempo era exíguo, pois o vôo estava marcado para as 10:00 horas da manhã. Resolvemos que subiríamos a cordilheira dos Andes para visitar o Valle Nevado, distante 46 quilômetros de Santiago, onde se localizam as estações de esqui.


                                 ESTRADA PARA O VALLE NEVADO

        Maurício, o nosso guia, com sua habilidade de bom motorista e acostumado a fazer aquele passeio, nos conduziu com segurança a 3.205 metros acima do nível do mar, por uma estrada estreita e cheia de curvas sinuosas. Durante o inverno os veículos são obrigados a utilizar correntes nos pneus, evitando que deslizem na camada de gelo que cobre as estradas até o destino final.
  CICLISTAS A CAMINHO DO VALLE NEVADO 

           Chamou-me a atenção, o grande número de ciclistas que encontramos tanto na subida da cordilheira como na descida. Maurício nos informou que nessa época do ano, é comum aos atletas profissionais como aos de fim de semana, utilizarem essas estradas íngremes, para se exercitarem.


                                DEGELO TRANSFORMADOS EM REGATOS

         Quanto mais subíamos, mais a paisagem nos encantava. Tivemos a oportunidade de ver diversas quedas d’água que se formavam com o degelo, e mais abaixo, se incorporavam aos rios, entre eles o Rio Mapocho, - que em idioma indígena significa “água que penetra na terra”. Esse rio nasce na cordilheira na cidade de Lo Barnechea e depois de atravessar as cidades de Providencia, Santiago e Maipú, encontra o Rio Maipo e deságua no Pacífico, num percurso de 110 quilômetros depois, na cidade de Llolleo. 



          Rio Maipo deságua no Oceano Pacífico  na cidade de  Llolleo. 

      As águas do degelo são responsáveis por grande parte da irrigação de fruticultura, um dos principais produtos de exportação do Chile. 

    
                                     ESTAÇÃO DE ESQUI - VALE NEVADO

        Lá de cima a visão é deslumbrante. A sensação é que estamos no topo do mundo. A temperatura, em torno de 16 graus, estava amena para aquela altitude. Tive sorte no que procurava. Consegui ver, mesmo que ao longe, o vôo de um majestoso casal de condor dos Andes, a segunda maior ave voadora do mundo, com 3,2 m de envergadura de assas. Em tamanho de asas, perde apenas para o Marabu,- um tipo de cegonha africana -, e o Albatroz-gigante que têm envergaduras de asas, apenas 30 centímetros a mais que o condor.


                             O VÔO DO CONDOR DOS ANDES

         Como já havíamos fechado a conta no hotel, retornamos direto para o aeroporto. Enquanto a bagagem passava pelo túnel de raio x, dirigi-me ao portão eletrônico para a revista pessoal. Sabíamos, desde a entrada no país, que a aduana de Santiago é bastante rigorosa, pois, revirou uma das malas até encontrar um shampoo. Descobrimos em seguida que o fiscal procurava algum tipo de fruta. Não sei como percebeu que o champoo era à base de morango. Como resultado da minuciosa pesquisa, danificou uma das alças. Sobrou novamente pra mim, que além de tudo, ainda precisei carregar uma mala sem alças.

            BALCÃO DE IDENTIFICAÇÃO DA ADUANA CHILENA
       
       Pois bem, após várias tentativas de ultrapassar aquele portal, o sonorizador sempre acusava algo, impedindo minha passagem. Depois de retirar tudo que havia em meus bolsos, inclusive os óculos, foi solicitado pelo policial, para tirar também meu cinturão. Resultado: deixei aquele belo país em direção à Argentina, literalmente de calças na mão.
    
Até a Argentina . . .

segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

UMA VIAGEM INESQUECÍVEL – QUINTA PARTE


                                      
        À noite fomos ao Pátio Bellavista, na comuna Providencia, bairro boêmio de Santiago. Conhecemos o restaurante temático “Como Água Para Chocolate – Cocina Mágica –Restaurant”. O lugar que é muito freqüentado por brasileiros, foi inspirado no filme mexicano, do mesmo nome, produzido no ano de 1992. Seus pratos, bastante sofisticados, são preparados com ingredientes tidos com afrodisíacos, tais como: alcachofra, alho, tomate, chocolate e abacate, que fazem parte da culinária regional. Este último, companheiro inseparável de toda e qualquer salada, servida nos restaurantes chilenos.
                              Restaurant Como Água Para Chocolate

        No dia três de novembro, sábado, fomos conhecer Valparaíso, cidade que em 2003 teve sua área histórica declarada pela UNESCO, como Patrimônio Cultural da Humanidade.

           A cidade, composta por 42 morros e colinas que se debruçam em direção ao mar, tem uma grande parte de suas residências literalmente “penduradas nos morros”. Pela sua posição geográfica, lembra as favelas localizadas nos morros do Rio de Janeiro.

        Visitamos a casa do poeta Pablo Neruda, pseudônimo de Neftalí Ricardo Reyes Basoalto  – La Sebastiana (1904-1973), Premio Nobel em Literatura 1971. A residência recebeu esse nome por ter sido construída pelo engenheiro espanhol Sebastián Collado, que morreu antes de término da construção.        

Permaneceu abandonada por 10 anos até que foi descoberta por Neruda, que adquiriu a propriedade e após a conclusão da obra, residiu por alguns anos concomitantemente com a “La Chascona”, sua outra residência em Santiago. O nome “La Chascona” foi dado por ele em homenagem a Matilde Urrutia, seu amor secreto, que se tornaria sua terceira esposa, devido aos seus cabelos vermelhos e abundantes.

        Conhecemos o porto de Valparaiso, o maior e mais importante do Chile, de onde se destina a maior parte das exportações chilena. Depois seguimos para Viñha Del Mar, cidade litorânea localizada na mesma região de Valparaiso, considerada a capital turística do Chile.
       
        A Baía de Valparaíso a princípio habitada pelos changos, indígenas que se notabilizaram como exímios pescadores. A região foi batizada pelos espanhóis Diego de Almargo e Don Juan de Saavedra em 1536. No inicio do século XX, a cidade se converteu em um dos mais belos balneários do país. As areias são escuras e as águas gélidas. Dificilmente vemos algum destemido banhista que se aventura naquelas águas, com temperatura em torne de um grau centígrado
      
     Almoçamos no restaurante Delírio, onde fomos contemplados com a apresentação de um grupo musical itinerante, uma espécie de mariachis mexicanos. Vestidos a caráter, se apresentavam nos restaurantes da orla. Não resisti ao convite de um dos componentes e incorporei-me ao grupo, naquela de, não sou daqui e nem vim pra ficar, aceitei o instrumento que me ofereceu, uma espécie de banjo, e soltei a voz cantando com o grupo, o clássico Cielito Lindo. Fomos muito aplaudidos, porém recusei-me a receber cachê.

   
       À noite fomos jantar no Restaurante Giratório, o mais famoso de Santiago. Por recomendação do hotel havíamos feito reserva no dia anterior, condição sine qua non para se desfrutar daquele espaço bonito e sofisticado. Subimos até a cobertura do edifício onde se localiza o restaurante e fomos atendidos por uma simpática chilena, que após nos dar boas vindas, nos presenteou com a única notícia que certamente não queríamos ouvir: o restaurante esta funcionando normalmente, porém o mecanismo responsável pelo movimento giratório, quebrou-se no início da tarde. Sem acreditar no que acabava de ouvir, mas já conformado com mais uma das nossas costumeiras falta de sorte, perguntei de chofre: señhora, qual foi a última vez que esse mecanismo apresentou defeito? E ela, um tanto sem jeito, respondeu: a última vez foi em 2004, portanto faz oito anos!     
        
          Não nos deixamos abater pela má notícia, era apenas mais uma das tantas que já havíamos encarado, e optamos por jantar assim mesmo. O ambiente bonito e acolhedor, propicia ao visitante, principalmente à noite, uma visão da cidade de Santiago verdadeiramente deslumbrante. A culinária e o serviço prestado, sem defeitos. Para animar os amigos e fazê-los sentir-se mais conformados, atalhei: Quem sabe se não foi melhor assim? Talvez se o mecanismo tivesse funcionando, ficássemos nauseados! Certamente, ninguém acreditou. Mas pelo menos, tentei.  


-continua na próxima sexta-feira-
       











terça-feira, 18 de dezembro de 2012

PRESENTE DE NATAL

NESSE NATAL PRESENTEI SEUS AMIGOS 
COM UM LIVRO DE UM AUTOR POTIGUAR.






Pedidos pelo e-mail ormuzsimonetti@yahoo.com.br

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

UMA VIAGEM INESQUECÍVEL - QUARTA PARTE



         Retornamos ao Hotel, e lá pelo meio dia, por fim, chega o filho do meu amigo que havia permanecido em São Paulo na tentativa de ajudar seu pai a resolver o imbróglio, resultado do seu impedimento de continuar o vôo para o Chile. Infelizmente as notícias não eram boas. Seu pai ainda permanecia aguardando um posicionamento da TAM, que se recusava a embarcá-lo de volta a Natal, sem que ele adquirisse o equipamento necessário. Soubemos no dia seguinte, três de novembro, portanto, quatro dias após seu desembarque em São Paulo, que retornaria para Natal. Para tanto, a Companhia Aérea - TAM - lhe cobrou R$ 850,00 (oitocentos e cinquenta reais) para instalar em sua poltrona uma garrafa de oxigênio para que lhe fosse útil em caso de desconforto. Por ironia, durante o vôo Guarulhos/Natal, em nenhum momento precisou fazer uso do mesmo.

         Com a chegada do filho desse amigo, fiquei aliviado. Era mais uma pessoa para me auxiliar nas difíceis decisões, daquela interminável sequência de situações inusitadas, que continuávamos passando, desde que resolvemos fazer essa bendita viagem.

                                                       Mercado Central  - Santiago

          Após relatar toda a odisséia vivida nos últimos dias no aeroporto de Osasco-SP voltamos a nos concentrar na viagem. Programamos para a tarde daquele mesmo dia, uma visita ao famoso Mercado Central, uma obra arquitetônica construída em ferro fundido e inaugurada em 1872.
                                         Mercado Central 

         O Mercado Central, famoso pela sua gastronomia requintada, é um dos pontos turísticos mais visitados. Mescla restaurante onde são servidos pratos sofisticados, executados pelos mais famosos chefs da culinária chilena, com simples bancas onde se encontra peixes de vários tipos e os mais estranhos habitantes das profundezas do pacífico.  Os pratos são preparados à base de antigas receitas, só conhecidas pelos chefs locais e guardadas a sete chaves. 
                                               Caranguejo Centolla
        
Nossa intenção era degustar o famoso “centolla”, um caranguejo gigante que é pescado nas águas geladas do Oceano Pacífico, mas que nada tem a ver com o caranguejo do ártico ou caranguejo real, pescados no mar gelado da Noruega.
                                     Mercado Central - Frutos do mar

         Dentro do mercado, os restaurantes sempre muito concorridos, o “centolla” é o prato mais anunciado para os turistas e também o mais caro. Os garçons circulam por entre as mesas exibindo a iguaria e provocando o desejo dos visitantes.

                                Mercado Central - Restaurantes sofisticados

         Depois de muito sacrifício, conseguimos uma mesa a custo de vários safanões do nosso garçom, que nos “pescou” ainda do lado de fora do mercado, e a nossa frente, abria caminho cheio de moral, como se fosse um segurança de candidato, aqui em nossa “Terra Brasílis”.

         Após nos acomodar em uma das mesa, ele nos apresenta o tal caranguejo que, pelo preço cobrado, cerca de R$ 300,00 a unidade, não nos atraiu, principalmente pra quem vive na terra de grandes manguezais, habitat natural dos caranguejos-uçá e o gostoso goiamum, obviamente, bem menores, porém de sabor inigualável. Eu particularmente tenho dúvidas quanto ao sabor de caranguejo que não é cozinhado no leite de coco e com muito coentro e cebola, o que não era o caso. Não me arrependo de não ter provado o “centolla”. Não devia ser lá grande coisa.
                                         Caranguejo-uçá

        Optamos então por degustar outros dois pratos: um à base de carne e o outro de peixe. Foi grande a demora para servir os pratos solicitados, principalmente para nós que havíamos tomado café muito cedo.

         Dentro do marcado o frenesi era intenso. Garçons aos gritos anunciavam os melhores pratos servidos em seus restaurantes, pessoas procurando mesas, o ambiente superlotado com gente falando vários idiomas, tudo isso mais parecia um grande Mercado Persa. Enquanto bebericávamos um chope, eu espichava os olhos para as mesas vizinhas, repletas de comidas de todos os tipos, na procura de algo que me atraísse, eis que surge do nada um “violonista de bar”. Aquele indivíduo que ganha à vida se apresentando nos restaurantes em troca de algum dinheiro. Quando notou que éramos brasileiros, não teve dúvidas: sapecou nos nossos pobres ouvidos, em alto e bom som, um AÍ SE EU TE PEGO, do Miclhel Teló. Depois da surpresa, veio à reação: meu estômago, já maltratado pela mudança para o tempero andino, dava sinais de revolta.  A fome que havia sido aplacada com algumas canecas de bom chope Cristal, voltou feito furacão. O pior é que o menestrel, empolgado pelas palmas e risos de brasileiros que ocupavam as mesas em sua volta, toda vez que gritava o refrão, o fazia ainda mais alto. Só nos deu sossego quando conseguiu nos arrancar alguns pesos. Foi uma verdadeira tortura chinesa. Aquele chileno cantando num portunhol medonho, uma música, mais medonha ainda. Não houve jeito, pagamos pra nos livrar do cantor e, com o devido respeito, também da música.

         Após o “almoço musical”, e com nossas forças já restabelecidas, aproveitamos para conhecer a bela e imponente Catedral Metropolitana, o maior templo da igreja católica no país, localizada em frente a Plaza das Armas, na zona histórica da cidade.  A catedral é dedicada a Assunção da Santíssima Virgem. Sua construção foi iniciada em1748, no governo do espanhol Domingo Ortiz de Rozas. Em estilo neoclássico italiano deixa o visitante deslumbrado, ante de tanta beleza, perfeição e harmonia. Possui três naves. Na direita encontram-se as tumbas de grandes personalidades do Chile. Na esquerda, está o Museu da Catedral, e na nave central fica o altar-mor. Este, construído em Munique, na Alemanha, foi esculpido em mármore branco com aplicações de bronze e lápis-lazúli. Na nave central é exibido um magnífico órgão de tubos, que data do ano de 1756, juntamente com os púlpitos do século XIX.

         Antes dela, já existiram nesse mesmo local, outras quatro igrejas. Duas delas foram derrubadas pelos indígenas e as outras por forças da natureza - terremotos. A construção da última das duas torres, somente foi concluída no ano de 1800.
                                                         Catedral de Santiago

                                                           Catedral de Santiago

                                                           Catedral de Santiago


                                                          Catedral de Santiago


                                           Orgão de Tubos - 1756

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

UMA VIAGEM INESQUECÍVEL – Terceira Parte




         . . . Por fim, chegamos ao hotel e após retirada a bagagem, fomos à recepção para as providências de praxe. Naquela ocasião já sonhando com um banho quente que certamente nos traria alguns momentos de merecido relaxamento. Passados alguns instantes, notamos a ansiedade da recepcionista que, não obstante intensa procura, não conseguia encontrar nossos vouchers. Mais uma vez, fomos tomados pela preocupação. Alguns minutos depois, a recepcionista nos informava que infelizmente estávamos no hotel errado. Ao questionar quanto ao nome do hotel que constava em nossos vouchers, descobrimos que o taxista havia nos deixado no endereço solicitado: Hotel Neruda. Entretanto, para nossa surpresa, a reserva havia sido feita para o hotel Neruda Express, localizado do outro lado da cidade.
         Em nossos rostos, o semblante da decepção. A recepcionista muito gentilmente, providenciou outro taxi, e finalmente conseguimos chegar ao hotel correto. 
     
    No dia seguinte, saímos pra o único local que, como já disse, encontrava-se em pleno funcionamento. O Costanera Center, um shopping moderno e com muitas lojas, entre elas a famosa Falabella, a maior loja de departamento do país. Além de se situar próximo ao hotel em que estávamos hospedados, sua localização era facilitada, pois faz parte do complexo que inclui um centro comercial, dois hotéis e 2 torres de escritórios. A maior delas, denominada Gran Costaneral, que encontra-se em fase de acabamento é considerada a mais alta da América Latina, com mais de 300 metros de alturas e setenta andares, e pode ser vista de quase toda a cidade.
                                             Complexo Costanera
  
      De volta para o hotel, encontramos um barzinho, que contrariando todas nossas expectativas, encontrava-se funcionando. Aproveitamos para “afogar” nossas mágoas com um bom chope da marca Cristal, de ótimo sabor e leveza. Naquele momento, o bendito barzinho nos pareceu, um oásis em pleno deserto de Atacama, ou mesmo aquela tábua de salvação do naufrago em desespero.

                                         Deserto de Atacama-Chile

         Após conversas amenas e algumas incertezas quanto ao dia seguinte, solicitei ao simpático garçom que nos atendia, a “dolorosa”, denominação perfeitamente entendida por ele e que também é utilizada naquele país. Em seguida, dirigi-me ao caixa onde pretendia pagar a conta, utilizaria cartão de crédito. Ao receber a nota para pagamento, notei que ele havia me entregue dois papeis. Verificando um deles, tive um susto! Estava escrito em grandes letras PROPINA. Imediatamente pensei! Será que voltei para o Brasil e não percebi? Ou será que foram as canecas de chope avidamente consumidas que me deixaram aturdido? Mas eu não havia bebido tanto assim. Lembrei que alguém havia dito que o álcool consumido a grandes altitude, potencializa o seu efeito. Como a cidade de Santiago fica a 576 metros, acima do nível do mar, seria uma explicação razoável. Enquanto me questionava com aquele papel na mão, o garçom se apressa em informar: Señhor, isso é a taxa de serviço. Então, aliviado, percebi que ainda continuava no Chile e que a tal PROPINA, tão praticada em nosso Brasil, era apenas o nome usado pelos chilenos, para definir taxa de serviço.

                                        Restaurante do Hotel Neruda Express

        No outro dia, tomávamos o café da manhã quando notei que minha esposa esmerava-se em gestos, na tentativa de fazer o garçom entender o que ela procurava em meio à diversidade de guloseimas dispostas na mesa do restaurante. A procura era por um simples saquinho de chá. Após alguns trejeitos, contudo sem obter sucesso, eis que surge uma brasileira, que estava no restaurante, e acompanhava de sua mesa, todo o esforço de minha esposa, na tentativa de se faze entender. Logo a acode com seus conhecimentos lingüísticos e lhe explica a pronuncia correta. No espanhol o “ch” se pronuncia “tche”. Impasse resolvido, mais um conhecimento que lhe foi útil quando desembarcou na Argentina.

                                                Maurício - o guia

    A intervenção dessa mineira de Uberlândia, que estava acompanhada de mais três outras amigas em viagem de turismo, terminou por nos prestou uma grande ajuda. Com a continuação da conversa e as devidas apresentações, ela nos informa que havia contratado, quando ainda estava no Brasil, um guia turístico que fora recomendado por outras amigas, que utilizaram seus serviços quando estiveram em Santiago. Foram muito bem atendidas e por esse motivo o recomendara. Foi então que conhecemos o Maurício, um simpático chileno, proprietário de uma van, que há vários anos trabalha por conta própria, como guia turístico. O mais importante é que era de total confiança.

                                    Estrada para a comuna de Pirque

    Acertamos com ele, para o dia seguinte, já que as amigas embarcariam de volta ao Brasil naquela madrugada, uma visita a vinícola Concha y Toro, um dos passeios mais solicitados pelos turistas em visita aquele país. No dia seguinte após o café da manhã, desta feita sem nenhum atropelo quanto à solicitação do chá, partimos para o passeio. O caminho que nos leva até a vinícola é muito interessante. Primeiro tivemos a oportunidade de conhecer as “comunas”, mais pobres de Santiago.      

                                                   Comuna de Pirque
     Quando saímos dessa área, o cenário mudou radicalmente. A todo instante nos deparamos com belíssimas paisagens que se sucedem durante todo o percurso. Após 45 minutos de viagem, chegamos em Pirque, uma “comuna”- como são denominados os bairros naquele país -, situada na região metropolitana de Santiago, no Valle del Maipo, residência da família Concha y Toro. Neste lugar nascia há mais de 100 anos, o que hoje é a maior companhia vinícola do Chile.  Foi nesta localidade que se deu a redescoberta da uva Carménère, originária da região de Bordéus, França, considerada extinta nos parreirais europeus, dizimados por praga. Sua condição de sanidade no Chile, onde hoje é exclusividade, deveu-se a situação geográfica do país, cercado por cordilheiras e o oceano pacífico.

                                     Entrada da vinícola Concha Y Toro 

       Durante a visita, fomos acompanhados por uma guia, que primeiro nos conduz a uma reserva florestal de propriedade da vinícola e em seguida aos parreirais onde tivemos a oportunidade de ver as uvas ainda em formação. A guia nos explicava em um “portunhol” bastante compreensivo, todo o processo de confecção do vinho, desde o plantio das parreiras, que inclusive tivemos a oportunidade de caminhar entre elas, até o seu armazenamento nas grandes adegas.
         Após o esmagamento das uvas, a fermentação é feita em tanques de inox com remontagens regulares para conseguir a melhor cor, taninos e extração. A maturação é feito em pipas de carvalho americano ou francês, de acordo com o tipo de vinho que se deseja envelhecer. O Cabernet Sauvignon, por exemplo, descansa e amadurece por um período de oito a doze meses nos famosos tonéis de carvalho francês.

                                            Adega - Concha Y Toro 

       Por ocasião da visita ao porão da adega, em meio a milhares de barris, dispostas sistematicamente lado a lado, em dado momento o visitante é surpreendido com uma pequena história teatralizada, no mais autêntico estilo fantasmagórico, da origem do vinho Casillero del Diabolo.

                                                      Adega

   Após deixar o ambiente totalmente escuro, imagens são projetadas em um canto da adega. Acompanhadas de sons estereofônicos, uma gravação narra ao estilo, Mister M, personagem narrado por Cid Moreira, a lenda desse famoso vinho. A altura do som propagada naquele ambiente escuro e fechado foi capaz de assustar incautas senhoras.
(continua na próxima sexta-feira)




















sexta-feira, 30 de novembro de 2012

UMA VIAGEM INESQUECÍVEL – Parte II

-continuação -

         ... Seu filho resolve que acompanharia o pai, para ajudá-lo nas providências, na certeza que chegariam ao Chile no dia seguinte. Enquanto a aeronave taxiava, recebe uma mensagem do guichê da TAM para interromper a manobra e aguardar. Na confusão criada por não poder embarcar, meu amigo esqueceu que o documento de identidade de sua esposa estava com ele. Sem a posse desse documento, ela não passaria pelo balcão da emigração no Chile, e teria que retornar ao Brasil. Poucos minutos depois, um dos tripulantes dirige-se a ela e lhe entrega o documento que um funcionário da companhia viera às pressas entregar no avião. Inicia-se novo taxiamento e mais uma vez é interrompido. Os passageiros já começavam a se perguntar o que estaria acontecendo quando novamente o mesmo tripulante, com cara de poucos amigos, entrega a esposa do meu outro amigo sua identidade, que também havia ficado com ele e que certamente acarretaria o mesmo problema no desembarque.
         
         Ufa! Enfim partimos. Lá estava eu, com a cabeça a mil, me perguntando como seria o desembarque em Santiago, já que eu era cego de guia, em se tratando de outro país. Mas, nada podia fazer. Dentro daquele enorme avião, me sentia menor que um grão de mostarda diante do que me aguardava. E, como se diz lá pelo interior do mato, estava literalmente pelo beiço. Como não adiantava estrebuchar, entreguei a Deus!
       
     As horas se passavam e a preocupação me atormentava. Eu, no papel de “Cadinho”, personagem da novela Avenida Brasil, responsável pelas três mulheres sem saber o rumo que tomaria.
         
      De repente, não mais que de repente, o local foi tomado por um enorme mau cheiro. Minha esposa que sofre de cefaléia e não pode sentir fortes odores, logo ficou preocupada. Depois de curta investigação, notamos que a passageira sentada na poltrona ao lado, uma americana de aspecto sinistro, que tinha embarcado em São Paulo, havia tirado as meias dos pés e as brandia como se quisesse secá-las. O odor era tão forte que os passageiros mais próximos, entreolhavam-se como se não acreditassem na cena grotesca que presenciavam.
        
        Isso nos fez lembrar outro episódio semelhante quando embarcamos de Natal para São Paulo. Minha esposa, que integra a estatística de 42% da população brasileira que tem medo de voar de avião, ficou mais tranqüila quando identificou, no passageiro que sentou na poltrona do seu lado, um provável pastor evangélico. O homem ao se sentar, sacou de uma bíblia e começou a lê-la mentalmente. Com uma hora de vôo o indivíduo já dormia profundamente. Começamos então a sentir um forte mau cheiro, que mais lembrava comida estragada. Instantes depois, descobrimos que o responsável por exalar aquele mau cheiro era o pastor, que de boca aberta e dormindo a sono solto, incontinenti, impregnava o ambiente com um hálito devastador, daqueles capazes de acabam comício de interior.
        
     Faltando pouco tempo para a aterrissagem, passa um comissário de bordo e distribui com os “passageiros estrangeiros” que desembarcariam em Santiago, um formulário escrito em espanhol. Depois vim saber que se tratava de uma DECLARAÇÃO DE ADUANAS. Embora identificando algumas palavras, não conseguia entender completamente o que estava escrito naquele papel.
        
       Quando se viaja para outro país, os amigos que por ventura lá já estiveram, logo se apressam em informar o endereço de onde se faz boas compras, onde se localizam os bons restaurantes, os locais de visitas indispensáveis, os melhores passeios etc. Infelizmente, não se preocupam em informar ao passageiro de primeira viagem, como era o nosso caso, e ainda por cima viajando por conta própria, isto é, sem contar com os serviços de uma agência de viagens, que, para se adentrar em outro país, é necessário passar pela policia de emigração. Aquele papel entregue pelo comissário de bordo - Declaração de Aduanas -, é justamente para ser preenchido com os dados do viajante, e que serão confrontados com os documentos de identidade, no guichê da emigração. Após esse procedimento, a entrada é autorizada através de um carimbo, que determinará inclusive, os dias que o indivíduo poderá permanecer no país. A guarda desse documento é de vital importância, pois, por ocasião da saída do país, o mesmo documento será exigido. O seu extravio acarretará enormes problemas e nesse caso, a solução passará inevitavelmente pela Embaixada.
      
        Preenchemos o documento da maneira que achávamos ser o mais correto, porém, isso teve lá suas conseqüências, quando apresentado no guichê da emigração. A policial chilena, muito mal humorada, talvez fosse uma solteirona mal resolvida, pois era desprovida de qualquer sinal de beleza estética, terminou por se aborrecer, em virtude da falta de alguns dados, que tiveram que ser refeitos ou complementados. Até que fosse estabelecido um mínimo de comunicação com aquela chilena raivosa, falando apressadamente e em um espanhol de difícil compreensão, passamos por alguns momentos de estresse.
        
     Enfim, resolvido mais esse problema, tomamos um taxi, que tive o cuidado de contratá-lo dentro do aeroporto, evitando assim problemas futuros. Depois de nos acomodarmos na van, já que éramos quatro passageiros e bagagem de seis pessoas, me dirigi ao motorista com ares de viajante experiente: Hotel Neruda, por favor! Sim señhor, respondeu o chileno.
       
       Durante o percurso, uma distância de 35 a 40 quilômetros, procurei manter algum diálogo com o taxista, para ir me familiarizando com o idioma. Perguntei-lhe sobre a distância até o centro da cidade, sobre a temperatura e por fim sobre os pontos turísticos mais visitados. Ele, ao contrário da policial truculenta, muito educado, procurava de todas as maneiras atender aos meus questionamentos e satisfazer, a medida do possível, minhas curiosidades. Foi então que atônito, descobri mais uma das nossas trapalhadas.
     
        O dia 1 de novembro, Dia de Todos os Santos, é feriado nacional. Em seguida, o dia 2 – dia de finados -, igualmente feriado, onde se reverencia a memória dos mortos, como na maioria dos países que têm como predominância, a religião católica. E o dia 3, sábado, nos informava que o comércio funcionaria precariamente em razão dos feriados anteriores, ou como costumamos chamar por aqui de feriadão. Resultado: três dias com praticamente tudo fechado em Santiago. Somente os Shoppings, como de costume, estariam em pleno funcionamento. No afã da viagem, esquecemos do mais importante: o planejamento. E como se diz aqui em nossa terra “além de queda, coice!
 - continua na próxima sexta-feira-