sexta-feira, 25 de maio de 2012

GIÁCOMO PALUMBO- UM ESQUECIMENTO IMPERDOÁVEL

                                                          Giácomo Palumbo

Um dos documentos mais importantes da história da cidade de Natal é o Plano de Sistematização, elaborado em 1929 pelo arquiteto Giácomo Palumbo.


Formado na Academia de Belas Artes na França, nasceu na Grécia no dia 2 de fevereiro de 1891. Chegou ao Brasil em 1918, indo morar inicialmente em Recife. Lá construiu várias edificações, entre elas a Ponte Duarte Coelho, considerada até hoje um dos cartões postais da cidade. Posteriormente muda-se para a Paraíba, onde também realiza várias obras durante o governo de João Pessoa.


Chegou a Natal nos anos 20, procedente da Paraíba, e logo foi contratado pelo Intendente Municipal (prefeito), Omar O’Grady, para realizar um plano de Sistematização da Cidade, de acordo com a resolução n° 304, de 6 de abril de 1929. O contrato foi assinado no dia 22 do mesmo mês. Na ocasião disse o Intendente O’Grady: “ era este plano, no meu pensar, uma necessidade inadiável...”


Nesse mesmo ano, o prefeito, que também era engenheiro Civil, formado nos Estados Unidos, preocupado com o ordenamento da cidade, institui a Lei n° 4 que “dispõe sobre construções, reconstruções, acréscimos e modificações de prédios”. Esta lei tornou-se o primeiro instrumento legal a fazer o zoneamento da cidade.


Conhecido apenas como Plano Palumbo, até os dias de hoje, são grandes os benefícios embelazadores da nossa capital. Para se não falar dos aspectos de modernidade inseridos no seu famoso planejamento arquitetônico. O seu principal objetivo era criar uma cidade planejada, e com pensamento voltado para o futuro. Com um traçado urbanístico moderno e eficaz, com forte influência Européia e Norte- americana, definia e distribuía funções administrativas, comerciais e industriais. Nos bairros residenciais, preocupou-se com o embelezamento, arborização e lazer de ruas e avenidas. Os bairros eram ligados por largas avenidas com espaços públicos destinados ao lazer. Tirol e Petrópolis foram os bairros que mais se beneficiaram com o Plano, muito embora alguns historiadores defendam que esses bairros foram criados a partir do bairro de Cidade Nova, como eram chamados os bairros de Tirol e Petrópolis, criado pelo Plano Polidrelli em 1904, durante o governo de Alberto Maranhão.


O arquiteto Palumbo projetou uma cidade para 100 mil habitantes, tendo atingido esse número já no ano de 1950, possivelmente com o meu nascimento, ocorrido no dia 6 de dezembro daquele ano.


Entretanto, a revolução de 1930 tirou do poder os idealizadores desse plano, o que impediu a continuidade na sua completa implantação.


Até hoje, apesar de buscas feitas por diversos pesquisadores, ainda não se tem notícia dos originais dessa peça histórica. Em 1977, o Diário de Natal publicou uma matéria onde informava que os originais foram criminosamente incinerados. Dizia à matéria que o então chefe do Arquivo Geral da Prefeitura de Natal, Severino Césio Pereira Dantas, enviou no dia 7 de fevereiro de 1972 ao então Secretário de Planejamento, Efren Lima, um memorando onde solicitava autorização para incinerar documentos, ditos antigos. Fazia parte dessa solicitação todos os documentos sob a guarda da Prefeitura, produzidos entre os anos de 1898 a 1950, juntamente com o material (?) que se encontrava “jogado” em um sótão, em cima do Mercado das Rocas, onde o chefe do arquivo dizia encontrar-se em “estado não prestável”. Não se sabe se a esdrúxula solicitação foi atendida. O fato é que existe grande possibilidade de o Plano Palumbo ter sido incinerado juntamente com esses documentos, já que o mesmo datava de 1929, por conseguinte condenado pelo servidor, a ser transformado em cinzas.


Portanto, já vem de longe o desrespeito que administradores e a população em geral têm com documentos antigos e com todas as formas de cultura em nosso Estado. Não custa lembrar, que o povo que não se preocupa em preservar o seu passado, certamente não terá um bom futuro.


Quanto ao grande arquiteto Giácomo Palumbo, os administradores da cidade de Natal foram “bastante generosos” e lhe prestaram uma grande e merecida homenagem. Para isso, puseram seu nome em uma ruela localizada próximo ao cruzamento das ruas Presidente Bandeira com a São José. No mapa, a tal ruela é tão pequena que não deu pra escrever o nome. Com apenas algumas pequenas residências de um lado e do outro lado, galpões onde funciona uma distribuidora. A ínfima ruela, não faz jus ao grande arquiteto que teve reconhecida importância no traçado urbanístico de nossa cidade.


Com o advento da Copa do Mundo, nossa cidade, que figura entre as doze sedes onde ocorrerá à disputa dos jogos, obrigatoriamente receberá várias obras importantes, principalmente na área de mobilidade urbana. Fica aqui nossa humilde sugestão para que as autoridades responsáveis corrijam essa imperdoável ingratidão, batizando pelo menos uma dessas obras em sua homenagem, dignificando o nome daquele histórico e grande profissional, além disso, trazendo à luz, a sua história de valoroso arquiteto, para que seja conhecida por todos os natalenses inclusive, aqueles que sabiamente adotaram a cidade de Natal para viver com suas famílias.










sexta-feira, 11 de maio de 2012

DO LIVRO "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS"

        MINHA HOMENAGEM AO DIA DAS MÃES

                  

Dona Cirene Barbalho Simonetti era a mais antiga e assídua veranista da Praia da Pipa. Contava apenas três anos de idade quando chegou nesta praia pela primeira vez, em companhia de seus pais, no distante ano de 1926. Não podendo continuar com os veraneios na praia de Tibau do Sul, em virtude da cheia de 1924, meus avós escolheram a Praia da Pipa, poucos quilômetros ao Sul, como substituta. Desde então, Dona Cirene retornou religiosamente todos os meses de janeiro, pelos últimos 83 anos.
Tinha por essa praia um amor incondicional. Seu último veraneio foi em janeiro de 2009, quando sofreu uma isquemia e precisei socorrê-la às pressas, levando-a para Natal. Foi a mais longa viagem da minha vida, dadas as dificuldades que enfrentei durante todo o percurso. Depois desse incidente, nunca mais retornou à praia que tanto amava.Nasceu no dia 19 de abril de 1923, na cidade de Goianinha-RN. Passou sua infância entre o verdor dos canaviais que ondeavam o vale do “Engenho Benfica” e a cidade onde nascera. Como toda criança nascida nos antigos engenhos de cana-de-açúcar, passava boa parte do dia brincando com os irmãos entre a bagaceira, a casa das moendas e as formas de açúcar dispostas na “casa de purgar”.

                                                                          Carro de bois - Engenho Ilha Grande- Goianinha/RN



Quando criança, por várias vezes viajou dentro de caçuá em lombo de animal, do “Engenho Benfica” até a Praia da Pipa, onde passava com a família, o mês de janeiro. Fazia dupla com seu irmão Antônio (Tio Tonho), que adorava dizer que eram como irmãos gêmeos. Sendo praticamente da mesma idade, com apenas um ano de diferença, partilhavam alguns pertences. Um par de alpargatas servia para os dois. Quando um ia à cidade, o outro, resignado, ficava em casa.

Na adolescência, já demonstrava uma grande habilidade quando cavalgava do Engenho a Goianinha, distante poucos quilômetros.
Nos períodos de férias da Escola Doméstica, onde estudou por vários anos, retornava ao engenho e, livre da rigidez disciplinar, entregava-se de corpo e alma às mesmas brincadeiras de menina de engenho. Gostava de “pegar parelha” com os irmãos em desabaladas corridas no pátio, em frente à casa-grande, onde se lia no alto em letras graúdas “Vila Elvira”, em homenagem à minha avó, Elvira Macionila Barbalho. Nessa brincadeira, ela quase sempre saía vencedora, o que era motivo de zombaria aos que perdiam.Na época em que as viagens para a Pipa eram feitas a cavalo, mamãe ganhara de meu avô Odilon Barbalho um cavalo e lhe deu o nome de “Trinta e Um”. Montada em cilhão, desafiava os irmãos ou primos a disputar corridas ao longo de toda a viagem.
                                                          Vila Elvira - Engenho Benfica- Goianinha/RN

Nas longas conversas que tivemos, sempre recordava saudosa de momentos felizes de sua infância. Contava que gostava de procurar ninhos de pássaros nos arvoredos próximos à casa grande, tomar banho nas tapagens – barragens feitas nas levadas para aguar os partidos de cana-de-açúcar –, ou simplesmente de contemplar o céu em dias ensolarados, tentando adivinhar figuras que se formavam nas nuvens de algodão. À noite, procurava no céu escuro estrelas cadentes para a elas fazer pedidos ou lhes contar seus segredos de criança. Falava do quintal da casa grande – cheio de mangueiras, goiabeiras, araçazeiros, laranjeiras e uma jabuticabeira em que, frequentemente, subia para se esconder dos irmãos, ou quando queria simplesmente ficar sozinha. Lá mais para o fim do quintal, perto do rio, touceiras de cana caiana e flor de cuba, onde gostava de chupar seus roletes molinhos e doces. Ao lado da casa, um grande pé de cajá-manga onde todas as manhãs reuniam-se sanhaços, xexéus, galos de campinas, canários da terra e tantos outros pássaros que gorjeavam, saudando o milagre do amanhecer de mais um dia.
                                                                           Engenho Benfica - Goianinha/RN

Dizia que ainda podia sentir o cheiro doce do caldo da cana cozinhando nos grandes tachos de bronze, para fazer o açúcar mascavo. Logo as lembranças lhe chegavam com tamanha intensidade que, por diversas vezes, pude observar em seu semblante que, em devaneios, revivia aqueles momentos, ao tempo em que os pensamentos voavam para o velho engenho. Falava do rangido das moendas amassando a cana, do caldo escuro escorrendo para os tanques de armazenamento, do bagaço sendo transportado pelos animais que, arrastando um couro de boi, levavam para o pátio o que sobrava das moendas. Quantas vezes, em brincadeiras com outras crianças, subia naquele couro junto com o monte de bagaço para ser levada também até o pátio. Recordava-se do feitor que aos berros, dirigia homens e animais, naquele frenético vai e vem de burros, cambiteiros e puxadores de bagaço. Lembrava do mestre de açúcar e descrevia seus movimentos precisos, transportando de um tacho para outro o caldo quente que, cada vez mais apurado, ia se transformando em açúcar. O cheiro doce do mel de furo escorrendo das formas de açúcar que descansavam na casa de purgar.

Quando criança, chegou a morar um tempo na casa do meu pai e seu cunhado, Arnaldo Barbalho Simonetti, na cidade de Macaíba, recém casado com sua irmã mais velha, Inaldy Barbalho. Com apenas 11 anos de idade, foi ajudar a irmã que descansara de seu primeiro e único filho, Dante Simonetti. Quis o destino que tempos depois, com a morte prematura da irmã, viesse a se casar com Arnaldo, que também era seu primo legítimo.
No início de seu casamento morou em São José de Mipibu, onde nasceram três de seus filhos, inclusive eu. Outros dois nasceram em Natal.
Ela gostava de recordar o tempo das campanhas políticas, quando em 1947 meu pai elegeu-se deputado à Assembleia Constituinte.Teve cinco filhos e foi muito feliz durante cinquenta anos que permaneceu ao lado daquele homem, treze anos mais velho. Ela o amou e respeitou até o último dia de sua existência aqui na Terra.                                                                 Praia da Pipa/RN                           

Não gostava de seu nome. Dizia ter sido um viajante, que em passagem pelo engenho, vendo minha avó grávida, sugeriu o nome. Ela ainda completava: “Que falta de sorte!” Ultimamente, por brincadeira, eu só a chamava de CIRLENE e ela dizia: “Esse, sim, é mais bonito!”.A alegria era sua principal característica que, embora contrapondo com a sisudez de papai, nunca foi por ele reprimida. Nos veraneios da Pipa, sempre promovia brincadeiras para distrair a família. Incentivava o roubo de galinhas nas casas dos parentes e que viravam tira-gostos de uma boa cachaça e animavam os banhos de mar à luz de lampiões ou em noites de lua clara. Todos os veraneios, volta e meia, gostava de reunir no alpendre da sua casa amigos e parentes para degustar seu maravilhoso “arroz doce”, feito com açúcar mascavo.
Como todo ser humano, também teve suas dores e decepções. A perda do meu pai foi um grande golpe em sua vida. Tempos depois, perdia dois dos seus amados filhos. Ninguém deveria sepultar os filhos. A recíproca é verdadeira. O caminho natural é que os filhos sepultem seus pais. Quando a mão de Deus interfere nessa trajetória, a dor é incomensurável. Só alguém que a sentiu, pode avaliá-la. Rogo a Deus, para que nunca me aconteça tal infortúnio.
Nos últimos 10 anos estive muito presente na vida da minha mãe. Durante esse tempo, pelo menos em cinco dias da semana, almoçávamos juntos. Após as refeições, ficávamos a conversar. Ela gostava de lembrar a infância na casa-grande do Engenho Benfica, dos meses de julho que passava na fazenda “Lagoa Nova”, propriedade que meu avô possuía no município de Santo Antônio.

                                                                D. Cirene em seu alpendre na Pipa/RN


Adorava cantar e ouvir músicas. Tinha uma grande coleção de CDs e gostava de dormir ouvindo seus cantores preferidos, dentre eles: Roberto Carlos e Trio Iraquitã. Declamava poesias aprendidas quando criança nos bancos do Grupo Escolar Moreira Brandão. Lembro que nos emocionava quando recitava, sem tropeços, a poesia que mais gostava:  “Pássaro Cativo” (Olavo Bilac, 1929). “Arma-se em um galho de árvore um alçapão e em breve uma avezinha descuidada, batendo as asas cai na escravidão[...]”.  
Depois da isquemia, ela foi ficando mais calada. Já não tinha a vivacidade de outrora. Sempre que terminávamos o almoço, pedia para se deitar. Às vezes ficava calada durante toda a refeição. Eu sempre procurei entendê-la e respeitar aquele momento, muito embora me doesse profundamente vê-la com o olhar perdido, mergulhada em seus pensamentos. Entretanto, eu sabia que a minha simples presença ao seu lado trazia-lhe conforto e segurança. Ficávamos ali, sentados, em silêncio, até que ela pedisse para se deitar.Ultimamente, vez por outra, dizia que estava com muita saudade de papai e que tinha sido muito feliz no casamento. Lembrava dos parentes já falecidos e coisas dessa natureza. Outras vezes apenas dizia: “Meu filho, estou muito velha e cansada!”. Parece que Deus, na sua divina sapiência, dota as pessoas, em momentos de suas vidas, de conformação. A ideia da morte já não as assusta. Inconscientemente, ela sabia que já tinha cumprido sua missão aqui na Terra.No último dia 8 de fevereiro ela partiu. Seu semblante era tranquilo e refletia a paz dos justos. Não se observava em seu rosto qualquer traço de sofrimento. Dormia como tantas vezes a vi dormir em seu quarto, que há algum tempo tinha se transformado em seu refúgio preferido. A exemplo de meu pai e meus dois irmão, foi contemplada com a partida sem sofrimento e hoje está reunida em comunhão com todos os parentes e amigos, ao lado do Criador.
Obrigado, mãe, pelo amor que nos dedicou, pela alegria que nos contagiou, pelo exemplo que nos deixou e por todos esses anos felizes que vivemos ao seu lado.






quinta-feira, 10 de maio de 2012

Odúlio Botelho-  Presidente da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte- ALEJURN
Valério Mesquita - Presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Norte
Ormuz Simonetti - Presidente do Instituto Norte Rio-grandense de Genealogia - INRG
Laércio Segundo de Oliveira - Diretor Geral do T.C.E.


Visita de cortesia ao Presidente do T.C.E. em nome do Presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte, Dr. JURANDYR NAVARRO DA COSTA. 

sábado, 5 de maio de 2012

OS JOGOS DE CARTAS - Coisas daquele tempo

Tela do artista plástico Levi Bulhões, ilustrador do livro

DO LIVRO “A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS”


         Nas longas noites dos meses de janeiro, sempre estávamos descobrindo coisas para matar o tempo. Vez por outra organizávamos um jogo de cartas no alpendre da casa de alguém. Esses carteados eram bastante concorridos, pois o número de “perus” era bem maior que o de jogadores. Um dos jogos mais comuns entre nós eram o pif-paf e o poker, efêmeros, deixavam os que jogavam muito excitados.

 A peruada sempre ficava de prontidão para sacanear os que perdiam. Os jogadores preocupavam-se por estar arriscando algum dinheiro e principalmente por temerem a gozação, caso alisasse e perdesse todo o dinheiro – o que sempre acontecia com alguém.


No caso dos perus, durante as partidas ficavam de boca calada, sob pena de serem escorraçados do local ou até mesmo levar umas “bolachas” do perdedor inconformado.


O jogo dos adultos, que sempre acontecia na casa de tio Aguinaldo, também era muito movimentado. O tio tinha por característica falar muito alto e querer ter razão em tudo. Aplicava a velha técnica conhecida por “ganhar no grito”. Quando Edinaldo, seu filho (que tinha o mesmo temperamento e lições apreendidas com o pai), estava presente à mesa, não havia a menor dúvida: o jogo terminaria em briga. A plateia se encarregava de atiçar. No outro dia, pazes feitas, começavam tudo novamente.

Participavam dessa mesa o próprio tio Aguinaldo, Jaime Simonetti (Soberano), Georgenor Barbalho, João Primênio Simonetti, Dante Simonetti e muitos outros.
Numa dessas noites, também participou do jogo o Dr. Djalma Marinho. No Natal Clube, onde sempre frequentava quando estava na terra, era tido como “doador de sangue” daquele que sempre perdia. Quando ganhava – o que era raro –, gozava os adversários.


Tinha ido a convite do meu pai, Arnaldo Simonetti (então sogro de seu filho Valério Marinho), passar um fim de semana na longínqua Praia da Pipa daqueles anos 70. 
Naquela noite, a concorrência no “pano verde” era enorme. Todos queriam jogar com o visitante ilustre, e o carteado estendeu-se madrugada adentro.


Do saudoso Djalma contam a seguinte história: quando retornava para sua querida Natal, nos intervalos de suas atividades em Brasília, onde exercia o mandato de deputado federal, gostava de uma partidinha de pif-paf no Natal Clube, ponto de encontro de políticos da época. Aproveito o ensejo para lembrar alguns dos seus amigos, frequentadores assíduos daquela casa, que lá compareciam para jogar um carteado e também “traçar os destinos do nosso Estado”. O anfitrião era João Medeiros, proprietário do local. Frequentavam também, Leonel Mesquita, o major Theodorico Bezerra, Luiz de Barros, Jessé Pinto Freire, João Aureliano (Coleguinha), Jarbas Bezerra, Roberto Freira, Sandoval Capistrano, Romildo Gurgel, Joca Melo e tantos outros. Além de se divertir no jogo, tinha a oportunidade de encontrar com amigos e correligionários.


Certa vez, em um desses carteados, em que sempre rolava muito dinheiro, lá estava um costumado “peru”, do tipo extremamente nervoso. De pé, por trás da cadeira de Djalma, estava pondo à prova uma das principais características do velho parlamentar: a paciência. O jogo, embora entre amigos, era disputado sempre com gordas quantias de dinheiro. O “peru”, estrategicamente sentado por trás de sua cadeira, cada vez mais demonstrava toda sua inquietação e descontrole com o desenrolar das partidas, principalmente quando as apostas subiam e a mesa ficava repleta com fichas de alto valor. O experiente Djalma, querendo se livrar daquele incômodo encosto preparou-lhe uma surpresa. Lá pelo meio de uma disputada partida, estava armado, ou seja, com dois jogos feitos e o terceiro faltando apenas uma carta para bater. Naquela ocasião, estava em jogo uma grande quantidade de dinheiro. As fichas se multiplicavam em cima da mesa e o “peru”, por conhecer o jogo de Djalma, suava em bicas. Quase perdendo o controle, com os olhos colados à mesa, aguardava a carta que dava a Dr. Djalma o direito a por a mão em toda aquela bolada. Naquele momento, o parceiro ao lado descartou justamente aquela que completaria seu jogo. O silêncio era sepulcral! Ninguém ousava emitir qualquer ruído, pois outras pessoas que acompanhavam o jogo sabiam da situação privilegiada de Djalma. Então, aconteceu o que ninguém esperava: com toda a calma que lhe era peculiar, não pegou a carta que lhe daria a vitória naquela partida. Bem devagar, olhava por trás dos óculos para as cartas que tinha na mão e em seguida para o baralho, dando a impressão que não havia percebido a carta solta pelo parceiro, o que provocou o “peru”, de respiração presa, esperando o grande desfecho. Em seguida, foi ao baralho e, bem devagar, puxou uma carta que, por sinal, não completou o par que tinha na mão. Naquele momento regozijou-se de toda aquela tormenta. Rejeitou ganhar a partida e todo aquele dinheiro, simplesmente para dar uma lição no inconveniente peru. Este por sua vez, não aguentou a pressão, caiu desmaiado. O chilique rendeu aos frequentadores do Natal Clube vários meses de total ausência daquele inconveniente peru. Depois do acontecido, com toda calma, explicou: perdi a parada, mas me livrei do peru!


Houve época em que o jogo mais comum entre nós era o king. Esse jogo nos foi ensinado pelo saudoso João Primênio Simonetti, também mestre nas cartas e frequentador do Natal Clube. Às vezes reunia os sobrinhos em sua casa para se divertir jogando o king ou mesmo um pif- paf.


Davi Simonetti ficou de tal maneira viciado nesse jogo que, quando não arranjava parceiros, dispunha-se a fazer alguns agrados aos que concordassem em participar do jogo. Embora não fumasse, oferecia cigarros de graça para os que fumavam e até emprestava dinheiro aos que não tinham na ocasião, contanto que formasse uma mesa com os quatro participantes. Graças a Deus, esse “vício” ficou adormecido na Pipa daquela época. 

Pipa, fevereiro de 2010.



quinta-feira, 3 de maio de 2012

I.H.G.R.N. - C.O.M.P.L.A.N


            REUNIÃO DA COMPLAN NO AUDITÓRIO DA SEMURB 



  • Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Norte -IHGRN, tem novo Conselheiro junto ao COMPLAN - Conselho Municipal de Planejamento Urbano e Meio Ambiente de Natal. 
  • Trata-se do sócio efetivo ORMUZ BARBALHO SIMONETTI que substituiu o também sócio efetivo GUTEMBERG COSTA.  
  • Na reunião de hoje, dia 3 de maio de 2011, ocorrida no auditório da SEMURB, o Engenheiro Charles Maia, fez palestra a respeito do andamento das obras do Estádio Arena das Dunas.

terça-feira, 1 de maio de 2012

PALESTRA NA PROCURADORIA GERAL DO ESTADO-



AUDITÓRIO DA PROCURADORIA GERAL DO ESTADO

Ilustríssimo Sr. Dr. Odúlio Botelho Medeiros, Presidente da Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte – ALEJURN, em nome de quem cumprimento os demais membros da mesa, já nominados.
Caros amigos e confrades, dando continuidade às palestras mensais realizadas pela ALEJURN, hoje, com a homenagem feita pelo acadêmico José de Ribamar de Aguiar ao seu patrono FERNANDO DE MIRANDA GOMES, venho, a convite do presidente Odulio, prestar algumas informações acerca do Instituto Norte-Rio-Grandense de Genealogia – Instituição que presido desde sua fundação.

A história de nossa Instituição começou no ano de 2009, logo após eu ter lançado o livro Genealogia dos troncos familiares de Goaninha. Nessa pesquisa, que durou quatro longos anos, mergulhei de corpo e alma, num trabalho que, apesar de estafante (já que chegava a trabalhar até 16 horas por dia), propiciou-me, além do prazer intelectual, a dádiva do relacionamento humano-familiar com pessoas que até então não conhecia.
No período em que durou a pesquisa, pude sentir na pele as enormes dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores, principalmente por aqueles que se dedicam ao estudo das famílias, os denominados genealogistas. Poucos e precários são os locais onde podemos realizar essas pesquisas. O material disponível é escasso, disperso e, na maioria das vezes, só são encontrados nas Cúrias, Cemitérios e Cartórios que, não raro, alegam falta de funcionários, dificultam ao máximo o acesso dos pesquisadores a esses documentos.
A falta de contato entre os pesquisadores aumenta, sobremaneira, as dificuldades na realização das pesquisas, uma vez que, ao tomar de forma solitária suas anotações, elimina a possibilidade da troca de informações genealógicas – prática comum entre os estudiosos da genealogia.
Fazia-se mister a criação de uma entidade que atendesse essas necessidades. Nela seria disponibilizada uma biblioteca específica. As doações de livros e outros materiais de pesquisa seriam feitas, principalmente, pelos seus integrantes, já que cada um de nós pesquisadores guarda um pequeno acervo em sua residência.
O local ficaria à disposição dos pesquisadores/historiadores, onde, além de contar com um bom acervo a sua disposição, poderiam dividir com outros companheiros, experiências e informações. Todo esse material também ficaria à disposição da comunidade, que poderia contar com a orientação dos pesquisadores, caso desejasse se iniciar nessa atividade, movida pela curiosidade, ou mesmo pelo desejo de montar sua própria árvore genealógica.
Ao longo desses anos, pudemos constatar que é grande o interesse da população pela pesquisa genealógica. A genealogia, ou Ciência da História da Família, é uma ciência de grande valor para o estudo da História. Registra, sob a forma de texto ou árvore genealógica, a história de nossos ancestrais, com nomes, datas e lugares por onde eles passaram, mantendo-os vivos na memória de seus descendentes ou de quem interessar possa. O historiador vê a massa como um verde ondear de selva. Já o genealogista exuma-lhe a raiz em busca do seu mistério.



           
RIBAMAR DE AGUIAR, ODÚLIO BOTELHO, ORMUZ SIMONETTI E ALDO MEDEIROS



O filósofo italiano Norberto Bobbio refere-se à Genealogia com a seguinte citação: “Se o mundo do futuro se abre para a imaginação, mas não nos pertence mais, o mundo do passado é aquele no qual, recorrendo a nossas lembranças, podemos buscar refúgio dentro de nós mesmo. Cada um olha o passado à sua maneira. Uns com nostalgia, outros, com a certeza de que nele se encontra fonte de conhecimento e de meio de passagem de testemunho, da herança cultural de um povo e, na generalidade, de toda a Humanidade”.
Luís da Câmara Cascudo escreveu: “Não é possível ser-se vaidoso estudando História. Em poucas páginas amarelas toda uma vida se resume. Aqui é o batizado, além o casamento, depois matrimoniam-se os primeiros filhos e logo deparamos com a morte. Leva-se dez minutos a ler e ali está toda uma existência, com suas vaidades, esperanças, ambições e desânimos. Não há nada mais carinhoso, acolhedor, mestre de modéstia, de simplicidade, doador de paz interior, que o estudar-se genealogia junto a papéis velhinhos e esquecidos”.
Ao tomar conhecimento do nosso livro, o Presidente do Tribunal de Contas do Estado, conselheiro Valério Mesquita, promoveu um encontro com o também pesquisador e genealogista Anderson Tavares. Em meio a nossa conversa, confidenciei-lhe o sonho de fundar, em nosso Estado, uma instituição voltada principalmente para o estudo genealógico. Nascia naquele instante uma parceria de sonhos e ideias que veio a culminar com a criação do INRG. Sabíamos de antemão que seria tarefa difícil, mas, mesmo assim, não nos intimidamos e partimos para a luta.  




              
                                   ORMUZ SIMONETTI, EIDER FURTADO E ASSIS CÂMARA


Então, na noite do dia 17 de setembro de 2009, na sede da Academia Norte Rio-grandense de Letras, em Assembleia aberta pelo seu presidente – acadêmico Diógenes da Cunha Lima, que em seguida nos passou o comando dos trabalhos, foi criado o Instituto Norte Rio-grandense de Genealogia. Naquela ocasião, estavam presentes 40 personalidades do meio literário e cultural do nosso Estado, que, em apoio a nossa causa, passaram a fazer parte como sócios fundadores da novel instituição.
O instituto tem por finalidade, segundo o nosso Estatuto, promover e estimular estudos sobre Genealogia, especialmente, a norte rio-grandense, e sua interação com a História do país, estudos estes que poderão estender-se a disciplinas afins, tais como, História, Heráldica, Paleografia, Informática e Arquivística, aplicadas à Genealogia.
Logo em seguida, participamos do Primeiro Encontro Norte Rio-grandense de Genealogia, na cidade de Caicó-RN, promovido pelo prefeito Rivaldo Costa, um apaixonado pela Genealogia, e também sócio fundador de nossa Instituição.
Esses eventos se sucederam nos dois anos seguintes, com grande participação de vários genealogistas do nosso Estado, inclusive alguns procedentes de outros Estados da federação, como Paraíba, Pernambuco e Ceará. A população também teve participação bastante expressiva e com notório interesse aos temas abordados, principalmente nas mesas de debates, onde eram frequentes os apartes da plateia.
Em outubro de 2010, participamos do III Encontro de Escritores Potiguares, realizado pela União Brasileira de Escritores do Rio Grande do Norte, a partir de quando ficamos parceiros e solidários. Naquela ocasião, apresentamos à comunidade estudiosa nos assuntos genealógicos, através de nossa confreira Edite Carboni, o extraordinário trabalho realizado pela Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida como igreja dos Mórmons, da qual ela faz parte. Foi nos Centros de História da Família, denominados CHF, mantidos pela Igreja, onde encontrei as portas sempre abertas e a boa vontade de seus administradores. Lá, desenvolvi boa parte da minha pesquisa. Essa instituição religiosa tem, entre seus preceitos, o estudo da Genealogia. Um de seus rituais sagrados é a “ordenança vicária ou ordenança para os mortos”, que significa o batismo de ancestrais que morreram sem o conhecimento do evangelho. Para seus seguidores, é necessário que se conheçam os dados relativos a cada antepassado morto, a fim de que aquele ente falecido possa ser batizado – representado por um parente vivo –, e alcance a salvação. Tal situação transformou cada membro da Igreja em um potencial pesquisador genealógico. Atualmente, a Igreja está presente em 170 países, com 14 milhões de seguidores e 4.500 Centros de História da Família. Nesse contexto, o Brasil ocupa o 3° lugar no mundo, em número de seguidores. Em Natal, existem 4 CHFs que funcionam diariamente e estão à disposição da população, para as pessoas que se interessarem pela pesquisas genealógicas.
Os mórmons transferiram, para os seus arquivos, dados genealógicos pesquisados ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Fizeram isso através de trocas: salvaram toda essa documentação que estaria, sem a ajuda deles, em parte, irremediavelmente perdida, assim como se perderam, no passado, grande parte dos documentos históricos brasileiros. Por onde passaram deixaram um novo conceito de responsabilidade com a documentação histórica, além de fornecerem as duplicatas dos microfilmes aos arquivos dos países, onde realizaram as pesquisas. Esses dados foram colhidos em arquivos de dioceses, cartórios, cemitérios, e até nas listas de passageiros de navios que migraram para outros países, como no caso do Brasil. A importância que dispensam a esse material genealógico é tamanha, que os microfilmes são guardados em um abrigo com temperatura controlada, à prova até mesmo de ataque nuclear, localizado no interior de uma montanha de granito, em Salt Lake City, Estado de Utah, no Oeste dos Estados Unidos, onde fica a sede da Igreja.


                 


    Em 26 de novembro de 2010, tivemos nossa instituição reconhecida como de Utilidade Pública Estadual, através da Lei N° 9.411 de 23 de novembro de 2010. E, em 14 de dezembro, fomos reconhecidos como de Utilidade Pública Municipal, conforme Lei n° 6.170 de 13 de dezembro daquele mesmo ano.
            Desde que o Instituto foi criado, que nos sentimos incomodados com o fato de não termos uma sede própria. Entendemos ser a principal condição de sobrevivência das Instituições, que sejam possuidoras de sedes próprias. A História tem nos mostrado que a falta desses locais tem se constituído num dos principais causadores de dissolução das instituições recém-criadas.
            Foi com esse pensamento, que, desde o primeiro dia de sua fundação, lutamos por um local para abrigar nosso acervo, receber visitantes interessados em nossas pesquisas e, principalmente, propiciar aos confrades um local onde possamos nos reunir para trocarmos experiências e tomarmos decisões que ajudem a fortalecer nossa Instituição.
            No início do mês de abril de 2010, procuramos o então Secretário de Administração do Estado, Dr. Paulo César Medeiros. A ele relatamos nosso desejo de ter um local onde pudesse funcionar nossa instituição. O pedido foi prontamente por ele aceito e louvado. Dias depois, em 27 de abril de 2010, foi emitido um ofício circular solicitando que lhe fosse informado sobre a existência de imóveis vagos, desocupados ou desativados, os quais pudessem atender nosso pleito.
            A partir dessa circular, fomos informados da existência de um prédio localizado na Av. Prudente de Morais, próximo à Academia Norte Rio-grandense de Letras, por sorte, nossa sede provisória. Esse prédio, onde outrora funcionou o Centro de Artesanato Papa Jerimum, há anos encontra-se abandonado e interditado pelo Corpo de Bombeiros. Deu-se, então, início ao processo n° 145.846/2010-1, que solicitava a cessão daquele imóvel.
            Meses depois, recebemos notificação de Dr. Francisco de Sales Matos, procurador do patrimônio do Estado, dizendo da impossibilidade de ocupar aquele imóvel, visto que o mesmo estava sendo reivindicado pela Escola Estadual Augusto Severo, que fica vizinho ao referido prédio. Era desejo da Direção daquele estabelecimento de ensino construir, naquele local, uma biblioteca para atender seus alunos.
            Imediatamente, declinamos do nosso pleito por entendermos ser justa a reivindicação do colégio, mesmo sabendo que seria tarefa bastante difícil, a sua realização. Além do mais, não tínhamos nenhuma pretensão em nos envolver em um possível litígio com aquela entidade de ensino.
            Em conversa com Dr. Francisco Sales, ele nos informava da possibilidade de ocuparmos o terreno pertencente ao Estado, localizado na esquina das Ruas Dr. José Gonçalves e Antônio Basílio, que há vários anos estava abandonado e fora invadido por marginais. Atualmente, a área abriga irregularmente um estacionamento pago, explorado por terceiros, e, apesar de algumas ações promovidas por esta Casa, ainda não foi possível sua reintegração.
            
                           
                                 ORMUZ BARBALHO SIMONETTI

Demos prosseguimento ao processo com esse novo pleito e desta feita a solicitação englobava mais duas instituições culturais: A Academia de Letras Jurídicas do Rio Grande do Norte – ALEJURN, que atualmente tem sua sede provisória nesta Casa, e a União Brasileira de Escritores Seção Rio Grande do Norte, que, naquela ocasião, tinha sua sede igualmente provisória no Memorial Vicente de Lemos, prédio anexo ao Tribunal de Justiça.
            Em junho de 2011, a União Brasileira de Escritores foi injustamente determinada a não mais realizar reuniões no Memorial, mesmo depois que seu presidente, Eduardo Gosson, que também é funcionário do Tribunal, ter sido responsável pela total recuperação do prédio, que se encontrava em estado deplorável e ameaçado por algumas “cabeças pensantes” do referido Tribunal, que pretendia demoli-lo para transformá-lo em estacionamento, o que felizmente não aconteceu. Imaginem os senhores que esse prédio histórico, outrora abrigou a família do Dr. Barata.
            Atualmente, a UBE-RN se encontra na condição de “sem teto”, e, a exemplo do INRG, com endereço provisório na Academia de Letras do RN.
            Acreditei que com a parceria dessas duas instituições, principalmente a ALEJURN, que tem entre seus sócios vários dos procuradores que integram os quadros dessa honrosa Casa, nada nos impediria de alcançar nosso intento. Confesso que ergui castelos e fiz planos para essa nova casa de cultura. E, como irrecuperável otimista, fui além nos meus devaneios. Solicitei ao confrade Carlos Gomes que convidasse seu irmão, o renomado arquiteto Moacyr Gomes, para projetar, sem ônus, a título de colaboração com a cultura de nosso Estado, a planta do prédio que abrigaria essas três instituições. Ledo engano. Mais uma vez nos deparamos com a contumaz dificuldade imposta por algumas pessoas, e até com argumentos que nos entristecem – alegou o analista que, como aquele espaço era um terreno localizado em área nobre, jamais poderia abrigar instituições criadas “ontem”, e pasmem, sem nenhuma expressividade. Infelizmente, é esse o tratamento que se dá à cultura em nosso Estado.
            Em verdade, esqueceu o analista que a União Brasileira de Escritores do RN foi fundada em 14 de agosto de 1959, tendo como seu primeiro presidente Raimundo Nonato da Silva e, no conselho fiscal, figuras como Luís da Câmara Cascudo, Edgar Barbosa, entre outros.
            Prosseguimos em nossa luta. Tivemos diversas reuniões com o Procurador Geral, também membro da ALEJURN, Dr. Miguel Josino Neto, que, desde o início, demonstrou grande interesse pela cessão do referido imóvel.
            Com o parecer desfavorável para a ocupação daquela área, Dr. Miguel Josino nos informou que, em audiência com a Governadora Rosalba Ciarline e o então chefe da casa civil, secretário Paulo de Tasso Fernandes, foi autorizado a localizar, entre os imóveis pertencentes ao Estado, um local que atendesse nossas necessidades e que tivesse as mesmas características, quanto à área e à localização.
            Acompanhado de funcionários do setor de patrimônio dessa procuradoria, juntamente com os confrades Jurandyr Navarro e Luciano Nóbrega, partimos em busca de um "milagre": porém, como eles também acontecem, após percorrermos alguns locais na área do Centro Administrativo, fomos alertados, por um dos funcionários que nos acompanhava, da possibilidade de nos instalarmos no local conhecido como Presépio de Natal, que se encontra há vários anos, em total estado de abandono e sendo depredado por vândalos e moradores de rua. O referido prédio atendia bem nossas expectativas, principalmente no que se refere ao acesso e à localização, pois, sendo essas Instituições compostas, em sua maioria, por pessoas de idade, esses itens eram de suma importância, em nossa avaliação.
            Na ocupação daquele espaço, ganharia principalmente o Estado, ao se livrar do ônus de conviver com a incômoda situação de ter sob sua responsabilidade um prédio que, na época, custou aos contribuintes mais de um milhão de reais. Por outro lado, ganharia a cultura de nosso Estado, ao localizar num mesmo espaço físico, três instituições culturais, que, a despeito de estarem enfrentando todas essas adversidades, orgulham-se de ser das poucas instituições culturais a continuar produzindo cultura em nosso Estado.   
            Durante o ano de 2011 tivemos, com o Procurador Geral Dr. Miguel Josino Neto, pelo menos 15 reuniões, na tentativa de conseguirmos uma área para abrigar essas instituições. Nessas reuniões sempre me fiz acompanhar pelos membros da ALEJURN – os procuradores Dr. Jurandyr Navarro, que naquela ocasião presidia a Instituição, e atualmente digníssimo presidente do Instituto Histórico e Geográfico do RN e o Dr. Luciano Nóbrega, também um incansável nessa luta. Infelizmente, até a presente data, nada conseguimos.
            Por enquanto, nossas reuniões estão sendo realizadas no escritório do confrade Carlos Gomes, que, desde o início, gentilmente, nos franqueou espaço em seu escritório.
            No último mês de março, após tantas decepções, fomos recompensados pela nossa insistência, na luta para fortalecimento de nossa instituição, dotando-a de equipamentos para melhor desenvolver nossas pesquisas. Recebemos como doação da Secretaria da Receita Federal, em processo iniciado ainda no ano de 2010, diversos equipamentos e materiais que serão utilizados nas nossas pesquisas. Todo esse material ficará à disposição de nossos confrades. Computadores, impressora, máquinas fotográficas, micro system, DVDs e pendrives passaram a fazer parte do nosso acervo, e já se encontram devidamente registrados em livro de tombo. Também recebemos doações de equipamentos eletrônicos feitos pela Associação Atlética do Banco do Brasil.
            A dificuldade sempre foi nossa companheira inseparável. Até mesmo para obtermos o simples registro de nossa Instituição, fomos obrigados a entrar com recurso junto à Corregedoria Geral de Justiça. A tabeliã encarregada do registro recusava-se, peremptoriamente, a fazê-lo, alegando a prosaica exigência para que apresentássemos dois originais da Ata de Fundação, o que certamente não seria possível, visto que “original” trata-se apenas de uma única coisa. Com base em nosso recurso, no dia 22 de junho de 2010, foi baixado pelo Desembargador João Rebouças, Corregedor Geral de Justiça, o Provimento 57, que passou a dirimir todas as possíveis dúvidas quanto à documentação exigida, por ocasião do Registro Civil de Pessoas Jurídicas, fato que gerou repercussão no meio jurídico.
            Mesmo após tantas idas e vindas, ainda continuamos firmes no nosso propósito de conseguir um abrigo para essas Instituições. Desistir jamais. A cada malogro, aumenta nossa disposição para a luta, pois nossa maior virtude é sermos, irrecuperavelmente, otimistas e sonhadores. Vamos, agora, em busca da criação da nossa revista, pois já dispomos de um blog, criado por iniciativa deste que vos fala. Faço aqui referência às sábias palavras do ex-governador Cortez Pereira: “Se unidos já somos fracos, desunidos não somos nada”.

Obrigado a todos. 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O BARLEAUS ESTÁ DE VOLTA

         O Presidente do I.H.G. R.N, Juramdyr Navarro, Gutemberg Costa e Ormuz Simonetti




FINALMENTE O BARLAEUS RETORNA AO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO RIO GRANDE DO NORTE.


O livro escrito em 1647 pelo historiador e teólogo holandês Gaspar Von Barlaeos retrata o nordeste do Brasil durante a ocupação holandesa, com foco principal na cidade de Olinda. 
Gasper Von Barleus foi quem cunhou, em 1660, ao escrever Rerum per octennium in Brasilien, a expressão "ao sul da linha equinocial não se peca". Em português, ela se tornou conhecida e mesmo popular entre nós, depois que virou o primeiro verso de um dos maiores sucessos de Chico Buarque, na voz de Ney Matogrosso, utilizada como tema de novela da Globo: Não existe pecado do lado de baixo do Equador o autor depois de visitar o Brasil, registrou a frase num livro de viagens que escreveu, fazendo o seguinte comentário: “é como se a linha que divide o mundo separasse também a virtude do vício.

sexta-feira, 20 de abril de 2012

PIPA, TERRA DE NINGUÉM – Parte II


Uma noite tranquila é direito de todos




          No sábado de aleluia a Pipa foi palco de uma situação que além de inusitada, arrisco a afirmar não ter precedente em nenhum lugar onde convivam pessoas com um mínimo de civilidade. Para que o Padre pudesse celebrar a Santa Missa, já que uma das casas alugadas fica ao lado da Igreja, foi preciso que a polícia se posicionasse ostensivamente em frente à residência e negociasse com os seus integrantes, o desligamento provisório do som, pelo menos enquanto durasse a celebração. Mesmo assim, antes do término da missa, o som retornara com toda sua potência.

          Nos Estados de origem da maioria desses vândalos, Pernambuco, Paraíba e Ceará, tenho certeza que esse tipo de comportamento, além de não ser permitido, seria rechaçado pela população e pela própria polícia, seguramente, com respaldo das autoridades locais, fazendo-se presente e coibindo esse comportamento marginal. Certamente, alguns potiguares que participavam dessa orgia, também fazem parte desse acinte.

No Rio Grande do Norte e principalmente na praia da Pipa, ao que parece, tudo pode. E, com base nessa premissa, eles sempre estão de volta. No próximo feriadão, lá estarão novamente promovendo todo tipo de desordem e afrontando as famílias que tiveram a infelicidade de ter suas casas de veraneio na praia da Pipa, ultimamente, terra de ninguém. 

          Nós, veranistas e assíduos frequentadores dessa praia, já pagamos nossa cota de sacrifício, quando somos obrigados a conviver com um trânsito caótico, sem regras nem orientação. A ausência do poder público municipal é gritante. Os carros são estacionados ao bel prazer dos motoristas, muitas vezes estimulados por “flanelinhas” que no afã de ganhar alguns trocados, interrompem o trânsito com estacionamentos irregulares, principalmente quando são feitos em frente a garagens. O pior é que não temos a quem recorrer. Muitas vezes já fui impedido de sair de minha garagem, por haver um carro estacionado de forma irregular, e o proprietário em local ignorado.

          Na parte baixa da praia, onde se concentra a maioria dos carros, não existe e nem nunca existiu, nenhum servidor municipal para organizar o estacionamento e o fluxo dos veículos. Tudo é feito na base do “salve-se quem puder” e sob orientação dos “flanelinhas”. O turista que tiver a desventura de chegar à praia da Pipa por volta do meio dia dirigindo seu próprio veículo, certamente não levará boas recordações e irá pensar duas vezes, antes de retornar numa outra oportunidade.

           Quando não cuidamos de nossa própria casa, sempre aparece alguém para exercer esse “direito”. A liberdade aos poucos vai sendo retirada, sem que reclamemos ou protestemos até que um dia descobrimos que nada podemos dizer. É preciso despertar. Lembro-me do poeta Eduardo Alves da Costa, autor de alguns dos maiores e mais belos poemas da língua portuguesa, publicado na década de 60. Peço vênia, para citar fragmento do poema: No Caminho, com Maiakóvski.

Tu sabes,
conheces melhor do que eu
a velha história.
Na primeira noite eles se aproximam
e roubam uma flor
do nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem:
pisam as flores,
matam nosso cão,
e não dizemos nada.
Até que um dia,
o mais frágil deles
entra sozinho em nossa casa,
rouba-nos a luz, e,
conhecendo nosso medo,
arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada”.

E aqui fica a pergunta que não quer calar: é esse o Estado que se diz apto a receber a Copa do Mundo? Talvez tenhamos que pagar um alto preço pela vergonha do fiasco que poderá estar por vir. Como dizem ser o tempo o senhor de tudo, só ele será capaz de responder a esse questionamento.

Quem viver, verá.








sexta-feira, 13 de abril de 2012



PIPA, TERRA DE NINGUÉM – Parte I

Uma noite tranquila é direito de todos

         Há anos que o um dos mais famosos balneários do Brasil, a praia da Pipa, vem convivendo com um problema recorrente, e aparentemente sem solução. Quando acontece grandes feriados, horda de jovens, na sua grande maioria, procedentes de outros Estados, desembarca na praia da Pipa com o propósito de diversão a qualquer custo e a nítida intenção de transgredir a Lei e a Ordem pública.
         Foi o que aconteceu no último feriado da Semana Santa. Apenas três casas foram alugadas pelos seus proprietários, porém, o suficiente para deixar toda a parte baixa da praia, onde se concentra a maioria das casas de veraneio, em polvorosa.
         Quando acontecem esses aluguéis, os contratantes tratam diretamente com os proprietários e depois vendem os ingressos aos que desejarem participar da “festa”. Geralmente casas que comportariam de doze a quinze pessoas, são acomodadas, se é que podemos chamar de acomodação, até setenta indivíduos em sua maioria, constituída por jovens de ambos os sexos.
         Munidos de equipamentos de som de alta potência, são ligados em todo o volume o que resulta num verdadeiro pandemônio. Nessas casas, para chamar a atenção, são colocadas faixas e cartazes com palavras obscenas e algumas exibem, com pequenos disfarces, a genitália masculina, indicando ser ali a Casa de todos. Não fosse esse cronista de página limpa, tentaria levar o leitor a identificar o verdadeiro nome.
         Dentro delas a visão é estarrecedora. Homens e mulheres se entregam a uma orgia sem precedente. O álcool comanda o ambiente e dita o ritmo da festa. As mulheres, normalmente mais vulneráveis aos efeitos das bebidas alcoólicas, são as que mais se destacam e se exibem. Em notória degradação de sua dignidade, convidam, através de musiquetas com cunho sexual, cantadas em coro, futuros parceiros, com se fossem mercadoria em liquidação. Numa verdadeira afronta as famílias que residem nas adjacências, bem como aos turistas, palavrões de toda espécie são recitados em alto e bom som, independentemente de quem estiver passando nas imediações. Famílias quando acompanhadas de menores, se apressam para escapar daquele ambiente de permissividade comportamental e promiscuidade social e moral.
         Quando a noite chega os grupos continuam no mesmo ritmo que iniciaram, porém, a embriaguez já tomou conta da maioria dos participantes. E assim continuaram durante todo o feriado. Enquanto alguns dormem, obviamente, vencidos pelo cansaço misturado ao estado de embriaguez, outros continuam na farra, de maneira que o som permaneça ligado no último volume.
         É notória a indolência do poder público Municipal e principalmente a ausência do Estado, com relação ao policiamento, já que este é de competência do Governo Estadual. O efetivo responsável pela manutenção da ordem e da lei, em todo o balneário, é de apenas três homens. Segundo especialista em segurança pública, em razão das características e peculiaridades da praia da Pipa, esse número seria de no mínimo, dez homens para atender a demanda, principalmente durante os feriados prolongados. Imagine, meu caro leitor, o que é passar a noite fazendo rondas, solucionando conflitos dos mais diferentes níveis sem que o Estado lhes ofereçam as condições necessárias ao bom desempenho de suas funções constitucionais. É um caos. E mais. Há relatos de que as gratificações prometidas para o período do veraneio, ainda não foram lançadas nos contracheques dos valorosos militares.  
         Além do mais, pergunta o Agente, o que poderia fazer o policial para coibir esse tipo de abuso? Sem o apoio do Judiciário e do Ministério Público, seus poderes são altamente limitados. Questiona-se.
E foi o que aconteceu. Quando o policial ao se aproximar da residência para solicitar que o som fosse diminuído, um dos participantes o admoestou: “se não tem mandado a conversa é do portão pra fora”. De antemão, o policial sabe que dentre aquelas pessoas, existem vários advogados “com notórios saber jurídico” que conhecem bem “seus direitos”, mas infelizmente usurpam, ofendem e fazem menoscabo com os direitos alheios. Temendo a desmoralização, o agente da lei procura através de conversa, em sua maioria sem êxito, convencê-los a atender o clamor da população e pelo menos diminuir o volume do som, para que principalmente idosos e crianças possam dormir em paz.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                 
         Mesmo se os moradores-veranistas quisessem usar do direito assegurado no art. 42, III da Lei das Contravenções Penais, iriam até a Delegacia de Policia Civil e fariam um Termo Circunstanciado de Ocorrência, objetivando a solução do conflito. Ocorre, porém, que na Delegacia de Policia Civil da praia da Pipa, tem apenas um agente e, pasmem, sem viatura. Nesse caso, não restaria nenhuma outra solução a não ser reclamar ao Senhor Bispo, Dom Jaime, representante de Deus entre os homens. 
Diferentemente, na praia de Pirangí acontecia problema semelhante. Mas, ao que pude apurar, as autoridades competentes dotaram, os policiais de instrumentos legais, previstos em nossa Constituição, para que pudessem ser utilizados no cumprimento da lei. Munidos de Mandado Judicial, aos policiais era permitido adentrar ao ambiente e apreender o equipamento de som que estivesse em desacordo com a legislação, caso o infrator se recusasse a cumprir o que determina a lei.   
                                                                        Solicitamos aos leitores que se manifestem a respeito da matéria para que possamos pressionar as autoridades competentes.