terça-feira, 9 de junho de 2009

Do livro "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS" - Depoimentos

Caro Ormuz.
Gostei e até me comovi muito com a sua crônica sobre o nosso amigo Francisquinho. Você como bom escritor , soube sintetizar a sua vida e me fez lembrar uma época que já não existe e que só traz recordações boas e ao mesmo tempo para mim dolorosas. Esta semana remexendo meus "guardados", encontrei uma relação enorme de nomes de pessoas da "Pipa", dos seus apelidos, isto é, como eles eram conhecidos. É interessante, depois mandarei para você.

Abraços

Dina Fagundes
Goianinha-RN

Do livro "A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS" - Depoimentos

Obrigado, Ormuz.
Que deliciosa leitura!Vi tambem que voce agora e membro do INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO ESPÍRITO SANTO (possse no proximo dia 17/06). Muito nos honra, e mais honrados ainda se voce pudesse comparecer. Caso decida, informe-nos, que providenciaremos a recepcao.
Abraco,
Milton José Lyrio Simonetti
Vitória- ES

domingo, 7 de junho de 2009

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - MATÉRIA PUBLICADA NA TRIBUNA DO NORTE EM 07.06.2009



TRIBUNA DO NORTE

QUADRANTES
07/06/2009


ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Genealogista e historiador)

Pipa – morre o mestre Francisquinho

Em 1939 chega à praia da Pipa, vindo do norte, mais precisamente da praia de Galinhos (RN), Francisco Caetano do Nascimento, mais conhecido por Francisquinho. Aos 16 anos de idade, o jovem pescador veio acompanhando seu tio, mestre de um barco, para uma temporada de pesca da albacora.
A Pipa vinha se tornando famosa pela grande quantidade de peixes que se capturavam em suas águas, atraindo pescadores de várias praias do nosso estado e até mesmo de outros vizinhos, como a Paraíba e Ceará. Ao retornar para Galinhos, após o final da safra de albacora, Francisquinho informou a sua mãe que tinha gostado muito do lugar e que voltaria pra morar. Então, no mesmo ano, o adolescente chega à Pipa, e dessa vez, para ficar.

No início, começou a pescar em barcos de outras pessoas e como já entendia um pouco da carpintaria naval, aventurou-se no conserto de botes. Em Galinhos, onde morava, costumava realizar pequenos consertos em embarcações que chegavam avariadas. Posteriormente, veio a se tornar o maior carpinteiro naval das praias do litoral sul, como são conhecidas as praias que se situam a direita da cidade de Natal. Anos depois, Francisquinho conheceu a viúva Maria da Conceição Borges, e com ela se casou. Dessa união tiveram cinco filhos, sendo dois homens, três mulheres e um sexto filho que foi adotado.

Os dois primeiros botes que construiu foram: Taubaté e Baluarte. A partir daí, até o último bote construído, Malembá II, foram mais de quinhentas embarcações entre botes a pano, a motor e jangadas de compensado naval. Eu, juntamente com meu irmão Dante, tivemos a oportunidade de, em 2004, ter uma dessas jangadas construída por ele. O Malemba II, a última e maior embarcação que construiu, tinha 16,5m x 6,5m e destinava-se ao transporte de turistas em passeios pelas praias do norte. Foi projetado para levar 150 passageiros, em dois andares.

O proprietário desta embarcação dizia que se por acaso não desse o resultado esperado com os passeios turísticos, o barco seria destinado ao transporte de cargas para a ilha de Fernando de Noronha. Fui informado que se encontra no norte, na praia de Galinhos, fazendo o que? Não sei.
Por muitos anos o estaleiro de Francisquinho funcionou na praia da Pipa, próximo a casa onde morava, na rua de cima. Com o tempo e a fama de bom construtor, aqui chegavam, de várias regiões, pessoas interessadas em contratar a construção de barcos no estaleiro do mestre. Essa fama perdurou enquanto esteve à frente da administração do seu estaleiro.

No início, a construção de um bote levava muitos dias, pois faltavam ferramentas e havia a dificuldade em conseguir a principal matéria prima: a madeira. As árvores eram retiradas das matas que ficavam a uma boa distância da praia. Dependendo da sua utilização elas podiam ser cortadas de maneira bastante rudimentar, e após isso, abertas em forma de pranchas ou moldadas em “cavernas”. Em seguida, este material era transportado em lombo de animais ou na cabeça dos homens.

O machado era utilizado para derrubar a árvore escolhida e depois dois homens operavam um grande serrote para abrir a madeira em pranchas, que mediam três polegadas de espessura. Levavam-se dias para transformar em pranchas uma árvore de bom porte. As “cavernas”, peças em forma de “U”, que juntamente com a quilha forma o esqueleto do bote, muitas vezes eram lavradas na própria mata. Quando transportadas para o estaleiro, já estavam no ponto de acabamento.
O processo era concluído com a ajuda de plainas e inchós. O trabalho era penoso. Conseguiam moldar peças enormes de madeira bruta em robustas “cavernas”, dando-lhes as formas necessárias utilizando apenas o machado e a inchó.

Para armar o bote era preciso primeiro situar a quilha. Depois a roda de proa, a espinha e em seguida a colocação do cavername. Após a colocação das “cavernas”, seguia o terço de proa e o terço de popa. O próximo passo era “envedubar” o barco, ou seja, dar a forma que vai ficar depois de pronto. Em seguida, vinha o "enlatamento”, operação que consiste em pregar barrotes, ligando as duas extremidades das “cavernas”, em preparação para o taboamento do convés.

Essa operação era realizada logo que aprontavam as escotilhas de porão. Somente na fixação das tábuas do convés é que utilizavam pregos.
Nas outras operações, como também no tabuamento dos costados, eram utilizadas cavilhas. Em seguida, eram feitas as bordas e os corrimãos de bordas. A última operação antes da pintura era o calafetamento, que é a vedação do barco. Para isso eram utilizadas estopas feitas com a casca da Sapucaia.

Procurei aqui, da melhor forma que me foi possível, descrever o que foi para o mestre Francisquinho, a paixão de toda sua vida: construir barcos. Para exercer tão nobre profissão, teve que passar por muitos desafios que lhe foram impostos durante o tempo em que pode manobrar com maestria, as ferramentas que lhe permitiam, usando somente a intuição e a vontade de vencer desafios. Ao longo de sua vida, o mestre produziu verdadeiras obras de arte, da nossa construção naval, de pequeno porte.

No último dia 22 de maio, descansou para sempre o mestre Francisquinho. Acometido de vários derrames, viveu os últimos anos recluso em seu sítio, nos arredores da Pipa. Tinha perdido a condição de falar e andava com muita dificuldade. Mas, quando encontrava os amigos, seus olhos miúdos brilhavam de satisfação e felicidade. Diziam o que sua voz, levada pela doença, já não lhe permitia dizer. Morreu o homem, o profissional, o mestre, o amigo, o religioso e o pai de família que soube criar os seus filhos com dignidade. Teve ainda, junto com sua esposa, espaço em seu coração para o sublime ato de amor ao próximo, a adoção. Descanse em paz, amigo.
Natal, 30 de maio de 2009.

Essa crônica faz parte do livro “A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS, a sua verdadeira história”. De autoria de Ormuz Barbalho Simonetti, tem publicação prevista para o ano de 2010.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO ESPÍRITO SANTO

Prezado Senhor,

É com prazer que informamos sua aprovação para sócio correspondente desta Instituição. A posse esta marcada para o dia 17/06/2009, às 17h, contamos com sua presença.

Secretaria

INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DO ESPÍRITO SANTO
Av. Republica, 374 - Parque Moscoso Secretaria(27) 3223-5934
VISITE NOSSA PÁGINA http://www.ihges.com.br/http://br.mc575.mail.yahoo.com/mc/compose?to=contato@ighes.com.br

domingo, 31 de maio de 2009

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS

Oi, primo,

Muito obrigada pelo envio. Acompanho sempre suas crônicas com muito carinho e saudades. A Pipa também faz parte de minha infância e juventude, quer dizer, a Pipa de nossos avós, não a de hoje. Continue a preservar nossa memória.Vovô Benjamin e vovó Milinha lhe agradecem. Nós também.

Bjs. Aldinha.
Recife-Pe

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Instituto Historico e Geografico do Espirito Santo

Instituto Historico e Geografico do Espirito Santo
A casa do Espírito Santo - (Fundado em 12 de junho de 1916)



Paulo Stuck Moraes disse...


Caro Ormuz
Benvindo à Rede. Ontem, seu nome foi aprovado para sócio correspondente. A posse se dará a 17 de Junho. Se puder comparecer, será benvindo.

Saudações.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS - MATÉRIA PUBLICADA NA TRIBUNA DO NORTE EM 24.05.2009

Pipa, os currais-de-peixe

Ormuz Barbalho Simonetti - (Genealogista e historiador)

O primeiro curral-de-peixe da Praia da Pipa foi construído no local denominado Praia do Canto e pertencia a Miguel Moreira. Mais na frente, havia outro curral que era de três donos: Manoel de Hemétério, Antônio Marcelino e Miguel. No Madeiro, pelo lado do Hotel Natureza, onde o mar é calmo, havia dois currais: o de João Pegado e o de Antônio Pegado. Em frente à “Pedra do Santo”, também existiu um curral que pertencia a Chico Marcelino, e no “Porto de Baixo”, outro de Manoel Castelo.

Em frente à casa de meu irmão, Dante Simonetti, tinha o curral de José Bidium. Em 1982 esse curral foi comprado por Dante e depois demolido. Pouco mais adiante, havia o curral de Manoel Estevão, onde ainda hoje é possível ver o local onde foram construídas as salas desse curral. Os dois últimos currais ficavam na Ponta do Moleque, um de Manoel Estevão e o outro de Antônio Pegado. A técnica na construção dessas armadilhas para a captura de peixes é lusitana.

Os nossos parentes de além mar, que tinham na pesca uma de suas principais atividades, já se utilizavam dessas armadilhas há varias gerações. Sua provável origem é no arquipélago dos Açores e a técnica foi aperfeiçoada pelos nossos irmãos lusitanos. São construídos, de preferência, em baías e enseadas onde as águas são rasas e tranquilas.Existem registros que no ano 1869 os imigrantes portugueses que se estabeleceram nas cidades cearenses de Acaraú e Camocim, percebendo o mar tranqüilo e a plataforma continental larga e baixa, introduziram naquela região a pesca de curral.

A construção dessas estruturas é feita de maneira que, por ocasião da baixa mar, não exista dificuldades em chegar até suas salas e chiqueiros, onde os peixes são aprisionados.No Brasil existem vários tipos de currais-de-peixes. Os construídos na praia da Pipa eram formados por uma espia, duas salas e dois chiqueiros. No final da espia localizam-se as salas, em seguida o chiqueiro grande e por último o chiqueirinho. As salas e chiqueiros são dependências circulares ou ovaladas onde os peixes são aprisionados.

O seu funcionamento é muito simples. Os peixes são obrigados a nadar para dentro de suas salas quando o seu percurso é interrompido pela espia. Ao penetrar no primeiro compartimento e contorná-lo procurando saída, é conduzido para o chiqueiro grande e em seguida para o chiqueirinho. Quando chegam nesse último compartimento, cessam todas as possibilidades de saída. Para a construção de um curral-de-peixe, inicialmente são afixados na praia, partindo da parte mais rasa da maré, mourões de madeira que são martelados até obter uma boa fixação. Após estarem bem firmes no solo, e obedecendo a uma distância de um a dois metros entre as peças, são colocadas as esteiras de varas.

Na construção de um curral de porte médio, eram utilizados de 400 a 600 mourões e, de uma extremidade a outra, chegava a medir até 100 metros. As esteiras eram previamente armadas na praia e as varas, conseguidas na própria região, que tinham altura que variava entre 2,0 e 2,50 metros. Essas varas eram ligadas umas nas outras com cintas de cipó vegetal, onde os mais utilizados eram o cipó-brocha e o cururú. Antigamente os cipós eram retirados das matas que existiam acima das falésias.

Com a escassez desse material, ocorrida na década de 80, o mesmo passou a ser trazido das matas do Engenho Cametá, que fica no município de Ares, e pertencia a Felipe Ferreira. As esteiras eram então amarradas com o mesmo cipó aos mourões, desde a primeira peça, até circular todas as salas e chiqueiros. Em cada entrada de salas, as varas eram dispostas de maneira a dificultar a saída do peixe, logo após sua entrada. É por ocasião das enchentes que geralmente ocorre à entrada dos peixes no curral.

Para a despesca, o indivíduo utiliza pequenas redes e puçás. Quando ocorre a entrada de algum peixe de maior tamanho, utilizam porretes de madeira para imobilizá-los e facilitar a sua retirada. Há casos em que o peixe capturado, por ser muito grande, é preciso desmontar parte da entrada dos chiqueiros para a sua retirada. A despesca ocorre duas vezes durante o dia, por ocasião da baixa-mar.Na nossa costa, os peixes mais comuns pescados em currais são: carapeba, camurim (robalo), espada, tainha, pirambú e xaréu.

Na Pipa, os maiores peixes capturados em currais foram: um mero, com mais de 100kg e dois camurupins, pesando 80kg cada. Contou João Peixinho, nativo da praia e pescador desde criança, que na década de 40, assistiu juntamente com seu pai e seu tio, a captura de um cardume com mais de 2000 xaréus, no curral da Praia do Canto. Devido à falta de comércio na Pipa para essa quantidade de peixes, o pescador conta que todo o cardume capturado foi enviado a Natal, em dois botes, abarrotados de peixes, onde havia maior possibilidade de comercialização.

Hoje não existe mais nenhum curral-de-peixes na praia da Pipa. O último foi o de Antônio Pequeno lá na Praia do Canto, contudo o mesmo foi demolido em 1998. O avanço do mar sobre a falésia, aliado a infiltração das águas de chuvas, facilitada pelo desmatamento da vegetação nativa para a construção de um hotel, vem provocando o constante desmoronamento dessas falésias. Isso facilitou a ação dos ventos sobre o curral, encarecendo sua manutenção. Cada ano que passa, o mar arranca mais um pedaço da falésia, deixando à mostra partes da mesma, prestes a cair. Expondo ao perigo todos os que por ali passam quando se dirigem a Praia dos Golfinhos. É visível e preocupante o avanço do mar em toda a costa potiguar.

Essa crônica faz parte do livro “A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS, a sua verdadeira história”. De autoria de Ormuz Barbalho Simonetti, tem publicação prevista para o ano de 2010. ormuzsimonetti@yahoo.com.br