quarta-feira, 15 de abril de 2015

A CASA GRANDE DO BARÃO DO CEARÁ-MIRIM

Jeanne Fonseca Leite Nesi
Publicado em “O Poti”, edição de 04 de agosto de 1991

A antiga casa-grande do barão o Ceará-Mirim está localizada em terras da Usina S. Francisco ex-engenho do mesmo nome, nas proximidades da cidade do Ceará-Mirim atualmente, pertence a Companhia Açucareira Vale do Ceará-Mirim.
Residência senhorial, edificada em meados do século passado, conforme indica a inscrição existente na sua fachada: 1857. Seu primeiro proprietário foi o Senhor-de-Engenho Manoel Varela do Nascimento, Barão do Ceará-Mirim.
Manoel Varela do Nascimento, filho de Filipe Varela do Nascimento e de D. Teresa Duarte, nasceu aos 25 de Dezembro de 1802, no sítio “Veríssimo”, arredores da cidade de Ceará-Mirim. Sua esposa D. Bernarda Varela Dantas, veio ao mundo aos 17 de junho de 1821.
O Futuro barão começou a sua vida econômica como pequeno plantador, com um engenho movido por bestas. Adquiriu de um chefe índio de nome Saquete, uma terra pertencentes aos índios, denominada ilha dos cavalos (hoje ilha bela), na qual instalou o seu engenho São Francisco.
O Barão de Ceará-Mirim foi um dos primeiros proprietários de engenho da região a utilizar os cilindros horizontais, na moagem das canas, em substituição aos cilindros verticais, tradicionalmente utilizados, também foi o divulgador da cana “Cayenne” (caiana), logo predominante no vale do Ceará-Mirim.

Em sua vida pública, Manuel Varela do Nascimento aparece como alferes de 2ª linha, em 24.4.1828; presidente da Câmara Municipal de Extremoz, nos períodos de 1829/32 e 1837/40; 16.07.1852, coronel comandante superior da Guarda Nacional, dos municípios de Natal, São Gonçalo, Extremoz e Touros; deputado provincial, período de 1868; 3º vice-presidente da província em 1868.
Foi o primeiro norte-rio-grandense agraciado com o titulo de barão – Barão do Ceará-Mirim.
Por decreto imperial de 22.06.1874, assinado a 8 do mês seguinte. A benemerência deveu-se “aos relevantes serviços prestados à instrução pública da província do Rio Grande Norte”. O Barão do Ceará-Mirim dedicou grande devotamento à causa da instrução pública, chegando mesmo a construir uma escola, doada por ele ao município em 05.11.1878.
A tradição recorda as duas carruagens do barão (1877), “muito asseadas, com boas parelhas e seus escravos decentemente vestidos”. Antes do decreto da abolição da escravatura, todos os escravos pertencentes à baronesa do Ceará-Mirim, já haviam sido alforriados, por ato de 01.03.1888, em honra à memória do Barão...
A Casa-Grande do antigo Engenho São Francisco é ainda uma da melhores edificações do Município. Desenvolvida em dois pavimentos, a casa apresenta partido de planta quadrangular, com cobertura de quatro águas, beiral corrido com extremidades em “cauda de andorinha”, arrematado por cimalha.
A fachada principal da casa possui uma porta de acesso, ladeada por seis janelas, superpostas por sete janelas, rasgadas, guarnecidas por uma única grade de ferro. Todos os vãos são de arcos abatidos, com cercaduras de massa.
O prédio sofreu algumas alterações. Assim, as suas paredes externas perderam o belo revestimento de cerâmica do porto, da época de sua construção. O seu interior, onde atualmente funciona a administração da usina São Francisco, sofreu pequenas modificações para adaptá-lo ao novo uso. A casa possui piso cimentado no térreo, ainda conservando o assoalho de tabuado corrido, no pavimento superior. Mantém o forro de tabuado, no térreo, e no pavimento superior foi colocado gesso.
Antigamente, na sala de honra de casa-grande encontravam-se os retratos a óleo de barão e da baronesa. O tradicional edifício foi despojado de seus antigos moveis. O portão nobre, de ferro fundido em Portugal, foi transferido para uma construção ao lado da casa-grande. Nas proximidades daquela residência existe um pequeno cemitério e uma Capelinha, dedicada a N.S. da Conceição, onde se encontram duas imagens antigas, de madeira, e um crucifixo de marfim. O barão faleceu a 1º de março de 1881 e a baronesa aos 16 de julho de 1890, conforme indicações constantes das lousas mortuárias existentes naquele pequeno cemitério, onde também acham-se sepultados outros familiares.
A Casa-Grande encontra-se bem conservada o mesmo não podendo dizer do cemitério e da capelinha, que se encontram em péssimo estado de conservação no mais profundo abandono. Esperamos uma maior atenção por parte dos atuais proprietários, no sentido de ser recuperado aquele conjunto arquitetônico de relevante importância histórica, de modo a valorizá-lo como patrimônio artístico e sentimental do verde vale dos canaviais.