Publicado em O JORNAL DE HOJE na coluna Cena Urbana - Jornalista Vicente Serejo
O que seria mais estapafúrdio
para o bravo povo mossoroense se lá chegasse um governador e, de repente,
profanasse a catedral de S. Luzia, implodisse o monumento de bronze a Dix-Sept
Rosado, degolasse a estátua de Dorian Jorge Freire, ferisse a memória de Jaime
Hipólito, duas de suas maiores inteligências, e desrespeitasse o túmulo de
Vingt Rosado, no chão sagrado da sua Escola Superior de Agricultura que
construiu com as próprias mãos? Certamente, e com razão, seria morto e
esconjurado.
Pois é como se fosse assim, uma
estupidez sem limite e intolerável, a decisão da governadora de Mossoró ao
fechar a Escola Estadual Manoel Dantas, ali na esquina da Rua Alberto Maranhão
com a Av. Prudente de Morais. Pior: a escola foi despejada com aviso ilegal e
desrespeitoso que de forma acintosa, ontem de manhã, deu o prazo de cinco dias
para ser instalada uma repartição policial numa aula de horror, afinal só um
governo celerado tem a coragem de fechar uma escola sem justificativas.
A governadora de Mossoró não conhece
a nossa história. Não sabe que aquele terreno um dia foi doado para ser a
Escola Manoel Dantas, um dos maiores nomes da histórica política e intelectual
do Rio Grande do Norte, profeta da cidade, um dos patronos da Academia
Norte-Riograndense de Letras e do Instituto Histórico, nome de rua, pioneiro no
estudo da história do Rio Grande do Norte e seus municípios, um homem além do
seu tempo a registrar a vida e a evolução urbana da sua cidade Natal.
O governo de Mossoró primeiro tentou
vender o Juvenal Lamartine, como se fosse dono do seu destino e de um
patrimônio público. Depois, achou pouco, e decidiu que podia vender o Aero
Clube e seu chão histórico. Agora, ao apagar dos últimos dias para encerrar o
mandato, escolhe um triste fim despejando a Escola Manoel Dantas, depois de
abandoná-la por quatro anos. E tudo diante do silêncio das instituições
culturais e seus antolhos, apesar de todos os avisos e alertas, inclusive desta
coluna.
E o que diz o famigerado aviso?
Simplesmente que a diretora da Escola, sem citar nome, deve seguir ‘os trâmites
a fim de garantir a desocupação’ do prédio onde funciona a Escola Estadual
Manoel Dantas, localizada nesta capital. E continua: ‘A data agendada é 15 de
dezembro’. E ainda acrescenta no seu acinte que deve ser ‘providenciado’ a
lista contendo todos os seus equipamentos. E mais uma vez sem citar quem decidiu
e quem ordena o abuso, pede as chaves para entregá-las ‘aos cessionários’.
O mais estranho vem agora: quem assina
não é a governadora Rosalba Ciarlini ou a secretária da educação, professora
Betânia Ramalho. Nem mesmo a chefe de gabinete, Yraguacy Araújo Almeida de
Souza. É Maria José Azevedo Abrantes, a quem foi destinada a terrível missão de
por sua assinatura no aviso fúnebre que fecha uma escola e desrespeita a
memória do grande Manoel Dantas. Nunca um governo foi tão desastroso com nossa
história. Quem teria coragem de tanta estupidez? Nem Lampião.