Retornamos ao Hotel, e lá pelo meio dia, por fim, chega o
filho do meu amigo que havia permanecido em São Paulo na tentativa de ajudar seu
pai a resolver o imbróglio, resultado do seu impedimento de continuar o vôo para
o Chile. Infelizmente as notícias não eram boas. Seu pai ainda permanecia
aguardando um posicionamento da TAM, que se recusava a embarcá-lo de volta a
Natal, sem que ele adquirisse o equipamento necessário. Soubemos no dia
seguinte, três de novembro, portanto, quatro dias após seu desembarque em São
Paulo, que retornaria para Natal. Para tanto, a Companhia Aérea - TAM - lhe
cobrou R$ 850,00 (oitocentos e cinquenta reais) para instalar em sua poltrona
uma garrafa de oxigênio para que lhe fosse útil em caso de desconforto. Por
ironia, durante o vôo Guarulhos/Natal, em nenhum momento precisou fazer uso do
mesmo.
Com a chegada do filho desse amigo, fiquei aliviado. Era
mais uma pessoa para me auxiliar nas difíceis decisões, daquela interminável
sequência de situações inusitadas, que continuávamos passando, desde que
resolvemos fazer essa bendita viagem.
Mercado Central
O Mercado Central, famoso pela sua gastronomia requintada, é
um dos pontos turísticos mais visitados. Mescla restaurante onde são servidos pratos
sofisticados, executados pelos mais famosos chefs da culinária chilena, com simples bancas onde se encontra peixes
de vários tipos e os mais estranhos habitantes das profundezas do
pacífico. Os pratos são preparados à
base de antigas receitas, só conhecidas pelos chefs locais e guardadas a sete chaves.
Caranguejo Centolla
Nossa intenção era degustar o famoso “centolla”, um
caranguejo gigante que é pescado nas águas geladas do Oceano Pacífico, mas que
nada tem a ver com o caranguejo do ártico ou caranguejo real, pescados no mar
gelado da Noruega.
Mercado Central - Frutos do mar
Dentro do mercado, os restaurantes sempre muito concorridos,
o “centolla” é o prato mais anunciado para os turistas e também o mais caro. Os
garçons circulam por entre as mesas exibindo a iguaria e provocando o desejo
dos visitantes.
Mercado Central - Restaurantes sofisticados
Depois de muito sacrifício, conseguimos uma mesa a custo de
vários safanões do nosso garçom, que nos “pescou” ainda do lado de fora do
mercado, e a nossa frente, abria caminho cheio de moral, como se fosse um
segurança de candidato, aqui em nossa “Terra Brasílis”.
Após nos acomodar em uma das mesa, ele nos apresenta o tal
caranguejo que, pelo preço cobrado, cerca de R$ 300,00 a unidade, não nos
atraiu, principalmente pra quem vive na terra de grandes manguezais, habitat
natural dos caranguejos-uçá e o gostoso goiamum, obviamente, bem menores, porém
de sabor inigualável. Eu particularmente tenho dúvidas quanto ao sabor de
caranguejo que não é cozinhado no leite de coco e com muito coentro e cebola, o
que não era o caso. Não me arrependo de não ter provado o “centolla”. Não devia
ser lá grande coisa.
Caranguejo-uçá
Optamos então por degustar outros dois pratos: um à base de
carne e o outro de peixe. Foi grande a demora para servir os pratos
solicitados, principalmente para nós que havíamos tomado café muito cedo.
Dentro do marcado o frenesi era intenso. Garçons aos gritos
anunciavam os melhores pratos servidos em seus restaurantes, pessoas procurando
mesas, o ambiente superlotado com gente falando vários idiomas, tudo isso mais
parecia um grande Mercado Persa. Enquanto bebericávamos um chope, eu espichava
os olhos para as mesas vizinhas, repletas de comidas de todos os tipos, na procura
de algo que me atraísse, eis que surge do nada um “violonista de bar”. Aquele
indivíduo que ganha à vida se apresentando nos restaurantes em troca de algum
dinheiro. Quando notou que éramos brasileiros, não teve dúvidas: sapecou nos
nossos pobres ouvidos, em alto e bom som, um AÍ SE EU TE PEGO, do Miclhel Teló. Depois da surpresa, veio à reação:
meu estômago, já maltratado pela mudança para o tempero andino, dava sinais de
revolta. A fome que havia sido aplacada
com algumas canecas de bom chope Cristal, voltou feito furacão. O pior é que o
menestrel, empolgado pelas palmas e risos de brasileiros que ocupavam as mesas
em sua volta, toda vez que gritava o refrão, o fazia ainda mais alto. Só nos
deu sossego quando conseguiu nos arrancar alguns pesos. Foi uma verdadeira
tortura chinesa. Aquele chileno cantando num portunhol medonho, uma música,
mais medonha ainda. Não houve jeito, pagamos pra nos livrar do cantor e, com o
devido respeito, também da música.
Após o “almoço musical”, e com nossas forças já restabelecidas,
aproveitamos para conhecer a bela e imponente Catedral Metropolitana, o maior
templo da igreja católica no país, localizada em frente a Plaza das Armas, na
zona histórica da cidade. A catedral é
dedicada a Assunção da Santíssima Virgem. Sua construção foi iniciada em1748, no
governo do espanhol Domingo Ortiz de Rozas. Em estilo neoclássico italiano
deixa o visitante deslumbrado, ante de tanta beleza, perfeição e harmonia.
Possui três naves. Na direita encontram-se as tumbas de grandes personalidades
do Chile. Na esquerda, está o Museu da Catedral, e na nave central fica o
altar-mor. Este, construído em Munique, na Alemanha, foi esculpido em mármore
branco com aplicações de bronze e lápis-lazúli. Na nave central é exibido um
magnífico órgão de tubos, que data do ano de 1756, juntamente com os púlpitos
do século XIX.
Antes dela, já existiram nesse mesmo local, outras quatro
igrejas. Duas delas foram derrubadas pelos indígenas e as outras por forças da
natureza - terremotos. A construção da última das duas torres, somente foi
concluída no ano de 1800.
Catedral de SantiagoCatedral de Santiago
Catedral de Santiago
Orgão de Tubos - 1756