quarta-feira, 24 de novembro de 2010

CENTENÁRIO DO Dr. ARNALDO BARBALHO SIMONETTI

Caros amigos e parentes. Hoje comemoramos o centenário de nascimento do meu pai, Dr. Arnaldo Barbalho Simonetti. Ele veio ao mundo no ano de 1910, na cidade de Goianinha. Filho de Benjamin Constant Simonetti e sua prima legítima Emília Barbalho. Primogênito do casal teve mais três irmãos: Ormuz Barbalho Simonetti, que faleceu precocemente, aos 24 anos de idade e de quem herdei o nome, além de Aguinaldo Barbalho Simonetti e, por último, Maria da Glória Barbalho Simonetti, todos falecidos.

Meu pai aprendeu as primeiras letras, nos bancos do Grupo Escolar Moreira Brandão, na cidade de Goianinha, ou como Mestre Cascudo costumava chamá-la de “República dos Jundiás”.

Para dar prosseguimento aos estudos, mudou-se para Natal onde concluiu o ensino médio no emblemático Colégio Estadual do Atheneu Norte-Rio-Grandense. Como na época ainda não existia faculdade em nosso Estado, seguiu para Recife e iniciou seus estudos na Faculdade de Direto, onde colou grau em 26 de novembro de 1932, com apenas 22 anos de idade, sendo o mais novo formando de sua turma.

Formaram-se como ele, naquele ano de 1932, 30 bacharéis de vários Estados da federação, como se segue: cinco paraibanos; 12 pernambucanos; quatro alagoanos; dois amazonenses; um paraense; um mineiro e cinco potiguares. O orador da turma foi o saudoso Nilo Pereira, norte rio-grandense nascido em Ceará-Mirim, terra dos verdes canaviais. Também formou-se naquela ocasião o macaibense e seu grande amigo Enoque de Amorim Garcia que anos depois tornou-se sogro de seu filho Marcelo Barbalho Simonetti, já falecido, quando do enlace matrimonial com sua filha Ana Maria Garcia.
Humberto Amâncio Pereira e Francisco Leite de Carvalho completavam o quinteto dos Norte-Rio-Grandenses. Também se formava naquela turma, na cota da Paraíba, o seu grande amigo e saudoso Mário Moacir Porto.

Cito alguns dados importantes que compuseram, de forma brilhante, sua carreira profissional: Em 22 de dezembro do ano que se formou, Dr. Arnaldo foi nomeado para exercer o cargo de Promotor de Justiça da Comarca de Caicó, tomando posse em 14 de janeiro do ano seguinte.

Por Decreto N°. 1.399 de 27 de junho de 1933, do Interventor Bertino Dutra, foi designado, em comissão, para exercer o cargo de Delegado Auxiliar da Capital, permanecendo no posto até 04 de janeiro de 1934.
Por ato N°. 193, de 04 de janeiro de 1934, do Interventor Mário Câmara foi removido, a pedido, da Comarca de Caicó para a Comarca de Macaíba. Nessa época Dr. Arnaldo já namorava com sua prima legítima e futura esposa, Inaldy Barbalho.

Contam que sua remoção da Comarca de Caicó para a de Macaíba deu-se em função de um namoro que iniciou na cidade de Caicó, com Candinha Mariz, irmã do saudoso Governador Dinarte Mariz. Meu avó e seu tio, Odilon Barbalho, pai de sua futura esposa Inaldy, que gozava de grande prestígio junto ao Interventor, solicitou dele e conseguiu rapidamente, a remoção do Dr. Arnaldo, “a pedido”, para Macaíba. Resolvia assim o problema do sobrinho “Don Juan”, impedindo a dispersão familiar, e conseguindo assim a manutenção do clã Barbalho Simonetti.

Para evitar novas tentações, casou-se em Goianinha com sua prima Inaldy Barbalho e foi morar em Macaíba, onde já exercia a função de Promotor Público. Em 30 de março de 1938, sofreu um grande golpe, com a perda de sua esposa que lhe deixou apenas um filho, Dante Barbalho Simonetti, com pouco mais de 3 anos de idade.
Por ser muito jovem e influente, teve várias namoradas, mas preferiu continuar na família do seu tio, por parte de mãe, Odilon Barbalho.

No dia 21 de setembro de 1942, para alegria do velho tio Odilon, que nutria por ele grande admiração e respeito, casa-se com Cirene Barbalho Simonetti, sua cunhada, irmã mais nova de sua falecida esposa.
Em 12 de julho de 1942 foi removido, a pedido, da Comarca de Macaíba para São José de Mipibu, onde nasceu, a 15 de junho de 1943, a primeira filha dessa nova união, Sonia Maria Simonetti.

Ainda em São Jose de Mipibu, em 28 de setembro de 1945, nasceu o segundo filho, Marcelo Barbalho Simonetti, que mais tarde veio a se casar com uma filha do seu colega de faculdade Enoque Garcia.
Em 04 de outubro do mesmo ano foi nomeado, por decreto do Interventor Georgino Avelino, para exercer, em comissão, o cargo de Delegado Regional de Polícia, com sede no município de Nova Cruz.

No dia 13 de fevereiro de 1946, por decreto do Interventor Ubaldo Bezerra de Melo, foi nomeado para o cargo de Delegado da Ordem Política e Social da capital, assumindo em seguida, por designação do Interventor, a Chefia de Polícia durante aproximadamente dois meses, transmitindo o cargo ao Dr. Manoel Varela de Albuquerque, nomeado posteriormente para exercer aquela função.
Aos 23 de novembro de 1946, nascia em Natal seu terceiro filho Arnaldo Barbalho Simonetti Filho.

Em 1947, foi eleito Deputado Estadual à Assembléia Constituinte e, em seguida, eleito o primeiro Secretário da Mesa.
Transformada a Assembléia Constituinte em Legislativa, com a promulgação da Constituição, e organizada nova Mesa de trabalhos, foi novamente eleito Primeiro Secretário, em cuja função permaneceu, por todo o período de mandato, dada as eleições consecutivas.

Nesse período, apresentou, junto a Assembléia Legislativa, um projeto que defendia a mudança do nome da “Vila de Papari” para Nísia Floresta, em homenagem justa e merecida à sua filha ilustre, referendado pela Lei n° 146 de 23 de dezembro de 1948
Segundo o poeta Jaime dos Guimarães Wanderley,1 descreve o perfil de 36 deputados, cita em seu autógrafo para ele: “Ao deputado Arnaldo Simonetti, pequeno na estatura, porém, imenso no prestígio que desfruta no P.S.D. homenagem d0 (assinatura)
Seguem-se os versos:

Deputado
ARNALDO SIMONETTI – 1° Secretário

Pequenino, nervoso, irrequieto,
alma de justo, cheia de alegria,
conquistou, pelo voto, não secreto,
um alto posto na Secretaria

Filho de pais de bôa casta e neto
De nobres ancestrais da fidalguia,
Foi sempre, altivo, justiceiro e reto
Agindo sempre com sobranceria

A passos largos, certamente se encaminha
Para elevado posto, neste Estado,
Pelo voto fiel de Goianinha

Dizem - mas em reservas ha de ficar –
que ia candidatar-se, o deputado,
a Suprema Chefia potiguar.


Terminado o mandato, e agora na condição de suplente, retornou as suas funções profissionais. Paralelamente, exercia a atividade agropecuária, sua grande paixão, nela permanecendo até seus últimos dias.
Em dezembro de 1950, nasceu, em São José de Mipibu, seu quinto filho, Ormuz Barbalho Simonetti.

Em 18 de agosto de 1953, foi promovido, por antiguidade, da Comarca de São José de Mipibu, para a Comarca de Ceará-Mirim, logo em seguida, posto a disposição da C.O.A.P. Em 12 de fevereiro de 1957, foi nomeado interinamente para exercer a função de sub procurador do Estado.
Durante o Governo de Dinarte Mariz, dois episódios marcaram a vida daquele homem probo, conhecido e admirado pelo seu senso de justiça, dignidade e principalmente pela fidelidade aos amigos.

Em 1958, realizou-se um concurso para Promotor de Justiça. Nesse ato público relevante (certame), foram aprovados dois amigos do seu filho, Dante Simonetti, Ivan Maciel de Lima e Cleóbulo Cortez Gomes. Esses dois jovens advogados trabalhavam no Comitê em prol da candidatura do então deputado Aluisio Alves, pelo PSB, ao governo do Estado do Rio Grande do Norte.

Receosos de não serem nomeados, em virtude de suas vinculações político-partidárias, valeram-se de seu amigo e colega Dante Simonetti. Sabendo da grande amizade existente entre o Governador Dinarte Mariz e Dr. Arnaldo, pediram a Dante Simonetti para que seu pai, Dr. Arnaldo, intercedesse junto ao Governador, garantindo-lhes, assim, suas nomeações.

Nesse meio tempo, um correligionário do Governador foi ao Palácio Potengi e, em audiência, questionou-lhe “Governador, esses dois advogados trabalhavam no comitê para a campanha de Aluísio. Não podem ser nomeados!”
Não sabia ele que Dr. Arnaldo já havia relatado o caso ao Governador, solicitando a justa nomeação dos aprovados. Então, o governador Dinarte lhe respondeu: “Eles foram aprovados em um concurso público; logo, têm todo o direito de serem nomeados. Ademais, essas nomeações são objeto de um pedido feito pelo meu amigo Arnaldo e a ele não posso faltar.”

Naquele mesmo ano, Cleóbulo Cortez e Ivan Maciel foram nomeados promotores de Justiça do Estado do Rio Grande do Norte.
No final do governo de Dinarte Mariz fervia a campanha política e disputavam o governo, Djalma Aranha Marinho e o deputado Aluísio Alves. Aluísio, simbolizado pela bandeira verde e Djalma Marinho e seu candidato a vice Vingt Rosado com sua bandeira com duas cores azul marinho e rosa.
Naquele ano, Dr. Arnaldo seria nomeado, por antiguidade, para o cargo de Desembargador de Justiça, já que o representante do Ministério Público só chegava a esse cargo em fim de carreira. Portanto, aquela seria a primeira e última oportunidade que ele teria para coroar sua vida profissional, com o mais alto cargo de sua carreira. Novamente o destino, pois à prova o desprendimento e a lealdade daquele homem com seus amigos. O Governador o chamou ao Palácio e, repentinamente, lhe informa: “Arnaldo, preciso que você abra mão de sua nomeação para Desembargador, pois preciso nomear em seu lugar, um correligionário chefe político no Seridó. Estou a precisar muito desse apoio e essa é a melhor maneira de agradá-lo.”

Aquela era uma decisão muito difícil de ser tomada, pois envolvia toda uma vida dedicada a sua carreira profissional. Mesmo assim, ele não pediu tempo para pensar e lhe respondeu: Se não fosse tão importante, você não estaria me fazendo esse pedido, pode dispor do cargo. Decidiu, naquele instante, abdicar do direito de ser nomeado e atender ao pedido do fiel amigo Dinarte Mariz.

Em 16 de junho de 1960, nascia sua filha caçula Simone Barbalho Simonetti, a única a seguir sua carreira, formando-se em Direito pela UFRN.
No dia 10 de junho de 1972, meu pai, fez questão de acompanhar-me até São Paulo onde eu assumiria o meu primeiro emprego no Banco do Brasil. Ele, que sofria de problemas cardíacos, herança de todos os Barbalhos/Simonettis, aproveitaria para fazer alguns exames cardiológicos, solicitados por seu médico e amigo Dr. Hellen Costa.

Meu pai, internou-se para exames médicos e recebeu diagnóstico que apontavam para implantação de pontes de safena, na época, uma técnica revolucionária. O Dr. Arnaldo Barbalho Simonetti foi cirurgiado e não resistiu as complicações do pós-operatório. Faleceu no dia 16 de junho de 1972, no Hospital da Beneficência Portuguesa em São Paulo. Seu corpo foi trasladado para Natal, e, em seguida, para Goianinha, sua terra natal, onde foi sepultado.

Passados 38 anos do último momento em que nos falamos, minha retina ainda registra seu rosto, meus ouvidos, sua suave voz, e meu coração ainda chora a sua irreparável perda.

Ormuz Barbalho Simonetti, 23 de novembro de 2010.

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