UNIÃO BRASILEIRA DE ESCRITORES
Senhor Escritor: ORMUZ BARBALHO SIMONETTI
A União Brasileira de Escritores – UEB/RN, fundada no Rio Grande do Norte por Dom Nivaldo Monte, Zila Mamede, entre outros, informa a Vossa Senhoria que seu nome foi aprovado por unanimidade para ingressar na entidade, na qualidade de Sócio Efetivo, na reunião do dia 17.11.2009.
Cordialmente,
Eduardo Gosson
sexta-feira, 27 de novembro de 2009
A PRAIA DA PIPA DOS MEUS AVÓS
ORMUZ BARBALHO SIMONETTI (Presidente do Instituto Norte-Riograndense de Genealogia-INRG e membro do IHGRN)www.ormuzsimonetti@yahoo.com.br
Publicada em "O JORNAL DE HOJE", edição de 26/11/2009
Pipa, coqueiros e pássaros.
"sinfonia de pardais anunciando o amanhecer... ”
Existe na Pipa uma área com cerca de 1600 m2 onde se localizam quatro casas, remanescentes de uma rua que outrora existia. Dessas quatro casas que restaram, a última da esquerda, de quem olha para o mar, pertenceu ao nativo Celestino Luiz Barbosa. Ao lado dela, existiam mais sete casas assim distribuídas: a de João de Chico, a de Maria Fidelis, a de Maria Segunda Fidelis, a de Conceição de Jovino, posteriormente comprada por Alfredo Clímaco de Carvalho, a de Ana de Joaquina, a de Manoel de Henetério que foi comprada por Cleto Gadelha e seu cunhado Luiz Grilo e por último a casa de José Luiz. Essas casas faziam parte da tal rua que existiu até a década de 60.
Infelizmente os proprietários não as protegeram devidamente e como o avanço do mar, foram totalmente destruídas. Hoje, em seu lugar estão localizadas as “barracas” que atendem com bebidas e pratos típicos, moradores, visitantes e principalmente os turistas.
Para surpresa dos que não conheceram a Pipa naquela época, era exatamente nessa rua onde eram feitas as vaquejadas. Essa tradição nordestina fazia parte das festividades que se realizavam no dia 19 de janeiro, data em que a comunidade comemora o dia dedicado ao santo padroeiro, São Sebastião.
Pois bem, é nesse pedacinho de chão que hoje existe a maior concentração de coqueiros de toda a praia da Pipa. O motivo do aglomerado dessas palmeiras é que como os quintais ficavam voltados para o mar e os antigos proprietários dessas casas plantavam os coqueiros sem nenhuma preocupação quanto à distância entre as plantas, era e ainda é comum se ver coqueiros ligados uns aos outros ou mesmo com espaços muito reduzidos entre eles.
Tivemos a sorte de ser proprietário da segunda dessas quatro casas, que na década de 40/50 pertenceu aos nativos: Pedro Estevão e depois a Manoel de Chico. Posteriormente foi adquirida por José Medeiros, que muito embora, nativo da cidade de Santa Cruz-RN, apaixonou-se pela Pipa na primeira vez que lá esteve a convite de um amigo. No ano seguinte já era proprietário dessa casa e nela veraneou por vários anos até que em 1975 foi comprada por nós.
Na atual casa da esquina existiam cinco coqueiros, inclusive o coqueiro que durante muitos anos foi o cartão postal da praia da Pipa. Sua imagem chegou aos quatro cantos da terra. Ele foi retratado em cartões postais, telas, quadros, camisetas e hoje, com certeza, faz parte de muitos álbuns de retratos, espalhados por esse mundo a fora.
Era um coqueiro de porte imponente, dizem os moradores mais antigos, com mais de 100 anos de idade. Seu tronco antes de tomar o sentido vertical, fazia uma grande curva em direção ao mar como se quisesse se destacar de todos os demais, dando-lhes aquela característica visual de beleza e poesia.
Os visitantes, que obrigatoriamente passavam por ele quando andavam pela beira da praia, não resistiam a uma fotografia de recordação. Muitos subiam em seu tronco, que no início se estendia rente as areias, para registrar aquele momento de beleza singular. Hoje infelizmente esse coqueiro não existe mais, vítima que foi da ganância, ignorância e insensibilidade de algumas pessoas.
Atualmente apenas nove coqueiros ainda continuam adornando essas casas, dos mais de 20 que existiam. Alguns foram sacrificados para o aumento das moradias e no ano passado mais um pereceu, desta vez pela ação da natureza. Não resistiu a uma forte rajada de ventos e tombou na praia.
O que seriam das nossas praias sem a presença dos coqueiros sua árvore símbolo? Eles estão presentes em praticamente todas as praias. Aqui chegaram bem antes que essas terras fossem descobertas pelos europeus.
É nesse pequeno espaço, que todas as manhãs e principalmente à tardinha, quando o sol vai quebrando lá pra o fim do mundo, que os sanhaços se reúnem para uma apresentação de seu harmônico coral. São dezenas deles que de coqueiro em coqueiro, cantam suas mais belas melodias. Às vezes, emitem também sons sibilantes, quando se entrelaçando em pleno vôo, entre namoros e disputa de companheiras.
É a visão maravilhosa desses pássaros que na amanhecensa e principalmente ao entardecer, nos brinda com esse maravilhoso balet musical. São momentos como esses, quando observamos a exuberante força da natureza exercendo seu poder de criação, em que devemos nos perguntar: o que temos feito para defendê-la e preservá-la?
Em Natal, seus moradores e visitantes, podem também, serem brindados com a sinfonia dos sanhaços. Basta para isso, aguardar as manhãs e tardes, em frente ao Cartório de Armando Fagundes na Rua Junqueira Aires n° 532. Na copa dos centenários fícus Benjamin, árvore responsável pela antiga arborização da cidade de Natal, dezenas de sanhaços brindam os que lá estiverem com seus gorjeios maravilhosos.
Sua cor original é azul celeste. Mas, os que habitam próximo ao mar, a natureza dotou-lhe da possibilidade de escurecer suas penas, tornando-as com a coloração esverdeada, próximo a dos coqueiros, sua árvore preferida. Esse mimetismo facilita a caça de insetos e larvas, que habitam as copas das árvores e constituem a base de sua dieta alimentar.
Outrora, a Pipa era um paraíso ornitológico com diversas espécimes com suas belas plumagens e cantos melodiosos. Eram canários da terra, galos de campina, rouxinóis, bem-te-vis, guriatãs, pássaros pega, o nosso encontro-de-ouro, e até mesmo os raros concris ou currupião, e xexéus, que vez por outra, se aventuravam pelos quintais repletos de mangueiras, cajueiros, jaqueiras e outras fruteiras cheias de frutos maduros e cheirosos.
Foi quando na década de 70, chegam a esse édem, os famigerados pardais. Esse pássaro, que não é silvestre, chegou a nossa região vinda do sudeste, possivelmente do Rio de Janeiro. Acredita-se que tenha chegado ao Brasil, vindos de Portugal, por volta de 1908, por ocasião da febre amarela. Julgava-se que os pássaros comiam os mosquitos transmissores da doença. Pura ignorância.
Foi, e ainda é, um verdadeiro desastre para a nossa fauna. Tornou-se uma praga devastadora de nossas aves silvestres de pequeno porte. Pesquisas com esses pássaros mostraram que são portadores e transmissores de ninfas de barbeiro. Seus ninhos são infectados por percevejos, ácaros, piolhos e podem ser disseminadores do vírus da peste aviária, da doença de Newcastle e outras zoonoses transmitidas pelas suas fezes. Pássaro oportunista, de temperamento agressivo e corajoso, não se intimida com a presença humana, pelo contrário, adapta-se bem a convivência com os humanos, pois garantem farta alimentação, se utilizando do nosso lixo.
Nidificam durante todo o ano e a postura geralmente é feita em um só ninho por diversas fêmeas, o que lhe garante uma excelente proliferação.Bastante territoriais e sempre agindo em bandos, expulsaram com facilidade a grande maioria dos pássaros de pequeno porte. Adota também a técnica de invasão de ninhos, destruindo os ovos dos concorrentes.
Na Pipa, apenas os bem-te-vis, as rolinhas cafofa e os sanhaçus, conseguiram resistir à ação desses predadores.
Somente o poeta, em seu mais sublime momento de criação, poderia chamar de “sinfonia”, aquele som exasperante, transmitidos por essas aves.
Publicada em "O JORNAL DE HOJE", edição de 26/11/2009
Pipa, coqueiros e pássaros.
"sinfonia de pardais anunciando o amanhecer... ”
Existe na Pipa uma área com cerca de 1600 m2 onde se localizam quatro casas, remanescentes de uma rua que outrora existia. Dessas quatro casas que restaram, a última da esquerda, de quem olha para o mar, pertenceu ao nativo Celestino Luiz Barbosa. Ao lado dela, existiam mais sete casas assim distribuídas: a de João de Chico, a de Maria Fidelis, a de Maria Segunda Fidelis, a de Conceição de Jovino, posteriormente comprada por Alfredo Clímaco de Carvalho, a de Ana de Joaquina, a de Manoel de Henetério que foi comprada por Cleto Gadelha e seu cunhado Luiz Grilo e por último a casa de José Luiz. Essas casas faziam parte da tal rua que existiu até a década de 60.
Infelizmente os proprietários não as protegeram devidamente e como o avanço do mar, foram totalmente destruídas. Hoje, em seu lugar estão localizadas as “barracas” que atendem com bebidas e pratos típicos, moradores, visitantes e principalmente os turistas.
Para surpresa dos que não conheceram a Pipa naquela época, era exatamente nessa rua onde eram feitas as vaquejadas. Essa tradição nordestina fazia parte das festividades que se realizavam no dia 19 de janeiro, data em que a comunidade comemora o dia dedicado ao santo padroeiro, São Sebastião.
Pois bem, é nesse pedacinho de chão que hoje existe a maior concentração de coqueiros de toda a praia da Pipa. O motivo do aglomerado dessas palmeiras é que como os quintais ficavam voltados para o mar e os antigos proprietários dessas casas plantavam os coqueiros sem nenhuma preocupação quanto à distância entre as plantas, era e ainda é comum se ver coqueiros ligados uns aos outros ou mesmo com espaços muito reduzidos entre eles.
Tivemos a sorte de ser proprietário da segunda dessas quatro casas, que na década de 40/50 pertenceu aos nativos: Pedro Estevão e depois a Manoel de Chico. Posteriormente foi adquirida por José Medeiros, que muito embora, nativo da cidade de Santa Cruz-RN, apaixonou-se pela Pipa na primeira vez que lá esteve a convite de um amigo. No ano seguinte já era proprietário dessa casa e nela veraneou por vários anos até que em 1975 foi comprada por nós.
Na atual casa da esquina existiam cinco coqueiros, inclusive o coqueiro que durante muitos anos foi o cartão postal da praia da Pipa. Sua imagem chegou aos quatro cantos da terra. Ele foi retratado em cartões postais, telas, quadros, camisetas e hoje, com certeza, faz parte de muitos álbuns de retratos, espalhados por esse mundo a fora.
Era um coqueiro de porte imponente, dizem os moradores mais antigos, com mais de 100 anos de idade. Seu tronco antes de tomar o sentido vertical, fazia uma grande curva em direção ao mar como se quisesse se destacar de todos os demais, dando-lhes aquela característica visual de beleza e poesia.
Os visitantes, que obrigatoriamente passavam por ele quando andavam pela beira da praia, não resistiam a uma fotografia de recordação. Muitos subiam em seu tronco, que no início se estendia rente as areias, para registrar aquele momento de beleza singular. Hoje infelizmente esse coqueiro não existe mais, vítima que foi da ganância, ignorância e insensibilidade de algumas pessoas.
Atualmente apenas nove coqueiros ainda continuam adornando essas casas, dos mais de 20 que existiam. Alguns foram sacrificados para o aumento das moradias e no ano passado mais um pereceu, desta vez pela ação da natureza. Não resistiu a uma forte rajada de ventos e tombou na praia.
O que seriam das nossas praias sem a presença dos coqueiros sua árvore símbolo? Eles estão presentes em praticamente todas as praias. Aqui chegaram bem antes que essas terras fossem descobertas pelos europeus.
É nesse pequeno espaço, que todas as manhãs e principalmente à tardinha, quando o sol vai quebrando lá pra o fim do mundo, que os sanhaços se reúnem para uma apresentação de seu harmônico coral. São dezenas deles que de coqueiro em coqueiro, cantam suas mais belas melodias. Às vezes, emitem também sons sibilantes, quando se entrelaçando em pleno vôo, entre namoros e disputa de companheiras.
É a visão maravilhosa desses pássaros que na amanhecensa e principalmente ao entardecer, nos brinda com esse maravilhoso balet musical. São momentos como esses, quando observamos a exuberante força da natureza exercendo seu poder de criação, em que devemos nos perguntar: o que temos feito para defendê-la e preservá-la?
Em Natal, seus moradores e visitantes, podem também, serem brindados com a sinfonia dos sanhaços. Basta para isso, aguardar as manhãs e tardes, em frente ao Cartório de Armando Fagundes na Rua Junqueira Aires n° 532. Na copa dos centenários fícus Benjamin, árvore responsável pela antiga arborização da cidade de Natal, dezenas de sanhaços brindam os que lá estiverem com seus gorjeios maravilhosos.
Sua cor original é azul celeste. Mas, os que habitam próximo ao mar, a natureza dotou-lhe da possibilidade de escurecer suas penas, tornando-as com a coloração esverdeada, próximo a dos coqueiros, sua árvore preferida. Esse mimetismo facilita a caça de insetos e larvas, que habitam as copas das árvores e constituem a base de sua dieta alimentar.
Outrora, a Pipa era um paraíso ornitológico com diversas espécimes com suas belas plumagens e cantos melodiosos. Eram canários da terra, galos de campina, rouxinóis, bem-te-vis, guriatãs, pássaros pega, o nosso encontro-de-ouro, e até mesmo os raros concris ou currupião, e xexéus, que vez por outra, se aventuravam pelos quintais repletos de mangueiras, cajueiros, jaqueiras e outras fruteiras cheias de frutos maduros e cheirosos.
Foi quando na década de 70, chegam a esse édem, os famigerados pardais. Esse pássaro, que não é silvestre, chegou a nossa região vinda do sudeste, possivelmente do Rio de Janeiro. Acredita-se que tenha chegado ao Brasil, vindos de Portugal, por volta de 1908, por ocasião da febre amarela. Julgava-se que os pássaros comiam os mosquitos transmissores da doença. Pura ignorância.
Foi, e ainda é, um verdadeiro desastre para a nossa fauna. Tornou-se uma praga devastadora de nossas aves silvestres de pequeno porte. Pesquisas com esses pássaros mostraram que são portadores e transmissores de ninfas de barbeiro. Seus ninhos são infectados por percevejos, ácaros, piolhos e podem ser disseminadores do vírus da peste aviária, da doença de Newcastle e outras zoonoses transmitidas pelas suas fezes. Pássaro oportunista, de temperamento agressivo e corajoso, não se intimida com a presença humana, pelo contrário, adapta-se bem a convivência com os humanos, pois garantem farta alimentação, se utilizando do nosso lixo.
Nidificam durante todo o ano e a postura geralmente é feita em um só ninho por diversas fêmeas, o que lhe garante uma excelente proliferação.Bastante territoriais e sempre agindo em bandos, expulsaram com facilidade a grande maioria dos pássaros de pequeno porte. Adota também a técnica de invasão de ninhos, destruindo os ovos dos concorrentes.
Na Pipa, apenas os bem-te-vis, as rolinhas cafofa e os sanhaçus, conseguiram resistir à ação desses predadores.
Somente o poeta, em seu mais sublime momento de criação, poderia chamar de “sinfonia”, aquele som exasperante, transmitidos por essas aves.